domingo, 4 de maio de 2025

Comissário Cavalcante e Suas Lembranças da TAM

Inicialmente gostaria de agradecer pela oportunidade em contar com meus relatos para engrandecer ainda mais esta biografia relatando algumas passagens do nosso saudoso Cmte. Rolim. É emocionante falar sobre o Rolim Amaro e da TAM. E para nós que somos TAM na veia são muitas lembranças de um tempo que jamais voltará. 

Nunca mais existirá outra empresa como ela. Trabalhei quase trinta anos na TAM,  sendo que tive passagens por departamentos administrativo, RH e operacional. Falar do Comandante Rolim é uma honra e uma alegria indescritível.

Marquinhos Amaro, transportei em muitos voos como menor desacompanhado, o próprio Rolim o despachava na porta da aeronave para nós chefes de cabine, cuidarmos com atenção e carinho de seu "filho" na época. Era uma criança bem-educada e boazinha, sempre sentada nos assentos dianteiros. E ficava quietinho, sossegado, sem nos dar trabalho nenhum. Isto em meados dos anos 90. Bem bacana poder integrar desta linda e memorável homenagem.

Em um dia de semana, logo cedo, Cmte. Rolim estava no pé da escada do FK-100 recepcionando os passageiros no embarque, eu ficava ao lado de uma Comissária e do Comte do Voo. Geralmente gostava de oferecer balinhas de boas-vindas. Naquela ocasião eram oferecidas balas de hortelã.

Num voo que estava trabalhando escutei um passageiro realizar a seguinte observação: "Rolim, nós executivos, empreendedores, homens de negócios, advogados, logo cedo devemos estar atentos e estimulados para nossas funções. Deixe estas balinhas de hortelã para serem oferecidas no período do fim da tarde para relaxar e tranquilizar os passageiros que estão voltando para casa, hotel etc.

Café da manhã com Cmte. Rolim era uma coisa deliciosa, bate papo que agregava conhecimentos, exaltava a importância de cada colaborador com a Família TAM.

Não deu outra, o gênio e visionário Rolim, sacou um cheque em branco de seu bolso, assinou e entregou a um despachante de terra. Deu a seguinte ordem: Vá a uma distribuidora de doces aqui próxima do Aeroporto e compre todo estoque de balas de café e embarque em todos os voos decolando no período da manhã e as balas de hortelã nos voos do fim da tarde e noturno. 

Quero que nosso passageiro, que fez esta sugestão se surpreenda no voo da volta e saiba de sua valiosa contribuição para nossa excelência em serviços. Espero poder ajudar com esta simples acontecimento, mas marcante em minha memória.

Quando um colaborador era admitido, independente do cargo, duas coisas eram exigências do comandante Rolim visando o bem de cada um dos funcionários. Uma era que nos credenciássemos no benefício de Previdência Privada e outra que nós nos associamos ao Grêmio Recreativo da TAM, no qual era cobrado uma mínima contribuição e no final do ano esse valor era revertido em presentes aos filhos com até doze anos dos funcionários. 

E dessa forma, durante doze longos anos meus dois filhos tiveram a felicidade de receberem os presentes da TAM. E minha família agradece muito ao Comandante Rolim porque se temos hoje nossa casa própria foi em razão de termos entrado no Plano de Previdência Privada. Assim, até hoje agradeço ao Rolim em meus pensamentos e em minhas orações. E depois consegui formar meus filhos e dar um direcionamento para minha vida.


Até hoje carrego na carteira um cartão plastificado com os sete mandamentos da TAM, que foram entregues a todos os treze mil colaboradores da época. Tendo sido solicitado que levássemos em consideração as suas anotações. Levei tão a sério que trouxe para minha vida e minha família os mandamentos, onde me ajudou muito. E quando posso divulgar, repasso para ajudar outras pessoas. Tenho um carinho especial pelo Comandante Rolim no coração. Sempre fomos muitos apaixonados pela TAM e por tudo que ela representou em nossas vidas.

Tive a alegria de realizar os famosos sorteios a bordo com os mais variados parceiros de negócios que a Companhia tinha. E no Natal, era mais festa. Todos os anos, ficávamos imaginando o que o Comandante Rolim iria inventar. Houve anos que foram distribuídos bichinhos de pelúcia, enfeites de Papai Noel no balanço, panettones, caixas de bombons, casinhas na neve de gesso iluminadas, renas de latão. 

Na época do Dia das Crianças sorteio de jogos da Estrela. Sorte de passagens aéreas, garrafas de vinho, kit de churrasco e até de um Automóvel Zero Quilômetro. Era emocionando para nós da tripulação nos momentos da realização dos sorteios assistir a sensação da expectativa entre os passageiros. Minha sensação era enorme no ato de entrega de qualquer brinde ou presente.

Éramos a única empresa aérea do Brasil que durante mais de dez anos teve show na sala de embarque do Aeroporto de Congonhas, com Piano Bar, com a pianista  Betth Ripolli e seus músicos. Tinha de tudo um pouco, violino, harpa, sax, trompete, violoncelo e muitos outros instrumentos.  Havia também uma enorme maquete de um avião da TAM. Isso foi antes da reforma do aeroporto. 

Regado a vários quitutes, petit fours e canapés, chocolates nos antigos baleiros de vidros de armazéns, tudo acompanhado de bebidas de sucos e refrigerantes a cervejas, vinhos, champanhe, chopp e whisky. Era uma verdadeira Sala Vip a todos os passageiros que estivessem embarcando pela TAM, independente da tarifa de sua passagem. Essa sala era aberta já no primeiro voo do Congonhas e fechava somente após o seu último voo. 

Nos primeiros voos da manhã era fácil ser recepcionado pelo Comandante Rolim nessa Sala e tomar um espetacular café da manhã antes do embarque, sempre muito solícito, informal e carismático. Nossos passageiros tinham o orgulho em falar: "Sou amigo do Comandante Rolim!" Da sala de embarque o Cmte. se dirigia para o Tapete Vermelho, nas portas dos aviões recepcionar e cumprimentar cada um dos passageiros. Aproveitava para entregar seu cartão de visita. E quando menos se esperava, se tivesse um assento disponível, ele embarcava no voo. Então, durante o voo, conversava com os passageiros. 

Normalmente na entrada do avião oferecíamos Champanhe Freixenet Brut como Welcome a bordo, jornais, revistas, balinhas, água, suco. O vinho do jantar habitualmente era o Miolo da safra Gaúcha. Uma peça que sempre foi marca da TAM era o babadouro para proteger a roupa de nossos passageiros que era entregue antes de ser servido todas as refeições.

Fossem o café da manhã, o almoço, o jantar ou os lanches intermediários. Geralmente algum músico da Sala de Embarque nos acompanhava durante todo o voo. As vezes era um saxofonistas, trompetistas, violinistas, entre outros. Assim tornava a viagem mais agradável e tranquila. Depois da suave decolagem, iniciava o SHOW! 

A sua imaginação nunca parava. E quando nós menos esperávamos saia um Papai Noel de dentro da toalete tocando um violino encantando todo o avião ou então embarcava o próprio Rolim na aeronave, e cumprimentava e conversava com todos os passageiros. Isso era um orgulho para nós tripulantes. Só a TAM tinha isso! Mais ninguém teve na história da Aviação Brasileira. Que orgulho eu ter trabalhado naquele tempo da TAM. 

Ele não parava, era tábua de queijo, pizza, sorvete, rodízio das comidas regionais, champanhe em taças para todos os passageiros. Escutei dizer que num voo teve até churrasco a bordo, não duvido, se tratando do mestre de Marketing em atender o cliente o impossível era possível. 

Os voos da TAM era uma coisa espetacular. Era um show no ar. Agora você nos dias de hoje para e pensa: sair de dentro da toalete músicos vestidos de Papais Noel tocando violino ou flauta. Ou seja, música ao vivo a bordo a mais de dez mil pés. Só um gênio para ter uma ideia dessas. Os passageiros ficavam encantados, era como se estivessem num show do Roberto Carlos. 

Faço uma menção especial a dois Comandantes Francisco Perez que foi meu instrutor na Academia de Serviços e também ao Cmte. Castro que voamos juntos durante muitos anos, tanto nos voos domésticos como internacionais. 


Dois profissionais que juntamente com o Rolim e todos os demais milhares de colaboradores ergueram a melhor empresa aérea do Brasil, onde todos nós tínhamos orgulho de termos o Comandante Rolim Amaro como Presidente de nossa empresa, conversando humildemente com todos nós e com passageiros, funcionários de outras lojas, engraxates. Nunca fazia distinção das pessoas pelo bolso. Caminhava pelos corredores dos aeroportos e dos aviões ouvindo as pessoas, escutando ideias. Isso nunca existiu e acho que nunca mais existirá no Brasil. 

E os dias de hoje como está a aviação? Melhor deixar para lá os dias de hoje. Melhor lembrarmos da época do Comandante, da sua famosa lambreta que vendeu para construir o que ergueu e das histórias que ficaram espalhadas por todos os cantos que o vento pode levar. Nunca existiu uma empresa como a TAM e nunca mais existirá. Quem viveu aquela época viveu, e hoje fica  apenas as lembranças.