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Que alegria anos depois de ter trabalhado na TAM, ser convidado para contar um pouco da minha experiência na melhor empresa que já trabalhei. Lembro com carinho e saudade de quando o Comandante Rolim entrava no nosso departamento, dava um tapinha no ombro e perguntava “Como vai a nossa TAM?” E todos respondiam: Tá voando, comandante!”
Entrei na TAM em 1983, fui trabalhar como Trouble Shooting no hangar da Pantaleão Teles. O gerente de manutenção era o Sr. Roberto Vidra. Lembro que os Embraer Bandeirantes voavam durante o dia transportando passageiros, e de noite, sem os assentos, carregavam malotes dos correios. Haja mecânicos e equipe de manutenção para manter aquela estrutura funcionando, mas o pessoal mandava bem.
Isso era surreal, a mesma aeronave realizando dois serviços. De dia transportando passageiros e a noite carga. Era um tira e coloca assentos todos os dias da semana. Que loucura. Mas o Comandante tinha uma visão de negócios inigualável, os aviões estavam lá a noite toda parados ociosos. E por que não os utilizar? E o que foi feito? Criado empregos, foi necessário contratar pilotos e equipe para trabalhar e claro gerar receita para a empresa.
Eu trabalhei na TAM por duas vezes. Na segunda em 1991, fui digitador no setor de receitas (receita voada, receita vendida e reembolso). Digitava passagens voadas, para dar baixa no sistema. Uma em meados de 1983, e depois entrei novamente em 1991. Totalizei doze anos na empresa. Posso afirmar que a TAM foi uma das melhores empresas que trabalhei. Dava orgulho trabalhar lá, na gestão do Cmte. Rolim.
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Na minha época tínhamos um bom plano de saúde, convênio com farmácias, cotas de passagens e algumas parcerias. As acomodações de trabalho eram boas. Nos tempos do Rolim, a empresa tinha um "ar diferente". A impressão que dava, era que nós éramos donos da empresa. Não tenho absolutamente nada do que reclamar.

O Cmte. Rolim sabia valorizar os funcionários, tanto que em alguns anos, ele pagou além do 13° salário, também o 14° e até o 15°. Na minha época tínhamos um bom plano de saúde, convênio com farmácias, cotas de passagens e algumas parcerias. Não podíamos reclamar dos salários e demais pagamentos. Ouvíamos que uma das coisas que deixava o Cmte. irritado era demissão de funcionários. E quando ocorria passava por uma entrevista de desligamento com o intuito de aperfeiçoar os processos e rotinas de trabalho.
Nós funcionários trabalhávamos por amor pela empresa. Nunca tinha realizado isso na minha vida. Era algo diferente. Tinha prazer em vestir nossos uniformes e dizer a nossos familiares e amigos onde trabalhava. Nós funcionários do administrativo tínhamos passagens gratuitas e com descontos, era um sistema por cotas, que aumentavam a cada ano de empresa. As festas de final de ano eram inesquecíveis, geralmente em salões ou na própria TAM. Onde os filhos dos funcionários tinham uma festa no GRETAM, um grêmio recreativo, onde recebiam presentes, havia uma pequena mensalidade descontada mensalmente do associado ao GRETAM.
O Rolim pensava não só nos clientes, pensava também em nós funcionários. Existiam algumas parcerias entre a TAM e faculdades e escolas de idiomas. E também um serviço de translado de ônibus entre os Aeroportos de Congonhas e Guarulhos. Até acredito que a TAM tenha sido a pioneira, mas não tenho certeza. Quanto ao motorista, não era um só. Mas nós funcionários podíamos utilizar um ônibus exclusive para nosso transporte entre os aeroportos de Congonhas e Guarulhos.
Não era raro encontrarmos o Cmte. Rolim andando pela empresa. Sempre simpático e muitas vezes acompanhado por artistas e amigos dele, como o Rolando Boldrin. Ele era muito diferente de outros diretores que já tinha visto. Não era arrogante e autoritário, pelo contrário gostava de escutar as pessoas, fossem que fossem. Inclusive se encontrava uma pessoa da melhor idade providenciava atendimento imediato.

De manhã, logo cedo, ele costumava ficar na porta dos aviões, recebendo pessoalmente os passageiros. Se apresentava, trocava cartões, ouvia os clientes. E com isso ele criou o serviço chamado FALE COM O PRESIDENTE, um canal direto com ele, onde passageiros enviavam perguntas, elogios e reclamações. Ele sabia não só administrar, mas também era fera em fazer marketing da empresa.
Certa vez ouvi uma história, que não tenho como confirmar, mas essa conversa rolou muito pelos corredores durante muito tempo. Falava-se que o Cmte. estava andando pelo aeroporto, como sempre fazia, e encontrou uma passageira muito irritada, brigando com funcionários no balcão. Ele se aproximou, se apresentou e a mulher disse que tinha perdido um voo para Belo Horizonte, onde participaria de um congresso, pois uma funcionária da TAM.
Conforme a passageira havia passado informações erradas sobre os horários de voo. O Cmte. mandou verificar e constatou que realmente haviam passado uma informação errada para a passageira. Assim, ele mandou preparar um jatinho da TAM Táxi Aéreo só pra levar a passageira até BH. E ela acabou chegando lá antes do Fokker 100 que havia saído um tempo antes.
Outro fato muito comentado era que o Cmte. Rolim não estava conseguindo autorização para voar para Miami, então ele encontrou a solução brilhante: comprou uma pequena empresa de aviação do Paraguai, chamada Arpa, que tinha concessão de voos pra Miami e no Equador a Lapsa e em seguida fundou a Tam Mercosul.
Ele pegou os A330, e começou a fazer a rota Guarulhos, Assunção, Miami, com um serviço de bordo que incluía até talheres de prata. Lembro de um período que a TAM e o Comandante era só comemoração nos corredores em razão dos diversos prêmios que recebia. Um deles foi em Nova York pelo Programa Fidelidade e outro pela Revista Airline Bunisses, como a empresa mais rentável do mundo.
O vice presidente era o Brigadeiro Pamplona, figura muito influente nos meios da aviação. O Oscar Pucci, ou melhor Cascão como era chamado tive o prazer de trabalhar com ele, foi mecânico e chefe da manutenção dos Bandeirantes. Batalhou tanto que aproveitou as oportunidades que surgiram na vida que virou piloto e inclusive na própria TAM, como copiloto de Bandeirantes, onde teve como instrutor o Comandante Francisco Perez, que não tive a oportunidade de conhecer, mas sua fama era enorme na empresa de ser um ótimo profissional.
O Perez foi também um dos que construíram a TAM, iniciou devagarzinho com os Bandeirantes e Fokker 27, até chegar nos Airbus e 777. Eles todos com o Bibiano, têm muita história pra contar. Outro que trabalhava muito junto com o Comandante era o Gabrielli. Katia Carlini, conhecida na TAM como Nalim, era a chefe do setor de treinamento. A TAM era uma empresa que se você trabalhasse sério e com a filosofia da companhia ela entrega todas as ferramentas para você crescer profissionalmente.
Foi graças a ela, que ministrei vários cursos de Geografia para comissários(as) e atendentes de aeroporto. Como pode ver, o Cmte. Rolim escolhia bem seus assessores. Essas e centenas ou milhares de outras pessoas que mencionei aqui, são um verdadeiro livro de história da TAM. Aprendemos com o Comandante Rolim e seu aprendizado procuramos replicar no nosso dia a dia, principalmente os Sete Mandamentos da TAM.
Em certa ocasião uma passageira chegou no balcão para comprar passagem para IQUIQUE no Chile e o funcionário, sem ter conhecimento do novo destino, disse que a TAM que fazia essa rota. A passageira ligou no FALE COM O PRESIDENTE, reclamou e então resolveram criar um treinamento de Geografia para funcionários. Na época eu cursava Geografia e num encontro casual com a Nalim, comentei que sobre minha faculdade.
Ela imediatamente me convidou pra assistir um curso, que ela própria ministrava, com a condição de eu dar o próximo curso. Não só ministrei diversos cursos, como auxiliei na criação de uma apostila e também viajei diversas vezes pra Uberlândia, onde havia um grande Call Center da TAM. Lá eu realizei esse curso para funcionários que estavam ingressando na empresa. Acredito que até hoje exista esse treinamento, só que online.
Apesar de trabalhar em uma cia aérea, eu viajava pouco a trabalho de avião. Minhas viagens eram de carro. Viajei algumas vezes pela TAM, com a família, mas nada que tivesse rendido grandes histórias. Uma coisa é certa: naquela época o serviço de bordo da TAM era referência. Isso atraia novos passageiros. A bordo haviam doces, sorvetes, pizzas e sorteios de brinquedos para crianças.
Principalmente em datas comemorativas, como no Dia das Crianças que era servida a bordo, caixinhas com bombons, brigadeiros, etc. No Natal era uma festa, saiam dos toaletes Papais e Mamães Noel tocando violinos. E as salas de embarque do Congonhas com piano bar, harpa, violinos. Era uma magia e encanto para todos com a pianista Betth Ripolli e equipe. Era comum empresas parceiras doarem produtos para serem sorteados nos voos. Parece bobagem, mas isso divertia os passageiros e ajudava a diminuir a tensão em quem tinha medo de voar.

Sem contar um voo panorâmico que a empresa fazia no dia das crianças, voando sobre o litoral de São Paulo, levando filhos de funcionários. A TAM era uma empresa sensacional. Jamais irá existir no Brasil outra igual. E nunca existiu também outra igual. Onde o Presidente tinha a humildade de conversar com qualquer funcionário de igual para igual. Podia ser um auxiliar de limpeza ou um comandante de um Airbus. Ele tinha o prazer de ter o contato com todo mundo, de escutar os passageiros, seus colegas de trabalho. Isso nunca existiu no Brasil e jamais voltará a existir.
Naquele tempo o passageiro era bem tratado. O passageiro era a estrela. Hoje em dia tudo mudou. As empresas sumiram com o glamour da aviação. Estão servindo muitas vezes só água e uma bolachinha. As poltronas praticamente não reclinam mais, o avião ficou encolheu. As passagens estão mais caras. Até o serviço de ônibus desencantou.
Hoje há algum entretenimento a bordo, mas nada comparado aos tempos bons dos anos 90. Quando encontro um velho amigo e conversamos, volta a memória de um tempo que não voltará mais. Triste para as novas gerações que jamais imaginarão o que era Voar no Estilo TAM de Voar!