sábado, 30 de abril de 2022

CALU - Artesão que conta sua história na Europa e no Brasil

CALU - Artesão que conta sua história na Europa e no Brasil

Meu nome é Carlos Roberto de Lima Junior, nascido em Santo André, mais conhecido como ABC Paulista. Nasci em 1979. Quando criança nunca tinha ido num aeroporto e muito menos imaginado em voar, quem dera entrar num avião. 


Mas sempre gostei de avião. Sempre ficava olhando eles passarem lá no céu, lá bem no alto. E via também muito nos filmes na televisão, naqueles tempos não tinha internet e o cinema era muito caro. Ficava vidrado na frente da televisão vendo James Bond, Rambo e outros. 

E com isso não sei exatamente como surgiu a ideia, mas terminava os filmes eu ia numa marcenaria perto de casa catar alguns restos de madeirinhas e com elas eu criava alguma coisa que eu podia brincar como se fosse um avião, basicamente era um pedaço sarrafo de madeira com outro no formato de uma cruz. 

Pronto o avião estava feito e voando em minhas mãos no quintal do meu avô, e ali eu passava horas brincando e sonhando. Meu avô também sempre tinha no quintal areia, terra, pedras para fazer as reformas e eu construía na areia buracos como se fossem túneis, construía também caminhão de madeira. 

Meu avô era motorista de ônibus e realizava muitas excursões para a Praia, Campos do Jordão e tantos outros lugares que nem sei. Algumas delas ele me levava como no Play Center, Ubatuba e Santos. E no Play Center além do lugar espetacular era o momento que eu tinha para ver os aviões mais de perto voando, porque da minha casa, eu os vi muito de longe, muito pequenos. Então, ali que eu podia compreender o tamanho de um avião, mesmo eles estando voando muito longe. Na verdade, sempre era só eu ouvir o ruído das turbinas, automaticamente eu já olhava para o céu procurando o pássaro de metal. Nunca tive oportunidade de chegar perto na minha infância. 


Minha mãe morava desde que eu era muito criança na Espanha. A primeira vez que voei foi para visita minha mãe, e eu deveria ter uns 15 ou 16 anos. Fui de Varig, ainda era permitido fumar a bordo. Foi inesquecível a imagem do avião no qual fiz meu primeiro voo. Meu pai me levou no aeroporto de Guarulhos, tivemos que preparar toda uma documentação de autorização para eu voar sozinho porque eu era menor de idade. 

Foi feito um crachá e a aeromoça me conduziu até a sala de embarque e foi explicando tudo. Viajei sozinho. Estava na sala de embarque olhando-o. Enorme de grande e majestoso. Ansioso para entrar e conhecer tudo lá dentro. Fiquei esperando o tão desejado momento e admirando dezenas outros aviões de empresas que eu nem conhecia e sabe lá para onde iriam voar, um maior que o outro. 

Muitos decolando, outros pousando. Pessoas rindo, correndo, dormindo sentadas, comendo, crianças brincado. Nunca poderia imaginar que o aeroporto fosse assim. Como eu gostaria que naquela época eu tivesse um celular, teria feito milhares de fotos e dezenas de vídeos. Parecia que estava na Torre de Babel, pessoas falando idiomas estranhos, vestidos com roupas mais estranhas ainda.  Estar ali era melhor que o Play Center, era a realização de meu sonho. Quando finalmente chamaram meu voo, tivemos que formar uma fila imensa, nem sei se demorou, minha ansiedade era maior que tudo. 

Apresentei minha passagem. Já ao passar pela passarela do finger minha adrenalina estava nas estrelas. Emoção a todo vapor. E nisso entro no avião. Confirmei que era uma coisa linda, sensacional, espetacular e única. Não tem outra coisa igual no mundo. Imaginava algo como um ônibus, duas fileiras de duas poltronas com um corredor no meio. E me deparo com um mar de poltronas que não acabava mais. 

Havia dois corredores. No lado de cada uma das janelas três fileiras de assentos e no meio cinco poltronas. Então pensa, enquanto no ônibus cada fileira tem quatro passageiros, nesse avião 747 podiam sentar-se um ao lado do outro até onze passageiros, eram pessoas que não acaba mais. Ou então num ônibus de viagem existem em média quarenta lugares e num avião 747 podem transportar mais de quatrocentas e cinquenta pessoas. Sentei-me e vi que não parava de entrar passageiros. Parecia que todos os passageiros do aeroporto iriam entrar naquele avião. Do jeito que entravam, até pensei que iria faltar poltrona. 

Sentei-me na poltrona e fiquei olhando os botões que existiam em cima de mim, fiquei observando tudo ao meu redor, eu parecia uma criança de seis anos no seu aniversário. Nisso percebi os ruídos das turbinas, baixar os flaps, os barulhos dos motores, acho que nesse momento meu coração acelerou e caio na real. Eu vou voar. Foi nessa hora que talvez tenha tido um pouco de receio. Percebo que o trator engatou no avião e em seguida o avião começa a dar a ré. Em seguida o avião lentamente vai taxiando até a ponta da pista. Tudo foi extraordinário. 

Eu escutava tudo e claro ficava assustado com cada ruído estranho. Na hora que o bicho alinhou na pista e começou a correr e preparar para decolar foi muito forte, mais forte que a montanha russa do Play Center. Quando ele começou a correr na pista com a velocidade máxima eu fiquei grudado no assento. Era uma sensação estranha, misturando medo, prazer, adrenalina. E você não sabe o que vai acontecer. O avião vai seguindo na pista tremendo e sacudindo todo, e de repente ele sobe. Você fica inclinado para trás, dá um frio na barriga.

VÍDEO CEDIDO POR GILBERTO RODRIGUES

Foi a sensação mais gostosa que eu tive na minha vida foi essa. O momento que ele descolou do chão. É uma sensação inédita e não tem como explicar, somente você passando por isso que saberá. E eu sentado na poltrona da janela, feliz da vida, com os olhos vidrados na pista. Vendo a velocidade do super jato cada vez mais rápido. Como era noite, no meio do aeroporto eu ali olhando tudo, aquelas luzes coloridas na pista, parecia um campo de pouso de um disco voador. Fantástico. Sensacional. 

Não existem palavras para expressar o que você sente quando vê o avião se desapegar da pista e começar a decolar, você como num passe de mágica vê o avião em segundo sair do chão e estar no meio das nuvens. Fazer curvas, movimentos no ar para definir seu rumo. Dezenas de ruídos estranhos. As luzes internas do avião apagadas. A asa do avião eu ficava olhando-a, enorme, quanto tanto a envergadura do avião e com luzinhas piscando vermelhas e azuis. 

De repente escuto uma campainha dentro do avião no sistema de som e as luzes se acendem e como num passe de mágica novamente as comissárias aparecem de trás das cortinas e começam a caminhar. Nisso um passageiro se levanta apressado e vai sei lá para onde, depois descubro que teria ido ao banheiro. Foram quase treze horas de voo. Aproveitei demais. 

Naquela época havia no teto um enorme projetor que parecia com uma mala enorme com três lentes verde, vermelha e azul que projetava filmes durante o voo e os fones de ouvidos eram duas mangueirinhas parecidas com um estetoscópio. 

Como também era permitido fumar dentro do avião, separado por fileiras, mas de que nada adiantava, porque a fumaça circulava da primeira à última fileira durante as horas de voo. E todos os bancos tinham cinzeiros, até nós não fumantes. Chegou uma hora que o cansaço apareceu e o voo estava bem vazio e pedi para a comissária se poderia dormir nos assentos do centro que eram cinco, ela me disse que sim, então dormi tranquilamente e confortavelmente durante horas, nem sei dizer quantas horas. 

Eu vi a escadinha caracol que subia no para o segundo andar, mas infelizmente não subi, porque tive receio de levar bronca de alguma comissária. Mas queria muito ter subido e ter conhecido tudo lá em cima. Eu era moleque e tinha vergonha de pedir, perdi a oportunidade.

Acordei com a movimentação dos passageiros por causa do saboroso café da manhã que estava sendo servido a bordo. Pouco tempo depois pousamos em Madri, onde minha mãe e meu padrasto me esperavam no aeroporto. De Madri fomos de carro até Santander, perto de Barcelona. Na época era inverno e nem imaginava como era o frio europeu, porque em São Paulo praticamente não tem frio. Minha sorte que meu padrasto havia levado uma jaqueta grossa a mais. Lembro também que mostrei a minha mãe os brindes que havia ganhado das comissárias.

No dia seguinte acordei e fiquei refletindo tudo o que ocorreu. Estava no quarto e fechei o olhos e comecei a lembrar toda aquela adrenalina no corpo, toda aquela emoção e claro também um medo. Fui num 747 da Varig. Foi uma emoção extraordinária. Só tinha visto antes no céu, lembro desde pequeno aquele risco branco no céu. Quando eu era criança pequena eu juntava alguns pedaços de madeira e fazia um aviãozinho e sai brincando cada vez que passava um avião perto de casa, bem rústico mesmo. Uma madeira na horizontal e outra na vertical menor simbolizando as asas.

Fiquei três meses com minha mãe, período das férias escolares, e na volta num A330 da Ibéria, conversando com a comissária, ela me convidou para visitar a cabide de comando. Imagina, eu lá dentro, com os pilotos, naquele local cheio de botões, luzinhas, os dois manches. Achei tudo lindo e magnifico, pensando como isso pode voar e transportar tantas pessoas, se eles não me dissessem para ir embora, teria ficado o resto do voo lá com eles. 

Eu já era apaixonado, ali então explodiu minha paixão pela aviação. Então comecei a estudar de forma amadora os princípios que fazem o avião voar, seus componentes, quais as funções das principais partes da aeronave. Com o tempo fiquei interessado com as normas aeronáuticas, conceitos técnicos, rotas nacionais e internacionais, conceitos técnicos.. 

Chegando ao Brasil já estava realmente apaixonado pela aviação, e toda vez que tinha que fazer os trabalhos da escola na biblioteca eu aproveitava para procurar livros de aviões, de guerras mundiais, desenhos. Tudo que fosse sobre aviação me interessava e eu colecionava. Naquela época eu nem sabia os nomes dos modelos dos aviões. Não sabia nada na verdade. E também a informação não era tão simples de pesquisar como é hoje, através da internet. 

E também comecei a fazer desenhos e grafite de aviões. Pedia autorização para os moradores para fazer a grafite bem desenhada. Eu olhando os filmes no vídeo cassete eu dava pausa para ver os detalhes dos aviões para depois desenhar. E depois eu construía em madeira, claro que não dava certo, mas eu ficava feliz porque eu brincava muito com eles.


Depois dessa primeira vez que fui a Europa, várias outras vezes retornei para visitar minha mãe. Cheguei até a visitar minha mãe duas vezes ao ano. Então, viajei bastante de avião. Com o tempo perdi a vergonha de falar com as comissárias, e fui descobrindo os segredos dos ruídos, de cada detalhe espalhado pelo avião. 


Na Europa voei muito também, lá era mais fácil e mais barato. Voei muito de Ryanair. Cheguei a voar para o Brasil de Lufthansa, Air France, Ibéria, então voei em A330, A340, 747 e vários aviões pequenos. Minha casa em Santander era a vinte minutos caminhando. Assim, era avião toda hora no céu, indo e vindo. 


Já na segunda vez que voltei para rever minha mãe fiquei seis meses. Ganhei de presente de minha mãe um patinete elétrico scooter, que possibilitava meus deslocamentos diários até o aeroporto, e isso era minha realização. Eu ficava de dez a doze horas, lá admirando aquele espetáculo, as pessoas nem entendiam meu fascínio por tudo aquilo. Poderia até dormir lá. Chegava a levar uma garrafa de dois litros de refrigerante de dois litros e um pacote de bolacha. 


Ficava lá olhando os aviões pousando e decolando, que nem criança pequena que vê pela primeira vez o gigante de metal. Até hoje tenho amigos que não compreendem minha paixão. Mas é um hobby saudável a minha saúde, que não me faz mal de nenhuma forma nem a mim e nem a nenhuma outra pessoa, faz o tempo passar e realiza meus sonhos. Poderia ter embrenhado por outros caminhos ruins. E acima de tudo me traz felicidade. 

Cada pessoa tem o livre arbítrio de decidir seu futuro e suas escolhas da melhor forma que entenda. Aviação é algo que tenho no coração e enquanto me entender como gente estará presente na minha vida. Tive que retornar a Pátria Amada para o Alistamento Militar, queria muito servir na Aeronáutica, mas infelizmente fui dispensado. Meu sonho é estar trabalhando ao lado das asas metálicas. E até hoje não desisti de trabalhar no aeroporto de Congonhas ou Guarulhos, e volte e meia envio meu currículo para as empresas dos aeroportos. 

Estaria realizado limpando o chão e os banheiros dos aeroportos e dos aviões, coletando os lixos espalhados pelo pátio, carregando e descarregando os aviões. Só de estar perto dos aviões seria uma vida muito mais realizada e gratificante. Por estar perto dos aviões eu trabalharia por qualquer valor para falar a verdade. O meu amor é tão grande que eu acho que até pagaria para trabalhar no aeroporto e estar perto dos aviões. 

Quando retornei ao Brasil, encontrei meu pai e meus avós doentes. Duas semanas após minha chegada minha avó faleceu, ela foi minha segunda mãe. Foi ela que me criou no Brasil. Fez tudo como se eu fosse um filho. Ela tinha amor de mãe. E eu amor de filho. Oito meses depois meu avô também falecei. Passou mais um ano e meu pai também faleceu.  Então, parei e vi que não tinha mais nada aqui no Brasil, não tinha mais meu pai e meus avós.

Com dezoito anos não pensei duas vezes, peguei minhas coisas e parti para a casa da minha mãe na Espanha de vez. E fiquei na Europa por dezessete anos. Contando o tempo pingado que eu ia de férias, chega a quase vinte anos. Conheci muita gente, muitas cidades, outras culturas, outros países. Amadureci, aprendi a dar valor de como é bom estar no seu país. Conheci a Espanha toda, trabalhei muito lá. A maior herança foi ter aprendido o idioma espanhol que hoje falo fluentemente, e para não esquecer nada, todos os filmes que assisto no canal fechado sempre são em espanhol. 

Quando estive na Europa na última vez, foi quando percebi o preconceito. Não sei dizer se antes era menos, ou por estar de férias e não estar procurando emprego não era afetado. Por outro lado, também nesse período houve uma enorme migração de pessoas latino-americanas para a Europa e acho que isso influenciou nesse um pouco isso. 

Fui muito menosprezado na Espanha, e acho que tudo foi muito injusto, até porque os empregos que normalmente podemos competir para ocupar são aqueles que os Europeus não querem trabalhar, nem em sonhos. Os espanhóis ainda têm aquela adoração e visão da época de Franco. Isso são águas passadas, seria a mesma coisa que os brasileiros ficarem idolatrando nos dias atuais o Getúlio Vargas.

Na Espanha estudei um pouco de aviação. Iniciei com simulação. Morava próximo do aeroporto de Santander nos arredores de Cantábria, ia várias vezes admirar os aviões pousar e decolar e volte e meia passava no museu da aviação que fica bem próximo ao aeroporto. Poderia até morar dentro do aeroporto, tal era meu fascínio por tudo aquilo. Poder assistir diariamente, minuto a minuto toda a movimentação dos aviões na pista, as decolagens e pousos. 

Até o cheiro do combustível mais agradável que o melhor perfume francês. Ficar observando o movimento das pessoas indo e vindo, algumas sem pressa, outras correndo desesperadas. E a elegância da tripulação. Trajes rigorosamente cortados e alinhados. Verdadeiras roupas de gala. Ficava ali me imaginando dentro da roupa de um comandante ou de um comissário.

Mas a vida no início na Espanha não foi nada fácil. Não sabia o idioma, foi muito difícil encontrar um emprego. Mas todas essas dificuldades que tive, me fortaleceram, eu acabei utilizando-as como um meio para meu desenvolvimento, para superar minhas dificuldades. Para fortalecer minha personalidade. Para procurar aprender o mais rápido possível o novo idioma. 

Já estava lá e de nada adiantaria ficar chorando nos cantos que não sabia falar a nova língua. Aprendendo o idioma espanhol meu mundo abriu fronteiras, curiosamente de volta para a América Latina, e foi de certa forma com a aviação que pude expandir minhas amizades com pessoas da Venezuela, Colômbia, entre outros países. Foi voando online em simuladores, sem mesmo conhecer pessoalmente essas pessoas. 

Então imagina, você manter amizades, se divertir, criar relacionamentos e confiança com pessoas que você nunca viu e provavelmente nem as conhecerá pessoalmente. Isso tudo é muito doido. Tenho um amigo venezuelano que voamos muito online, já chegámos a fazer a rota de São Paulo a Porto Alegre, e o incrível que eu pousei no Salgado Filho e ele no aeroporto militar que fica ao lado. E nós não nos víamos, até que descobrimos que estávamos em aeroportos diferentes, demos muitas gargalhadas. Mas na verdade, eu estava no Brasil e ele na Venezuela. 


Eu namorei uma menina dois anos, depois ficamos morando juntos oito anos num apartamento que alugamos juntos. Eu a amava. Depois de um tempo, com a minha paixão pela aviação, eu acabava passando a madrugada no computador, com outros amigos no mundo simulando voos, isso acabou nos separando. Foram oito anos vivendo muito felizes e viajando juntos para vários lugares.

 Quando eu ia para Tailândia fazer meus cursos de culinária ela sempre ia comigo, mas a gente brigava por causa da minha paixão pela aviação e em razão do tempo que acabava me envolvendo com o simulador. Por outro lado, a família dela nunca me aceito pelo fato de ser brasileiro, havia um profundo preconceito e racismo. E isso foi desde o primeiro dia quando fui apresentado para a família. Eles nos chamam de "Suldaca", o apelido que dão aos Sul Americanos. 

O preconceito era tão profundo por exemplo que eu nem podia ir à casa da família dela. Nem mesmo no Natal, Ano Novo ou Páscoa, ou nós passávamos juntos com minha família ou sozinhos no apartamento. Eles não podiam nem me ver, que já dava confusão. Certa vez encontrei um familiar dela na rua que quis partir para a briga. 

Por outro lado, eu tinha muitos amigos espanhóis, e as vezes a gente saia tudo junto para uma balada, e amigos deles que não me conheciam já questionavam eles do porque estavam saindo com esse "Latino", "Suldaca", "Imigrante", "Preto", "Sem Papel", sempre tendo o prazer de desvalorizar e ridicularizar os brasileiros e outros povos. 

Ou quando eu entrava numa cafeteria as pessoas me olhavam desconfiadas, com receio que fossem ser assaltadas. Isso tudo acaba atrapalhando meu casamento. Por fim, nos separamos. O importante que mesmo separados eu torço pela felicidade dela, esteja ela com que esteja. Fui muito ciumento depois da separação, felizmente amadureci, passei a ver o mundo de outra forma, aprendi da pior forma com meus próprios erros. Tenho orgulho de ser brasileiro, somos um País acolhedor, abrimos os braços para todos os povos e todas as nações

Em Santander era difícil encontrar brasileiros, apesar de ser uma cidade turística, onde por exemplo tem o Palácio da Madalena que era onde os reis da Espanha ficavam em suas férias, onde toda sua costa é formada por lindas praias. Atualmente o Palácio, por muitos também chamado de castelo tem um zoológico e três navios galeões, que eram aqueles barcos que navegam no tempo de Pedro Cabral. 

Foi onde tive a oportunidade de trabalhar com um sr. que era escultor num vilarejo da cidade de Burgos, região de Dom Quixote da Mancha, com toda a história Medieval, repleta de castelos, muitas torres medievais e igrejas antigas. Eu era fascinado por tudo aquilo. 

Nos finais de semana eu com minha namorada, colocávamos um lanche no carro e sumíamos nas montanhas para conhecer castelos antigos abandonados ou turísticos. Se pagava uma entrada de valor muito pequeno e é algo surreal estar ali dentro. São paredes de dois a três metros de largura, porque no meio das paredes tem corredores para permitir a circulação de pessoas com arcos e flechas para defender o castelo em caso de guerra. 

E nas visitas você pode conhecer tudo isso, você caminha nesses corredores estreitos e se depara com ninhos de coruja. ´Nesses quase vinte anos que residi na Espanha aproveitei muito, conheci muitos lugares e foi lá que pude desenvolver o dom que me levou hoje a construção de maquetes. 

Na Europa tentei tirar o brevê, mas como não tinha nacionalidade, não foi possível, então caminhei por ouros caminhos, parti para a realização de cursos online de aviação, tudo sobre aviação, aerodinâmica, rotas, equipamentos, pousos, decolagens, como se fosse prestar uma prova para piloto civil. E sempre fiz simulações nesses anos todos. Faz dois anos que estou sem voar, porque minha placa queimou e não pude trocar. E sinto muita saudade de pilotar. 

Eu sei fazer carta aérea, fazer plano de voo, comunicar com a torre, programar o avião, fazer o setup dele, ligar o avião do zero até a decolagem e toda a operação do pouso até o apagar das luzes. Chegar todos os equipamentos antes da decolagem. Claro não consegui realizar meu sonho de tirar meu brevê. Estou pensando em juntar um dinheiro e verificar como são os procedimentos para tirar a carteira de piloto esportivo aqui no Brasil para pegar u aviãozinho e poder voar de verdade.

Voltei ao Brasil a cinco anos e não fui esquecido pelo meu amigo Bira, que no primeiro dia já foi lá em casa me dar um abraço e saber de todas as novidades. Esse calor brasileiro você não encontra em nenhum outro lugar do mundo. Você estar no Brasil não tem preço, é como se o cheio do ar fosse diferente, se o sol fosse mais quente, se a floresta fosse mais verde, o céu mais azul. 

Tudo aqui é mais lindo.  Olha só essa minha amizade com o Bira, dezessete anos depois está igual, da mesma forma de quando eu deixei o Brasil. Hoje estou morando em outra cidade, mas sempre estamos nos conversando, às vezes vou lá visitar o pessoal. A amizade verdadeira fica para sempre.

Quando retornei ao Brasil, meus antigos amigos brasileiros e os novos que conheci sempre despertaram o interesse de saber como é viver na Europa. Essa matéria, vai permitir contar um pouquinho também disso. Quando morrei lá, eu tinha meu face, assim não perdi meu vínculo de amizade de criança com os amigos brasileiros. 

Uma das imagens que ficou marcada da minha vida no Continente Europeu foi o preconceito. Senti na pele muito preconceito por ser brasileiro. Quem vai na Europa como turista e com dinheiro é uma coisa, o Europeu tem claramente a visão que o turista leva dinheiro para sua economia. 


Mas esse não era o meu caso. Fui para a Espanha para ter novas oportunidades e sem dinheiro. O preconceito era muito difícil, inclusive foi difícil ter amizades com espanhóis. Difícil mesmo, o preconceito com o povo latino é muito forte. Então, eu tinha muita amizade com pessoas de outros países latinos-americanos. Tive uma relação com uma moça por dez anos, quase nos casamos, mas o preconceito falou mais alto. Mas quando os espanhóis nos davam oportunidade, percebiam que éramos pessoas normais. Inclusive tenho muitos bons amigos espanhóis.

Mas por outro lado, tenho muita vontade de regressar a Espanha, rever minha mãe e meu irmão. Aqui no Brasil não tenho mais ninguém. Moro sozinho. Não tenho esposa e nem filhos. Sou eu que lavo, cozinho e arrumo a casa. Trabalho fora e encontro um tempinho para construir minhas maquetes. Para não perder o domínio do idioma espanhol eu procuro assistir todos os vídeos no canal fechado em espanhol e tenho muitos amigos espalhados pelo mundo, assim frequentemente converso em espanhol com pessoas do México, Bolívia, do Chile, da Espanha.

Se por um lado eu domino o espanhol, por outro lado infelizmente não compreendo nada do idioma inglês. E como gostaria de saber pelo menos o básico do básico. Nosso grupo de pilotos simuladores dificilmente voávamos para os Estados Unidos exatamente em razão do idioma. Pois todas as operações eram em inglês. Enquanto voar da Espanha para toda a América Latina era em espanhol ou português. As poucas vezes que voávamos para os EUA a gente passava o maior transtorno e não saíamos das palavrinhas básicas e restritas. Então, a gente ia aprendendo alguma coisa e quebrando a cara. A aviação é um mundo gigante, interessante e doido. 

Meu maior arrependimento foi não ter estudado quando criança para hoje ser ter sido um piloto. E foi depois de adulto que eu descobri que queria ser piloto. Mas quando a gente é criança não pensa assim, eu era na periferia do ABC Paulista, eu matava aula para ir pro centro fumar cigarro, nas provas eu fazia cola, copiava dos colegas. 

Então, hoje eu pago o preço das minhas escolhas erradas. Mas teve muitas pessoas do mesmo local que eu saí que hoje são médicos, advogados e até pilotos com certeza. Eu era vagabundo mesmo, eu não gostava de estudar mesmo. Só depois de grande que passei a gostar de aprender a gostar de aprender as coisas e compreender como fiz escolhas erradas. 

Com o tempo comecei a ver vídeos na internet de pessoas construindo maquetes de aviões. Achava muito bonito aquele trabalho. E como também sempre quis ter a minha coleção de aviões e não tinha dinheiro, criei coragem e resolvi construir o meu também, porque periferia e família pobre não tem condições de comprar, existem outras prioridades e necessidades. Comecei a tentar fazer a um ano atrás, mas os resultados positivos levaram mais de seis meses para aparecerem, mas não desanimei não. 

Cada resultado negativo sempre serviu como incentivo e motivação para não desistir e seguir a diante. Eu já passei por tantas coisas nessa vida, então vamos aprender a construir uma maquete que é a minha paixão. Sempre assistindo vídeos e querendo aprender. Tentando com papelão e papel craft que é mais fácil, porque você só imprime, enrola, cola e tá pronto. De papelão você pega uns canudos de papel higiênico vai encaixando, colando e cobrindo e faz um avião. Só que ficava como eu queria. 

Mas eu queria de madeira. Continuei pesquisando na internet e estudando, foi quando encontrei os vídeos do Istael e do Pietro Maquetes, do Flap Maquetes. Foi quando eu descobri o esquema deles de fazer maquetes de madeira. Então, criei coragem, peguei um pedaço de madeira e um estilete e arisquei. Não deu nada certo, havia pegado um pedaço de madeira dura e um estilete mais velho que eu, sem luva sem nada, cortei errado a madeira e ainda cortei meu dedo. Parei tudo. Voltei a estudar duas semanas os vídeos deles. 

Então com eles aprendi que madeira usar, que tinha que usar equipamento de proteção, que não é qualquer estilete velho, qual o procedimento para cortar. Fui assistindo e aprendendo aos poucos. Então, fui novamente tentar agora devidamente preparado e começou a sair legal. Então surgiu o primeiro 737 da Gol. Depois fiz um Seneca para um tio meu. 

Fiz um MD-11. Tenho um projeto de um 747, de um Embraer 195, um ATR quase terminado. Tenho uma encomenda de um avião parecido com um 727. Hoje estou aprendendo a construir, tenho muito ainda a aprender. Mas minha prioridade na construção de maquetes é para minha coleção particular. Tenho inclusive a lista da coleção da Boeing, desde o 707 até o 777 em escala 1x200 de forma que o 737 da Vasp vai ter 16cm enquanto que o 777 vai ter 37cm. E até já tenho as madeiras para sua construção. 

E tenho que pensar também sobre quais empresas irei fazer essa minha coleção, são tantas opções nacionais e internacionais e também posso ainda escolher entre aviões cargueiros e de passageiros, tem as pinturas clássicas e tradicionais, como as mais atuais e inovadoras. O mais trabalhoso será o 707 porque como ele terá 16 cms de cumprimento isso quer dizer que as pecinhas pequenas irão dar uma dor de cabeça, imagina o tamanho da turbina, vai ser do tamanho de uma cabeça de fósforo.

Quando sobra um tempinho eu faço algumas maquetes e coloco a venda na OLX ou no Mercado Livre para ganhar um dinheirinho e poder comprar os materiais para meu atelier. Por outro lado, gosto também de ajudar os amigos, quando me pedem ajuda, mas não gosto de me meter no trabalho dos outros sem que me peçam minha colaboração. As vezes tem algum construtor que pede auxílio para imprimir modelos de desenho ortogonal, de fotos, coloco no word, faço a escala que precisam, as escalas tudo certinho e envio por whats em PDF. Eu não gosto de guardar meu conhecimento só para mim. Gosto de compartilhar tudo, da mesma forma que teve alguém que me ensinou, com certeza também posso transmitir para outros.

Apesar de pouco estudo, eu sou fora da curva, gosto de mexer em tudo. Não fico parado não. Gosto de informática, artes, cinema, pessoas. Então, porque não juntas tudo isso e fazer uma vitamina no liquidificador. E foi por acaso que as coisas aconteceram. Como sempre fui muito curioso e metido no mundo da informática, acabei aprendendo um pouco com edição de vídeos e efeitos especiais. 

Na Espanha junto com outras pessoas fiz dois vídeos de curta metragem que foram premiados, com diploma e tudo. Um dos curto foi produzido no prédio que minha mãe mora e convencemos os vizinhos a participarem como atores coadjuvantes. De forma bem simplificada, um dos vizinhos foi num bar e comeu um camarão chinês que estava contaminado com um vírus. Virou zumbi, e mordeu a família toda. 

E cada um começou a morder todos os demais moradores do prédio. Nesse filme minha mãe, meu irmão, minha namorada, meus vizinhos todos participaram. Todos viraram zumbis, menos eu que como sempre estava bêbado e caminhando torto, eles pensavam que eu já havia sido transformado e fui o único sobrevivente. 


Levei mais de três meses para produzir esse filme e não é fácil não. Muitas vezes tivemos que refazer a mesma cena. Depois de tudo filmado, tem que editar. Quando foi apresentado foi muito legal, porque foram muitas pessoas, inclusive a prefeita da cidade de Santander. Tenho pensado em fazer um filme aqui no Brasil, mas o pessoal onde morro é muito desanimado. 

Quando morrei na Espanha tive uma namorada russa. Então não vou dizer que sei falar o idioma russo, mas se eu for em Moscou já o basicão eu saberei, como cumprimentar as pessoas, falar alguns pratos básicos de comidas. Até música para criança dormir eu sei cantar. Como também sei falar frases básicas como: "por favor uma cerveja", "bom dia ou boa noite", "eu vou dormir", "que horas são?", "quero sorvete, comida, água". Eu sabia contar até o numeral cinquenta, hoje eu mal e mal chego até o dez. 

Eu sabia muito mais, porém com o tempo e como não tenho com quem conversar acabo esquecendo o idioma vermelho. Minha mãe viria esse ano ao Brasil, mas já não existe mais esses planos. Meu irmão nasceu na Espanha e está convocado pelo Exército Espanhol, agora ele não pode sair do País, se a coisa esquentar de vez com a guerra na Ucrânia e a Espanha entrar em guerra ele terá que atuar. Assim, mais uma preocupação para toda minha família. 

Sempre estou à procura de novos desafios. Entendo que conhecimento não ocupa espaço. Participo de vários grupos de whats e assisto muitos vídeos na internet. Por exemplo tem o grupo de maquetes e de plastimodelismo, os dois são de aviões. Todavia, são técnicas e conceitos totalmente diferentes. Admiro também muito os trabalhos dos outros. Não tem o trabalho ruim, todo o trabalho levou um tempo e um esforço. 

O que as vezes falta é a falta de amadurecimento de uma técnica para melhorar o resultado final, mas isso é de cada um. Simples assim, da mesma forma, os meus trabalhos também irão amadurecendo com o tempo. E é isso que eu procuro, sempre aprender um pouco mais. Eu quero sempre aprender coisas, técnicas, métodos diferentes. 

O plastimodelismo tem uma técnica de pintura muito diferente, utilizam uma pintura muito aguada e depois passam um pano e fica com um efeito com manchas como se fosse do óleo e fumaça, como se estivesse sujo. Então posso adotar essa técnica na parte de trás da fuselagem do bréguinha. Acho também sensacional os dioramas, é fantástico esse trabalho. 

Existe técnicas para construir a grama, a areia, a terra. Tudo é feito com serragem, já cheguei a fazer alguns testes e funcionou direitinho. E o procedimento é simples, pega a serragem e mistura uma tinta colorante PVA diluída que vai virar uma pasta esquisita, deixa secar bem. Depois que secou está pronto. E é isso. Se a cor for verde, terás a grama, se for preta terá a terra.

O primeiro flight simulator que tive foi comprado na Espanha e era o modelo 98, havia comprado original em CD. Naquele tempo não sabia de nada, muito menos voar. Não tinha nem mesmo Joystick, com o passar do tempo passei a voar no flight simulator 2004 foi quando aprendi a voar melhor, até mesmo pela nova versão que havia evoluído muito. 


Depois passei para o flight simulator X, foi quando eu conheci o pessoal online. O próprio equipamento tinha uma rede de comunicação, que na verdade era uma porcaria, porque todo mundo fazia o que queria, um pousava e o outro decolava ao mesmo tempo na mesma pista, um pousando em cima do saguão e outro decolando de cima do portão de embarque. 

Porque na verdade a maioria dos usuários não sabiam era nada. Depois surgiram outras redes independentes e fui convidado por um amigo a conhecer um grupo de um pessoal, e fui conhecer. Era uma empresa virtual do flight simulator chamado Mercosul e outro Aliança Aérea Virtual, aí sim a coisa começou a ter graça de verdade. Éramos uma família. Começamos a ver os aviões um dos outros nos pátios dos aeroportos, combinávamos horários para fazer voos juntos. 

Então, decolávamos em três ou quatro aviões por exemplo do Galeão para Fortaleza. Cada um fazia o seu plano de voo, programávamos e cada um decolava com seu tempo de decolagem e tempo de separação, como se fosse realidade. Tudo certinho e seguindo as regras virtuais. A gente se via voando e tudo. 

Podíamos trocar de câmera, íamos conversando e escutando a torre de comando, e tinha que frequentemente conversar com a torre para passar planejamento, a rota, altitude. Era muito gostoso. Também tinha um canal para conversarmos. Éramos um pessoal muito unido. Havia pessoas do Brasil e da Europa. Hoje estou sem voar, porque meu computador queimou, mas quero voltar a voar.  

E para quem quer voar simulação tem que estudar muito. Mas mesmo não voando mais contínuo em contato com todos eles. Era um pessoal muito bacana tem por exemplo o vovô, cujo nome é Carlos Souza, Pena Brava, Rodrigo Araújo, Rodrigo Leandro, Alcântara. Eu e o Rodrigo Araújo as vezes fazemos umas presepadas na internet e o Alcântara já esteve na minha casa para consertar o meu PC. 

Na Europa eu também comprava revistas de aviação de uma coleção de fascículos que vinham peças juntos de um aeromodelo, mas no final pararam de vender e eu fiquei com o avião pela metade, depois falam dos brasileiros. Sempre fui apaixonado por aviões de guerra como o Mustang, B29, Mitsubishi A6M Zero, Focke Wulf 190, Nakajima B5N, Vought F4U Corsair, entre outros. 

Estou morando a três anos em Taubaté, mas não na zona central, aliás bem afastado, aqui onde moro não tem nada, é bem interior mesmo. Nas redondezas temos poucos recursos de tecnologia. Por exemplo a Lan Houser que frequento para imprimir não tem impressoras jato de tinta e nem laser. Eles têm aquelas de modelo de tanque de tinta que não permite imprimir decalque, porque como o decalque é uma folha muito lisa e a impressora de tanque solta muita tinta acaba espalhando toda a tinta, borrando e manchando a impressão. 

Se tivessem as impressoras de jato de tinta ou a laser eu poderia imprimir os decalques e depois passar um verniz e um fixador da Acrilex específico para essa finalidade, deixa secar e recortaria e estaria pronto a minha adesivagem de forma simples e barata. Hoje estou com quarenta folha de decalque para usar, só esperando o progresso chegar na vizinhança. Muitas vezes tenho até dificuldade para encontrar material para trabalhar. Estou economizando um dinheiro para comprar uma impressora de jato de tinta econômica para repor a tinta depois, mas as prioridades hoje são sempre conseguir pagar as contas e trazer os mantimentos para dentro de casa. Devagarzinho vou longe.


Como resido sozinho, sou eu que cuido de tudo na casa. Sou uma pessoa alegre na vida. De tudo eu busco tirar os momentos bons. Se ganhou de presente um limão amargo, que legal vou fazer uma limonada bem doce e gelada. Eu construo minhas maquetes, eu bebo minha cerveja com os amigos. As vezes vou na casa do meu tio que faz ensaio com um pessoal de banda. Eu tenho um instrumento carum e toco junto com eles. Eu vivo o dia e o momento.

Eu sou uma pessoa feliz da vida. Sempre estou rindo. Mesmo quando as coisas não estão bem, estou dando gargalhadas. Poço estar apertado com as contas e sem dinheiro, mas estou contente com o pouco que tenho e valorizo tudo que conquistei, principalmente as minhas amizades mundas a fora. Eu que cozinho, lavo roupa e louça. Limpo toda a casa do banheiro a cozinha e meu quarto. Esse é o preço de viver sozinho. 

Mas também tem suas vantagens, faço tudo do meu jeito e no meu tempo. Tudo fica arrumado como eu gosto. Mas na verdade, bem que eu queria alguém para dividir minha solidão. E com isso posso dedicar mais tempo aos dois canais que tenho no Youtube. Um fala sobre sobre os vídeos de curta metragem, efeitos especiais e tem os curtas que fizemos na Europa. O outro canal é de tatuagens que também sou tatuador, na Espanha às vezes eu fazia algumas para ganhar um dinheiro. Tem ainda um terceiro canal sobre aviação, onde tem vídeos meus voando no simulador com os amigos. 

Acredito que seja muito interessante as pessoas olharem meus canais, porque então poderão ver que às vezes é importante a pessoa se diversificar em várias coisas. Porque se uma porta se fecha, ela tem outra para abrir. E foi isso que eu sempre fiz. Nunca fiquei parado numa mesma coisa. O mundo é globalizado, e nós passageiros desse mundo também temos que ter a mente aberta para absorvermos o máximo de conhecimentos.

Costumo postar às vezes algumas coisas que construo no face, para divulgar meu trabalho. E assim, surgiu um convite para participar de um grupo de construtores de maquetes no WhatsApp para trocar ideias, dúvidas, fotos com um pessoas que constroem miniaturas, modelismo, dioramas, achei muito bacana a iniciativa. Dias depois surgiu um novo convite para contar minha história. 

Ai que fiquei emocionado, porque sou até humilde em falar, que nunca havia imaginado em fazer algo semelhante. E de repente surgiu essa oportunidade de alguém contar minha história e de ter gostado do meu trabalho, sem mesmo me conhecer pessoalmente, só pela internet, achei sensacional. Quando li algumas das matérias que já haviam sido publicas pelo blog, então que fiquei muito emocionado.

Fiquei parado no meu pequeno espaço onde faço as minhas maquetes, que de tão pequeno, nem posso chamar de atelier, fiquei olhando minhas ferramentas, meus esboços, anotações, desenhos. E agora querem contar minha história. Difícil de conter as lágrimas. Mas a felicidade aflorou e não contive a emoção e contei a maravilhosa notícia lá para o continente europeu, onde reside minha mãe, que também ficou muito emocionada. 

Essa semana vai ser até difícil eu fazer minha arte, porque fiquei muito emocionado, estou agora construindo um as asas do 747, já fiz as duas e falta fazer os perfilados, os arredondamentos das pontas das bordas de ataque e das bordas de fundo. É tão gostoso quando se encontra uma pessoa que reconhece o nosso trabalho, reconhece o que a gente faz humildemente com madeira encontrado nas esquinas das ruas. 

Minha paixão sempre foi aviação e construindo maquetes foi a melhor formar que encontrei para estar próximo da minha realização. Aviação para mim é tudo, está no meu sangue, até nem sei se tenho sangue ou querosene. Eu não pude ser piloto. Não pude estudar na época e seguir esse caminho. Hoje é uma alegria enorme poder fazer uma maquete tão bonita a partir de um pedaço de madeira que encontrei abandona num canto qualquer e que depois eu coloco na minha estante ou dou de presente para uma pessoa especial. 

Muitas vezes, eu fico admirando elas, e nem acredito que fui eu mesmo que fiz, a partir de madeiras como pedaços de cama, beliche, caibro, , armário, estrados paletes, caixas de feirantes. Tudo resto de madeira, tudo reciclado. Eu vou ficar realizado em ver uma matéria minha na internet, por menor que seja, por mais simples que seja, para poder enviar para minha mãe e para meu irmão que estão residindo lá na Espanha. 

Aprendei muito assistindo as lives e vídeos do Istael, sigo e não perco nenhuma informação que o Istael e o Pietro passam, a minha base de conhecimento é o Istael. A internet é uma revolução, tudo é possível aprender com ela, basta você ter força de vontade e realmente desejar aprender. E comigo não foi diferente, eu já fazia minhas maquetes e de repente tive a ideia de procurar vídeos na internet e não deu outra. Encontrei dezenas do Istael ensinando de forma bem simples várias partes de um avião que eu tinha enorme dificuldade ou construa de forma muito mais trabalhosa. São vídeos de vários modelos diferentes e tamanhos ortogonais e repletos de esquemas, assim fui aprimorando e aperfeiçoando minha técnica. 

Até então assistir os vídeos sou humilde em dizer que minhas técnicas eram muito amadoras. Era tudo na "tentativa do Certo ou Errado", perdia muito tempo. Acabava muito tempo pensando em como construir e até mesmo como solucionar problemas. Com os vídeos a mente se abriu e tudo ficou mais fácil. Claro tenho muito a aprender. Mas faço tudo por paixão de forma artesanal com estilete e como muita segurança.  Desta forma que aprendi a esculpir a madeira e a fazer a adesivagem, apanhando bastante. Mas tem que meter a cara e colocar as mãos na massa, senão não sai o bolo. 

Antes de entrar no mundo das maquetes, eu construía aeromodelos para vender. Construí um 737, um Sêneca e um MD-11, tenho projeto de um 747, uma construção de uma locomotiva para um primo meu caminhoneiro e para outro primo um ônibus. Voei muito tempo com simulador de voo, hoje não voo mais porque o computador está velho demais e não roda mais jogos. Ele está defasado e sucateado. 

Hoje o mínimo para rodar um simulador precisa ter 8 gigas de Memória Ram, um gráfico bom, uma boa placa de vídeo. Sempre também gostei de trem e ferrovias. Sou apaixonado pelas antigas Maria Fumaças. E saber que existem no mundo ferrovias com mais de cem vagões em pleno funcionamento é algo inacreditável. O Brasil ainda é muito aprendiz no transporte de carga e pessoas através de rede férreas. 

Temos muito a aprender com a Europa e Estados Unidos. Na Europa as pessoas cruzam países com confortáveis metros de superfícies. Tudo muito rápido, silencioso e econômico. No Brasil ainda nem temos metro nas principais capitais. Existe um ou outro projeto para interligação de trens entre cidades. 

E tanto que gosto de trem que tinha um simulador o "Microsoft Train Simulator, onde tinha todos os diversos comandos do trem. Ficava horas brincando com ele. Inclusive tenho um amigo de Juiz de Fora que é maquinista de profissão e que voou comigo durante muitos anos nos simuladores de avião, ele sempre nos explicou que locomotiva não é coisa simples não, tem todo um procedimento para dirigir, frear e tudo mais. 

Utilizo muito material reciclado, é inacreditável o que se encontra de madeira variada. Para quem faz pequenas artes de madeira, temos um verdadeiro supermercado a céu aberto nas ruas de todas as cidades. Vou muito nas feiras ambulantes de verduras, lá consigo muito material. As cidades brasileiras deveriam ter programas de reciclagem maiores, associados a supermercados, por exemplo com máquinas de fragmentar garrafas pets, de alumínio, entre outras. Onde o consumidor receberia alguns trocados com crédito. 

É assim, que funciona fora do Brasil, com incentivo financeiro, estaríamos fazendo um benefício para a natureza. Alguém já parou para pensar quantas toneladas de embalagem de remédios, blister, vão diariamente para os lixões? Qual é a família que não consome remédio? Então, não é raro eu encontrar na rua algum tipo de material de ótima qualidade e levar para casa. 

O que eu encontrar de madeira na rua eu trago para casa, se der para talhar eu carrego com certeza. E do lixo eles irão se transformar em lindas maquetes de avião, são minhas obras de arte. Também tenho no meu quarto um cockpit amador montado por mim, comprei um modelo 737, tenho o manche, as manetes de potência, com flaps, os pedais. Depois comprei umas placas e fui montando os painéis de controles do avião, um rádio, controle automático. 

Depois fui para a parte do maquetismo, onde fiquei apaixonado em desenhar, projetar e construir maquetes. O fato de você encontrar um pedaço de madeira jogado na rua como lixo e conseguir ver aquilo como algo que poderá ser transformado em algo lindo, é surreal, e mais significante é você ser o autor da transformação, do lixo em luxo. Não existem palavras que possam medir a minha felicidade quando eu finalizo um trabalho.

Lendo algumas das matérias do blog, descobri que não sou o único que ama aviação e que existem dezenas, centenas ou milhares de outros construtores, apaixonados e simpatizantes pela aviação. Tem pessoas que fazem de papelão, cabo de vassoura, garrafa pet, caixa de leite. Tem o Danilo que vai no serrado com o machado no ombro e derruba uma árvore seca para transformar em maquetes. Cada um tem sua forma diferente de fazer suas obras. 

Tem outros que fazem de madeira, inclusive com as perfurações das janelas, abertura de portas. E ele é como eu, tem pouco estudo. Aprendeu tudo na raça. Fazemos por amor a aviação, por amor aos nossos sonhos. Começamos a construir porque não tínhamos dinheiro para comprar nossos aviões, até que um dia tivemos a ideia de construirmos nossa coleção. E deu certo. É um negócio muito bacaba que está dando certo para muitas e muitas pessoas.

Também fico muito feliz com seu trabalho de incentivar a gente. Incentivar nosso trabalho. Ninguém nos enxerga não. Essa ideia de ter criado um grupo no zap para trocar conhecimentos e de abrir a porta para nós construtores amadores para contar nossa história e poder mostrar nossos trabalhos é sensacional. Nunca vi nada igual até hoje. 

E tudo de graça. você gasta tempo por amor a nós. Muito obrigado de coração por ter me encontrado. Você sempre está incentivando a gente, fazendo reportagem, lá no grupo postando coisas, mesmo não sabendo construir, sempre inventando alguma brincadeira para descontrair. 

Muito bacana sua atitude. Isso tudo que você faz para nós é muito importante, porque, no meu caso eu tenho o Face e o Instagram, nem sei como fazer uma matéria que você faz. Quando você me fez o convite, fiquei admirando as matérias, que muitas já tinha lido, e imaginando se seria possível sair alguma coisa minha, e devagarzinho estou vendo que está saindo. E quando você envia alguma coisinha para atiçar minha curiosidade, minha emoção vai nas alturas. 

E desta forma, eu que sempre quis ter minhas maquetes, estou realizando meu sonho. Sempre quis ter maquetes, mas como são muito caras, inviabilizava qualquer tentativa de compra. E ter uma maquete boa com todo o detalhamento que eu gosto é muito dinheiro que precisa ter. Até que tive a ideia de construir elas. Apanhei muito no início e até hoje ainda apanho. E é mais que isso, minha coleção eu mesmo que fiz, só eu sei o trabalho que me deu. 

As dificuldades que tive para resolver cada um dos problemas que encontrei, o tempo que levei estudando e esculpindo na mão cada detalhe. As vezes que me machuquei com o estilete, então o que eu tenho é único, só eu tenho, não existe nenhuma outra maquete idêntica as minhas. Podem e existem semelhantes, mas não idênticas. 

Já tentei fazer plastimodelismo, esse é outro hobby caro. E não é só o kit inicial que precisa ter. Volte e meia ocorre algum acidente, e então lá vem as peças de manutenção. Eu li uma das matérias que estão no blog que o rapaz gastou mais em manutenção que na compra do primeiro kit. E só começou a ganhar dinheiro quando passou a vender peças de manutenção de plastimodelismo. 

Para aprender a pilotar um modelo, vai com certeza alguns acidentes por aí. E então dinheiro se gasta também. Muitas vezes fico pensando como eu consegui construir uma maquete, sem nenhum conhecimento e com uns restos de madeiras que eu peguei a primeira vez. De onde eu fui tirar esse pensamento. É incrível, destes pedaços de madeira eu ter construído um avião tão bonito. 

Tenho a sorte de estar no mundo da internet. Assisto muito os vídeos do Istael e de todo mundo que posta alguma coisa sobre construção de maquetes e reciclagem de madeira e ainda participo de alguns grupos de modelismo. Um vai colaborando com o outro. Tenho um amigo, num desses grupos, o Leandro que entende muito de helicóptero, e vamos trocando conhecimento. Esses dias, outro amigo não estava conseguindo colar o adesivo do A320, então eu fiz alguns testes aqui em casa, consegui e mandei a ideia para ele, foi sucesso na hora. 

Desta forma, eu não faço as coisas só para meu conhecimento, temos que compartilhar e ajudar os outros. Outras vezes alguém me pergunta algo, e eu gravo um vídeo simples e mostro. E assim, também outros vem me ajudando. Eu pesquiso muito na internet. Fico pensando sobre os irmãos Antônio e Mário lá de Fortaleza, aprenderam na raça e na dor a construir maquetes de cabo de vassoura, sem professor e sem internet. Isso que é ser artesão raiz. 

Tenho sonho ainda de fazer um curso de piloto, não sei bem de que. Se vai ser de piloto esportivo, um brevê de piloto civil. Não podemos deixar de sonhar. Imagina, eu sem conhecimento construí um avião. E porque eu não posso sonhar em voar. Tem aquela matéria do blog do Comandante Perez, que virou Comandante também. Sonhar é preciso. Sonhar é vida. Tenho amigos na Colômbia, na Espanha, na Alemanha, minha história vai rolar mundo a fora. Minha experiência vai ser legal poder compartilhar com outros povos, outras civilizações, que pensam de formas diferentes e tem suas próprias culturas. Morei anos fora do Brasil, na Espanha. 

Sou uma pessoa que gosto muito de música, em especial de happy, cheguei a ter um grupo na Espanha. Onde eu cantava tanto em português e espanhol. E tinha um amigo francês que cantava em francês e outro amigo espanhol que cantava em espanhol. Era muito divertido tudo. Com tudo isso, tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas, muitas culturas diferentes, compreender como diferentes pessoas pensam. Até coisas simples como culinárias diferentes eu tive a oportunidade de degustar. Residir na Europa abriu a minha cabeça para o mundo, fez eu pensar de modo diferente. 

Aproveitei muito, conheci muitos lugares diferentes. Sempre fui curioso, então aprendi também a cozinhar muita coisa boa e trouxe tudo isso na minha bagagem. Brincando virei um Master Chef caseiro, entre o que aprendi na Europa e o que aprendo na televisão e na internet. Gosto muito da paella, ceviche, mariscos, gosto muito de comida tailandesa, um pad thai. Cheguei a viajar duas vezes para a Tailândia para treinar culinária tailandesa. 

Cresci com a mentalidade que se tenho um limão amargo, vamos fazer uma limonada e não um temporal. Desta forma, todas as dificuldades que tive na Espanha, como não saber o idioma, não conseguir um emprego, o preconceito, eu transformei em aprendizado e força de superação para meu crescimento. As dificuldades geram de certa forma em oportunidades, que aportam para nós. Possibilita parar para pensar nas coisas de forma diferente, de sairmos da caixa. Não adianta ficar pensando nas coisas ruins que acontecem, não é conformismo, é simplesmente realismo. As circunstâncias nos levam a tomar decisões, ou vamos para a direito ou para a esquerda. 

O que não podemos fazer é ficar parado lamentado a situação. Vamos em frente. Cada dificuldade é amadurecimento. Desde a compreensão de como conseguir um emprego e que tipo de emprego. Ou, poderia ter ficado no meu mundo isolado, mas abri um universo de amizades latino-americanos, não perdi a oportunidade de conhecer e criar amizades com os vizinhos do Brasil e conhecer suas culturas e mesmo hoje estando no Brasil converso diariamente com eles.

O brasileiro tem que ter a visão, e até acredito que já tenha, que os empregos que vamos poder assumir são exatamente aqueles que os europeus não querem trabalhar. Temos que ser muito conscientes, temos que saber que vamos fazer isso e pronto. E tendo essa consciência e aceitação, aperfeiçoar seus conhecimentos. Você vai ser ajudante de cozinha, faxineiro, manicure, cabelereiro, garçom, atendente de bar, ajudante de pedreiro, encanadores, eletricistas, motoristas de caminhão, cuidadores de crianças e idosos, colhedor de frutas, colhi muita azeitona e uvas em fazendas para fabricação de vinho e azeite de oliva. 

Muitos dos empregos além de precisar dominar o idioma, precisa de algum curso e de ter experiência. Se você não é garçom para chegar nesse cargo, vai ter que entrar como faxineiro e se tiver muita sorte do patrão com o tempo gostar de você e te dar uma oportunidade, depois de você já ter treinado bastante. As maquetes que eu faço, construo por amor, não faço para vender. Comecei a construir porque não tinha dinheiro para comprar e ter minha frota de aviões. Tudo que aprendi foi correndo atrás na internet ou perguntando aqui ou ali para algum amigo. Aprendi desde cedo a me desenrolar.  

Fiquei muito emocionado ao ler a primeira versão da minha matéria. Aliás até fiquei assustado com tanta coisa escrita. Nunca imaginei minhas histórias sendo escritas por alguém, e publicadas num blog. E logo de mim, de uma pessoa que não é conhecida, não é famosa, não tem dinheiro, não trabalha na televisão. Apenas estou aprendendo a fazer maquetes. As vezes paro para pensar, como pode alguém pode investir tantas horas e dias escrevendo tudo isso. Já estamos a semanas. No início até pensei que seriam duas ou três páginas.

Que nada, é toda minha história de vida. E você não ganha nada de dinheiro para escrever. Imagina a hora que a minha mãe ler tudo isso. Ela vai ficar louca. Ela vai sair lá na Espanha mostrando para todos os vizinhos e amigos: "Olha a matéria que fizeram do meu filho lá no Brasil!" "que isso e que aquilo". Sabe como é mãe né? Ela já está toda ansiosa porque eu fui falar da matéria. Imagina quando estiver pronta. 



Um abraço e muito obrigado Jones Rodrigues. Os meus amigos brasileiros, colombianos, venezuelanos, mexicanos, espanhóis e tantos outros também irão fazer uma enorme festa quando verem a matéria e as fotos. Vai ser uma festa intercontinental. Às vezes eu tenho que parar e dar uma arrumada no meu atelier, porque fica com serragem, restos de papel que cortei para fazer os desenhos ortogonal, colocar as coisinhas nos lugares, porque no dia a dia acaba ficando um pouco atirado. Organizar as fotos que usei. 

Procuro fazer as maquetes seguindo as escalas convencionais e medidas certas inclusive em todos os seus componentes. Por exemplo se estou construindo uma maquete 727 não vou fazer com as turbinas de tamanho de um 747, fica muito feio e os motores acabam em destaque. Não dá para ter um avião com o motor enorme ou pequeno demais. Hoje já consigo compreender pequenas diferenças entre os modelos, como por exemplo o 727 tem uma caída redonda e na parte traseira por causa da terceira turbina que vai na cauda.

Enquanto os demais aviões são mais planas e suaves.  Outra coisa que aprendi é deixar a parte da frente do avião por último para esculpir. De forma que durante todo o trabalho ela fica quadrada e só no final que vou arredondar ela e preparar o alinhamento com as linhas do avião. Aprendi que a pressa é inimiga do marceneiro, ou seja, não dá para querer apressar as etapas. 

Realizada a pré pintura, antes de passar a lixa é necessário deixar secar muito bem, caso contrário ao lixar irá acontecer avarias no avião e terá que ser refeito o trabalho, desperdiçando tinta, lixa e tempo. E quanto mais seco, melhor para trabalhar. Mas como bom brasileiro sem dinheiro muitas vezes improviso algumas soluções, até porque ainda estou aprendendo. Uso massa epóxi que permite reparar muitas falhas. 

Uso muito material reciclado como canudo grosso de açaí, chapinha de latinha de cerveja, caninhos de antenas em geral de alumínio, principalmente aquelas antenas telescópicas antigas que uma vai entrando na outra, são ótimas para fazer as turbinas. Uso também uma tirinha de latinha de refrigerante enrolada num prego, colo com durex e cubro com massa epóxi, depois pinto e a turbina está pronta. Então a base do modelismo é aproveitar todos os recursos que estão ao nosso redor. 

E como tem matéria prima a nossa disposição. Desde madeira que entramos na rua, restos de armários, camas, assoalhos, caixas de feira. Uma maquete minha é constituída de materiais diversos, pode ter ao mesmo tempo o charuto de uma madeira nobre como um mogno ou um carvalho e uma madeira simples e barata como o pinus. Tudo dependerá apenas da matéria prima que encontrar nas ruas e esquinas. 

Porque que com certeza se me deparo com algo que eu saiba que poderei aproveitar, não pensarei duas vezes para levar para casa seu puder transportar. Qualquer coisa. Quando um feirante fica sabendo que daquelas caixas de pinus quebradas serão utilizadas na construção de uma maquete de avião, eles não acreditam e ficam achando que estou zuando com eles. Só não dá para aproveitar folhas de árvores. Porque do resto tudo se aproveita, basta você ter imaginação e criatividade. 

  

Mas tem coisas que tem que comprar mesmo, como o prime, que aliás está muito uma fortuna para comprar. Massa acrílica tem que comprar também. E como sou muito exigente eu dou uma camada de prime, uma de massa acrílica e dou uma lixada geral bem leve para consertar todas as imperfeições. Então dou uma nova camada de prime para então aplicar a cor branca. Somente depois disso que começo a pintar o avião com as cores finais em PVC e PVA. A parte mais complicada é a pintura, e todos me dizem que é a mais simples. Mas eu apanho de mais. 

Por mais que eu tome cuidado, acabo cometendo erros e então para corrigir é uma trabalheira. Para fazer uma letrinha levo um enorme tempo, vou para a próxima acabo manchando a primeira. E as bordinhas prateadas nas asas e nos motores eu acabo fazendo as bordas maior, e aí tenho que fazer a pintura novamente. Pintura é um trabalho delicado e suave, e sou muito bruto. Quando chega o momento de fazer os acabamentos seu que terei que ter coragem e paciência. 

Acho que vou ensinar meu gato siamês a pintar, vou amarrar o pincel no rabo dele e ver no que vai dar. Tem aviões que coloco trem de pouso, mas a maioria não coloco porque o suporte que utilizo já estão num pedestal na posição de decolagem, e economizo tempo na construção do trem de pouso porque é mais complexo de construir e dificulta a venda porque terei que precificar o custo do meu tempo e do material envolvido. 

Assim tem momentos que é melhor simplificar o produto. Agora quando é uma encomenda que já é solicitado desta forma, então já é construído conforme o gosto do cliente, que as vezes solicita ou com o trem de pouso totalmente baixado ou recolhendo. Hoje eu chego a levar um mês para construir uma maquete, e tenho que balancear o preço final, senão ela fica encalhada por causa de pequenas coisas como essa que encarecem o produto final.

Depois da pintura começo a marcar o avião para as letras da cauda, imprimir as janelas e portar. E para colocar as janelas tenho um esquema de usar o durex para colar as janelinhas e depois passar água para tirar o papel de baixo. Como já expliquei sempre estou me atualizando e um dos meus sonhos de consumo hoje é poder ter uma impressora 3D para poder construir pequenas das minhas maquetes. 

Estou fazendo um avião 737 de 16 cm na escala 1x200, então construir os componentes pequenos é coisa de artista. Isso iria economizar muito tempo e também poderia abrir um vasto mercado para realizar outros serviços terceirizados para outras pessoas e talvez para empresas também. O importante é isso, temos que sempre estarmos com a cabeça aberta, saímos do quadrado. Não é porque eu aprendi a fazer uma maquete digamos de caixa de fósforo que irei passar o resta da vida fazendo da mesma forma. Temos cérebro e precisamos sempre evoluir. 

Apesar de não gostar muito da etapa da pintura, eu procuro na maioria das vezes escrever eu mesmo na maquete. Por exemplo estou construindo atualmente um avião e vou escrever as letras KLM com tinta mesma, a única adesivagem será as janelas e alguns outros detalhes que são pequenos como as letras KLM no motor, aí não tem jeito não. E para fazer as letras claro que não irei realizar de mãos "limpas". Vou usar dos recursos da tecnologia de uma impressora. Vou colocar o desenho de uma maquete de 30cm, vou pegar o modelo da KLM e sobrepor, então vou fazer uma escala, com isso irei imprimir as letras como se fosse um gabarito. 

Em seguida fixo na maquete as letras para poder riscar e fazer a cobertura da parte externa das letras com durex e então pintar onde estavam as letras. Senão for assim, é impossível pintar com perfeição. Claro poderia fazer as letras e tudo mais numa gráfica, mas tudo isso encarece o preço do produto, e quanto mais caro, mais difícil para vender. Normalmente uma maquete minha tem quatro ou cinco demão de tinta e são muito lisinhas. É um trabalho artesanal e não industrial. 

Para quem nunca construiu uma maquete de avião existem alguns segredos que são essenciais de serem seguidos, sendo: primeiro se preocupar com a segurança e para isso ter uma boa luva de proteção contra cortes e perfuração que tem a venda numa boa ferragem e não pode ser luva simples de pano ou de limpeza, tem que ser luva de proteção mesmo, senão vai cortar o dedo e levar pontos, porque com estilete não pode se brincar. 

Sempre trabalhar de calça, usar uma madeira macia, usar um bom e novo estilete e por fim usar para modelagem o "desenho ortogonal", para transformar o pedaço bruto da madeira no esqueleto da maquete. Ou seja, o desenho ortogonal é propriamente dito o desenho do avião que será a matriz do trabalho, pode ser usado a olho ou no início até recortar o desenho e colar na madeira e com ele realizar todo o trabalho de esculpimento, que não pode ter pressa, tem que ser realizado com muita atenção. Com o tempo você aprenderá os macetes. 

Costumo dizer que sou um pouco de faz tudo, mas minha profissão mesmo é ser operador de retro, empilhadeira, pá-carregadeira, retroescavadeira e até caminhão sei dirigir trucado. Essa paixão começou quando eu era criança e ia na fazenda de algodão dos meus tios, que tinha um trator velho para puxar algodão e jogar veneno na lavoura. 

E numa madrugada me levantei na surdina sem ninguém saber e fui no paiol pegar o trator. Não tive dúvida, montei o bicho, liguei o motor e saiu dando cavalinho de pau. Claro que não demorou muito lá fui eu pro chão capotando o trator. Para completar o espetáculo lá estava a lua cheia no céu revelando a minha audácia para toda a minha família me olhando na varanda, e eu junto com o trator tombado.

E esta profissão exige além de tudo paixão e dedicação, porque são tantas alavancas e você está trafegando no meio do trânsito e de pessoas, se não tiver atenção é fácil e rápido acontecer um acidente. E no trânsito é diferente de esculpir uma maquete. Se você era a maquete, pode colocar uma massinha, lixar e pronto. No trânsito são vidas de pessoas, e dependendo não tem volta. Tem máquinas que tem dois comandos, outras com três comandos e já tem máquinas que você opera com dois joysticks. 

O que tem umas de fácil de operar, tem outras de complexidade, já peguei uma com mais de vinte comandos individuais. Umas com o giro da lança no pedal, que torna a operação mais complicada até o profissional se acostumar. Já trabalhei com várias marcas diferentes. Também já trabalhei muito com escavadeira. 

Até lembra de certa forma esses comandos todos a cabine de um avião, claro numa escala infinitamente menor. Inclusive muitas vezes estava no comando da escavadeira e brincava com os colegas fazendo meus vídeos: "Atenção tripulação vamos decolar o Airbus em minutos". E até guardei de recordação algumas coisas da época que operava essas máquinas como cadeado, a carteira de propaganda da retroescavadeira, boné. 

Com o tempo você descobre que tem máquinas que são boas para trabalhar e tem outras que são boas e confortáveis para trabalhar. É aquela história a diferença entre o "menino" e o "homem". Tinha uma máquina que quando eu trafegava na Av. do Estado ela pulava para tudo que era lado e eu parecia que estava em cima de um cavalo selvagem. Eu tinha até medo de dirigi ela.

  

Para fazer a parte interna da turbina as vezes tenho que improvisar. Corto umas chapinhas de alumínio bem fininha para simbolizar a fan (blaider) que gira dentro do motor. Pensa numa coisa tão pequena, delicada e difícil de ser construído. Assim, por menor que eu corte a chapinha ela fica grande demais. E por outro lado, para manusear é pequeno demais. E com a massa de Durepox tem que ter muita habilidade para não ficar desalinhado e desproporcional ao tamanho do avião. E quanto menor a escala da maquete maior é o problema. 

Estou construindo atualmente uma maquete de um 737 na escala 1x200, e como estou sofrendo para construir. É nesta hora que nasce a criatividade para solucionar problemas, estou pensando em pegar um canudo de assai de 600 ml e colocar um pouco de massa dentro e com um lápis devarzinho colocar as lâmina de alumínio que cortei, e depois colocar tudo direito dentro da turbina. Vai ser na tentativa e erro. Já fiz alguns testes, mas ainda não decidi qual será a melhor solução. E esse tempo de estudo o cliente não enxerga e como precificar?

Muitas pessoas quando ficam sabendo que sou construtor me perguntam qual a parte mais difícil de fazer. Eu de forma geral até tenho dificuldades na pintura e nos componentes pequenos. Fora isso entendo que a maior dificuldade é compreender o design de cada projeto que se faz pela primeira vez, aprender suas linhas, suas particularidades. Entender a delicadeza do arredondamento da frente e das janelas da cabine, tem sua complexidade. Cada modelo tem o seu alinhamento das linhas para constituir o formato da fuselagem. Estou iniciando a construção de Antonov, esse sim vai ser complicado. 

A muito tempo queria construir ele, mas estava sem material. Mas esses dias achei na rua uns bons pedaços de móveis, e claro que trouxe para casa. Cortei alguma coisa com uma serrinha de mão que tenho, mas vou ter que mandar terceirizar o corte dessa madeira. Porque vou usar madeira dura como beliche e caibro. Comecei fazendo a "vista lateral" do Antonov, cheguei a esculpir dos dois lados, tirei todo aquele amontuado de madeira com o estilete. Só que estou um pouco perdido. Porque com o vídeo que assisti, tem que cortar para cá e cortar para lá. 

Então, resolvi parar, descansar, estudar melhor, antes de fazer uma besteira e perder o meu trabalho até agora. O Antonov tem muitas quebradas e ângulos bem personalizados seus. A parte superior nem comecei a fazer, tenho que realmente estudar muito bem. A parte da frente é muito complexo é como se fosse um charuto em cima de outro charuto. O cockpit é bem estranho mesmo. 

A parte do desenho ortogonal não fiz ainda e também nem imagino ainda como irei colar. A única coisa que sei, é que não sei. Ainda não cheguei nos motores, se até aqui já perdi cabelo, imagina para construir as turbinas. Mas estudando e com calma o Tonhão vai saindo. E sem combinarmos estão sendo construídos pelos amigos Eduardo e Josiel também outros Antonov, por causa que com a guerra da Rússia com a Ucrânia foi destruído o Tonhão. 

Esse avião é um desafio para todos nós, estamos saindo da nossa zona de conforto. Porque construir Boeing, Airbus e jatinhos tem algumas dificuldades, mas um Tonhão é um enorme desafio em cada uma de suas etapas. Lembro do meu primeiro ATR como apanhei e não consegui construir corretamente. Mas no segundo já peguei as manhas. E assim vai ser com o Antonov.

Sem dúvida alguma a fuselagem do Tonhão foi a mais difícil que já fiz até hoje. Ele tem curva para tudo que é canto. Coisa de doido. Curva que entra para dentro, curva que vai para fora. Comecei a riscar e cortar e não acabava mais. Coisa de doido mesmo. Uma fuselagem de um Boeing eu faço em três hora fácil, nesse levei mais de oito horas. E o Tonhão não me perdoou, deixou suas marcar nas minhas mãos com o estilete.

Meu estoque de caixas de frutas da feita nunca acaba, porque quando estão acabando, lá vou eu na feira atrás delas, e os feirantes já sabem que uso as caixas para construir maquetes, elas são ótimas para fazer asas e profundor. Estou agora num barzinho com um amigo bebendo uma cerveja e já estou vendo um palete atirado na calçada, que quando eu for para casa, já vou levar comigo. Temos que aproveitar tudo que achamos. Temos que reciclar tudo. É tranqueira que tiramos da rua que vira obras de arte. Tem o pessoal que coleta latinhas de alumínio na rua para vender e eu recolhe madeira para fazer meus aviões. 

Chego as vezes até a andar com um estilete no bolso porque se encontrar um pedaço de madeira, já vou verificar na hora se a madeira é boa para esculpir ou não, porque senão for boa, nem levo para casa. Agora na época que trabalhei para uma prefeitura no ABC Paulista como operador de retroescavadeira, presenciei muito desperdício de madeira boa, e hoje eu penso que se naquela época eu soubesse fazer maquetes, teria hoje matéria prima para o resto da minha vida, estaria rico. 

E tinha também acesso a máquinas para serrar, já poderia trazer tudo para casa na escala correta. Poderia ter um enorme estoque para fazer os charutos, as assas, os profundor. Com certeza algo para milhares de aviões. E hoje eu paço um apuro lascado para encontrar umas madeirinhas, mas fazer o que né? Assim, o que eu encontrar levo para casa, talvez não vá usar agora, mas com certeza em alguns meses provavelmente irá se transformar num avião. Porque o que é gratuito sai mais fácil para nós construtores artesões. 

Mas já teve momentos que não encontrei a madeira apropriada para construir meu avião. Esse é o momento da criatividade, que nunca pode faltar. Como as madeirinhas de caixa de verduras de feira sempre tenho de reserva, não pensei muito e improvisei. Juntei três ripas e coloquei bem elas com cola branca. Como não tinha um "grampo" que seria a ferramenta ideal para prensar as ripas durante as 24 horas de secagem, enrolei e amarei bem com um fio de luz para prensar as ripas de pinus, e funcionou muito bem. Uma coisa que sempre digo a todos, é que não somos professores. 

Não faço vídeos de aprendizagem. Pelo contrário eu sou aprendiz, todos os dias estou aprendendo alguma coisa. Apenas posso dar conselhos de técnicas e dicas em geral. E também como sou um rapaz muito brincalhão, acredito que possa motivação para outras pessoas. Agora existe um grande segredo para quem nunca pegou um estilete e deseja começar a fazer maquetes. De nada adianta ficar ouvindo conselhos e assistindo vídeos, enquanto você não escolher sua categoria. Digo o que você quer fazer: maquete de madeira? de PVA? De cabo de vassoura? De papelão? De  caixa de leite? O segundo passo é decolar com o bichano. Ou seja, escolher a madeira certa e começar  a esculpir. 

Atualmente estou finalizando cinco maquetes todas de 30 cm, um ATR, um Embraer, um 747, um 737-800 e por último um MD-11 que inicialmente estava construindo para minha coleção, mas depois tive a ideia de montar a coleção na escala 1x200 porque desta forma é possível observar as diferenças de tamanho entre cada modelo de avião, ao colocarmos os modelos 707 e 787 um ao lado do outro iremos constatar a enorme diferença de tamanho, que se reflete também nos aviões verdadeiros. 

Por exemplo enquanto o 707 transporta no máximo duzentas e vinte pessoas, enquanto isso 777-300 pode transportar mais de 550 pessoas. Pretendo colocar todos a venda, e com isso financiar os custos da minha coleção e de outros projetos, quem sabe a minha impressora. Depois da coleção de escalas, que fazer outra com os aviões clássicos com a bandeira da Varig, como o Eletra, DC3, Constellation.

Estou fazendo um Cessna para o amigo Fabinho que inaugurou uma adega, vai ser um presente especial de um modelo semelhante àqueles que puxam uma faixa de propaganda na beira do mar. Irei colocar o logotipo da adega no avião, vai ficar irado. Estou apanhando porque o logotipo é pequeno, então já viu né. Já estou na fase da pintura. OOOO como eu gosto de pintar!!! A intenção era terminar o avião antes da inauguração, mesmo correndo muito, não consegui terminar a tempo. E ele irá pendurar a maquete no teto da adega. 

Construir uma maquete é muito mais que a simples arte de transformar o lixo em algo que volta a ser admirado por muitos. No tempo que estou construindo um aviãozinho, estou em outro mundo. É a melhor forma de eliminar todas as minhas preocupações e tensões do dia a dia. Eu posso chegar em casa estressado com alguma coisa, pego um pedaço de madeira e começo a entalhar, o tempo vai passando e quando percebo já estou criando, nem vi o tempo passar e muito menos o stress e as preocupações acabar 

Aproveito para parabenizar a iniciativa do Blog em fazer matérias para contar as histórias de cada um, principalmente dos que fazem maquetes. Alguns são artesões profissionais de décadas que através deste trabalho conseguiram sustentar suas famílias. Outros estão começando a bem pouco tempo a travessia dessa jornada. Percebi que não existe distinção entre aquele artesão que faz com perfeição e aquele que está aprendendo. 

Tem matérias enormes e outras bem menores. Tem um pouco de tudo. Artesões que fabricam maquetes com cabo de vassoura, madeira, papelão, folha de papel, latinhas, caixa de leite, dentro da garrafa, isopor. Podemos dizer que é uma biografia de cada um de nós. Isso é uma coisa que nunca vi em outro lugar. Alguém ter nos enxergado e querer divulgar o nosso trabalho, sem querer cobrar nada. 

Acredito que de forma geral, nós artesões todos somos financeiramente humildes e sempre temos dificuldades para comprar nossos materiais, e barreiras no dia a dia para poder vender nossos produtos, além das dificuldades que muitas vezes as pessoas consideram nossos produtos muito caros e nem imaginam o trabalho e tempo que é investido para a sua elaboração. Nosso produto não é industrial. Não sai pronto de uma linha de produção onde se fabricam dezenas ou centenas num dia. 

Pelo contrário, levamos até trinta dias para construir uma maquete. E cada um dos aviões que fabricamos será único. Não existirá outro igual aquele, porque ele não saiu de uma forma. Ele foi esculpido a mão, pedacinho a pedacinho, foi lixado a mão, foi pintado à mão. Foi revisado milimetricamente a olho cada centímetro de sua superfície. É como se fosse um filho. E na hora de sua decolagem para um outro destino, lá no fundo sempre dá uma certa melancolia de saudade.

Eu sou uma pessoa que não tenho muito, mas o pouco que tenho sempre estou disposto a ajudar. E a melhor forma de ajudar é compartilhando conhecimentos e técnicas. Tenho o prazer de colaborar quando um colega artesão me procura pedindo um modelo ortogonal. Já saio pesquisando e montando e tão logo esteja pronto já envio em PDF. Já compartilhei com muitos colegas a técnica de entalhar a madeira utilizando o desenho ortogonal colado ou desenhado na madeira. Muitas dicas também já dei sobre técnicas de pintura, mesmo não gostando de pintar.

Esses dias mesmo passei um desenho para o amigo Leandro um desenho ortogonal do 737 e também uns vídeos de como fazer os arredondamentos e esculpimento. Eu ajudo os amigos fazendo a adesivagem e envio para eles por whats e depois eles imprimem. Acredito que ajudar os outros é gratificante. É como eu vivo dizendo, eu não tenho muito, mas o que tenho estou disposto a ajudar. Já ajudei pessoas com o dinheiro que eu precisava agora, mas eu sabia que daqui trinta dias eu conseguiria repor esse meu dinheiro, mas aquela pessoa nem em trinta dias iria ter aquele dinheiro.