sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

José de Luanda da África

 

Estou muito feliz de realizar essa entrevista ao Brasil. Sou do outro lado do Oceano. Sou vizinho de Continente. Isso mesmo sou do África. É longe mesmo. Para vir até aqui só de avião ou navio. De ônibus ou de carro nem em sonho. Mas eu escuto muito falar do Brasil. Terra de gente alegre, mulheres bonitas, do Pelé, do futebol, carnaval, do povo amigo e tantas outras coisas boas. 

Eu moro nasci no município de Dembos em Angola, aqui na cidade não tem elefantes, girafas e leões. Eu acredito que todo mundo da América acha que em toda África é só selva. Mas aqui também tem cidades. Meu pai era pedreiro e minha mãe alfaiate. Sou o último filho de 8 irmãos,  cinco meninas e três rapazes, com o tempo nos mudar para capital do país Luanda. Uma cidade muito maior com mais de três milhões de habitantes enquanto que minha cidade natal tinha pouco mais de trinta mil. Luanda tem prédio enormes

Claro o nosso clima é quente e muito seco, com poucas chuvas e causando secas em boa parte do ano e isso não favorece a agricultura e a pecuária como em toda a África. E curiosamente as noites já não são tão quentes, normalmente a temperatura são bem mais baixas em razão que Luanda é banhada pela Oceano Atlântico.

Em Luanda fiz os meus estudos do primário e quando tinha quinze anos voltei lá para o campo para viver com minha mãe e comecei a trabalhar em uma Serração de madeira lá aprendi carpintaria e depois aos 20 anos voltei a cidade para estudar Engenharia e me formei em engenharia informática e agora já trabalho em uma empresa.

Sempre fui apaixonado pela aviação. Comecei construindo carinhos e alguns aviões, tendo preferência por modelos de aviões antigos. Atualmente sem tempo e acabei não podendo mais fazer minhas maquetes. Tenho que me dedicar ao meu trabalho. Sou engenheiro.

Esse é o município onde eu nasci essas imagens são dos anos 60 antes da independência nesse período Angola pertencia Portugal  eu nasci só nos anos 90 aí o país já era independente


O Clima da Angola é muito semelhando ao brasileiro pelo que eu vejo na televisão, temos predominante o clima tropical, variando entre seco, úmido e desértico. 


As brincadeiras na minha infância não tinha muita tecnologia e brinquedos. Era bem mais voltado a atividades entre amigos e em locais abertos como parques e jogos no chão. Haviam brincadeiras realizadas apenas com os membros das família entre irmãos e primos. Haviam outras que realizamos na escola e na aldeia. As brincadeiras da aldeia habitualmente eras constituídas por equipes. Haviam por exemplo as equipes dos rapazes e das meninas. E em casa brincávamos mais com brincadeiras individuais. Uma das que eu mais gostava era a das "escondidas" que no Brasil se chama de "se esconder". Onde junta-se um grupo de amigos e todos se escondem menos um que tem que procurar os demais. Coloca-se um objeto ou um lugar como ponto de "encontro" se um dos escondidos encostar primeiro do que estiver procurando todos que foram encontrados estarão salvos. 

Haviam outros jogos como o "Trinta e Cinco" e "Garrafinha" onde são utilizados bolas de meias. EXPLICAR MEIOR


Normalmente as pessoas nascem em hospitais, por percurso do destino eu vim a nascer dentro de uma prisão. Em 1994 Angola estava em um período de guerra. Onde felizmente a paz voltou a reinar em 2002. Meus pais sempre tiveram um lado ativistas políticos e foram presos em razão disso. Eu sou o caçula da família. Não cheguei a conhecer meu pai, porque ele faleceu antes na prisão. Porém soube através de minha mãe e de meus irmãos que meu pai era uma pessoa com ótimo caráter e personalidade exemplar. Um maravilhoso marido e pai de família. Sua profissão era pedreiro e minha mãe alfaiate. Minha mãe também sempre se dedicou as atividades rurais do campo, ao cultivo de produtos agrícolas.

Como era um período de guerra, nossa família não tinha uma residência fixa. Tínhamos que sempre nos mudarmos de endereço, de um local para o outro. Praticamente só levando as roupas do corpo e mais algumas roupas em sacolas. Desta forma, eu fui morando em vários lugares diferentes. Desta forma, tudo sempre foi muito simples e no improviso. E principalmente tudo naquele tempo era muito perigoso. O lugar mais seguro era viver na capital Luanda.

E foi o que minha mãe acabou fazendo em razão de nossa segurança. Largou tudo para trás e com a família fomos para Luanda. Eu era muito pequeno. Tudo que sei é porque minha família me contou. Porém não tínhamos residência na capital. E minha mãe conseguiu uma casa distante a 30 quilômetros da capital. 

E foi ali que comecei a estudar na escola. Naquela época em período de guerra, tudo era complicado e precário. Assim, estudávamos em baixo de árvores e não dentro de salas de aula. Com o resíduo de uma guerra ao redor, casas abandonadas e outras coisas. As vezes tínhamos aulas dentro dessas casas mesmo. Foi um período triste, porque as condições de alfabetização não eram os melhores. Na verdade os professores eram verdadeiros heróis, porque eles lutavam a guerra do querem saber ensinar. 

Os professores ensinavam com os recursos que tinham, sem sala de aula, sem cadeiras, sem mesas, sem livros, sem nada. Nós ficávamos em baixo de árvores. Sentadinhos no chão escutando e olhando a professora nos explicando as coisas. Aprendendo o que era possível. Talvez era uma forma naqueles tempos de sairmos da guerra. Acho que era isso mesmo. Era nossa fuga para o que estava acontecendo no nosso país. 

E os professores era nossos verdadeiros heróis, porque não desistiam de nenhum de nós. Estavam conosco por amor. Lutando a guerra das letrinhas do alfabeto e dos números. Sentávamos onde era possível, em pedras, em pedaços de madeira, em qualquer coisa. Se tínhamos um banco trazíamos de casa. 

Mas quando voltou a paz tudo mudou. Em 2002 acabou a guerra. E minha mãe voltou para a zona rural. Eu meus irmãos ficamos na capital para continuarmos nossos estudos. Naquela época eu estava com seis ou sete anos de idade. E com a paz o governo determinou que todo o estudo no período de guerra fosse desconsiderado porque na verdade não tinha tido nenhum critério de qualidade, apenas muita dedicação e amor por parte dos corajosos professores. E assim, todos retomaram os estudos de onde pararam antes da guerra. No meu caso tive que começar do início. 

Assim, entrei com oito anos no primeiro ano, já com uma idade avançada. E a escola já com algumas melhores condições para nos receber, onde minha irmã era professora no ensino primário. Um ano depois todos voltamos para a cidade de minha mãe. Porque ela já havia organizado nosso retorno e já estava tudo seguro e normalizado para morarmos na zona rural. Essas escolas eram Católicas. Quando cheguei ao ensino fundamental as coisas melhoram mais um pouco, tendo ido para uma escola bem melhor. 

Nossas praças e parques tem brinquedos como balanços, escorregadores e carrosséis, com muitas crianças e brincadeiras realizadas no chão, como a brincadeira da Cimalha ou "Amarelinha" no Brasil.  A brincadeira do Ego, onde um dos participantes ficava agachado com a cabeça voltado para baixo e os demais amigos enfileirados, o primeiro saltava sobre ele e fazia uma determinada posição no salto, onde os demais deveriam repetir essa posição, aquele que não tivesse sucesso seria o próximo a ficar agachado. A Brincadeira do Sentido e Silêncio, onde brincávamos que éramos do exército e cada uma das crianças tinha uma graduação de soldado até general, e tínhamos que trocar comunicações entre nós, caso errássemos as "continências" perdíamos nossas divisas de autoridades, particularmente gostava muita dessa brincadeira.