quinta-feira, 28 de julho de 2022

Cristovam - Uma História Repleta de Casos e Paixão Pelo FerreoModelismo

 

Esta matéria teve a contribuição de vários artistas desenhistas, que dedicaram alguns momentos de suas vidas em ilustrar essa encantadora matéria. Teve a participação especial das crianças Noah de apenas três anos, o Davi de sete anos, o Theo de dez anos. Elas na sua inocência e no encanto mostras com seus desenhos retratam de forma simples como encheram o mundo místico e real ao nosso redor. Também tivemos a participação não menos importante dos adultos Maria, Binho, Leandro, Edison, Bernardo, Gustavo,  Rodrigo, Tabata e Fernando. Sem a participação de todos não poderíamos ter ilustrado os diversos casos que o Sr. Cristovam vivenciou em sua jornada. 

A matéria é linda, cheia de detalhes. Conta um pouco da história da cidade de Joanópolis, sobre Ferreomodelismo, a vida e os causos do Sr. Cristovam, aliás repleto de causos engraçados. E no final da matéria um texto em vermelho imperdível de ser lido, não esqueça de ler o texto final. É uma mensagem especial para você, feita com carinho e dedicação pelo Sr. Cristovam.

Para os corajosos e curiosos, Joanópolis é também a capital nacional do Lobisomem, a cidade é conhecida nacionalmente como a "Terra do Lobisomem", onde já foram realizados vários programas de televisão sobre o tema e matérias de jornais e revistas. Muitas pessoas da cidade garantem já terem ficado cara a cara com a dita criatura, inclusive o o Cristovam. Consultando a internet facilmente se acha diversas matérias sobre o assunto. Tem possibilidade de acampar em Camping junto com a natureza com rios e toda a estrutura. 


Muitos dizem se tratar apenas de lenda e folclore como o "Saci Pererê" ou a "Mula sem Cabeça". Mas outros garantem que o Lobisomem existe e se trata de um homem normal que vive no Pico do Selado que em noite de lua cheia ele se transforma num lobo. E sua missão é proteger a montanha. Para outros ele vive na cidade e que nas noites de lua cheia se refugia na montanha para não atacar pessoas e por isso que não existem registros de assassinatos de pessoas na região.

De fato todo mundo tem uma história para contar, inclusive eu tive dois encontros com o Lobisomem que estarei relatando na minha história. E o comércio da minha cidade é muito focado a essa criatura, da mesma forma que a cidade de Gramado ao Natal. Existem trilhas sugestivas nesse assunto, todavia nunca recomendo por todas as razões a realização de uma trilha sozinho, principalmente a noite.  Nossa cidade é um ótimo local para ser realizado um passeio num feriado ou num fim de semana, por ser ao lado da capital, é rapidinho para chegar e voltar. 

Mas para as pessoas que acreditam e temem a existência e eventual ataque do Lobisomem eu recomendo duas coisas. A primeira é evitar passar próximo a encruzilhada e a cachoeira que são os dois locais que a criatura mais foi vista até hoje. E a segunda recomendação é comprar na cidade um repelente natural de Lobisomem desenvolvido a base de pinga que foi desenvolvido depois de vários estudos desde a fundação da cidade. 

Passar um dia, descansar, esquecer dos problemas, caminhar em nossas ruas, visitar nossa Igreja, fazer alguma trilhas, almoçar e claro fazer algumas compras de produtos coloniais como queijo, cachaça, doces, bolachas, pães e artesanatos variados. Quem vem além de se apaixonar, sempre quer voltar. Ficam apaixonados pela tranquilidade. Pela natureza. A primeira vez ficam só no domingo, depois acabam ficando o final de semana e o feriadão. 

As ruas estão repletas de barracas e de pessoas. Tem barraca de comida de tudo que é jeito, de tiro ao alvo. Tem brinquedos, parquinho. Tem gente que vai até lá em baixo. Chega lá, volta para cima e depois desce de novo. Você fica tonto só com a movimentação. É pior que a Vinte e Cinco de Março de São Paulo. Na época que eu era criança vinha até o circo junto, era muita diversão para a criançada e para os adultos. 

E para piorar o caso, como eu sou gordinho, eu fico tropeçando nas pessoas, então dou três passos e já chuto um descuidado que atravessa no meu caminho e já peço desculpas. É certeza chutar a canela de um e pisar no pé de outro. Gordo é uma tragédia em festa. Não posso ir mais na festa, porque se eu parar numa barraca de chope, já para dois atrás de mim me pedindo para pagar um chope para eles. Tem pessoas que eu nem conheço, e sabem até meu nome. Sei lá como sabem quem eu sou. E pagar para os outros eu não pago mais não. 

Eu pego um copo de chope e vou beber num lugar escondidinho e sossegado, e ainda assim, eles me acham. A gente já sai meio de fogo de lá, meio para cá e meio para lá. Aí que sobra mesmo para as canelas dos outros. Isso quando eu não amasso o dedão de um e você escuta um "Filho da Puta". Eu na festa fico zonzo que nem barata de tanta gente. E armam um palco a 100 metros de casa com música caipira. 

Fiquei um pouco lá e um já vem querer me abraçar, outro já vem todo mamado, aparece mais um que só quer falar merda. Pior que candidato político, todo mundo quer abraçar você, tá doido. Lembro que certa vez, o circo trouxe um leão e levaram o leão dentro de uma jaula em cima de um jeep para dar uma volta na cidade para chamar a atenção do pública. Para que? 

Naquela época todo mundo tinha cavalo, porque era como todos nós nos locomovíamos dos arredores para a cidade. Foi só os cavalos sentirem o cheiro do leão que foram dando um jeito de se arrancar de onde estavam amarrados e saíram correndo mundo afora dando coices e pontapés. 

O leiteiro que vinha buscar e entregar leite nas casas, foi só sentir o cheiro da ferra que deixou um rastro branco pelo caminho. Era a carroça e o cavalo correndo, um mais que o outro e o triste do leiteiro desesperado correndo atrás do ouro branco ficando no caminho com as badaladas dos tachos de leite.  Nestes dias o leiteiro tinha que fazer a lida de carro, porque de carroça não tinha jeito não. 

A gente era menino arteiro. A gente sempre aprontava, uma vez eu, o Antônio e o Batata resolvemos entrar no circo de graça, passamos por debaixo de um caminhão, depois por debaixo de um trailer. Ninguém nos viu e chegamos até a lona. Levantamos a lona e demos de cara na jaula do leão. Que cagaço nós três levamos. Ficamos os três parados, feito estátua. A gente tremia o corpo todo e batia os dentes de medo. Nisso o leão escutou a nossa tremedeira levantou as orelhas e olhou para nós.

E nós nem pensamos duas vezes. Largamos a lona e saíamos voando dali deixando o nossa rastro por onde corríamos. Eu na verdade nem sei como consegui me arrastrar em baixo do trailer porque eu sempre fui gordinho. Mas para fazer arte, a gente dá um jeito né. Nesse dia devo ter emagrecido três quilos de tanto que corri. 

Minha mãe era professora primária e meu pai motorista de ambulância da cidade. Eu brincava muito quando criança, mas muito mesmo. Brincava nos montes de areia que virava playground, era o meu paraíso. Sempre gostei de brincar sozinho. Tinha meu irmão pouco mais velho, meus primos e amigos, mas sempre gostei mesmo de brincar sozinho com meus brinquedos. Eu tinha meus caminhões, meus carrinhos, meus brinquedos. Às vezes jogava bola com os moleques e também brincava nos monte de areia e obra, onde a gente fazia estrada, túneis, ponte. 

A briga era quando o pedreiro vinha buscar uma lata de areia para fazer o serviço dele e a gente tinha que ficar brincando, e o entendimento não era fácil, principalmente conforme o monte de areia ia acabando e o nosso parque de diversão ia chegando ao fim. Nós tínhamos uma imaginação fértil. Nossos carrinhos de dentro de casa não iam para o monte de areia. Então, o carrinho era os tijolos mesmos.

No Carnaval era outra festa sem igual. Na nossa cidade, um jogava água no outro. E não era só água não. Tinha de tudo, ovo, farinha.  A gente pintava e bordava. Chegava em casa imundo de sujo, mas isso era outra época. Outros tempos. 

Tempos da brincadeira inocente. Andava muito de bicicleta também. Meus amigos vinham brincar na minha casa e eu na casa deles. Mas na verdade eu gostava mesmo é de brincar sozinho, eu espalhava todos os meus brinquedos no assoalho da sala ou no quarto e lá ficava horas brincando. 

Certa vez fomos numa turma de quarenta moleques de bicicleta num sítio de um amigo. Cada um levou alguma coisa para comer e beber na mochila. Tinha coisa para um festa, sanduíche, bolacha, bolo, refrigerante, tinha de tudo. No meio do trajeto nos deparamos com uma cobra na estrada, e a gente não sabia o que fazer, se passava por ela, se voltava, ou se matava a cobra. Uns achavam que ela estava morta, outros diziam que estava dormindo. 

A turma gritava para a cobra e ela nada de se mexer. E sempre tem o esperto e entendido de tudo e já foi explicando, essa cobra é aquela que corre mais rápido que cavalo. Melhor não chegar perto, porque ela vai pegar um de nós e engolir inteirinho, O mais valentão pegou um pau e foi lá cutucar a cobra de longe. 

Foi só dar a primeira cutucada na cobra, que ela se virou rápida para nós e nos encarou. Nisso, não ficou um ali perto para contar história, saiu todo mundo correndo de medo. Para trás ficou a cobra e as bicicletas. E depois cadê a coragem para voltar e pegar as bicicletas. Deixamos passar o tempo e um por um foi pegar a sua bike. 

Na volta outra aventura, dessa vez nos deparamos com uma vaca que tinha um chifre que dava quase uns três metros de altura e todos nós com medo de passar pela vaca. Quarenta meninos e nenhum tinha coragem de passar pela vaca. Todos medrosos. Mas com calma, um por um foi passando distante e a vaca nem bola para nós.

Quando eu tinha meus dez anos, meus pais ganharam um sítio de herança dos meus avós. Foi quando nos mudamos para o sítio e ficou mais difícil brincar com os amigos em razão da distância. No verão às vezes aparecia algum amigo para tomar banho e brincar numa cachoeira que tinha. Eu ia para a escola do ginásio de bicicleta à tardinha, a deixava na casa da minha tia, ia para a escola assistir a aula à noite.

Dormia na casa da minha tia e voltava para o sítio na manhã seguinte, as vezes pegava carona com o leiteiro e voltava na carroça com a bike dependurada. No sítio tínhamos uns quinze bezerros, que fugiram para o terreno do vizinho, então eu meu pai e meu irmão mais velho fomos trazer eles de volta. Os animais corriam de um lado e nós atrás de um lado para o outro. 

Numa dessas, vinham descendo o morro os bezerros e eles atrás, mas eu estava lá em baixo no caminho deles, quando percebi que iriam passar por mim, meu extinto fez eu me abaixar, porque eu era gordinho e não iria conseguir correr muito longe, isso se eu não pisasse em falso naquele terreno cheio de pasto alto e quebrasse ainda o pé. 

E os bichos vieram descendo, quando me viram abaixado, mudaram a direção, mas eu levei um cagaço. Outra vez eu estava passando a grade com o trator para alinhar o terreno para fazer a plantação de pasto para o gado. Como o sol estava quente, parei o trator em baixo da jabuticabeira para colocar óleo no trator. 

Quando eu percebi de um enxame de abelhas estava chegando, era uma fumaça preta de abelhas, devia ter mais de dez mil abelhas. O meu cachorrinho cascou fora, não ficou para ver nada. As abelhas ficaram em volta da jabuticabeira e eu me meti em baixo do trator, porque não dava tempo mais para correr. Fiquei lá quietinho, mas não sai ileso não, levei umas cinco ferroadas calado e quietinho ali em baixo. Puta que Pariu levei um aperto danado. Quando elas foram embora, eu também casquei fora, estava todo inchado e dolorido. 

Ainda com meus dez anos fui na inauguração da Represa do Jaguari com meu pai que era vereador. Eu queria ir de todo jeito. Meu pai foi no carro do prefeito que só tinha lugar para ele. Então tive a ideia de ir num ônibus que havia sido colocado a disposição pela prefeitura para ir até a represa. Várias cidades ao redor tinham tido a mesma ideia de levar a população para prestigiar a inauguração e presença do Governador Paulo Maluf que chegou de helicóptero. Isso tudo era muita novidade. Muita gente. Muita movimentação e eu não poderia perder nada. 

Eu sempre fui moleque, eu aprontei muito na escola. Os meninos tinham testosterona no sangue, a gente vivia criando briga dentro e fora da escola. Não tinha jeito. Mas tudo pura inocência. Um dia tive a ideia de colocar uma tachinha na cadeira dos colegas na sala de aula. Cada um que sentava dava um grito e eu e as meninas dávamos gargalhada.

 Elas nem sabiam o que estava acontecendo. Não demorou muito e alguém colocou uma na cadeira da professora, mas ela sentou e nem sentiu, quando levantou percebemos que estava dependurada em sua saia de jeans.  A gente esperava que ela desse um grito e nada.

Às vezes faltava energia elétrica na escola, e como a aula era a noite, não tinha outro jeito que sermos dispensados. Então de repente escutávamos o sino ser batido pelo seu Augustinho. Mal começava os badalados do sino e a gurizada já estava fora da sala da aula e ficava só o professor para trás. Era um estouro da boiada correndo. Não ficava ninguém para trás, tínhamos que sair o mais rápido possível antes que a luz voltasse. 

Certa vez, a luz voltou nesse alvoroço todo, e quem disse quem alguém voltaria para a sala de aula, só porque o diretor queria. Nisso o seu Augustinho correu e fechou o portão, ai quem já não tinha passado pelo portão, acabou pulando o murro. E eu? Eu era gordinho!! Como iria pular o murro? E tive que voltar para a sala de aula.

Eu tocava na fanfara da escola, fui escolhido para tocar Azabumba, toquei por uns três anos. Eu era o primeiro da fila da fanfara junto com o Hélio Boy, nós dois puxávamos a fanfara (Bum Bum Bum), e pegámos a batuca virar no ar lá em cima. A Azabumba para quem não conhece é um bumbo grande.

Quando a gente ia treinar, éramos dispensados das aulas e o professor deixava copiar depois. E íamos tocar com a fanfara em Bragança, Piracaia. O mais engraçado é que os instrumentos musicais eram guardados no porão da escola, e o medo da gente entrar lá, porque era meio escuro e tinha uma caveira humana da aula de química, porque certa vez a turma entrou lá dentro e a caveira estava sentada fora do seu lugar com a tocando a Azabumba. 

Teve colega que desmaiou lá mesmo e tivemos que arrastar pelos cabelos, e com tantos instrumentos para a bendita caveira tocar foi escolher logo o meu instrumento e para que nos outros dias os colegas diziam que o esqueleto tocava melhor que eu!!!  Depois daquela vez, o boato rolou na escola toda e a turma se borrava de medo de entrar no porão para buscar ou colocar os instrumentos. O porão era em baixo da nossa sala de aula, e volte e meia a gente lembrava e comentava "o bicho morto está aqui em baixo, o defunto está aqui em baixo!!!" 

A sala de aula é uma coisa, mas a gente entrar no porão era uma coisa totalmente diferente. Quem entrava sozinho entrava a mil por hora e saía a dois mil por hora. Certa vez o professor Antônio tirou o esqueleto do porão e colocou no corredor nas aulas a noite e apagou as luzes da escola. Estava escuro e ninguém enxergava nada, lá foi o seu Augustinho com o sino na mão para suspender as aulas e liberar os alunos. A gurizada ia saindo das salas de aula e travou tudo no meio do corredor. Quem dizia que a gente passava pelo esqueleto que ficou no meio do corredor.

A turma que estava na frente voltava para trás e dizia vamos esperar voltar a luz. E quem estava lá atrás não entendia porque. Cada um que chegava na frente, voltava para trás. Chegou a minha vez, quem disse que eu passei por ele, passei nada voltei para trás. Esperamos todos a luz voltar. Ficamos quase três horas esperando a luz voltar dentro das salas de aula, volte e meia alguém dava uma olhada para ver se o esqueleto tinha ido embora. Que nada, lá estava ele nos esperando.

Meu sonho era ser motorista de caminhão ou de ambulância. Isso foi influência de meu pai que era motorista de ambulância. Meu pai sempre foi meu herói. Nas horas dos problemas era ele que sempre era meu refúgio. Mas na verdade até os meus quatorze ou quinze anos não tinha interesse de ser nada, nem pensava nisso. Meu mais profundo interesse era de ser criança, o que na verdade continuo sendo e nunca deixei de ser e jamais deixarei de ser uma criança feliz. 

Eu gostava de ser criança, de brincar, de ser feliz, de ajudar meus pais nas tarefas do sítio. Naquela época no sítio eu amarava vários carinhos um atrás do outro e depois amarava todos na bicicleta e ficava horas dando voltas e voltas com aquela carreata de carros, caminhões, trator atrás de mim. 

Como eu gostava de brincar, que saudade daqueles tempos maravilhosos que não voltam mais. A gente brincava de carrinho de rolimã e descia na descida do Largo da Cadeia, descia a mil por hora. Nós não tínhamos medo nenhum, era tudo brincadeira e pura emoção. Quanto maior a velocidade do carrinho de rolimã maior era a adrenalina. Não muito raro, alguém voava e capotava com o carrinho, mas que nada de choro ou hospital, era virar o carrinho e correr para a próxima descida. 

Eu sempre tive dificuldade para estudar. Os piores anos eram o ginásio, sempre ficava em recuperação e o professor Vânio que também era gordinho acabava me ajudando na recuperação para as provas. E eu brincando dizia para o professor que estava cevando um franguinho caipira e se eu conseguir passar em todas as provas eu lhe darei de presente. Eu passava nas provas e acabava dando nada o tal do frango. 

É tempinho bom. A gente brincava do pátio de fubeca no pátio da escola, que é chamado também de bolinha de gude ou bulita. A gente fazia um buraco no chão e ficava brincando. Na verdade a gente nem estudava direito. Só pensava na hora do recreio. Corria de pique e salva dentro da escola para lá e para cá. Era muito gostoso. 

Quando começaram a dar merenda para a criançada, eu sempre fui o primeiro a chegar na fila. Eu batia um prato de sopa, de sopa de mandioquinha, as vezes macarronada. Eu chegava primeiro, comia tudo, e voltava para a fila para ser o último, e comia duas vezes. A cozinheira perguntava se eu já não tinha comido e eu respondia que ainda não. 

O tempo bom da escola. Ela dizia que sim e eu que não. Que devia ter sido meu sósia. O professor Vânio chegou a ser diretor da escola e depois prefeito da cidade. Aos quinze anos comecei a namorar, também nada sério. Dei meus primeiros abraços e beijos. Levava as meninas até a lanchonete e outros passeios. Esse era o namora daqueles tempos. Bem diferente dos tempos atuais. 

O tempinho bom quando a gente era criançada. Um dia o Soldado Santos veio conversar com a gente que estava brincando na praça que ficava em frente da cadeia e nos avisou que tinha um preso muito ruim que pegava criança e fazia sopa de criançada, pior que o velho do saco. E o medo que a gente ficou. Em cima da cadeia era a delegacia, então a gente subia as escadas para soltar avião de papel ou homenzinho de paraquedas, naqueles dias nem passamos perto da calçada da cadeia. 

As vezes na saída da escola a noite a gurizada ia joga baralho no porão do bar do Ticão que era na praça, tinha que ir até o fundo pelo lado de fora e depois tinha uma escadinha para descer para o Tidi que tinha um campo de bocha ou jogar baralho. Haviam duas mesas que o pessoal ficava jogando cacheta. A gente jogava praticamente só para se divertir, porque as apostas eram de dois reais, coisa de moedas. Certa vez, estávamos jogando numa mesa com onze participantes, e a gente sabia que no forro haviam ratos que corriam para lá e para cá. 

De repente as luzes piscaram e houve um grunido alto, o pessoal olhou para o teto e nisso desabaram seis enormes ratos em cima das cartas. Virou uma bagunça, foi garrafa e copos virados, foi uma onda se sujeira. Nisso caiu também uma enorme caranguejeira, e eu detesto aranhas. O pessoal saltou das cadeiras com o susto que levaram. Teve velho que caiu da cadeira, outros bateram com a cabeça para trás na parede. Outro caiu e machucou o braço. Enfim, acabou o jogo e eu nem dormi aquela noite por causa da aranha caranguejeira. 

Eu aprendi a dirigir o carro do meu pai quando moleque, devia ter quatorze anos. Meu pai que me ensinou no seu fusca. Ele me ensinou dentro do sítio. Eu ia até a primeira porteira e voltava de ré. Assim eu ia, para frente e para trás a tarde toda. Naquela época a gasolina não era cara como é hoje. Com o tempo meu pai liberou para eu ir até a segunda porteira, então eu podia manobrar e voltar de frente. Que alegria, nossa!!  Nunca bati em ninguém. 

Os outros já baterem em mim. A minha mãe só sabia dirigir para frente, manobrar ela não sabia. Ela teve que tentar seis vezes para tirar a carteira. E para tirar o carro da garagem ela pedia para nós. Quando ela pegava o fusca, quase arrancava o motor do fusca. E não fechava vidro, não fechava nada. Se chovesse molhava o carro e meu pai ficava puto da vida. 

Certa vez  eu e minha mãe fomos a São Paulo acompanhar meu pai levar de ambulância uma senhora e seu filho. Chegando lá, eles iriam passar o dia no hospital. Deixamos a ambulância na Santa Casa e fomos bater pé nas ruas da cidade. Não demorou muito já estávamos no metrô. E quando minha mãe viu a tal da "escada rolante" quem é que convencia ela a andar nela. "Caipira" do interior, não teve jeito, subiu e desceu na escada normal. 

E eu expliquei a ela que as portas do metrô eram automáticas e muito rápidas. Que mal eram abertas, já fechava. Para que eu fui dizer isso. Minha mãe ficou em pânico, foi o metrô parar e abrir as portas que ela atropelou e empurrou todo mundo que queria descer e entrou desesperada.  

Enquanto o trem estava em cima da terra, tudo estava muito bem. Foi o trem entrar nos túneis que ela pensou que era o fim do mundo. Minha mãe era uma peça, uma figura. Era braba, mas muito companheira. Naquele dia fomos na Mesbla comprar presentes para todo o mundo. Eu comprei dois carrinhos. E dali fomos na Av. São João almoçar. Caminhando na Av. São João um morador de rua bateu com uma lata no chão e deu um estouro alto que minha mãe quase teve um enfarte. Ela achou que tivesse sido um tiro. Nossa. 

Outra vez, meu pai foi voando numa veraneio para São Paulo, com um menino que havia sido picado por uma coral. A mãe desesperada, bateu na divisória e disse que seu filho estava babando, sua febre havia aumentado. Meu pai vendo aquilo não pensou duas vezes. Na Fernão Dias, que naquela época não era duplicada, foi cortando pela direita e pela esquerda com a sirene ligada, morro a baixo, a toda velocidade. Em Guarulhos tinha que parar, e ele parou voando no vermelho. Quando chegaram na Santa Casa atrás vinha também um Fusquinha da Polícia Rodoviária. 

E o policial já venho falando alto e grosso para meu pai que ele tinha feito isso e aquilo, que vou ter que multar. Meu pai continuou os procedimentos com a correria dos médicos, foi quando ficaram sabendo que a criança havia morrido e não haviam chegado a tempo. A mãe chorava. Meu pai pegou o cesto que estava a cobra também morta  mostrou ao policial e disse me de a multa. O policial olhou tudo aquilo, virou as costas e foi embora com a multa rasgada.

Certa vez, estava no sitio de meus pais, que tem uma casa grande construída no início dos anos 1.900, com vários quartos e pé direito enorme. Então, eu tinha um quarto só para meus brinquedos e claro minha linha férrea escala HO. Naquela época nem sabia o que era o Ferreomodelismo. 

Minha mãe me disse que iríamos receber visitas importantes de autoridades da região no sábado e queria tudo muito bem organizado. Eu estava ainda montando a linha, então lá fui eu revisar tudo e ver se estava em perfeito funcionamento. Testei várias vezes e a locomotiva corria pelos trilhos perfeitamente. E por segurança deixei o trem rodando por mais de uma hora sem nenhum problema.

No sábado as autoridades chegaram, meus pais fizeram churrasco para recepcionar a todos. Haviam madames e engravatados. Após o almoço minha mãe foi apresentar a casa antiga para os visitantes. Explicando que o sítio era para finais de semana e para férias. Eu já estava ansioso para mostrar a minha locomotiva rodando nos trilhos. 

Eu teria ido direto ao quarto onde ela estava e pronto. Quando chegamos finalmente na maquete, fiquei feliz em ver as expressões de admiração de todos e claro que perguntaram se o trem funcionava. Expliquei algumas coisas com a maestria de um maquinista e pedi para ninguém tocar em nada porque ainda não estava pronta toda a maquete.

Então coloquei a rodar o trem. Todos ficaram encantados, e eu nem preciso falar nada, meus olhos brilhavam como estrelas pelo meu triunfo. Eu havia colocado o trem premeditadamente para ele passar por último por um túnel, essa seria meu grande triunfo. Assim ele entra no túnel e para. Como assim para? Eu havia testado centenas de vezes, o deixei rodando mais de uma hora e agora ele travou! Como assim? E todos me olharam! Como se eu fosse culpado. 

Então, disse a todos, calma, houve algum probleminha. Naquela hora eu queria sumir dali. Mas vamos resolver o problema. Ao tirar o telhado do túnel me deparo com um enorme rato, que ficou tão assustado comigo que saltou no centro da maquete e dali no piso do quarto no meio da mulherada. A mulherada ficou desesperada. Elas ao invés de simplesmente saírem do quarto, ficaram pulando feito doidas malucas e uma ainda pulou em cima da mesinha com a maquete e não deu outra, foi tudo pro chão. Verdadeiro desastre. 

Destruiu tudo. E os seguranças ouvindo aquela gritaria toda também entraram correndo no quarto, mais gente para pisotear o que já estava quebrado. A locomotiva, os vagões, os trilhos, tudo foi pisoteado e quebrado. Com isso entrou meu cachorro também que queria entrar no quarto para pegar o rato. Era gente querendo entrar e gente querendo sair. 

Duas pessoas querendo sair e três entrar. Uns já bem mamados. E não demorou já tinha duas mulheres caídas no chão. A maior gritaria. Se fosse um filme, a cena terminaria comigo e com o rato sentados um de costas para o outro e o trem destruído no fundo.

Depois disso, fechei tudo e deixei muito tempo assim. Um dia, resolvi dar uma olhada e ver o tamanho do prejuízo. Tinha muita coisa quebrada e sem conserto. Então o que estava quebrado levei pro quintal e botei fogo, e o que sobrou em bom estado eu guardei em caixas. E o rato? Acho que o rato levou um susto tão grande que foi embora, deve ter pensado que ali era casa de malucos. Pegou suas trouxas e se foi embora morar nos arredores da casa. Nunca mais vi o rato. E também decidi nunca mais me envolver em trem e pronto.

Tempos depois na saída do médico em São Paulo, dei uma passada no Shopping Paulista, nos Brinquedos Laurer e descobri a Caixa Básica na Escala L. A vendedora abriu a caixa e demonstrou como funcionava. Minhas pupilas saltaram. Foi paixão a primeira vista. Quando eu percebi, já estava com o pacotão da escala L embaixo do braço. 

Comecei a montar em cima da escrivaninha. Com o tempo a escrivaninha ficou pequena porque se comprava os trilhos separados. Comecei a montar no chão. Não demorou muito e o guarda roupa teve que sair do meu quarto e a televisão já foi dependurada na parede, ficando só a minha cama e a maquete no quarto. 

Nisso eu fiz um jogo na Loto Mania e ganhei um dinheiro bom, algo em torno de dez mil, e com isso eu construí um quarto só para minha maquete. Se de um lado eu perdi aquela vez a minha maquete com o rato agora eu havia recuperado o prejuízo. Quando eu era criança minha mãe me encarregava de eu fazer algumas compras em Bragança Paulista de ônibus. Íamos com vários amigos, todos com a mesma missão. Íamos de manhã e ficávamos o dia todo fuçando nas lojas.

Certa vez fuçando numa banca de jornal achei um jogo chamado kit kit, que era para montar uma cidade de papel grosso que se destacava e ia montando a cidadezinha, tinha escola, delegacia, ponte, rua. Ficavam horas montando minha cidade com papel descartável, recortando e colando os papéis. Isso foi muito bom, adquiri muita experiência em montagem, que depois aproveitei para montar as cidades ao redor do terrorismo. Mas naquela época de criança nem sabia o que era trem elétrico. 

 

Primeira vez que vi um trem rodar sozinho foi numa loja aqui em Joanópolis, que era a Neide Magazine, que era uma loja de variedades. Onde a dona havia trazido para seu filho um ferroaram. Mas eu nem pedi aos meus pais, sabia que eles não teriam dinheiro para comprar, mas não esqueci o trenzinho circulando sozinho nos trilhos. Era algo muito simples, todavia era muita novidade para um menino simples como eu naquela época. Meus brinquedos a maioria eram de plástica bolha porque eram baratinhos e hoje valem uma fortuna. 

A arte do FerreoModelismo é como um enorme quebra cabeça. Só que não tem fim. Porque envolve sempre estarmos aperfeiçoando nosso digrama. Envolve tudo que pode ter numa cidade, e principalmente a imaginação das pessoas. Vão desde coisas simples como árvores, casas, pessoas, automóveis até pequenos detalhes como cachorros, carroças com cavalo, hortas, sacolas de lixo. Tudo depende da imaginação e claro do espaço disponível para a locomotiva correr e criarmos a cidade ao redor. Como também podem existir diversos temas para a locomotiva passar, desde cidades, fazendas, praias. Isso é paixão que não acaba mais. É um vício saudável que une pessoas. 

Fui crescendo e aos dezoito anos tive um tumor muito sério, atrás do lado direito, que gerou enormes dores de cabeça e rápidas perdas de visão, procurei um médico em Bragança Paulista, onde fui encaminhado para o Hospital de Bragança, que de lá fui encaminhando para o Hospital das Clínicas de São Paulo, onde fiz uma cirurgia e foi extraído o tumor. O olho direito passei a não enxergar absolutamente nada. E passei a realizar tratamento dali em diante que será realizado para sempre. Todo o tratamento foi no Hospital de Clínicas em São Paulo durante semanas. 

Meu pai me levou na segunda feira cedo. Na quarta me visitou e na sexta feira me buscou para passar o final de semana em casa. Foram dias intermináveis porque naquela época não existia celular e não conhecia ninguém no hospital. O médico e a enfermeira passavam uma vez por dia para me olhar. Eu ficava fechado numa ala dentro do hospital. 

Certa vez fiz um exame chamado de nega teste, tive que sentar numa cadeira semelhante da cadeira elétrica. Foram amaradas minhas mãos e pés na cadeira, como também a cintura, pescoço e a cabeça e quando você menos espera surge o médico com uma enorme seringa vazia para retirar um líquido da espinha e injetam um ar na espinha. Aquela ar sobe na cabeça para ver onde está o tumor. Fora isso te virão de ponta a cabeça. Aquele negócio subiu na cabeça e a impressão que tive é que a cabeça ficou gigante, como se tivesse aumentando de tamanho umas quinhentas vezes. 

Depois que fiz esse exame, tive que ficar 24 horas deitado imóvel na cama sem me mexer para a espinha voltar ao normal e cada hora era colhido soro e trocado o soro. Foram 24 horas de sofrimento. Com todos os exames fizeram a cirurgia e foi extraído o tumor do olho direito. Depois foi transferido para o Hospital Beneficência Portuguesa para fazer radioterapia onde fiquei mais de um mês.

Na Beneficência Portuguesa conheci outro paciente que estava a mais de cem dias fazendo tratamento de radioterapia decorrente de estilhaços da Segunda Guerra Mundial. Um dia ele me disse que não ficava de jeito nenhum trancado dentro do hospital. Então, me convidou para dar uma volta até a capela do hospital depois da seção de radioterapia. Foi então que descobri os caminhos perversos do Hospital, fomos para lá na Av. Paulista. 

Então a partir daquele dia, nunca mais comi sopa dentro do hospital. Ele era um homem de dinheiro e eu sai todos os dias com ele para peregrinar nas ruas e avenidas de São Paulo. Engordei comendo MacDonald's entre outras porqueiras. Íamos no Shopping assistir filmes. Ele se sensibilizou muito com tudo que eu estava passando, sozinho como ele dentro do hospital e um fazia companhia para o outro. A gente voltava para o hospital as vezes quase meia noite.  

Foi assim durante uns dez dias. Um dia o médico chegou para conversar conosco e cadê a gente? Perguntou para o enfermeiro que respondei que achava que estávamos na capela. O médico que não era bobo, olhou atravessado para o enfermeiro e perguntou: "quem é que vai para a capela essa hora da noite?" E lá foi o médico conferir na capela ao vivo e a cores. E a capela estava vazia isso sim. O médico ficou sentado na capela esperando para ver o que iria acontecer. 

Não demorou muito, nós chegamos pelo acesso externo próximo da capela. Nisso ele berrou "Os fujões chegaram da festa!" O Homem ficou uma onça de brabo e acabou nossas saídas para a Av. Paulista. O médico colocou um segurança na nossa ala o dia todo nos vigiando. Mas foram nessas saídas que descobri o Ferreomodelismo, Lá eu comprei uma revista Quatro Rodas que tinha uma reportagem do Alfredo Lupatelli.

Como meu tratamento seria longo, tive a brilhante ideia de aproveitar minha estada em São Paulo para dar asas a minha imaginação e aos meus sonhos. Essa seria minha oportunidade. Comprei um Guia Quatro Rodas, onde depois de estudar direitinho o Guia aprendi a utilizar o metrô, os trens e os ônibus e a me locomover na cidade de São Paulo e então lá fui eu desbravar a desconhecida capital do Estado de São Paulo. E já sabia muito bem onde queria ir, meu destino era conhecer o mundo do Ferreomodelismo.

Assim, toda vez que viajava a São Paulo para fazer consulta, tratamento ou buscar remédio já aproveitava para peregrinar nas minhas aventuras. Primeira vez que entrei na loja do seu Alfredo foi como entrar na Disneylândia. Entrei na loja umas dez horas da manhã e só fui sair às quatro da tarde. Eu nem sabia o que olhar e muito menos por onde começar. Dinheiro não era problema, porque o que eu tinha não dava para comprar nada mesmo. Então era só olhar e alimentar a felicidade dos meus olhos. E como tinha coisa para olhar. Não acabava nunca. 

 

Com o tempo comecei a comprar meus trenzinhos, comecei com os Frateschi. Era Frateschi para cá e Frateschi para lá. Naquela época esse brinquedo era que nem brinquedo da Estrela para quem amava trem elétrico. Chegou a ter a ter até Outdoor espalhados nas cidades e nas estradas. Era a maior sensação da época. Era um brinquedo nacional e bem mais barato que os trens importados. Curiosamente nunca tive a oportunidade de andar de trem quando criança, até porque não havia trens em minha cidade. A paixão surgiu como encanto ao ver os trenzinhos andarem nos trilhos. 

Com o tempo despertei para procurar outras lojas de trens. Fui à Major Sertório, fui à Rio Grande Modelismo, onde conheci o Ailton, a Original, a Rogério Cordeiro. E ia para cá e para lá, sempre com meu Guia Quatro Rodas em baixo dos braços. Desbravando as ruas e avenidas de São Paulo, como Pedro Alvares Cabral desbravando os oceanos. E como eu era feliz naquela época. Era uma forma de levar meu tratamento e minha doença de uma forma melhor e menos agressiva. 

Porque não foi fácil não o tratamento. Eu comecei a mexer com o Ferreomodelismo em 1984 e naquela época tinha que correr de loja em loja para comprar. A internet chegou às minhas mãos em 2000. Hoje tudo é fácil, faz uma pesquisa na internet, eu só compro no Mercado Livre, nunca tive problema. Certa vez tive que pegar um táxi para ir até a loja da Rio Grande na Martinho Fontes, naquele tempo ainda não existia a estação do Hospital das Clínicas do Metrô.

Estávamos descendo a Rebouças e um motoqueiro arrancou o retrovisor do taxista com o pé. O motorista ficou furioso e perseguiu o motoqueiro mundo a fora, até esqueceu que eu estava dentro do táxi e passou longe do meu destino. E eu dizendo para o taxista : "para, para, para". E ele que parava nada! O motorista estava nervoso, furioso e só saia palavrões da sua boca. Perto da Estação da Luz o motoqueiro parou e o taxista puxou de baixo do banco um enorme revolver 38. 

Ele saiu por uma porta e eu pela outra. Já saiu do carro com o revolver erguido para cima, e eu não fiquei ali para contar história não. Do jeito que o bicho desceu para brigar com o motoqueiro com o revolver na mão, eu casquei fora, catei minhas coisas e sumi na multidão. Que homem doido, vê se pode umas coisas dessas. 

Na loja da Frateschi recebi um convite para ir num encontro da Frateschi em Ribeirão Preto que era realizado anualmente no mês de agosto e lá fui eu para Ribeirão Preto e conheci alguns amigos como o Carlos Eduardo Amador, o Vandi, o Gerson, o José Augusto, o Miguel, Ivani Barbosa, Dr. Fernando, o Rosário La Mana e muitos outros amigos que agora nem consigo lembrar os nomes, desculpa por não lembrar o nome de todos, até porque se eu for escrever o nome de todos que eu tenho amizade dá para escrever um caminhão. 

Depois começaram a realizar encontros variados como em Bebedouros, São Carlos, Campo Limpo Paulista, Campinas e outras localidades também. Sempre houve muitos encontros de Ferreomodelismo. Conheci bons amigos na loja da Rio Grande, como o Dr. Fernando, uns já se foram, outros ainda estão com a gente. Quero dizer que no mundo do Ferreomodelismo fiz boas e maravilhosas amizades. Temos que viver nossos momentos, porque amanhã podemos não estar mais aqui. 

Com o tempo conheci a Revistinha do Centro Oeste do Flávio Cavalcanti, foi quando tive a ideia de conhecer outras pessoas que tivessem essa mesma paixão, assim escrevi para a revistinha solicitando endereços de pessoas da região para eu poder me corresponder. O Flávio Cavalcanti respondeu minha carta com vários endereços e telefones de apaixonados de Bragança Paulista, Atibaia, Jundiaí, Várzea Paulista,  Campinas e devagarzinho fui escrevendo e telefonando para cada um. 

Conheci muitas pessoas, algumas eu telefonei, outras eu mandei cartinhas. Naquele tempo não havia as modernidades e facilidades do mundo de hoje para se conversar. Não tinha nada de internet, face ou whatszap. Telefonemas eram caros. E você escrevia as cartinhas que levavam semanas e até meses para receber uma resposta. 

Com esses contatos recebi um convite para fazer uma maquete, um rapaz havia ganhado um vagão restaurante de um trem e teve a ideia de fazer um clube para nos reunir. Isso há muitas décadas atrás, chamei vários amigos apaixonados pelo Ferreomodelismo, o pessoal gostou do espaço e da ideia. Assim, começamos a definir qual seria o modelo e tamanho do trem. E tinha que comprar madeira, fios, tomadas, trilhos, os trens e tudo que envolvia nossa paixão. Foi quando o rapaz me disse que estava desempregado e sem dinheiro. Combinamos voltar a conversar no futuro, porque eu também estava sem dinheiro. Assim antes de começar, nem comecei.

Fizemos o nosso primeiro encontro em Campo Limpo Paulista, numa praça de eventos, era aniversário da cidade, tinha festa de peão boiadeiro. Haviam quatro ou cinco maquetes, eu levei uma maquete pequena em escala N, o José Augusto levou a dele. O Cadu, Carlos Eduardo Amodore levou a dele e esqueceu que a voltagem lá era 220 e não deu outra, queimou o controlador que estava em 110, e no ano seguinte queimou novamente. Fizemos o primeiro, segundo e terceiro encontro ali. Já no quarto e quinto anos foi num clube, um local mais fechado. 

Depois para frente no Fubazão, que é o Ginásio de Esportes de Campo Limpo Paulista. Chegamos a realizar encontro no mercadinho em Jundiaí. Fizemos encontro dentro do complexo da Fepasa, que é a Ferrovia Paulista. Realizamos encontros em Lovena, Valinhos, Joanópoli. Nosso grupo sempre foi muito admirado. O Cadu conheci no encontro de Ribeirão Preto, conheci ele no ônibus. 

Ele foi oferecer para a turma barrinha de cereal dentro do ônibus. Era só brincadeira no ônibus e nos encontros. Fizemos seis ou sete encontros em Ribeirão. O ônibus fretado saía do Tietê, era uma festa só. Tempo bom. Que saudade. Tinha também o Dr. Fernando, outro amigo do peito. Era só divertimento. Aqui perto da minha cidade tinha o seu Edgar, outro amigo bom, meio brabo, mas muito bom. 

Semanas depois os entusiastas de Jundiaí me chamaram para uma reunião no Museu de Jundiaí, aproveitei e levei junto uma pequena maquete Escala N e levei junto para mostrar e brincar um pouco, A administração do Museu achou interessante a ideia e cedeu um espaço no andar superior. O Museu abria as portas às 09 horas e nós chegávamos um pouco antes. Subíamos para o andar superior e começávamos a montar algumas maquetes e fazer os trens rodar. Contávamos histórias e dávamos muita gargalhada. Era muito divertido e foi uma época que conheci muitas pessoas. 

Fui à loja do Rio Grande Modernismo em São Paulo e deixei um cartaz sobre os nossos encontros no Museu, também fui convidando todos os amigos apaixonados e todos os entusiastas fazendo a mesma coisa. E devagarzinho o nosso encontro foi crescendo, e chegou a ter registrado no livro do Museu até trezentas pessoas nos dias dos nossos encontros que sempre eram no terceiro domingo do mês, e nos outros dias não passavam de vinte pessoas. A Prefeitura chegou a levar a banda para tocar e incluir o Museu na rota do turismo da cidade da Fruta e da Uva, o pessoal descia. 

Cada um de nós levava um prato de salgado ou doce e um refrigerante e deixávamos tudo na cozinha do Museu. No fim do encontro fazíamos uma festinha na cozinha. Era tudo alegria. Era tudo festa. E depois limpávamos tudo, deixávamos tudo limpinho da mesma forma que encontrávamos. No nosso último encontro ocorreu um incidente que não tivemos culpa e nem os funcionários do museu. Depois que saímos e deixamos a cozinho toda limpinha, foi feito uma bagunça. No encontro seguinte nos proibiram de entrar no Museu, ninguém havia nos informado de nada.

Dali embarcamos nossos encontros para a casa do seu Brás no Campo Limpo Paulista, onde fomos recebidos uns quatro meses, até que ficou adoentado. Então, o José Augusto ofereceu sua chácara também no Campo Limpo Paulista. Gostamos e lá ficamos por longos quinze anos realizando o nosso Encontro no Terceiro Domingo do Mês. Onde cada um leva um pratinho de salgado e um refrigerante  até a pandemia chegar. Lá a gente brinca, se diverte, conta história, voltamos aos nossos tempos de crianças, é uma maravilha. 

Hoje somos conhecidos no Brasil inteiro nossos encontros. O pessoal leva material para vender. O Zé Augusto é uma pessoa sensacional, ele abriu a chácara de forma espetacular. A gente chega às 09 horas e vai até às 16 horas, mas tem pessoas que só vão embora mesmo depois das 18 horas. A maioria chega 16 horas já está indo embora, inclusive eu. Suspendemos os encontros. Agora estamos nos organizando com calma e cautela para o nosso próximo encontro. 

Certa vez fomos de carro até Ribeirão. Mas esse homem ficou brabo, cada esquina tinha um pedágio, um mais caro que o outro. Paramos num posto de gasolina restaurante chique das últimas para comer algo e seguir viagem. Tinha um aquário enorme, catei um salgado e um café e pronto. O Edgar pediu um pingado e um pão na chapa. Quando o Edgar provou o pão subiu nas estrelas e mandou chamar o gerente, um posto bonito e tal como que apresenta um pão adormecido para os clientes e tal. O gerente disse que não iria fazer um pão novo para ele. 

O Edgar saiu brabo, saía fogo pelos olhos. Chegamos meio dia. E duas horas depois o Edgar já me levou embora. Nem deu para aproveitar o evento naquela vez, porque nesses encontros você coloca a conversa em dia com os amigos, bate papo, tira foto, faz brincadeira, dá muita gargalhada, faz passeio no trem, conversa com um, conversa com outro. Conta várias vezes a mesma história para pessoas diferentes e houve diversas histórias. Nas outras vezes eu chegava em casa lá pelas dez da noite, dessa vez quatro da tarde eu já estava em casa. 

Outro amigo espetacular que vim a ter foi o Juliano Zambrota, fui para a casa dele em Camanducaia. De lá fomos para Monte Verde, onde morava o Luís Peixoto que era engenheiro, a casa dele foi construída em cima de uma pedra bem no alto da montanha. Ele tinha uma maquete espetacular, mais ou menos de dez metros de cumprimento com uns três de largura. Saímos de Camanducaia com 20 graus e chegamos em Monte Verdes com oito graus, eu tremia feito vara verde. 

Barbaridade. Ficamos lá, fizemos amizade com o Luís e lá pelas quatro da tarde descemos a serra. Dali em diante, todo o cantinho que eu ia o Juliano ia comigo para cima e para baixo. Ele pegava um ônibus lá na cidade dele e descia num trevo aqui perto de Vargia. e nós sumia no mundo do FerreoModelismo. A gente ia passear e bater perna em Campinas, Valinhos, Paulinha, Campo Limpo, Jundiaí e aí por diante.  

Certa vez, na volta de uma viagem, pediu para parar o carro porque queria fotografar uma Locomotiva da Nova Oeste que estava manobrando próximo onde estávamos em baixo da ponte. E lá ficou o Juliano aguardando a Locomotiva passar por ele. Acho que o maquinista se encantou por ele, e quando passou por ele largou a mão na buzina que o Juliano levou um susto e deu um pulo para trás e caiu sentado no meio da grama e rolou moro a baixo e quase perdeu a câmera fotográfica. 

Outra vez eu, o Juliano, o José Augusto,  Ivanir e o Ciro fomos para a linha do trem em Itu para ficar o dia inteiro olhando os trens passar, que coisa gostosa. Era um trem atrás do outro. Quando eu olhava, lá vinha uma locomotiva a 80 ou 100 km por hora, com mais de cem vagões que demora para passar. O tempinho gostoso.

O Juliano sempre foi meu companheiro de viagem, amigão e parceiro. A gente viajava para cima e para baixo. Se o Juliano percebia que vinha um trem a gente parava o carro e corria para fotografar e filmar. Certa vez indo para Jundiaí ele percebeu que estava para sair o trem suburbano para sair. Não pensamos duas vezes, paramos num local que ficávamos bem pertinho do trem. Esperamos e nada do suburbano. Eu até comentei, ele deve estar esperando outro trem chegar, nisso eu olhei para trás e ai passou o cargueiro da MRV carregado com calcário com quatro locomotivas e mais de sessenta vagões e logo depois passou o suburbano. 

Em uma ocasião que eu estava indo para a chácara do José Augusto em Campo Limpo, a 150 Km da minha casa, eu tinha tido uma diarreia aguda muito forte no dia anterior. Então, como não queria perder o encontro que ocorria em todos os terceiros domingos do mês , tomei um remédio para segurar. E no domingo peguei estrada. O remédio funcionou e dormi muito bem a noite toda e peguei estrada na manhã seguinte. 

Na metade do caminho começou a roncar a minha barriga, "Nossa Senhora, pensei eu" "Será possível que agora vou ter que parar o carro no meio da estrada e encarrar o mato? Apertei o parafuso do acelerador e mandei ver. O carro que normalmente andava a 80km passou a voar a 130Km. Fui cortando as carretas pelo meio da estrada, meio que de qualquer jeito e carro ia roncando mas ia. 

E eu apertando o acelerador e dizendo para minha barriga esperar. Quando cheguei na casa do Zé Augusto voei correndo para o banheiro, quase que não deu tempo. "Quase que estava cagando nas calças!!!"  Foi por muito pouco, mas muito pouco mesmo!!! Passei pelos amigos que me chamavam e nem dei bolas, queria era entrar e sentar no vaso do banheiro isso sim!!!" "Fui direto para a privada e quem vinha na minha frente eu ia atropelando!!!" Era que nem futebol americano, só coloquei a mão na frente e dizia "sai, sai, sai da frente!!!" Fui que nem um foguete lá para o fundo na privada!!" "Que alívio foi sentar na privada!!!"  "@wtk&#$*x@%7&!!!" Dali para frente foi só festa e alegria com o pessoal e só tenho uma coisa para dizer "É duro segurar caganeira, Barbaridade!!"

Quando estava com meus vinte anos estava fazendo supletivo, numa sexta feira fui com um amigo numa danceteria me divertir. Tinha hora que "bebia e comia" e outras horas "comia e bebia", mas com certeza eu mais "bebia e bebia" do que "comia". Enchi a cara de tanto caneco que enverguei. Cheguei em casa quase com o sol nascendo, torto de bêbado. 

No outro dia foi aquela dor de cabeça e ressaca total. Mas isso foi o de menos. Semanas depois, venho a notícia fatídica, uma moreninha se apresentou como grávida e disse que o pai era "EU". Opa "Quem ?" E como desgraça não anda sozinha, meus colegas e amigos em Bragança informaram a ela que eu era o maior fazendeiro da região, que meu pai era dono da cidade e tinha mais de cinco mil cabeças de boi. 

A mulher virou sombra minha. Onde eu estava, ela aparecia. Meus amigos passaram a me chamar de "Papai" para lá e para cá!!! Eu andava que nem rato na cidade escondido, descia do ônibus e olhava para tudo que era canto para ver se ela estava por ali, e por enquanto ela surgia do nada. Seus olhos brilhavam feito ouro, e com dois $$. Todo mundo sabia que eu não era pai coisa nenhuma, mas ninguém perdeu a ocasião de me gozar. A criança nasceu mais morena que ela e com "sete meses" enorme de grande. Opa "sete meses" coisa nenhuma. Sete meses da danceteria, porque nasceu com nove meses, depois disso nunca mais vi a dita cuja na minha frente.

Outra vez meu irmão deixou lá em casa dois sacos de farelo de milho para eu levar na minha Saveiro para sua casa porque ele tinha umas vinte cabra de leite. No dia seguinte ao passar no posto da Polícia fui parado, o policial examinou a nota do farelo e mandou eu entrar no posto. E ai começou a fazer um mundaréu de perguntas. E o policial começou a conversar baixinho com o outro policial, que levantou e postou ao meu lado. Pegou os meus documentos e do carro e começaram a fuçar no computador. E eu bem tranquilo, até que começou a imprimir uns negócios na impressora e um falando pro outro: 

O carro é roubado, placa tal, era a minha placa, um dos policiais saiu do posto e foi examinar o farelo, dois minutos depois ele voltou com alguns grãos e dizendo que tinha cocaína no meio do farelo. Ai eu gelei por completo, minha pernas começaram a tremer. Eu disse que iria telefonar para o meu irmão, o policial já falou alto e firme, que eu não iria ligar para ninguém, porque eu já estava preso e que estavam aguardando a Polícia Cível chegar para me levar para a delegacia, que eu estava frito. Já pegaram meu celular e disseram que eu estava todo enrolado. 

E já bateram na mesa e tal e perguntaram que se eu não ficasse quietinho iriam me algemar. Nessa hora eu já estava todo cagado. Eu nunca fiz nada, sempre fiz tudo direitinho na lei. Eu comecei a ficar branco, branco e já nem falava direito as coisas de tão nervoso que fiquei, minha pressão nem sei se subiu ou baixou. Nisso o policial disse para eu ir com ele na cozinha tomar um café e me acalmar. Chegando lá ele mandou eu olhar bem no rosto dele e perguntou se eu não o conhecia, ele me falou seu nome e de onde a gente se conhecia. 

Tínhamos feito o supletivo juntos e deu uma baita gargalhada e disse que era tudo brincadeira. Eu já tava todo cagado naquela hora. Eu nem sabia se ria ou chorava, se xingava, batia ou abraçava ele. Mas que alívio me deu. Vou te dizer que alívio deu. Ele na época do supletivo era um esqueleto e agora era tão gordo como eu. Estava com uma enorme barba, jamais teria reconhecido o Carlão.

Um tempo atrás o meu amigo João me chamou para uma conversa, ele era professor de futebol de campo com a molecada dos onze aos dezesseis anos. Ele precisava de outro professor para os pingo de leite que era dos sete aos dez anos e acabei topando a empreitada. Na primeira vez, cheguei lá e me apresentei para uma turminha que devia ter quase sessenta meninos. Quando eu disse que seria o treinador deles. Eles caíram na gargalhada. Imagina o que passou na cabecinha deles, ter um técnico gordinho. Era tudo que me faltava. Ficar correndo na minha idade atrás deles. No final era eles e eu dando gargalhadas. Mas para minha alegria eles gostaram de mim e eu deles. 

Separei todos eles em dois grupos. Expliquei mais ou menos ali no gramado e vamos ver no que vai dar na prática a meninada jogar. Foi ai que eu comecei a dar rizada de verdade. A molecada não sabia era nada. Um chutava a canela do outro. A bola não saia do lugar. Todos ficavam em cima da bola, todos os meninos, não tinha zagueiro, goleiro nada. Eles queriam era chutar. Chutar o que fosse. Podia ser a grama, a bola ou as canelas dos outros. E eu cai na gargalhada. Era chute na canela, na bunda, no saco, onde podiam acertavam. Era um ai para cá e outro para acolá. Na real a bola estava mais dando risada deles que eles chutando a bola. 

Quando um conseguia dar um chute mais longe, a gurizada ia atrás que nem matilha de cachorro atrás de um coitado de um gato. Iam todos em cima da bola. Eram os vinte e dois atrás da bola. Parei o jogo. Para! Para! Para tudo. Vocês estão tudo errado. Desse jeito não vamos a lugar nenhum. Então conversei com meu primo Antônio que era diretor de escola e ele autorizou uma sala de aula para eu levar a molecada e então comecei a explicar tudo desde o início, a função de cada jogador no campo. O que o zagueiro, lateral, meia direita ... tinham que fazer. 

Tudo na teoria. Como funciona um time de futebol. Fui explicando como funciona numa delegacia que tem o delegado, o inspetor, o carcereiro, o pessoal da faxina e assim por diante. Que cada um tem uma função e todos são importantes e tem que trabalhar em equipe. E na escola a mesma coisa, tem o diretor, a professora, a secretária, a cozinheira, os alunos. 

Também conversei com o meu primo e diretor da escola, o professor Antônio, para podermos realizarmos os encontros de FerreoModelismo na escola. Onde vieram de várias cidades ao redor para o nosso encontro. E os ferreomodelistas sempre disseram que foi de todos os lugares públicos que melhor fomos tratados. O professor Antônio nos recebia com café da manhã, pão com manteiga, queijo e presunto. Inacreditável é que era nos oferecido até almoço de macarronada, salada de maionese, refrigerante. Sempre fomos maravilhosamente bem tratados por todos da escola. O professor Antônio solicitava a verba para a Secretária da Educação e ganhava. Certa vez, chegou a vir um funcionário da Secretária de São Paulo, conversou conosco e tirou fotos e tudo.

Dali fomos para a aula prática de volta para o campo de futebol, ai a bola corria com vontade. Então, foi um jogo gostoso de ver. Os dois times a garotada participou. Todo mundo jogou, correu e chutou a bola de verdade. Todos nós nos divertimos muito. Cheguei a visitar outras cidades com os meninos, tinha que levar no máximo quinze jogadores, porque o prefeito disponibiliza a Kombi e lá ia todos nós. Chegamos a ir a Bragança Paulista, Piracaia, Batatuba. Houve uma vez que a Prefeitura não pode disponibilizar a Kombi, mas nós fizemos uma carreata de quase dez automóveis. 

Certa vez nos atrasamos para voltar do jogo em Piracaia e acabamos estando na estrada depois das 20 horas, os meninos estavam com fome e pediram para parar numa lanchonete. Aqueles que tinham condições mal parrou a Kombi já saíram voando para comprar um lanche. Ficaram meia dúzia dentro da perua, eu não deixei por menos não. Catei eles e disse, vamos nós também comer alguma coisa.

 Comprei um sanduiche de pão e mortadela para cada menino e uma tubaína, foi uma delícia. Até hoje quando encontro com eles, sou lembrando daquele lanchinho. Todos os meninos quando me encontram pelas esquinas da vida, me abraçam e me agradecem por eu ter feito parte da vida deles naquela época.

Nessa mesma viagem, acabamos saindo da padaria em torno das vinte e três horas, isso depois de comer e encher a pança. E fomos voltando para Joanópolis. Temos que subir, para depois descer, onde fica a represa. Quando chegamos lá no alto, a perua começou a sacudir e querer virar, nunca tinha visto algo assim. Nisso eu dei uma guinada e escutamos um ruído estranho, como se fosse um ruivo de lobo. E surgiu na frente da perua, iluminado pelos faróis um animal enorme um cachorro enorme, com os olhos vermelhos e feios. 

A molecada disse que era o Lobisomem. E ai foi uma gritaria dentro da Kombi, todo mundo gritando Lobisomem, Lobisomem. Coisa de doido. Eu acho que foi um lobo guará. Nisso eu fui engatar a ré, para voltar para Piracaia e não encarar o bicho. Mas quem dizia que eu conseguia engatar a ré. Nisso avisei a gurizada. Segurem bem firme que eu vou matar um Lobisomem hoje. 

Bati a primeira, a segunda e a terceira e quando vi já deu um salto de 40 para 100 Km por hora. Quando eu fiz isso a molecada voou toda pro fundo da perua de medo do Lobisomem bater e entrar dentro do carro. Eu consegui passar ao lado do bicho sem bater nele. Quando passei por ele, a molecada que estava no fundo, pulou tudo para frente e quase me mataram no volante de medo porque eles achavam que o Lobisomem estava vindo atrás da gente. Nossa foi um desespero. 

E o pior é que deixamos as bicicletas tudo na praça. Eu mais tarde voltei com meu pai para buscar ela. Porque sozinho não voltava de jeito nenhum. Meu pai na ida e na volta foi dizendo que Lobisomem não existe. Mas e o medo que eu estava. Mas e o medo? Olhamos no chão e vimos traços desenhados, pareciam unhas que foram cravadas na terra. 

Outra vez eu estava com a gurizada conversando quase meia noite em frente a igreja, numa sexta feira 13 de janeiro. Lembro que no horizonte distante estava relampeando, e um dos amigos até falou que mais tarde iria vir chuva. Mas como todos nós morávamos próximos, quando viesse a cair os primeiros pingos, num pulo cada um estaria salvo em suas casas. E a gente continuou conversando, papo vem e conversa vai. E os relâmpagos começaram a ficar mais fortes. 

O vento começou a soprar. De repente um dos meninos, acho que foi o Neto começou a gritar desesperado  EU VI ELE !!! ,   EU VI ELE !!! E a gente perguntou: Viu o que ? E ele respondeu desesperado e pálido como farinha branca: "EU VI O LOBISOMEM !!! EU VI ELE!!! EU VI ELE AGORA!!! E todos nós rachamos de dar risada. E o Neto dizendo que ele estava no arbusto nos observando. E nós dando gargalhadas. 

Então, fomos lá provar para ele que ele estava era maluco. Isso tinha sido antes de ter me deparado com o Lobisomem atrás do meu carro. Chegamos perto do arbusto e vimos um vulto enorme e escuro. Foi tudo muito rápido, não deu para ter certeza de nada. Era peludo e grande. Tinha duas pernas, ombros e peito peludo. A hora que vimos aquilo ninguém pensou duas vezes não. Pernas para correr e pernas para correr. E só escutamos lá de trás um ruído alto e estranho como se fosse um barulho de cachorros brigando. A casa de cada um de nós ficou muito longe, porque a gente corria e não chegava em casa. A casa era pertinho, mas ficou longe. Parecia que quanto mais a gente corria, mais a casa ficava longe. 

Outra vez, já com quarenta anos, eu tinha alguns amigos no Butantã em São Paulo e eles queriam vir passar o dia pescando aqui no rio. Então, combinei com eles que eu iria pegar umas minhocas no meu sitio e no Benedito iria pegar uma cachaça boa. Tudo combinado, chegaram em dois carros, passaram primeiro lá em casa para tomar um bom café. E fomos para a conhecida Cachoeira dos Pretos, que fica aqui em Joanópolis, que é a maior queda de água de toda a região, são 154 metros de queda. Acharam lindo o local. E resolveram ficar lá em cima da cachoeira. 

Então, fomos no sítio do amigo Seu Rezende que autorizou entrarmos, montarmos as barracas e fazer a pescaria, só não pode mexer com a criação que volte e meia vai beber água no rio. Então chegamos lá em baixo no rio com os três carros, montamos as barracas e logo começaram cada um a contar suas histórias. No que o Ailton foi pegar a latinha de minhoca, cadê a latinha? Esquecemos em cima do murro lá de casa, e para voltar seria uma trabalheira enorme porque ida e volta daria quase 50 km. Então o Ailton que era biólogo enxergou uma cobra escondida engolindo uma rã. 

Então, o Ailton pegou a pinga e despejou no rabo da cobra, que sentiu o cheiro da cachaça que largou a rã e fugiu. A coitada da rã já estava morta mesma, então fatiamos a rã, misturou a carne, com o fígado, coração, pulmão com farinha para servir de isca. E não é que deu certo a tal de isca. Pescamos tílapia, pacu, traíra, O peixe menor chegou a pesar uns dois quilos já limpos. O mais pesado tinha doze quilos. Em questão de duas horas de pesca, a gente já teve que esvaziar todas as caixas de isopor que estavam as cervejas para colocar os peixes. 

A nossa sorte é que o pessoal bebia muito e trouxeram quatro caixas grandes de isopor. Foram mais de 200 kg de peixe. O pessoal não dava nem conta de limpar. Paramos de pescar e fomos assar ao redor da fogueira. Lá pelas tantas da madrugada, o Ailton sentiu que estavam puxando sua calça, mas como não tinha ninguém por perto e ele pegou a lanterna e foi ver o que era. Foi inacreditável, era a cobra de volta mordendo sua calça. Ela havia trazido duas rãs, para trocar por um litro de pinga.

Outra vez fui numa pescaria com o seu Pedrão, seu Antônio e mais meia dúzia de pessoas. Saímos daqui umas quatro horas da tarde e fomos para a represa. Meu pai queria comer um peixe e tal. E eu avisei para a turma que ficava até no máxima as onze horas da noite porque era sexta feira treze e noite de lua cheia e não queria ariscar ficar até a meia noite ali e de madrugada não ficava nem me pagando com eles lá. O pessoal deu gargalhada. 

A noite estava gostosa, bem iluminada com aquela lua enorme e também não estava uma noite fria. Estávamos todos juntos sentados a beira da represa com os anzóis e com as lanternas ligadas trocando papo furado, mais conversa fora do que pegando peixe. Lá pelas dez da noite levamos um susto enorme quando uma marreca ou um cisne passou voando por cima da água. Teve amigo que até deu berro de susto e outro que caiu do banquinho, e logo todos demos gargalhadas. 

O Pedrão virou as costas, de onde a marreca tinha alçado o voo e mandou a gente se preparar que vinha bicho grande dali com certeza, e outro já lembrou do Lobisomem. O Pedrão já emendou "Que Lobisomem nada, pode ser uma raposa ou uma onça mesmo!!" A nossa adrenalina foi lá nas estrelas nessa hora. Ficamos ali com os olhos na espreita esperando o que iria sair do mato, fosse o que fosse, uma raposa, um gambá, um lobo. Eu já fui avisando se aparecer um bicho grande eu pulo é dentro da represa com roupa e tudo. 

Vocês são doidos. Ficamos esperando e nada. De repente o seu Antônio viu um movimento no mato e foi lá conferir com a lanterna e vimos uma enorme de uma cobra. Ela devia ter uns oito ou nove metros, com certeza era uma sucuri ou uma jiboia. E ai quem é que ficou pescando. Eu catei meu radinho, minha lanterna e meu molinete e casquei fora, o resto deixei para trás. Ninguém ficou lá. Vieram todos atrás de mim. Nem que a vaca tussa que eu ia ficar lá. 

Meu pai contava muitas histórias vivenciadas no tempo antigo. Uma delas ocorreu numa estrada de terra para o Retiro, onde num trecho da estrada que era muito estreito o seu Antônio, amigo de meu pai, subia uma serra muito íngreme de dois quilômetros com um caminhãozinho Chevrolet antigo carregado de lenha e estava caindo um chuva forte com raios e trovões. Juntos estavam três ajudantes, um ao lado do seu Antônio e dois na carroceria junto a lenha. E o caminhão foi subindo devagarzinho naquela estrada de barro, chegando na metade começou a patinar. 

Eles constataram que não iria subir, então desembarcam e colocaram correntes nos pneus na frente e na trás para dar tração e voltaram a subir devagarzinho. Subiu mais um pouco e parou. Pior ainda o caminhão começou a andar de ré, moro a baixo. Isso numa sexta feita treze de agosto. O caminhão rolou e capotou ribanceira a baixo, infelizmente não sobreviveu ninguém. Dizem que nas madrugadas de sextas feiras 13 de agosto quem passa por lá enxerga os faróis do velho caminhão e ouve o ruído do motor tentando subir a estrada que hoje já esta asfaltado. É uma coisa triste, é de ficar todo arrepiado. Quem lá foi, viu e escutou quando conta fica todo arrepiado.

Outra vez, meu pai levou a São Paulo, o amigo José Carlos que iria fazer uma consulta médica. Como morava no bairro do Retiro na Cidade de Joanópolis. Na volta ele iria pegar uma carona com o caminhão do leiteiro que saia as três da tarde para o Retiro. Deu o acaso dele perder o horário e também a carona. Então, como eram amigos, meu pai decidiu levar ele até em casa, no seu fusquinha. E eu claro fui junto com eles que era uma distância de quase 50 quilômetros. 

Um local muito alto e perto de Campos do Jordão, chegando lá fomos recebidos pela esposa dele com um delicioso bolo de laranja e café feito na hora. Eu como sempre fui gordinho, comi mais da metade da forma de bolo sozinho. Na volta, ao fazermos uma curva, uma enorme onça saltou na frente da onça. Estávamos somente eu e meu pai no carro, levamos um enorme susto. Mas ela também deve ter levado um susto e tanto. Ela ficou na nossa frente uns eternos quatro segundos nos olhando e nós a ela. E nisso a onça deu outro salto e voltou para o mato e meu pai sentou a lenha no fusquinha e fomos embora.  

Outra história que vivenciei com meu pai e que eu sempre conto, alguns acreditam outros acham que foi um sonho meu. Estávamos vindo com o fusca de volta para a cidade, e a uns cinco quilômetros da entrada o rádio para de funcionar, minutos depois o motor também parou e em seguida o farol desligou. Pegamos uma lanterna para descobrir o que tinha acontecido e a lanterna também não funcionava. Ficamos numa escuridão total no meio da noite. Nesse instante avistamos os faróis de outro carro que se aproximava no final da reta para nossa alegria e poderiam nos socorrer. 

Essa luz era muito forte. Num determinado momento percebemos que a luz saiu da estrada e começou a subir como se fosse um balão. Nisso olhamos para cima e enxergamos uma esfera enorme arredondada, com várias cores como azul, laranja, vermelho, branca. Por incrível que pareça era uma espaçonave. 

Um objeto voador não identificado. Aquele negócio passou perto da gente, a uns 40 ou 50 metros. Onde ela passava iluminava tudo ao redor. Era uma claridade e diversidade de cores. Ia passando devagarzinho. Chegou determinado ponto que ela simplesmente sumiu e o motor do carro voltou a funcionar. Isso é inexplicável, eu conto até hoje e fico arrepiado. 

Outra causo, ocorreu nessa casa que resido hoje e meu cachorro paulitinha queria fazer xixi de madrugada. Acabei acordando e levantei e abri a porta para ele sair. Enquanto aguarda o cão retornar, fui a janela dar uma olhada e fiquei espantado com a quantidade de aviões que estavam passando do sentido da serra de Minas Gerais de aviões, eu cheguei a contar mais de trinta aviões. Mas me pergunto até hoje: será que eram aviões? Porque não tinha ruído algum. 

Vinham todos em fila indiana. Um atrás do outro, de madrugada. Peguei rápido a minha câmera e não consegui fotografar ou filmar. No dia seguinte conversei com um amigo advogado, que entrou em contato com a torre de comando que informaram ser impossível ter ocorrido tal acontecimento naquele horário.

Houve uma época que eu revendia biscoitos do Donizete e ia vendendo nas cidades de Bragança Paulista, Amparo, Jundiaí, Extrema, Pouso Alegre, Piranguinho, Cachoeira de Minas, Brazópolis, Paraizópolis. Eu tinha um Golzinho 1983 e estava com o Gol lotado de biscoito até o pescoço, mas deu para ir. Onde cabia biscoito no carro eu metia sem dó ou piedade. E fui fazer a linha, passando por um posto da polícia estadual, fui parado e o policial examinou a luz dos freios e os pisca alertas. Como estava tudo certinho, dei para o policial uns pacotinhos de biscoitos e segui meu caminho. 

Fiz várias cidades até Jundiaí, quando fiz as entregas num mercadinho, ao voltou para o Gol, levei um susto, havia um caminhão militar ao lado do carro e os soldados tudo ao redor olhando os biscoitos. Conversei com o tenente e acabei oferecendo também uns pacotinhos para eles e fui embora. Chegando em Morungaba o trânsito estava todo bloqueado porque houve um assalto a banco. A polícia rodoviária nos parou e explicamos que estávamos vindo de Joanópolis e estávamos, eu e o Dito, fazendo entrega de biscoitos nas cidades. Eles olharam, todo o carro, não falaram nada e foram embora. 

Mas não tem jeito não, confusão sempre foi comigo mesmo. Certa vez fui ao Banco do Brasil aqui em Joanópolis pagar umas contas de luz e água. Na saída cumprimentei o amigo Joãozinho e sai da agência. Meu fusqueta estava em frente, ao entrar no carro cheguei a ver três engravatados entrar no banco. Até pensei, esses três devem ter muito dinheiro e vieram abrir algum negócio aqui em Joanópolis para gerar mais emprego e o o prefeito é que irá gostar porque irá gerar mais impostos. 

Que nada, eram assaltantes e limparam todo o dinheiro do banco. Porque alguém andar de terno e gravata é a coisa mais difícil que tem. E fui embora. Nem cheguei em casa, a notícia já tinha se alastrado em toda cidade sobre o assalto. Quem estava dentro do banco teve que deitar no chão e depois prenderam o pessoal no banheiro. 

Chegando em Bragança no trevo da Fernão Dias, o Golzinho resolveu dar problema, bem próximo ao posto da polícia, o policial Ulisses vendo meu carro parado venho até nós perguntou o que aconteceu e já se prontificou a abrir a tampa e não é que resolveu o problema em dois minutos. Quando eu cheguei em casa cansado, que eu fui organizar as coisas, que eu percebi que estava com os documentos do carro errado. Estava com os documentos do Fusqueta do meu pai. Imagina, eu fui parado várias vezes e ninguém havia pedido os documentos e se tivesses eu estava lascado. 

Havia deixado os documentos do Gol em casa. Imagina se um deles tivesse me pedido os documentos, eu estava lascado e mal pago. Quando eu e o Dito compramos a Kombi, o seu Alexandre foi só para nos ensinar a linha de trabalho, foi uma felicidade. Na estrada de terra ela fazia 100 a 120 por hora. Mas no asfalto não andava mais que 80.Nunca vi coisa igual. E conforme eu colocava a quarta macha, ela caia. então o Dito tinha que ficar segurando o câmbio da perua para ela não cair a quarta macha. 

A primeira vez que fui a Minas Gerais com a Kombi lotada de biscoito até o teto o seu Alexandre disse que eu podia passar direto no Posto de Fiscalização, uns quilômetros mais a frente a viatura da Polícia Rodoviária Federal deu sinal para eu parar e voltar para o Posto de Fiscalização, e estávamos sem documentos dos Biscoitos, lá foi nosso lucro. Outra vez vindo de Piracaia a Kombi apagou e não ligou mais. E apagou de vez a bateria. 

Lá fomos nós empurrar a Kombi para ela pegar no tranco, e a turma passava e gritava "o lata velha", "o ferro velho", e nós ali empurrando a Kombi morro a cima. E ninguém parava para ajudar. Chegamos no alto do morro, eu disse pro Dito, ou guia você ou o seu Alexandre, porque eu sou gordinho, então não vai dar certo. O Seu Alexandre já falou eu não sei guiar esse trem ai. Também não vai dar certo não, como vamos pegar no tranco assim. Estamos todos ferrados. Mas deu certo, a Kombi se foi com o Dito e nós atrás correndo. Que dureza. 

 Na minha época de carnaval aqui na cidade era muito divertido, nós jogávamos água, farinha de trigo e ovos nos outros, era muita folia. Era tudo brincadeira. Em certo ano, a Empresa de Água cancelou a água as 16 horas da cidade para evitar desperdício. Não deu uma hora e a água da cidade acabou, não tinha mais reservatório ou caixa de água com líquido. Nisso caiu uma chuva muito forte, não deu outra, pegamos a água da chuva que corria forte na rua para jogar nos outros. Nisso passou o Sr. José Leandro com sua camionete. Ele era um senhor muito bem de vida na cidade. 

Não deu outra, lá vinha ele com seu automóvel e de vidros abertos. Voou água de balde para dentro do carro. Demos um banho nele e em tudo do automóvel. A hora que ele parou o carro mais adiante. Corremos toda a molecada para a casa do Antônio Andrade para se esconder de medo. Em cada vaso de flor, entrou três meninos e de longe assistimos o seu José Leandro sair de dentro do carro encharcado. 

Ele passou na frente da casa, procurando a gente, mas não nos viu. E foi lá relatar o fato para o Soldado Santos da Polícia Militar, e nós todos escondidos na área do Antônio Andrade atrás dos vasos de flores. Já o Antônio pulou para dentro da casa dele, e disse para gente, vocês ai que se virem agora. Daqui a pouco o seu Santos foi passo a passo lá na área e bateu forte com o cacetete e disse "É hoje que eu vou encher meu jeep velho de criança e vou fazer sabão de todo mundo!" 

Quando ele disse que ia fazer sabão da gente, nós saímos correndo a mil por hora pro meia da praça e ai levamos aquele banho de ovo e farinha de trigo. Moral da história: o Santos claro que sabia que a gente estava escondido na área, só foi lá nos dar um susto e pronto. Eu gosto muito de chope, Ontem mesmo eu bebi uns cinco canecos de chopes e apertou o calo e corri para o banheiro, pensei que nem iria chegar a tempo. Fiquei meia hora esvaziando a bexiga, que alívio. Eta nóis. 

Aos oito anos, estávamos num grupo de trinta moleques de bicicleta e resolvemos fazer uma corrida na rua. Naquela época, não haviam muitos carros na cidade. Era um ou outro mesmo. Chegar no destino final foi menos de meia dúzia. Porque foi um desastre só. Uns levaram tombos, porque estávamos todos juntos um com os outros. Então, um caia e quem vinha atrás já tombava junto, era que nem dominó, tombavam em carreira. 

Teve um moleque que teve um machucado sério, um caco de vidro entro na perna inteirinho. Eu apanhei, levei soco e pontapé, teve bicicleta que caiu por cima de mim. Me machuquei. Estávamos em frente ao Hospital da Santa Casa e o medo de passar Merthiolate e tomar injeção. Quando o médico chegou para atender a gente, estávamos todos bem, mas não teve jeito não, entramos todos na agulha. 

Nós preferimos não ter festa de formatura no ginásio. Fizemos uma excursão de vários dias ao Rio de Janeiro. Foram todos os alunos, vários professores, o prefeito e o vice prefeito. Ao chegar na praia de Copacabana ficamos de boca aberta ao ver pela primeira vez o TopLess, os meninos até babavam de ver a mulherada com os seios todos de fora. 

Elas todas de peitão de fora. Fomos todos lá tirar foto. Era foto para lá e para cá. Voltamos para o ônibus e as meninas davam gargalhadas da gente, e não entendíamos nada, foi então que o motorista avisou que não eram mulheres, mas sim homens transformados em mulheres. E só deu os meninos apagando as fogos. 

Que era o que faltava nós tirando foto de homens pelados. Passamos um dia na Ilha de Paquetá, no Pão de Açúcar, e o medo para entrar no bondinho que eu tive, mas entrei. Depois fomos numa churrascaria. Passamos em frente do Maracanã e estava tendo jogo, não teve jeito não, a gurizada desceu toda e compramos os ingressos e entramos no Maracanã. Ficamos fascinados pelo tamanho que do estádio, era uma cidade. Gigante e lindo. Lotado de pessoas. Era o jogo do Palmeiras e Vasco da Gama pelo Campeonato Brasileiro. 

No que saímos no buraco o Palmeiras fez um gol e todos nós somos Palmeirenses começamos a pular e comemorar e levamos um banho de saco de mijo, foi então que percebemos que estávamos no lado da torcida do Vasco da Gama, o que nos xingaram e nos mandaram para Puta que Pariu. Ficamos tão assustados que saímos correndo que o grupo se dividiu em três. 

Outra vez fizemos uma excursão com meia dúzia de professores na Serra de Mantiqueira, mas o ônibus escolar não nos levou por extrema, nos levou pelo outro lado. Assim fomos até um pedaço com o buzão e depois subimos a pé feito James Jones e suas aventuras na selva. Fomos subindo devagar e bem até chegar no mato fechado. Então, os professores tiraram os facões e começaram a abrir uma trilha para a gurizada passar, éramos quase cinquenta moleques. 

Tudo era diversão e brincadeira. E todos nós estávamos de bota ou sapatão. O mais incrível é que tinha um professor até com revolver. E fomos subindo serra a cima. Logo alguém lembrou do Lobisomem, sempre tem um que lembra dessas coisas nessas horas. Mas fomos subindo, os professores na frente abrindo caminho com os facões. De repente nos deparamos com uma ossada de uma vaca. 

Para que, já disseram que tinha sido o Lobisomem, os professores olharam com cautela e descobriram que deveria ter sido uma onça. Nessa altura do pedaço, o que seria pior o Lobisomem ou a onça? E o meda na gente! Em seguida avistamos pegadas de onça enormes. Mas continuamos a subir. Lá pelas tantas um professor quase caiu num buraco enorme e profundo. Atiramos uma pedra e nada de barulho de cair. Já começaram a dizer que era a toca do Lobisomem que morava no centro da terra. 

E continuamos a subir. Lá pelas tantas escutamos um barulho alto, que parecia a onça e cada vez mais alto. Não teve dúvida, o povo desceu correndo a mata toda, não sei quem corria mais, se era os alunos ou os professores, e volte e meia alguém berrava o "O Lobisomem pegou o professor tal !!" Foi um desespero só. Acabou a excursão e o passeio, entramos no ônibus escolar e fomos embora.

Como era gostoso a época que a escola fazia as excursões para São Paulo. Fazíamos visitas no Planetário, no Jardim Zoológico, no Shopping e no Play Center, onde era diversão pura. Normalmente a gente almoçava num restaurante e a tarde passávamos o resto até as dez da noite no Play Center. Eu entrava na casa de espelho e não conseguia sair, batia a cabeça. A casa do mal assombrada, montanha russa, é tudo diversão. O dinheiro a gente levava contado pro Play Center. 

Chegávamos lá com todos já com os passaportes na mão. Depois que passava do portão, só via a turma na hora de voltar. Uma vez teve um professor que passou a viagem para São Paulo só comendo, comendo e comendo. Chegou no Play Center, ele foi andar no Barco Vick, quando ele saiu, deve ter ficado meia hora vomitando dentro de um tonel de lixo. Esse homem ficou muito brabo, disse que nunca mais iria ir para o Play Center. Não deu uma hora já estava comendo novamente e andando nos brinquedos.

O meu avô fazia benzenduras, as pessoas iam lá e ele benzia o cobreiro na perna ou no braço e até no terceiro dia ficava sarado. Ele nunca cobrou nada. As vezes aparecia alguém com um frango ou uma cachaça para agradecer, mas ele não aceitava. Porque ele fazia por prazer. Certa vez, ele foi com o amigo seu Tico Bardari, que tinha uma Kombi táxi que fazia viagem para Aparecida do Norte.

Eles foram pescar, chegaram no local, entraram num barquinho que tinha e ficaram no centro do tancão, e começaram a pescar no tanque enorme. E começaram a pescar e nada de peixe. Daqui a pouco meu avô fisgou um peixe. Mas o bicho era bravo, meu avô deu um puxão forte, ele cedeu um pouco, mas nada de vir a tona. De repente perceberam que a água do tanque estava baixando, na verdade meu avô havia fisgado era a rolha do tanque isso sim. 

O seu Tico Bardari ia com gente na Aparecida do Norte, e eu não gostava de entrar na igreja e eu ficava com o seu Tico. Minha mãe havia deixado com ele um dinheirinho para eu comprar um brinquedo. Entramos numa loja e achei um caminhão cegonha com carrinhos, acho que era da Estrela. 

Eu cheguei a comprar uns dez caminhões com carrinhos. A minha mãe quando viu ficou P. da vida. E ela me disse para que foi comprar tudo isso. Tinha que comprar um caminhãozinho e pronto. E eu respondi: Comprei, comprei e comprei!!! Se eu tivesse guardado eles, hoje podia vender eles por mais de mil reais cada um. Não sobrou um sequer. Todos de plástico bolha. 

Tive a oportunidade de fazer uma viagem de avião no ano de 2000. Onde meu sobrinho comprou passagens para meu irmão e eu iria junto para Salvador. Acabou que meu irmão não pode ir. Então lá fui eu com o sobrinho. Entrei no avião, achei tudo bonitinho. As aeromoças todas bonitinhas e simpáticas. Todo mundo muito educado, procurando nos deixar a vontade. Sentamos nas poltronas e foi que percebi que dentro daquele bicho chamado avião cabia muita gente e não parava de entrar pessoas. E tinha lugar para aquele povo todo sentar. Tudo calmo e eu tranquilo, sentadinho na janela e vendo a movimentação fora do avião. 

 

A comissária muito elegante com sua roupa deu várias explicações e prestando atenção em tudo, num tal de salva vidas e nas máscaras que se fosse necessário iriam cair no meu colo. Ué e esse avião vai cair agora? Mas tudo bem. O avião começou a andar devagarzinho, indo para cá e para lá e dava umas paradinhas e andava mais um pouco. De repente começou a correr de vez, com muita vontade e eu vi ele se se afastar do chão. Acho que foi nessa hora que o avião decola. 

E comecei a ouvir vários barulhos estranhos que nunca havia escutado. Até então tudo bem. Estava muito calmo. Estávamos subindo, subindo, rumo ao céu. Mas quando o avião começou a virar, virar, virar e eu comecei a ver a terra quase de cabeça para baixo, me caguei todo. Eu achei que era o fim da vida e que o bicho estava caindo. Eu não sabia o que fazia, se gritava, se rezava, se arrancava o braço da cadeira de tanto que eu me segurava, se me levantava e saia correndo. 

Bate um desespero. Nessa hora, eu comecei a suar frio. Foi aquele desespero e eu cagado de medo e de pânico. Eu queria bater no meu sobrinho por ter me colocado naquele avião maldito. Já estava vendo meus familiares rezando ao redor do meu caixão e dizendo que eu era um bom homem e tal. Felizmente o avião aplumou e tomou seu rumo, fiquei mais calmo, e fui voltando a minha tranquilidade. Na volta voltei de avião, já estava preparado para o melhor e para o pior.

Eu nunca gostei de brincar de avião quando criança, meus brinquedos eram mesmo os caminhões e os carrinhos. Gostava muito de veículos militares. Não gostava muito de trator, mas tinha um ou outro. Cheguei a ter um caminhão de folha de lata e ter um jeep de pedal. Eu gostava tanto do jeep de pedal que só andava com ele dentro de casa. Lembro quando eu tinha meus seis ou sete anos, foi quando eu vi pela primeira vez um avião no céu. 

Estávamos colhendo algum cereal num sítio de um familiar junto com meus pais quando passou um avião de guerra vermelho bem baixinho. Todos nós levamos um enorme susto e o avião fazia algumas acrobacias no céu que formava desenhos com a fumaça, e um desses desenhos formou uma enorme cruz. Meus pais gritaram é o fim do mundo. Largamos toda a colheita e fomos nos refugiar na casa do sítio com a certeza que o fim do mundo havia chegado, as mulheres corriam e choravam. 


O melhor presente que ganhei na minha vida, recebi de uma prima que morava em São Paulo, seus patrões iriam se mudar para Alemanha e eles tinham um trem elétrico da Frateschi. Eles tinham três opções: tentar vender, jogar no lixo ou doar para alguém que cuidaria com muito carinho. E tive a felicidade de ser lembrado pela minha prima. 

Meus sobrinhos não herdaram minha paixão pelo Ferreomodelismo. Todos meus familiares e amigos sabem da minha paixão. Eu sempre recebo a todos na minha casa, menos crianças, que de jeito nenhum passa da porta. Acredito que toda a cidade deve saber que eu sou apaixonado e sempre estou disposto a mostrar e explicar um pouco a todos. 

Sempre gostei de cachorrinhos, principalmente de Fox Paulistinha, tive um que durou dezesseis anos comigo, era um verdadeiro companheiro incontestável. Brabo que nem ele nunca tive outro. Mordei meu pai, minha mãe, até eu o danadinho mordeu. Eu e ele éramos um só. Nunca deu trabalho, nunca chorou. Era muito brincalhão. Subia em cima do sofá, aprontava e bordava. Chegava os meus amigos era aquilo. 

Não gostava de criança. Se as pessoas chegassem próximo ao meu quarto que estavam as maquetes, coitado dos calcanhares do infeliz, ele não perdoava e media os dentes com vontade. Ninguém chegava perto. Atualmente tenho dois, eles fazem uma bagunça dentro de casa. Tem um pano, e cada um pega o trapo de um lado e faz de cabo de força, não tem quem faça os dois largar aquele pano. 

Minha mãe achava que eu gastava muito dinheiro e dizia agora chega né? Já comprou bastante. Mas por outro lado minha mãe sabia que eu nunca gastei meu dinheiro em cachaça, drogas ou outras porcaria, acho que também por isso que ela nunca foi contra a minha paixão, apenas achava que eu gastava muito dinheiro. Sempre estava dentro de casa e nos meus encontros e nunca fui num boteco encher a cara. Meus pais nunca tiveram problemas ou decepções comigo. 

Minha missão como filho foi cumprida direitinha. Eu tive apenas um pequeno vício na vida de jogar baralho, perdi mais dinheiro que ganhei. Esse maldito vício me custou um pouco de dinheiro. Fiquei viciado no baralho um bom tempo. Deixei o vício quando minha mãe partiu de câncer eu tive que cuidar de meu pai durante três anos durante o dia e a noite, e assim na marra perdi o vício. Hoje até jogo com meu irmão e minha cunhada, mas só diversão. Nada e nunca mais a dinheiro. Isso é um vício maldito. 

Hoje sou aposentado pela Previdência Social, tive como todas as pessoas meus altos e baixos. Tive várias namoradas, mas nunca casei. Amor de verdade só senti uma vez, mas infelizmente houve um acidente de carro que levou ela. Mas namorei muito. Hoje até olho para o passado e dou umas gargalhadas dos meus namoros. Teve um pouco de tudo. As bonitonas, as que comiam pouco e as que comiam de mais. As que nada falavam e as que falavam mais que um papagaio. 

Teve uma que queria mandar na minha vida de qualquer jeito, ai um dia descobri que ela tinha pânico de galinhas, não tive dúvidas, comprei uma dúzia de galinhas e ela nunca mais apareceu na minha vida. A maioria não fumava, mas tinha uma que cheirava demais a hortelã e eu não compreendia, até que um dia descobri que ela fumava tanto que fazia mais fumaça que a locomotiva. 



A crença é uma só, é a fé, indiferente da sua religião. O que nos faz viver é a fé. Já passei por  momentos difíceis na minha vida, mas nunca perdi a fé que Jesus fosse me ajudar, sempre tive fé e Ele me deu forças para enfrentar e superar minhas as minhas dificuldades. E graças a Deus passei e superei. Então, eu testemunhei a importância de ter fé. A importância de andar, de viver, a se alimentar, a ter esperança, a ter amor, a ter paz, a ter vida. Tudo isso é a fé. Quem não tem fé é um assassino, um ladrão, um criminoso. Eles podem acreditar em Jesus, mas não como a gente.


Então de onde nós viemos? Nós viemos do ventre de nossas mães. Do que adianta a gente ficar brigando por bens, querendo ficar rico? Do que adianta ficar lutando e se matando por aquilo que você não trouxe e por aquilo que você não vai levar? Quando você nasceu não trouxe absolutamente nada! Viemos carecas, pelados e banguelas. Aqui ganhamos uma dignidade, ganhamos um nome, a esperança da vida. A vida que Deus nos deu. A gente vive dez, trinta, setenta, cem anos. Depois que morremos não levamos nada de tudo que conquistamos, não levamos nosso patrimônio, nossos carros, nossas mansões, nossos dinheiros e nem mesmo as plásticas que fizemos. Tudo que temos, nada nos pertence. Tudo que temos, nada iremos levar. Então, porque ficar brigando pelas coisas que você não trouxe e não irá levar? Tudo que temos é material. Quando você morre não leva nem a roupa que está vestido no caixão. O seu corpo fica aqui, o corpo que usamos é emprestado. Quando chegar a hora temos que devolver. Quando você desencarna é só o Espírito que sobe. 


A vida é como um trem. Ele vem vindo, ele para numa estação, é onde você embarca. Ali você conhece os seus pais, seus irmãos, a sua família. E na próxima estação vai conhecer mais pessoas, novos amigos, coleguinhas de colégio. E o trem vai em frente. O trem nunca para sua viagem. Você vai conhecendo novos lugares, vai conhecendo tudo. Em certas estações embarcam pessoas que você ainda não conhece, mas irá fazer parte da vida dessas pessoas. Você irá casar, irá ter filhos. E o trem segue o caminho. Mas haverá um dia que você será obrigado a desembarcar do trem da mesma forma que seus pais e muitos outros amigos e familiares que já desembarcaram. A nossa vida passa toda por estações e vivemos dentro de uma locomotiva.


Genilton Altmeyer

Maravilha.


Claudio Nascimento
Parabéns

Paulo Ribeirosc
Junior sem dúvida é um apaixonado por trens.
Suas histórias são fantásticas.
a do rato então é ilaria.





Ednaldo Angelo

Parabéns

Alberto Gomes

Ser criança é eterno

Ronaldo Batista

parabéns
. lindona

Luiz Antonio Zanchin

Parabéns
 pela bela ferrovia

Sandro Schultz

Que Lindo

Tiago José Reis Santana Santana

Esse boquinha de veludo é um cara super gente fina. Junior dalvequio é um amigo que fiz pelos grupos de ZAP. E conheci pessoalmente. Tanto ele como sua Bela maquete. Onde pude fazer algumas construções que nela se estalaram. Top. Top top


Ronaldo Batista
esse sabe brincar. gostei