terça-feira, 21 de dezembro de 2021

COMANDANTE ZÉ PARDAL - HISTÓRIAS DE AVENTURAS NOS CÉUS DO BRASIL


PINTOR DE ARTE, BALONISTA, COZINHEIRO, CENÓGRAFO, FORMADO PELA FACULDADE DA VIDA, ADERECISTA, MÚSICO, SKATISTA, ESCULTOR, GAITISTA, ETC

Topei contar a minha humilde história para incentivar outras pessoas a saírem do quadrado do mesmismo de sempre, de pensar de forma diferente. O importante na vida é você viver, mais do que isso aproveitar a vida. Saber curtir cada momento da melhor forma possível. 

Estando você onde estiver. Você faz seu destino. Estou tendo a oportunidade de repassar aos leitores o maior ensinamento que recebi na vida e de minha querida mãe "Aprender não ocupar lugar. A vida a gente vem para ser. Dessa vida a gente só leva o amor. Em tudo o que você faz, deve ensinar alguém a fazer e da melhor maneira." 

Essa é a mensagem do Pardal, quero deixar esse legado para as pessoas compreenderem que o valor da matéria não significa no final de tudo nada se não tiver o amor. Outro fator importante é a filosofia do Blog que não tem fins comerciais de nenhuma natureza, tudo é feito por amor e dedicação. 

E estou tendo a oportunidade de dizer obrigado do fundo do meu coração a todos os meus familiares, meus irmãos, minha mãe, meu pai, meus amigos, meus professores por fazerem parte da minha vida. Muito obrigado e perdão aos que esqueci de mencionar.

Por outro lado, eu vivo também com cenografia a quase cinquenta anos. Faço um pouco de tudo, olho para um simples muro e trago vida a ele através de uma pintura de uma paisagem. As pessoas param, olham, admiram e não acreditam na nova realidade do velho muro. 

Irei falar um pouco sobre esporte, a culinária, as artes, o balonismo, paraquedismo, o skate, amigos, o Circo Aéreo Onix Jeans, compartilhar as poucas coisas que aprendi na vida e tantas outras coisas. Aliás sou uma pessoa que posso parar e olhar para trás e dizer que sou sem modéstia muito rico, mas muito rico mesmo. 

Não de dinheiro. Sou rico de felicidade, de amizades, de conhecimentos. Por onde o Pardal passa as portas se abrem. Se sou feliz, Claro que sou. Conheci pessoas que passaram a vida toda trabalhando para juntar bens materiais e dinheiro e se esqueceram de desfrutar a felicidade e num belo dia descobriram que já era tarde demais. E é isso que vou contar aqui. Vai ter até receitas de pão, bolo, pizza, massa. Esperem que gostem e deixem um comentário.  

Nasci e fui criado no bairro da Lapa de família humilde, trabalhadora, honesta e muito amorosa em São Paulo. Éramos seis irmãos, o Odair, a Elisabete, a Rita, a Palmira e a Helena. Sempre fomos família humilde. Meu pai Luiz Hilário Pacheco era ferramenteiro, trabalhava com torno mecânico, fabricava peças para automóveis. Brinquei na infância com tudo que era de criança. Bolinha de gude, peão, pipa e balão nem se fala. 

Muita pipa. Cheguei ao ponto de até fazer pipa até dormindo na cama. De tudo que era forma e jeito. Aonde eu ia, minha mãe Maria Lourdes Pacheco tinha que me dar dinheiro para eu comprar as varetas, linha, cola, papel. Não tinha jeito. Eu era viciado. Também fazia balão de papel, fiz muito também, naquela época não era proibido. 

Vive toda minha infância, adolescência e início da vida adulta na Lapa, com o espírito aventureiro de conhecer todo o mundo a fora, de viajar, pegar estradar e desbravar horizontes. Mas de família humilde, sendo praticamente impossível sequer imaginar viajar para Europa ou Estados Unidos. Minha mãe e minha irmã com muita dificuldade conseguiram comprar uma bicicleta para eu desvendar as ruas e ruelas do bairro. 

No outro dia fomos na igreja de bicicleta eu e minha mãe, como voltei sozinho ela havia percebido o que seria a bicicleta na minha vida e naquele momento eu perdi a bicicleta, porque no outro dia ela vendeu. E passei muitos anos sem e desejando novamente. Até que trabalhando fazendo massa de lavar a mão com o seu Tuffi eu consegui triunfar e comprar uma bicicleta. 

E então aconteceu aquilo que minha mãe havia predestinado, passei a conhecer os bairros vizinhos e nunca mais parei. Meu universo se ampliou e eu fui crescendo. Eu sempre com a molecada no meio da rua, e as minhas irmãs Palmira e Helena que eram as mais velhas cuidando de mim e da minha irmã gêmea Bete. E as duas adoravam a gente. Foram elas que davam banho na gente quando crianças. 

A Palmira até hoje em todas oportunidades me fala "José cuidado com friagem, se agasalha, juízo!" Minha mãe volte e meia me falava "Pardal, Juízo quando vai chegar? E eu lhe respondia "Quem é esse cara juízo, me apresenta para ele mamãe, quando ele vai chegar?" E até hoje sejamos honestos até hoje esse cara juízo poucas vezes chegou. 

Meu irmão Odair vivia com a gurizada pegando no pé dele, porque ele pensava de forma diferente das pessoas daquela época. Depois se formou em sociologia e gerente do Banespa. Ele fez a parte principal dor irmãos, ele quando soube que estava com Aids conseguiu junto com o banco colocar minha mãe como sua dependente vitalícia no plano de saúde. 

Assim, mesmo ele já tendo partido ele conseguiu cuidar de nossa mãe de uma forma maravilhosa. Ele se preocupou com todos os detalhes antes de sua partida, inclusive assegurou sua pensão financeira a nossa mãe. 

Minha irmã Rita sempre estudou muito e sempre esteve muito envolvida em tudo, inclusive participou do Rali dos Sertões, viajou muito e me ensinou muita coisa, foi casada com o João. A Bete. A Bete é casada com o Wesley, que é massagista e parceiro da família.  A minha família toda é religiosa, sendo Espírita Kardecista, somente minha mãe que era Católica fervescente. A Palmira e a Helena casaram cedo. 

A Helena casou com o Gastão e Palmira com o Ícaro. A Palmira teve os filhos Carina e Júnior, já a Helena teve o Luís, o José Roberto e a Andréia. E a minha irmã Rita teve o Daniel, a Thais e o Luba. Onde a maioria deles já casaram , já tem filhos e a família prosperou. A Palmira sempre foi uma mãe exemplar, uma mãe dedicada, séria e carinhosa a família. 

á a Helena era como eu, a ovelha negra, sempre me acompanhava em algumas paradas, doida como eu. Fomos de carro até Porto Alegre e Gramado. A história da minha família é muito legal, porque podia ter muitos problemas, mas a gente sempre almoçava e jantava juntos na mesa. 

Ai se no domingo alguém sentava em frente a televisão para almoçar, meu pai pegaria o prato e jogava na cabeça do filho. Eu acho muito importante as famílias sentarem a mesa, sem celular e sem televisão, poderem conversar um olhando nos olhos do outro. Isso eu aprendi em casa.

A minha escola foi a rua, assim desde cedo fui me distanciando de casa e indo para a rua. Onde eu estava, acabava aprendendo alguma coisa. Formando minha personalidade profissional. Tanto nas artes, como na música ou no esporte. Tudo eu aprendi na rua. E mesmo hoje, continuo aprendendo, e aprendo porque não sei tudo e aprendo porque estou vivo. 

Todas pessoas tem alguma coisa para nos ensinar, depende de nós querer aprender ou não. E minha família me apoiou na medida do possível. Porque teve uma hora que não tinha mais como segurar o José. Ninguém mais segurava o José. E lá foi o José. E de repente nasceu o Pardal, neste momento o Zé já tinha ido embora de vez para o seu mundo. 

As minhas irmãs sempre me deram todo o apoio, por exemplo a Helena me deixou dirigir carro com menos de dezoito anos. Eu tinha dezesseis anos e ela tinha um Dodge Charger, e eu acabava levando a molecada na escola, fazia feira. Eu era agitado não parava um minuto. Levava meu sobrinho para a academia. Foi muito legal. 

Minha Helena sempre me ajudou muito, mas muito mesmo.  O Gastão era dono de açougue, ela ia na feira e trazia sacolas de feira e de carne, não faltava nada em casa para todos nós. Minha irmã alimentava a família inteira durante muitos anos.

Certa vez estávamos eu, minha irmã Palmira, minha mãe e a Dona da Chácara dona Lourdes, em Indaiatuba onde meu primo tenha uma chácara. Eu havia levado o balão. Na hora de colocar o balão em pé, minha mãe olhou e disse "Eu não vou não". Minha irmã Palmira nem quis chegar perto, ficou longe. Quem foi comigo foi a Lourdes, uma amiga dela e minha prima que já tinha tido oito enfartes. 

E fizemos um teste, fomos subindo devargazinho para ver como ela se sentia, meio metro, cinco metros, 500 metros, amou e fomos embora. E minha mãe nunca voou comigo. Meu filho Victor já voou comigo de Balão e saltou de paraquedas. O Caio nunca voou de balão, não curte essas coisas. Quem já voou comigo foi a Rita que voou várias vezes comigo, minha sobrinha Thais com o Tuco, o meu primo Raul, a minha irmã Bete e o Wesley

Eu aprendia com os rapazes mais velhos. Eu com papel sempre ficava doido. É curioso até hoje quando eu corto o papel draft eu recordo institivamente minha infância. Brincava muito de polícia ladrão, manda rua. E claro teve a fase bicicleta, bola e futebol. Depois que eu descobri o skate então acabou. Era só ele e pronto. 

Em esporte eu pratiquei Basquete e Ginástica Olímpica ambos como militante no Palmeiras. Até hoje, se eu vejo a molecada jogando pião, pipa ou bolinha de gude eu pesco para entrar um pouco na brincadeira. E a molecada gosta que eu brinque com eles, porque eu acabo ensinando alguns truques para eles. 

Hoje os adultos não têm tempo para brincar com as crianças. Eu ensino a gurizada a não usar cerol e qualquer outra coisa que possa fazer mal a elas ou a outras pessoas. Se queremos um mundo melhor no futuro, o processo inicia com as crianças, elas serão o nosso futuro e o futuro das próximas gerações. 

E no quintal do seu Mário, avô do meu amigo Celso, eu abri a minha cabeça mexendo e brincando com madeira, tinta, solda, cimento. Ali descobri que as matérias primas poderiam ser transformadas e virar alguma coisa. 

No início da década de setenta os meus pés conheceram a prancha de surf do concreto sobre quatro rodas. E foi meio por acaso, naquela época a molecada era apaixonada por surf. Eu e meus amigos acompanhavam o surf através das revistas e de repente começou a surgir o skate nas páginas coloridas. Foi paixão à primeira vista e fiquei doido. Mas ainda não tinha chegado no Brasil. Sendo criativo eu dei um jeito na hora, peguei um par de patins, arranquei a base das rodas e aparafusei num pedaço de roda e já estava com meu skate. 

Claro aquele medonho só andava reto e pronto. Não fazia curva nem pagando. Algum tempo depois chegou ao Brasil o primeiro skate o Torlay, e claro que comprei e dei um belo trato na pintura dele. E não demorou muito para todos os amigos terem um também e construímos uma rampa na rua para andarmos, e passávamos o fim de semana inteiro brincando na rampa, era uma barulheira desgraçada e a vizinhança queria matar a gente e nós nem aí para eles. 

Nós montávamos as rampas tudo no improviso. O que encontrávamos de resto de madeira já era usado e depois com martelo e prego dávamos um trapo. Minha turminha de infância era eu, o Márcio Freitas, Celso, Paulinho, o Rogério, Jaime, Júlio, Betinho, Salvador. Na adolescência com o skate eu já estava misturado com várias turmas de várias ruas. 

Então surgiram os amigos Aldo, João, Manam, Beto Alva, Moacir, Zé Francisco, Kiko, Pil, Aníbal, Tizil, Moa, Zé Antônio, Anta e o Boltinho que foi um dos meus melhores amigos de adolescência. Um fato inacreditável é que naquela época se você fosse visto pela polícia com um skate na rua, ele era sumariamente confiscado. Quando era apreendido o jeito era ir à delegacia conversar com o delegado para tentar ver se liberavam. 

Eu imagino hoje o que pensão as pessoas que naquela época confiscavam o skate, porque ele é um meio de transporte e agora faz parte das Olimpíadas, por isso que eu digo, você tem que abrir a cabeça, a verdade de hoje, talvez não seja a mesma de amanhã. Então, se você estivesse andando com ele e avistasse a polícia ou você o jogava dentro do bueiro ou arremessava no telhado de alguma casa e depois dava um jeito de recuperar ele. 

Foi com o skate que iniciou minha jornada nos Pronto Socorros, a primeira vez eu havia tido um tombo e a enfermeira me sacaneou e me enfaixou todo sem necessidade, minha mãe quando me viu ficou apavorada pensando em algo muito mais sério. Depois surgiu o primeiro importado que o vizinho comprou, ficamos todos doidos. Começamos a montar as nossas próprias rampas de madeira. 


Com o tempo partimos para fazer manobras na rua e na pista do bairro Sumaré. Então, surgiu a primeira pista de skate que tive a felicidade e oportunidade de testar antes da abertura porque eu trabalhava na empresa EPT - Engenharia e Pesquisa Tecnológica que construiu ela. Aquilo foi bom demais. Depois foi expandido outras pistas e surgiram os campeonatos, porém nunca fui interessado em competir. 

Porém o skate passou a fazer parte da minha vida como forma de transporte cotidiano, para ir à padaria, na farmácia, em qualquer lugar. Quando já estava muito bom no skate fui trabalhar com ele no emprego que tinha de office boy, quando meu patrão meu viu já avisou "se você vier com ele amanhã eu te mandou embora". 

No outro dia já estava procurando emprego. Dali fui trabalhar em duas outras empresas, também de skate, depois passei pelo Senac e pelo café e doceria, também de skate. Em seguida na Rede Globo, sempre de Skate com autorização do meu diretor. 

O skate de alta velocidade foi doze anos atrás. Cheguei a andar a 95 km por hora. Eu voava com ele na pista descendo a serra. Eu viciei na velocidade. Uma vez um senhor no trem na estação Morumbi me viu carregando nos braços o skate e perguntou se eu gostava de andar e lhe respondi "eu não, tá doido. Eu gosto é só de carregar ele. Andar de skate é para maluco!" Outra vez eu estava no metrô e outro senhor me perguntou se eu não estava velho para andar de skate. 

Olhei ele de cima a baixo e respondi: "Eu velho? Se eu te contar quantas eu dou numa mesma noite na cama com uma mulher você vai ficar de boca aberta, e claro que nem vou perguntar de você! Olhei bem fundo nos olhos do moleque e ainda disse, "Meu você acaba de cometer a maior gafe da sua vida, você se meteu na minha vida, sem eu te conhecer!" A cabeça não tem idade. Quem tem idade é o corpo. 

O limite quem faz é você. Você pode estar dentro da caixinha, todo arrumadinho de sapato brilhando, calça, camisa, gravata e relógio Rolex, para você entrar no elevador e teu vizinho te ver e ficar abismado. 

Eu saía da Globo às 08 da manhã depois de ter trabalhado 48 horas, colocava um tênis, um calção e uma camiseta e pegava o trem para dar um role na pista do Parque Villa Lobos e percebia que os mauricinhos tudo engravatados dentro do trem ficavam me encarando achando que eu era vagabundo porque eu estava àquela hora da manhã com o skate no braço. 

As pessoas perderam a noção, não sabem o que eu tinha feito, e pior ainda, não tem o direito de se quer achar que tem o direito de pensar o que eu iria fazer com aquele skate àquela hora da manhã. Então, quando a gente sai da caixinha é tão legal, passamos a olhar o mundo de outra forma. Deixamos de dar valor a coisas que são abstratas. 

Tem pessoas que passam a vida toda dentro das empresas brigando por um cargo e mal percebem elas que tudo é transitório. Poderão perder o cargo e em dias, ninguém mais lembrará delas.  Eu não preciso usar corrente de ouro, tênis ou roupa de marca. 

O que é importante é o conforto que as coisas possam me proporcionar. Posso estar num lugar muito simples, e são esses lugares que eu dou valor, pois é ali que sou feliz, você não faz ideia. Aqui na cidade de Boituva eu sou mais conhecido que cédula de um real, muito mais conhecido que nota de um conto. 

Aqui não tem aquele negócio da ostentação, todo mundo conhece o Pardal. Todo mundo sabe de onde eu venho. As portas sempre estão abertas. Portas de amigos. Não preciso de dinheiro. Preciso apenas ter uma forma de ganhar dinheiro para pagar as minhas contas, que não são muitas, satisfaz a tua vida e você consegue se sentir feliz é tão diferente. 

Você sai de um mundo irracional onde impera o dinheiro, a ostentação, a competição, daquela carga energética negativa. Claro que me falta um monte de coisa, mas o que eu já tenho e conquistei, eu sei que muita gente gostaria de ter. 

O Luiz Francisco havia ganhado de sua avó Lavinea uma gaita de boca Picolé Hohner, ele vivia com ela no bolso, mas não dava muita atenção e também não sabia tocar. E uma Picolé é quase um chaveiro, mesmo assim eu que pegava ela e treinava com ela. No início só saía um som qualquer. Pensa, dois meninos de onze e treze anos, com uma gaitinha de boca, sem ter ninguém para ensinar, porém éramos persistentes e não desistimos. 

E depois de muita dedicação daqueles dois meninos, mas muito tempo mesmo, começou a sair alguma melodia daquela gaitinha. E claro conforme a melodia ficava afinada, mas nós nos motivávamos a continuar nosso aprendizado. E naquela época escutávamos muito som com gaita nas rádios, principalmente do Bob Dylan. 

Então a febre começou, e começamos a comprar gaita cada vez melhores e tocar música. Acabei não parando até hoje. Foi uma brincadeira de moleque que virou num prazer. Comecei a conhecer bandas e dar minhas "canjinhas" com eles e conhecendo cada vez mais. Com o tempo passei a ter ouvido para acompanhar notas musicais que eu tecnicamente não sei quais são. Aprendo tudo no toque, no ouvir e no treinar. Tenho muita vontade de ter algumas gaitas que já tive para voltar a tocar Bossa Nova, Jazz. Estou indo morar no Sul do Brasil e lá vou poder me dedicar mais a música. E em todos os voos de balão eu termino com uma música de gaita. 

E não estou falando de coisas materiais. Estou falando de experiências, conhecimentos, amizades. As portas que eu passo e que se abrem para mim com meu cartão que está aqui no pescoço você não imagina o poder que ele tem. Esse cartão é invisível, a bandeira dele é Pardal. Quem aceita ele? os meus verdadeiros amigos e não são poucos não. Ele não vai na maquininha. 

Eu não preciso pedir para entrar nas casas, elas então sempre abertas para o Pardal. Eu não preciso para pedir as coisas, as pessoas sempre me dão. Aonde eu for, sou sempre bem recebido. Onde eu encostar o pé, as pessoas querem que eu faça alguma coisa, qualquer coisa, uma arte, um prato, que eu conte uma história, que toque a gaita, que eu fique lá junto com eles. 

Isso não dá para comprar! Talvez nem com o tempo! É um conjunto de fatores, personalidade, se doar, querer ajudar, compartilhar, ser amigo de verdade, empatia e muito mais. Por fim, olhando para trás chego à conclusão de que o skate foi meu terapeuta durante curtos 48 anos. Porque eu e ele a gente conversava. Eu o vendi para não cair um tombo e ter um problema maior. Foi uma tristeza muito grande, chorei como criança. Chorei muito mesmo. Mas tomei uma decisão de adulto. Durante décadas em que eu estava, ele ia comigo, pouco importava o lugar. 

 

Os anos passaram, chegou o balão e o skate sempre no pé fosse eu para onde fosse. Um tempinho atrás fui ao supermercado de bike e não levei o cadeado, vejo ela sendo furtada e saio correndo e piso no cordão do meu tênis e aposento o skate na minha vida, foi um dos dias mais tristes da minha vida. Eu distendi a cocha, estourei o joelho, clavícula deslocada. a bunda ralada e essa foi a 38 visita no HPH. 

E foi assim que deixei de andar de skate depois de 48 anos de parceria. E a forma com que deixei de usar o Skate foi uma ironia do destino, muitos diziam que eu era doido em descer rodovias em alta velocidade, que eu ainda iria morrer atropelado embaixo de um caminhão. E tive que aposentar ele num tombo na entrada de um supermercado.

 

Também no início da década de setenta, o pai do meu compadre Luís Francisco, que foi meu melhor amigo de infância. O avô dele guardava o carro no meu vizinho e eu sempre abria e fechava o portão da garagem. e ficou uma amizade com o neto Chico de mais de cinquenta anos até que ocorreu um acidente de carro que levou ele e a esposa. 

Então, o Chico comprou uma lancha em São Sebastião e navegávamos em tudo que era lugar, acabamos levando-a para a represa Billings em São Paulo, depois levamos depois pro litoral, e era assim, para cima e para baixo. O Carlos, tio do Chico, construiu um iate no quintal da casa dele, na Av. Rebouças, com um guindaste colocou num caminhão e levou para Ilha Bela, quase que derrubou a casa do vizinho. E lá ele fazia passeios turísticos. 

E assim fiquei conhecendo o Saco do Sombrio, a Ponta de Pirabura, mergulhei em Ilha Bela, foi muito legal aqueles tempos. Um tempo depois casei e acabei me afastando do meu mundo aventureiro, nessa época perdi todo o envolvimento do Chico com as competições náuticas de vela, tinha até patrocínio do Banco Banespa. Alguns anos depois me separei e voltei para minhas origens com adrenalina. 


Reencontrei o Chico e ele em seguida comprou um veleiro alemão, reformamos, trocando velas, pintando e muitas outras coisas e partimos para velejar com o Veleiro Zrbrst Fuga na Represa de Guarapiranga. Depois da partida do compadre Chico nunca mais quis entrar num veleiro, o barco foi vendido e eu nem quis ir olhar mais nada lá. Foi uma amizade muito intensa, verdadeiros irmãos. 
 

A minha entrada no mundo das artes é como uma noite fria de inverno com chuva e vento muito forte. Você nem sabe de onde vem a chuva e muito menos de onde sopra o vento. O guarda-chuva não te protege e você acaba todo encharcado. Meu pai era torneiro e trabalhava com enormes tornos automáticos, mas ele deixava eu mexer com os tornos manuais revolver, grandes também, porém mais seguros contra acidentes. 

Meu tio fabricava meias e eu curtia muito todo aquele maquinário. Também tinha um avô de um amigo de infância que vivia mexendo com madeira, ferro, com cimento e outras coisas e nós sempre acompanhava todas as invenções dele. 

Toda a parte de ferramentaria eu aprendi com meu pai. A arte eu posso dizer que nasceu comigo, na minha interpretação, ela vem de outras vidas. E tudo que tem cor e desenho sempre me atraiu. Eu sempre estava desenhando ou pintando alguma coisa. Involuntariamente descobrindo técnicas. 


Tive a sorte e felicidade de estudar numa escola experimental, que funcionava pela manhã as aulas e a tarde atividades e aulas de artes industriais, artes dramáticas, set, teatro, culinária, educação física. Ou seja, era minha realização. Ali foi meu encontro com a possibilidade de sair do amadorismo e ver um novo portal de oportunidades que a arte me abria.  

Eu desenvolvi muito a minha cabeça, aprendi a sair da caixa, aprendi a pensar e querer descobrir as coisas. Estar sempre a busca de informação. A professora de expressão corporal entendia que eu deveria ser ator, porque eu realizava muitos trabalhos de expressão corporal. Só que eu amava desenhar e pintar e queria ganhar uma grana. No início da década de 80 quando conheci o aerógrafo fiquei maravilhado e não tirei mais ele da cabeça. Até que pedi para meu patrão para ser demitido e então poder comprar. E com esse equipamento comecei a ganhar meu dinheiro e desenvolver técnicas de pintura. 

Eu pintava qualquer coisa, desde nylon para fazer carteira, camiseta, tênis, prancha de surf, lona de painel de cortina, uma infinidade de coisas. Mas o nosso diamante foram as cortinas, porque abriu as portas para pintar cortinas de motel e montei um atelier. Minha paixão era tanta, que chegava a ficar sem almoçar só para gastar o dinheiro em tinta, quando minha mãe descobriu, levei um sermão e ela acabava fazendo comida e enviando para nós comer. 

Quando fechou a Casa Carinho eu estava ingressando no mercado, com uma nova visão, novas experiências, contatos. Já buscava montagem de vitrines e queria entrar no meio de comerciais de televisão, foi quando conheci Tony Lucena e comecei a mexer com computação gráfica. Montamos um atelier juntos e comecei a fazer storyboard e criar vinhetas em computação gráfica, criei a vinheta do Mappin, Casa das Alianças. Depois fui fazer trabalhos com Paulo Mancine onde entrei no mercado de televisão, e fiz um estágio no estúdio do Serapião e do Freitas, que era fotógrafos de estil e modas e lá aprendi também muitas coisas. 

As coisas foram dando certo e alugamos uma casa para fazer de atelier, em cima era meu atelier de cenografia e arte. Em baixo era o estúdio fotográfico de moda do Paulo. Fiz muito trabalho para o todos os hotéis do Grupo Accor, viajei muito com a Quatro Rodas fazendo convenção, centenas de lançamentos de produtos como para a Ticket, várias convenções em Salvador e no Hotel Comandatuba. Muitos trabalhos com a Casa Bahia graças a produtora Rita e no Mappin tinha o Abílio, dois profissionais que tínhamos ótima sinergia para trabalharmos juntos. Atendi também uma amiga a Loira Adriana onde realizei muitos trabalhos no Shopping Brás, com desfiles de modas.

Estive do outro lado do balcão muitas vezes. Aos dezoitos anos, caminhando pelo universo das profissões, e olha como diversifiquei na vida. Cursei o curso no Senac de Cumin e Garçom, depois fiz outros cursos técnicos de barman, réchaud e canapés, num total de seis meses de especialização. A partir de então fui trabalhar como garçom. Com o aprendizado, me aventurei com amigos a abrir um café que infelizmente não deu certo. 

Montei uma Doceria Vilinha Doces e Salgados com a Dona Silvia e com seus filhos Manuel, João e o Aldo, onde trabalhei feliz quase dois anos e aprendi muito com a Dona Silvia, que tinha o prazer de ensinar. Mas eu sentia precisava procurar por algo novo, então fui morar no litoral paulista em Maresias por quase um ano onde trabalhei de garçom, servente de pedreiro, pintor de casas e outras coisas. 

Minha mãe já de cabelos em pé, foi lá me resgatar e trazer de volta para São Paulo. Foi quando fui trabalhar com fotografia no balcão de acabamento durante um ano na João Cachoeira. De lá fui para um estúdio de serigrafia com aerógrafo, esse foi o momento que a arte entrou de verdade na minha vida. Foram anos e anos de estúdio e arte. Muita arte, muita aprendizagem. Muita dedicação. Ou seja, o Pardal largou a escola no ginásio, só queria fazer cursos técnicos para ganhar dinheiro e viajar pelo mundo com a profissão. 

Meu sonho era só viajar. Viajar e trabalhar de garçom pelas cidades no mundo que eu fosse. Eu recusei uma proposta na Petrobras para viajar dentro de um navio e ficar trancado 120 dias. Jamais aguentaria ficar trancado num navio tanto tempo. O Pardal é um passarinho que é solto, que tem suas assas e precisa voar. Larguei tudo o que havia aprendido quando conheci a arte. Mas agora a comida vai voltar para minha vida.

 

Trabalhei no mínimo vinte anos na Globo, desses dez anos virando a noite fazendo a arte em cenários, pinturas, lançamento de produto, criando vitrines, bolando coisas, se me arrependo disso? Claro que não. Eu tive a oportunidade de estar em lugares sensacionais e com pessoas espetaculares. É a mesma coisa que os tripulantes de companhias aéreas que viajam pelo mundo, que tem o prazer de dormir em Nova York ou acordar em Paris. 

Tive a satisfação por exemplo de montar 36 dos 48 cenários do Festival da Música Brasileira em vinte e sete dias, sem parar com meus outros trabalhos na Rede Globo com os cenários da Ana Maria Braga, Sérgio Groisman, Criança Esperança, Tom Cavalcante, Altas Horas, Jô Soares e por último o Faustão e tudo isso só pintura arte. 

E nesse meio tempo entrava junto Festa de Final de Ano, Fórmula Um, Copa do Mundo, Virada do Ano, algumas Novelas, entre elas I Love Paraisópolis que eu construí a cidade de Nova York dentro de uma das fábricas do Matarazzo, onde só de sal grosso eu usei quase quinze toneladas, mais quatro tipos de neve e a gente só fazia efeito e todas as pinturas artes na parede tudo em inglês grafitadas.  

Meu maior professor foi Mauro Monteiro que está comigo na foto a baixo, ele me incumbia de cada serviço impossível na Globo. Com seus ensinamentos ele me deu dois bacharelados de experiência de arte, devo muito a ele de tudo que sei hoje. 


Teve uma da Fórmula Um na época da Novela Cosa Nostra que o pessoal me pediu para construir um cenário de uma cantina italiana, então lá foi o Pardal inventar arte no Autódromo de Interlagos, a primeira coisa que fiz foi procurar uma cantina italiana e fiz a proposta para trazer toda a estrutura deles para dentro da Fórmula Um, desde os garçons, cadeiras, mesas, cardápio, talheres, comida, o dono ficou doido e topou na hora.

Imagina do nada, como mágica receber um convite para servir dentro do espetáculo da Fórmula Um e com a Rede Globo e toda a Rede Globo estaria se alimentando no restaurante dele.  Somente quem é do meio pode imaginar a interação e a sinergia que rola com as pessoas envolvidas em tudo isso. Cada um de nós somos uma pequena peça de uma grande engrenagem, e que tudo tem que funcionar perfeitamente porque senão o espetáculo não acontece. 


Você tem que ter adrenalina nas veias, tem que ter amor e paixão acima de tudo pela profissão e pelo espetáculo. Tem que ser um visionário, para enxergar a obra que estão te pedindo. Tem que ser humilde para ver um pedaço de papel no chão e você mesmo colocar na lata do lixo.  O seu corpo pode até cansar e parar para descansar enquanto você dorme as poucas horas disponíveis.

Mas seu cérebro não para, continua trabalhando em marcha lenta, enquanto o projeto não estiver finalizado. E nesse mundo tem de tudo. Tem diretores que permitem que você use de sua criatividade, outros exigem que você siga rigorosamente o desenho do projeto. A noite passa voando e você nem percebe, quando vê o sol já está nascendo e raiando.

Se você não amar tudo isso, já era. Por isso que eu digo para que as pessoas trabalhem naquilo que goste. Eu jamais poderia ser um médico ou um programador. Jamais seria feliz atrás de uma mesa o dia todo, seja por qual salário fosse. Não teria a menor realização, seria uma pessoa frustrada. Vejo as vezes as pessoas reclamando que tiveram que trabalhar algumas horas extras a noite e estão exaustas. Então, penso, será que estão realmente realizadas em sua profissão e no seu emprego. Eu jamais reclamei por tudo que passei, acredito que pela minha paixão. 


Como eu disse ninguém faz nada sozinho, somos várias equipes para um fim em comum. A minha equipe era dos cenários. Havia pessoas envolvidas com a compra dos materiais como cola, lixa, ferramentas. Havia colegas da montagem dos cenários, marceneiros, pintores, entre outros profissionais. Minha função, não tão mais ou menos importante, era pintura de arte, a de dar vida ao cenário. De transformar o que o diretor solicitava a uma realidade pintada numa placa de madeira. 


Lembrando que naquela época estava iniciando a informática nem em sonho existiam efeitos que existem hoje, mal e porcamente era possível recortar alguma coisa de adesivos, nem na imaginação era esperado impressão colorida. Comigo não tinha arrogância não, se tivesse que colocar a mão na massa em outra coisa, vamos embora porque o "espetáculo não podia parar", eu era pau para tudo que fosse necessário fazer.


Tive o prazer de fazer muitas peças de teatro, cinema, vinte anos de televisão. A infinidade de desafios que tinha que enfrentar. Você não imagina o que muitas vezes era me pedido para criar. E muitas coisas que fiz humildemente que nem conseguiria mais lembrar. Tantas e tantas pessoas por quem já tive o prazer de vi atuar em palcos. Com que tive o prazer de conversar. Tem de tudo no meio. 

Aquelas pessoas que você gostaria de se encontrar todos os dias para conversar e aqueles malas que você jamais gostaria de ter cruzado seu caminho para trocar duas palavras. Então, muitos dos cenários eu fui o cenógrafo. Eu chegava em casa e ligava a televisão e ficava admirando a minha arte. Amava ficar admirando os cenários que havia pintado para a Ana Maria Braga. 

Quando podia assistia o Altas Horas, também tudo minha arte. Jô Soares também muitas e muitas vezes minha arte. Faustão e Mega Tom eu fiz pouco tempo um ano e meio cada um. Fiz vinte anos de Jornalismo, e ele era o maior desafio. E teve também cinco anos de Fórmula 1, Carnaval, Réveillon. O palco tem uma energia inexplicável, ele vicia. Quanto mais você faz, mais você quer fazer. Quando eu subo no palco desce uma energia para eu criar. Eu vendi minha alma para o palco da televisão, para o teatro e para o cinema brasileiro. 


Esse foi meu enorme erro. Eu deveria ter voado mais. Deveria ter pegado meu balão e atravessado as fronteiras brasileiras, ter mostrado minha arte na Europa, nos Estados Unidos, na Ásia. Naquela época eu não abri minha cabeça, só me preocupava com a arte e com o espetáculo que eu estava envolvido no meu dia a dia. Cometi o mesmo erro que inúmeros artistas. O artista tem esse problema, ele não pode se vender apenas por sonhos. Não estou falando de dinheiro. 

Estou falando que poderia ter sido um Pardal Dumond e ter dado asas para os sonhos que ainda não tinha naquela época. Eu deveria ter vendido só a arte para o mundo inteiro. Só isso. Mas eu viciei no palco de casa. Saia do palco e queria assistir tudo na televisão, isso era minha vida. Deixei de conhecer o mundo, perdi oportunidades. Mas aprendi muita coisa também nesses anos todos, a vida me deu excelentes professores e tenho o prazer até hoje de compartilhar meus conhecimentos. Porquê dessa vida não se leva nada. 


Com todos os desafios que passei, hoje no meu dia a dia estou fazendo arte para minha vida, do meu jeito, senão fiquei rico ontem, não será agora que ficarei. Quem sabe eu consiga ainda realizar sonhos e coisas que eu deveria ter feito a trinta anos atrás e naquela época eu não tinha o conhecimento, experiência e maturidade que tenho hoje. 

Havia dias com muita pressão, mas muita pressão mesmo. Reunião para o novo programa com novo cenário e cronograma definido e aprovado por todos, inclusive por mim no que tocava a entrega da arte dos cenários. As vezes o prazo era curto, três ou quatro dias. Então, a pressão era de quatro, cinco ou mais pessoas durante o dia. 

E o artista que precisa desenvolver a arte, precisa também saber ser um equilibrista para trabalhar a pressão externa junto com toda a sua equipe. Vinha o diretor, o cinotécnico, um contrarregra, um gerente, um cenógrafo e as vezes outras pessoas. Todos no seu pé, todos acompanhando o seu trabalho. Você tem um exército de pessoas fazendo pressão e cobrando qualidade em cada detalhe.


Houve uma época brilhante que eu tinha que atender quatro cenários ao mesmo tempo. Eles tinham em comum apenas o mesmo diretor. Porque cada um tinha uma equipe de trabalho de cenografia, tinha um outro gerente, outro cenógrafo, outro cliente, outra produtora, tudo equipe diferente. E o diretor não abria mão do meu trabalho. Então, nós combinávamos que eu levaria um "esporo" dele em cada um dos cenários, para justificar a pressão e minhas trocas de cenário. Eu saía de um estúdio já com o carro na porta me esperando, indo direto para o outro. 

Tinha que virar a noite, isso era o de menos, eu amava a televisão, amava tudo aquilo. Você não imagina a emoção que é ser artista. É semelhante a uma gravidez, do nada surge um pequeno embrião. E lentamente, semana a semana, mês a mês ele vai desenvolvendo, até que um certo dia, ocorre o nascimento da criança. Isso é a arte. E quando finalizamos o nosso trabalho, podemos admirar e contemplar o nascimento de um cenário que será admirado por milhões de brasileiros na telinha da televisão brasileira, e o sentimento que eu sentia era maravilhoso.

O teste para entrar na Rede Globo, eu levei meu book. O entrevistador olhou e apenas comentou que achou interessante meu trabalho. Levantei-me e fui para casa, sem muitas expectativas. Na noite seguinte, lá pelas 22 horas tocou meu celular, perguntando se eu poderia ir imediatamente na Globo fazer um trabalho de arte, explicaram o que seria e perguntaram se eu teria as ferramentas e equipamento. Confirmei que tinha e embarque num táxi com os únicos trocados que tinha na carteira, exatamente para pagar a corrida. Primeiro dia de trabalho iniciei as 23 horas e terminei às 08 da manhã. 

Quando terminei, o diretor olhou e aprovou, comentou que o trabalho ficou "lindo e maravilhoso". Nisso ele virou as costas e entrou e sumiu para dentro da Rede Globo. Eu fiquei ali, parado esperando. Iria fazer o que? Ir atrás dele? Cobrar meu pagamento? Claro que não! Fiquei ali esperando! Um longo tempo em pé na frente do painel, uma hora esperando. Na verdade, foi uma situação estranha porque você não sabe o que fazer e quanto tempo esperar e muito menos se esperar vai adiantar e também não tem para quem explicar. Então, o melhor era mesmo esperar. Depois desse tempo, aparece um rapaz e perguntou se eu era o Pardal, e mandou eu o seguir. 

Fomos até a porta do prédio e mandou eu entrar no carro, pensei que legal vou para casa dormir, e depois irão acertar o pagamento e outros serviços. Então, ele me disse, você vai até o Ginásio do Ibirapuera que lá tem outro serviço para você e o diretor está te esperando lá. Não falei mais nada, entrei no carro e fomos para o Parque Ibirapuera. 


Chegando lá, fiquei de boca aberta, era a produção do Criança Esperança. O cenógrafo estava me esperando, abriu uma planta no chão mesmo e perguntou se eu conseguiria fazer os degrade do projeto, eu olhei, perguntei qual era a escala, peguei o escalimetro, vi a distância e os tamanhos dos painéis, fiz o cálculos e respondi que sim. 


Então, ele perguntou quanto tempo eu levaria, pensei um pouco melhor e respondi que dois dias. Ele só me respondeu: "ótimo, é o prazo que temos, nem um minuto a mais. Pode começar imediatamente. O que você precisar pedir para aquele rapaz!" Mas eu tinha acabado de virar a noite no cenário da Ana Maria Braga. E agora José? E agora, eu ligo para um amigo meu que é "sangue nos olhos" e digo "Valdemar vem para cá, que eu entrei na Globo.


Para tudo o que você está fazendo que eu preciso de você aqui no Ginásio do Ibirapuera, vem voando de helicóptero e não perde tempo!". Foram 48 horas trabalhando direto, eu apenas dormi duas horas. E em seguida já entrei num novo cenário. Em resumo para você entrar nesse universo é uma coisa muito louca e você não pode desperdiçar uma oportunidade que bate à sua porta.

Em outra ocasião tiraram meu diretor da cama, altas horas da madrugada, só porque deixei o pessoal em pânico. Eu tinha pouco tempo para entregar o trabalho, que envolvia pintura e para isso eu precisava de calor. Eu tinha quase tudo para o trabalho que consistia numa pintura de tinta látex para um fundo de madeira com placas de algodão branco grampeadas na frente. Primeiro teria que pintar o fundo de madeira e deixar secar, para depois colar o adesivo e fazer o degrade. Só que já eram 23 horas e a coletiva de imprensa seria as 09 horas da manhã. 

Ou seja, impossível num ambiente normal de palco, porque a tinta não secaria a tempo. Assim, pedi para a assistente da produção trinta litros de álcool. Perguntou para que, eu expliquei que precisava "tacar fogo no cenário", caso contrário não ficaria pronto. E não deu outra, me chamou de "doido", virou as costas e disse que telefonaria para o diretor. Até pensei que fosse brincadeira. 

Menos de uma hora, aparece o diretor no palco de pijama, ele atordoado queria saber o que estava acontecendo. Eu expliquei que tinha uma longa experiência com trabalho com fogo e não era inexperiente ou amador. Pediu para eu fazer uma demonstração, fiz e ele compreendeu como seria o procedimento, mesmo assim, acionou os bombeiros para ter absoluta segurança. E as 09 horas eu estava na cama, assistindo a coletiva de imprensa com todo o cenário perfeitamente brilhando.

Sou muito humilde em compartilhar o sucesso do meu trabalho. Sem o esforço coletivo de toda minha equipe não teríamos o sucesso. Em todas as equipes que trabalhei sempre houve um perfeito engajamento e profissionalismo. Todo o pessoal tinha a mesma veracidade e entusiasmo pelo trabalho. O pessoal que trabalhava comigo tinha um alto nível e encarava qualquer desafio. Eu podia confiar em todos eles, que ninguém me abandonava no meio do trabalho e ninguém fazia corpo mole. 

Eu tinha um colega na equipe que por mais complexo e difícil que fosse o trabalho, se eu falasse para ele "eu duvido, você não tem a manha para fazer isso". Era como acionar um local de seu cérebro e eu já sabia que o trabalho seria entregue na melhor perfeição. E por outro lado, os "mauricinhos" que sabiam de tudo isso, porque a fama se alastra feito rastro de pólvora, fugiam de mim e da minha equipe. 

Existem pessoas que acreditam que sou doido porque faço coisas que não são comuns, como saltar de paraquedas, pilotar um balão, andar em alta velocidade de skate numa rodovia e trabalhar com fogo e tantas outras coisas. Mas pelo contrário, tudo que faço tenho uma enorme preocupação com a minha segurança e minha saúde. Uma simples pintura já adoto uma máscara porque sei que a tinta irá prejudicar minha saúde. 

O salto de paraquedas para um iniciante não basta apenas ter um paraquedas e saltar de um avião. Precisa ter um treinamento, ter um paraquedas reservas, ser certificado para salto solo. Lembro uma vez de um jovem que apareceu em nossa escola querendo saltar com um paraquedas nas mãos, sua intenção era apenas entrar em um dos aviões e pronto. Foi confiscado na hora seu paraquedas e chamado seu pai. 

Quando foi explicado a gravidade e risco de morte que seu filho estava exposto. Também teve um caso de um menino com seus dez anos de idade que construiu um falso paraquedas com alguns sacos de lixo e cordas de varal. Foi até a laje do vizinho e saltou, só não se quebrou todo porque teve mais sorte que juízo, o vizinho havia comprado uma carga de areia e ele havia despencado direto na areia fofa descarregada na tarde anterior. 

Ou ainda um jovem carioca que com um parapente todo remendado que havia comprado por uns cruzados, hora ou despencava em cima do carro do vizinho ou em cima de sua casa, esse fez de tanto que quebrou o braço e depois a bacia. 

Acredito muita na sinergia. Onde uma pessoa ajuda outra. Compartilha seus conhecimentos para os demais e ninguém prejudica ninguém. Essa é a forma que podemos fazer para as coisas acontecerem de verdade. Como muitos dizem "Caixão não tem gavetas e sepultura não tem prateleiras!" E dessa forma todos sempre agregamos algum conhecimento. O mundo hoje é globalizado. Podemos conversar e interagir com todo o planeta em segundos. Os médicos podem fazer uma cirurgia a distância. Na estação espacial já não existe mais divisões internacionais. 

Os países estão se reunindo para salvar o planeta. E porque nós meros e humildes mortais, iremos segregar informações que podem simplificar e melhorar o trabalho de outras pessoas. Apenas por status? Por ganância? Pelo poder do conhecimento? No mundo de hoje não existe mais espaço para essas pessoas. Mais cedo ou mais tarde, essas pessoas individualistas são dispersadas pelo grande grupo. Às vezes você compartilha simples conhecimentos, que para você talvez seja o óbvio, mas que muitas vezes as pessoas nem sonham. 

Um exemplo disso é a dobra da lixa. É comum as pessoas ou recortarem a lixa em pedaços ou dobrarem ela de forma errada. Ambas as situações além de não aproveitarem a superfície da lixa da melhor forma, também dificulta o seu manuseio, e consequentemente pode interferir na qualidade do trabalho. Assim, várias e várias vezes já ensinei dezenas e dezenas de profissionais a dobrar da forma correta a lixa. 

Desta forma você a conserva, alongando sua vida útil de trabalho e também ela não fica "sambando" na sua mão quando você estiver trabalhando. Já que estamos exemplificando com a lixa, claro que se o trabalho for para algo pequeno, a solução será recortar a lixa. Não podemos parar no tempo. 


Temos que periodicamente nos reciclar. Se tivermos uma casa enorme para pintar, podemos utilizar uma lixadeira orbital redonda, quadrada e agora lançaram algo semelhante a uma enceradeira, legal para caramba. Você lixa numa velocidade incrível as paredes. As lixas vêm tudo redondinhas e com esquema para pegar no velcro e não precisa mais de cola. 


Dessa forma, você em algumas três ou quatro horas você faz ou que levaria dias para fazer. E quem é adepto do trabalho manual é imprescindível o uso de uns tacos de madeira que o funileiro uso para dar sustentação a lixa e claro a utilização de Equipamentos de Proteção Individual, como luvas e máscara são essenciais, porque com a nossa saúde não podemos brincar. 

Construí também uma pista de carrinhos da Hot Wheels de campeonato, onde tinha propulsores, fui atrás de motor, tive que transformar para 12 volts, foi uma loucura naquela época. Eram duas pistas idênticas. Onde dois meninos subiam na parte superior na pista e soltavam cada um o seu carrinho na pista. 

O carrinho descia numa velocidade legal, passava pelo primeiro giro e em seguida pelos propulsores que mandava para o segundo giro, que conduzia o carrinho até o final da pista, onde tinha um sensor de presença, aquele que passava primeiro acendia uma luz, simbolizando o vencedor o ganhador da disputa. A meninada era pura adrenalina, era uma Fórmula 1 para a criançada. Isso foi o maior sucesso naquela época. Mas não era só uma pista. Tinha muito mais, era toda uma cidade da Hot Wheels. 

Eu levei mais de três meses para construir tudo, entre projeto, levantamento da matéria prima, início e finalização do trabalho. A minha ideia foi aprovada pelo Cliente de cara. Toda a cidade foi sucata de telefone, televisão, computadores, máquina de lavar, aspirador de pó e tudo que fosse máquina que eu encontrava pela frente. O próximo passo era desmontar esses equipamentos e coletar as peças. 

Após coloquei tudo no chão e passei uma tinta cinza, deixei secar. Virei peça por peça e pintei novamente de branco. Em seguida comecei a colagem de cada peça em cima das placas de policarbonato, com luzes florescentes em baixo.  Juntei ao projeto tacos de madeira, simbolizando prédios. Na parte da frente haviam carrinhos de plástico simbolizando uma cidade comum atual. Já no fundo havia uma pintura de uma cidade futurista que se imaginava naquela época.  

Para a realização de todo o trabalho artesanal profissional ou amador é fundamental um conjunto de fatores. Tem que se ter um mínimo de conhecimento. Claro a repetição de um mesmo trabalho leva a perfeição. Por exemplo um construtor de maquete de um avião. A primeira vez que vier a construir um novo modelo não terá a mesma qualidade que quando construir o mesmo modelo pela décima vez e também o tempo de construção será finitamente inferior. Desta forma, é essencial trabalhar com as ferramentas e equipamentos apropriados, e claro devidamente preparados para o uso. 

Digo, se precisarei usar um formão ou um serrote, eles precisam estar devidamente "afiados", e na internet existem diversos vídeos com técnicas neste sentido. Mas, existem dezenas de modelos de formões. Cada um aplicado a entalhar uma madeira diferente e para um resultado diferente. Desta forma, a pessoa além de ter as ferramentas e digamos a madeira, precisa ter o conhecimento de qual formão irá utilizar e se a madeira é a ideal para aquela atividade. 

Por exemplo, fala-se que para construir uma maquete de avião a madeira a melhor é o eucalipto, assim não seria recomendável o uso do jacarandá, por ser uma madeira muito dura, diferente da de eucalipto. Por outro lado, um iniciante não deve começar já nos seus primeiros modelos com aeronaves complexas e repletos de detalhes e curvas. O recomendável é iniciar uns modelos simples e de tamanho médio. 

Costumo transmitir a todas as pessoas, que é importante elas "saírem da caixinha". Muitas vezes as pessoas estão tão condicionadas a acreditarem que não conseguem realizar determinada coisa que logo desistem ou nem mesmo iniciam. Acreditam que jamais conseguiram. Está errado esse pensamento. Vocês acham que tudo que sei nasci simplesmente sabendo ou que tive um mestre que me ensinou tudo. Besteira. Eu tive que ralar muito, mas muito mesmo. 

Na minha época apanhei e batalhei muito para aprender. E hoje? Hoje tem a internet. Se você quiser escutar uma música não precisa nem saber o nome dela ou o cantor, só precisa digitar um pedaço da letra e pronto. Lembro que na época do Vinil as vezes as pessoas entravam nas lojas e queriam que o vendedor soubesse de quem era a música só cantando um pedaço dela. 

Então, a internet está hoje disponível para todos pesquisarem e estudarem. Por outro lado, muitas vezes se você primeiro fizer um estudo, compreender as etapas que precisará realizar para efetuar determinada coisa, tiver as ferramentas e oportunidade para realizar, poderá descobrir que aquilo que você imaginava ser impossível na verdade não era tão difícil quanto se imaginava. As coisas costumam ser mais simples do que achamos. O importante é buscar o conhecimento com quem já fez e não ter vergonha de perguntar. 

 

Outro exemplo são os construtores de maquetes de avião que converso muito e admiro muito o trabalho deles. Também não foi de uma hora para outra que passaram a construir verdadeiras obras de arte. Levou tempo, aprendizado, troca de conhecimentos, busca de informações, pesquisa, oportunidades. Eles ralaram muito, construíram o primeiro modelo, ficou horrível, quebrava as peças na sua construção. E desistiram? Não, vamos em frente. Vamos estudar, vamos descobrir onde foi o erro. 

E porque estou usando o construtor de maquetes como exemplo, porque a cada novo modelo se requer um novo estudo, uma nova pesquisa, conhecer os detalhes de cada aeronave. E claro quanto mais complexo o avião a ser reproduzido, mais difícil será o trabalho, mas não impossível. Entenda uma coisa: "se você não fizer, outro o fará e ocupará seu lugar no sol!" E não pode achar que você sabe tudo, porque simplesmente você não sabe tudo. E além de não saber tudo, as coisas estão mudando numa velocidade muito rápida. 

Olha por exemplo a televisão, quantos anos, ou melhor décadas levaram para inventar o controle remoto e o vídeo cassete. Passaram gerações inteiras. Hoje as coisas mudam numa velocidade tremenda, o que você compra hoje, já pode estar obsoleto meses depois. E assim é em tudo, desde uma simples lixa ou tinta e a cada momento estão lançando novos produtos com novos benefícios, como por exemplo nos celulares e televisores, que nem preciso comentar nada. 

Cada hora é uma novidade, esses dias entrei numa loja de ferragem e percebi que havia uma lixa diferente, perguntei para o vendedor e ele explicou que era lançamento, já levei para experimentar. No nosso meio não podemos ficar bitolados num mesmo lugar, temos que acompanhar todas as evoluções que ocorrem ao nosso redor. O que é ótimo hoje, pode não ser o melhor amanhã, é simples assim. 


Recentemente fui convidado a fazer um trabalho no Estádio do Palmeiras - Allianz Parque, onde eu fiz um recorte em Placas de EVA, com colagem, pintura com pistola, rolo ou pincel. A paixão do artista é tão intensa, que certa vez fui à casa de um amigo e me deparei com uma parede toda preta em sua sala. Casualmente eu tinha alguns pedaços de giz branco e comecei a desenhar algumas coisas na parede. A sala ficou um silêncio, conforme eu desenhava era como se eu estivesse sozinho na casa. Passado um tempo perguntei se eles haviam gostado. 

O semblante deles estava órbita, não acreditavam no que estavam vendo, no que estava sendo criado de uma forma tão simples na frente de seus olhos. Combinamos então que comprariam novos lápis de giz para a próxima visita, com uma tonalidade e qualidade superior para podermos finalizar o trabalho.


Um dos trabalhos pessoais que tive o prazer de realizar foi uma capelinha que incluiu toda a parte interna e externa e inclusive o altar e nas aberturas como a porta, janela, telhado e num arco que existe no telhado. Esse trabalho tive a ajuda do amigo Niltom, que após a pintura foi apelidado pelo Helder como Miquelito. A capela é da Turma do Barão, que é da turma das Perdizes de cinquenta anos de amizade. O Helder tem um sítio onde está a capela. 

Um dia eu estava olhando umas fotos da Turma do Barão brincando na piscina e mostraram a capela. A hora que eu vi a capela eu disse para o Helder que me colocava a disposição para reformar a capela. Então, fiquei uma semana eu e Milton reformamos em homenagem ao Chico, a Carmen, ao Eraldo que era irmão do Helder, enfim a todos os nossos amigos do Grupo do Barão que já partiram. Espero um dia voltar lá na capela para trabalhar mais um pouco nela.

Você acha que eu não erro? Temos que ser humildes, claro que erro! As vezes o erro é pequeno, fácil e rápido de resolver. Esses dias cometi um erro bobo, excesso de confiança, um erro tão simples. Tinha que fazer uma pintura de aproximadamente 10 metros de comprimento e 3 metros de altura, que é o fundo de uma casa. Fiz uma pintura linda da natureza com sol, mar, ilha e tudo mais de lindo que poderia ter colocado. 

As pessoas passavam e ficavam admirando meu trabalho enquanto eu fazia. Depois de pronto nem se fala. Durante dias foi o assunto da redondeza. E qual foi meu erro? Fiz o desenho errado? Na cor errada? No endereço errado? Não nada disso. Eu não olhei um pequeno detalhe, não conferi na lata da massa se era acrílica. 

Então com a primeira chuva, toda a pintura desmanchou e não sobrou nada. Aí você lembra, daquele e-mail que você escreve e por alguma razão perde e tem que reescrever. Agora pensa, num trabalho de arte que levou uma semana para ser feito, com material, tinta, massa, lixa. Se sou feliz, Claro que sou. É um novo trabalho, estava num paraíso e recomecei tudo de novo com a maior satisfação.

No final da década de 90 eu resolvi reformar uns painéis que eu tinha construído para convenções em várias telas pequenas. E comecei a pintar essas telas. E me mandava para Ubatuba ganhar um dinheiro. Passei assim dois ou três anos nessa curtição. Era muito gostoso pintar ao vivo. E o pessoal lá em casa era só mordomia, a gente comia bem, todos os dias tinha peixe, camarão e não faltava nada, só fartura. Foi a época que tinha até babá para as crianças enquanto eu dormia na praia. Foi outra época maravilhosa. Não era algo muito diferente pintar na rua ou pintar para uma convenção, em ambas as situações o artista é sempre observado por pessoas. Ocorre que na rua as pessoas querem interagir e conversar com o pintor. 

Querem dar opiniões, fazer perguntas, contar e ouvir histórias. Tem aquelas pessoas que passam por você como se você nem existisse e levam o mundo com elas. Claro tem aquelas que podem ficar o dia todo ao seu lado admirando o seu talento. Eu percebia que as pessoas gostavam e chamava a atenção do ato de eu estar pintando. Acredito que isso impulsionava as vendas. Particularmente eu não gostava muito de fazer encomenda. Eu amava soltar meu traço e minhas ideias mesmo. Amava pintar fundo de mar, barco, golfinho, pintei muito girassol e onda do mar. O pessoal de Taubaté, São José e Pinda compravam muito. 

As telas eu vendia de R$ 100,00 a R$ 200,00. Chegava a vender de cinco a dez telas por dia. Era muito dinheiro que eu ganhava. Descobri que pintar tela ao vivo dava para ganhar dinheiro. Quando voltei para São Paulo, cheguei a pintar tela ao vivo no Alto de Pinheiros num local que vendia suco e açaí, também na frente do Cemitério da Lapa, viajava também com minhas telas como Guarujá, Caraguatatuba, Campos do Jordão. Era muito doido, eu era metido e me instalava e vendia, sem permissão da prefeitura e correndo o risco de ter tudo confiscado.  

Vou contar agora um pouco da minha vida pessoal. Na década de oitenta eu realizava muita reunião em agência de publicidade, como a Rocha Azevedo, quando estava montado meu estúdio, quando eu conheci uma recepcionista Cilécia , começamos a conversar, mostrei meu trabalho, e fomos nos conhecendo cada vez mais e não demorou muito já estávamos namorando. 

E passei a frequentar a casa dela, até que um dia eu conversei com o pai dela e lhe falhei "Bom, Português, a sua filha quer ir morar lá em casa. O Sr. sabe quem eu sou, onde eu moro e tal. Agora eu vou esperar lá no carro. E vocês decidem aí o que fazer. Se decidirem que o certo é não ir, eu irei entender." E fiquei esperando lá no carro. 

Um tempo depois, abre a porta e sai ela com a malinha nas mãos. Passaram dois anos eu tive que ir ao cartório para acompanhar o casamento de um amigo enrolado. Então, eu fiquei lá pensando e sem que ninguém se percebe encaminhei a papelada do nosso casamento. Enquanto, corria o casamento no cartório do meu amigo, o pessoal fez rapidinho os nossos papéis, então antes de saímos do cartório tinha que pegar a assinatura dela para entrarmos com o protocolo de casamento. Aí foi a maior surpresa, porque ninguém imaginava, em seguida estava telefonando para meu sogro informado que em vinte e oito dias estaríamos casando.  

Minha sogra já pensou que ela estava grávida, que nada. Eu fiz uma puta de uma festa, e escondi o segredo da festa. Na manhã do casamento as pessoas chegavam no estúdio e o garçom recepcionava todo mundo, e nada dos noivos e o pessoal só perguntava onde estávamos e o garçom respondia que estávamos nos casando e que era para os convidados aproveitarem o café da manhã preparado com todo o rigor. Então os convidados se fartaram no café que era servido na garagem e nada dos noivos. 

Lá pelas tantas, estaciona um carro e desembarcam os noivos. O Pardal de bermuda, chinelão e camisa florida. A noiva de tubinho, cabelo estilizado anos sessenta. Então, expliquei que estávamos nos casando no civil e que agora iríamos casar no religioso. E o pessoal na garagem perguntaram onde seria ser o religioso. 

Nisso abro a porta do estúdio e se revela um cenário cinematográfico representando a Praia Vermelha do Norte, inclusive o chão do estúdio tinha areia do mar, que meu sogro trouxe da praia em cinco viagens com a perua cheia de sacos. Na parede havia a pintura da praia. Um cenário lindo. Estávamos casando-nos na praia. 

E claro o padre já estava nos aguardando no altar que havia preparado para realizar a cerimônia. Foi algo impressionando-nos entrando e pisando na areia. Todos entrando, minha mãe, meus sogros, os padrinhos, os convidados. Teve até música ao vivo. A festa foi um sucesso. A bebida havia sido um preparo especial de maracujá muito bem concentrado, e não havia nenhuma bebida alcóolica. 

 

O tempo passou e nasceu o Vitor em 1994 e quatro anos depois nasceu o Caio. Hoje os dois mexem com o negócio de You Tube. A molecada foi crescendo, escola, cursinho, faculdade. Quando eram pequenos eles estudavam em escola particular, então imagina o pai cenógrafo de profissão e a mãe sempre envolvida também a mexer com arte e cenário também, ela dirigia e escriva peças de teatro. A minha ex-sogra fazia figurino. 

O Vitor é um excelente ator e o Caio uma excelente plateia. Então, nas escolas que eles estudaram a gente sempre se envolvia em tudo de cultura. Teve uma peça de teatro com sessenta figurinos feitos pela minha ex sogra num capricho. Eu fiz o cenário, a mãe deles dirigiu a peça, o Vitor ficou no elenco. Tudo era muito gostoso. Houve muitas peças de teatro que fizemos todos juntos desde a organização, os ensaios. 

O envolvimento era enorme de todos de um grupo durante anos. Foi tão intenso que formamos um grupo, a Cilécia escreveu uma peça eles criaram o cenário, eu me sentei na plateia e disse agora vai ser a prova, porque eu vou ficar aqui assistindo para aprovar ou não. A molecada construiu o cenário, a diretora ao meu lado apavorado porque eles estavam com tesoura em cima de escadas fazendo todo o trabalho, e eles construíram tudo perfeito sem nenhum acidente. Foi uma das coisas mais legais que aconteceu em família. 

A molecada sempre gostou de esporte, empinamos muita pipa e nem se fala quantas pipas fizemos juntos. Chegamos a morar numa chácara e ali o pau comia empinando pipa e claro também aderiram ao skate, depois venho a onda do computador, eles me deixavam doido com isso e a solução foi montar uma lan house dentro de casa. Juntamos cinco computadores de amigos e nossos dentro de casa, e assim entravamos todos madrugada a dentro, eu eles e os amigos deles, claro que eu não ficava nos PCs, porque não tinha saco, mas ficava ali com eles interagindo. 

Com o computador mudou tudo. Porque fora a pipa era difícil tirar eles daquela cadeira. Para eles andar de skate era foda, a gente brigava para eles saírem dos PCs. Hoje eles cresceram e cada um toca a sua vida independe. Os anos passaram, o Zé Pardal está livre, isso é muito valioso para minha natureza, isso não tem preço. Os meninos felizes com a vida. A Cilécia mora numa chácara e é professora de artes. Enfim, todos nós quatro somos felizes da vida. 

E o melhor hoje já sou avô. Tenho minhas irmãs Palmira, a Rita e a Bete para eu atrapalhar as vezes e trocar boas conversas. Para se ter uma ideia da família minha mãe era chamada de Maria Furacão e meu pai por Jone Furaca. Quando quebrava o pau lá em casa entre os dois, ninguém se metia. A pergunta que ficava na vizinhança era de quem iria sobreviver. Era uma coisa de louco. E eu nada de normal. E a família foi crescendo, chegaram as noras a Tati e a Rachel e chegou a Marcela, minha neta amada. 

Na década de setenta vim a conhecer e me apaixonar pelo balonismo. Um amigo comentou que iria saltar de paraquedas em Rio Claro, não pensei duas vezes e já fui dizendo: "vou contigo, estou nessa". Chegamos lá, me deparei com o Victorio Truffi que foi o percursor do balonismo no Brasil. Fiquei admirando aquele homem, com aquela roupa e compreendi rapidamente de quem se tratava, porque eu já era naquela época apaixonado por balões, eu sempre gostei de balão de papel. Então, meus extintos ficaram todos atentos atrás do balão. Estava desesperado para pela primeira vez ver um balão de verdade na minha frente. E não deu outra, quando enxerguei ele.

Sai correndo e a primeira coisa que fiz foi passar a mão no tecido do balão com toda a delicadeza, queria sentir sua grandiosidade e a emoção que os passageiros certamente tinham quando voavam nele nas alturas. Foi a mesma coisa que estivesse entrando um soro nas minhas veias. Acenderam milhares de lâmpadas dentro de mim, tocaram dezenas de sinos nos meus ouvidos, todos os sensores do meu cérebro estralaram com o estímulo do balão, meu batimento cardíaco deve ter chegado a 1.000 por minuto, quando o normal é 200. Lembro que fiquei muito impressionado e achava tudo aquilo muito louco. Fui me acalmando e comecei a observar as outras partes do balão. 

Olhei para o cesto, tinha o maçarico, a espiriteira do passado, umas coisas antigas, tudo arcaico. Eu fiquei ali, paralisado, contemplando aquilo tudo. E pensando "isso voa meu, que maravilha, isso voa!" Fui para casa e nunca mais tirei isso da cabeça. Toquei a vida. Alguns anos depois acompanhei meu sócio Paulo Mancini num trabalho fotográfico de Salto Alto de Paraquedistas e lá fui eu acompanhar novamente. Conversando lá com elas eu falei que queria também saltar de paraquedas e explicaram que em Boituva havia salto duplo. E era carnaval, e lá fomos nós. Saltei duas vezes no mesmo dia. 

Passou mais um tempo e surgiu uma nova oportunidade, onde encontrei a Leila uma amiga que contou que tinha outro amigo que seu esposo era piloto de balão e ele estava querendo vender horas de uma rádio para construir um balão. E claro me envolvi nesse projeto. Infelizmente o balão não saiu, mas eu estava caminhando para me aproximar do balão. Logo em seguida ajudei a construir um balão com meu amigo Caco e entrei no balonismo e a coisa deslanchou. Acabei devagarzinho a começar a fuçar e voar com eles. E claro correr atrás para saber como fazia para voar. 

 Acabei voltando para a arte com o Paulo Mancini num convite dele quando montamos o atelier e o estúdio, quando trabalhei com o Grupo Accor fazendo convenções e fiz muito cenário para as Casas Bahia, Estrela, Kibon, Bauducco e para o Mappin para comerciais de televisão. Nisso o Walter Gouvêa pegou a construção dos balões da Scania. Eu acabei comprando um balão dele e vim para Boituva. Certo dia e o James Jim, um dos atuais proprietários do Hotel Boituva ele e o Saes nos reunimos e pegamos a camionete do Piere e fomos para Boituva e fizemos o primeiro lançamento da época em 1992. 

Assim eu fiquei em Boituva até 1995 lançando paraquedistas do balão. Lancei mais de 120 grupos de paraquedistas. Naquela época não existia nada de mídia ou internet. Meus contatos era na boca a boca. Fizemos o primeiro salto duplo da América do Sul, foi o Galinha e a filha dele, eu que lancei. O segundo salto duplo da América do Sul também foi eu que lancei, sendo o Stélio e uma menina, com o Sabiá de câmera. 

Coloquei o balão a disposição do Sabiá para fazer Base Jump. Naquela época o Ulisses era o cara que tomava conta aqui da área, era piloto de avião e ele me deu muita orientação para que os saltos fossem sempre acima de 5.000 pés. E devagarzinho fui subindo nas alturas 5.000, 6.000, 7.000, 8.000, 9.000 e 10.000 pés. 

Os lançamentos eram muitos legais, sempre dois ou três paraquedistas, com pousos alguns na área e outros fora. Naquela época Boituva tinha muita plantação de cana de açúcar. E erámos poucos pilotos, não tínhamos com quem trocar ideia se iríamos realizar o voo ou não. Eu que decidia na hora e pronto. Teve voo que os paraquedistas que pegaram um voo terrível, foi então que comecei a me preocupar mais com isso. Tudo era muito novo para todos nós. A emoção de ver o rosto da molecada saltar pela primeira vez de balão, dava para sentir a adrenalina deles. Eles diziam que saltar de balão era uma emoção diferente que saltar de avião. 

Eles tinham que subir no cesto e se segurar pelas cordas e ficar em pé. Totalmente diferente de um avião. Em Boituva tinha o Carnaval Folia que uns trezentos paraquedistas se encontravam e ficavam acampados. Isso virava uma festa. O Ulisses e o James Jim sempre eram os organizadores. A gente fazia rua de barraca e avisava todo mundo, que se houvesse problemas, iria desmanchar tudo e botava todo o pessoal para correr, mas sempre rolava uma confusão, não tinha como não dar. Com os anos, infelizmente o Carnaval Folia acabou.

 

As vezes pego as fotos antigas e percebo como o tempo passou rápido e como já fiz coisas diferentes e principalmente como conheci pessoas importantes na minha vida. Teve o Iamim instrutor de paraquedas, o Tomas, o meu amigo Fábio Zique Zira que era o meu resgate oficial, era um amigão, que nesta foto esta de vermelho no chão. Ele foi outra pessoa que me ajudou muito. Também está na foto o câmera Sabiá. Esse salto marcou na minha vida, porque foi o segundo salto na América do Sul de paraquedas de um balão.

Essa foto a seguir representa o início de tudo, ela é histórica. Ela representa como era Boituva antigamente. Onde estão os aviões tem um telhadinho a direita, é a minha casinha. Não existia nada do que existe hoje, era tudo mato. Todos nós do paraquedismo, do balonismo, da aviação temos uma responsabilidade pelo crescimento e de tudo que aconteceu aqui. Claro, minha participação foi um singelo grão de areia comparado a outras meteoros que fizeram e aconteceram para Boituva chegar onde chegou. No início da década de 90 só existia o Ulisses e mais nada, essa é a maior prova de que ele foi o primeiro percursor de tudo.


Outra foto histórica é essa a baixo, isso não existe mais. Era o Carnaval Folia. Era montado uma lona de circo, lá pelos anos de 1992 ou 1993. Quem viveu essa época jamais esquecerá uma época de ouro. Era os anos da peregrinação da corrida do ouro pela criação de tudo pelo esporte em Boituva. Foi o surgimento de tudo. Muitos disseram que éramos doidos. Mas o sonho virou realidade. A luta de muitos virou a conquista de milhares. Hoje Boituva é reconhecida nacionalmente pelo balonismo e paraquedismo. É um sonho de todo o paraquedista brasileiro saltar aqui e de um balonista voar por esses ventos. 

Uma pessoa que me ensinou muito e foi meu paizão foi o Ulisses. Estou aproveitando este espaço para agradecer a esse amigo o que ele fez para mim na minha história. Se não fosse ele o Pardal de hoje não existiria. Quando cheguei em Boituva em 1987, ele era piloto do DQX, ele foi o percursor de tudo em Boituva, em termos de correr atrás do avião, levantar o esquema da área. Junto com ele veio o James Jin que foi o dobrador de paraquedas que chegou com sangue nos olhos com vontade de voar e saltar.

Aos poucos foi introduzindo seu método com seu jeitinho. Comprou paraquedas quadrado, introduziu o fechador do dobrador e introduziu coisas que não existiam. Desta forma o Ulisses e o James construíram a história de Boituva. O Ulisses é o percursor dos aviões, tanto construiu, transformou e turbinou aviões. 

Lembro que o Ulisses era tão gente fina que quando eu comecei para voar de balão, ele acordava as seis e meia da manhã e abria o portão para eu entrar com o balão e decolar onde estavam estacionados os aviões. Sua esposa Cidinha outra pessoa muito especial e extraordinária. Essas coisas a gente não esquece e não tem como esquecer. Ele me ensinou muitas e muitas coisas, impossível enumerar elas. Ele que me ensinou tudo, ele foi meu paizão na época, devo toda a minha gratidão a ele. Em 1995 fui embora. Anos depois voltei e lá estava o Ulisses de braços e portas abertas me esperando. Hoje tenho o prazer de ter ele como amigo, não só ele como todos os demais amigos que trouxe na minha caminhada. 

Lembro que foi o Ulisses foi a primeira pessoa que levantou a bandeira para Boituva ser o Centro Nacional de Paraquedismo, onde em 1971, no dia 26 de setembro lançou o Décio e o Nilton Raul de paraquedas, depois eles foram comer bolinho na casa da mãe do dono do Hotel Garrafão, que naquela época nem existia o hotel. Nesta ocasião o Nilton teve a ideia de que Boituva poderia ser o Centro Nacional de Paraquedismo. O Ulisses estava presente e "comprou" na hora a ideia e a partir daí nunca mais sossegou nesse projeto. A ideia foi do Nilton. Então, aí começou tudo, a área foi doada. O Ulisses começou a lançar os paraquedistas com vários aviões que tinha no passado. O Ulisses foi o primeiro dono do Beech do Circo Aéreo. 

O Ulisses e o Carlos Edo têm uma história muito linda de amor pela aviação. O Carlos Edo tinha cinquenta anos de percursor de cinquenta anos na frente da sua época e até hoje não tem pessoa para fazer e pensar como ele pensava e do que ele já fez no passado. Hoje o Ulisses só constrói e reforma aviões, não pilota mais. Semana passada eu fiz uma linda pintura na casa do Ulisses para homenagear ele. Novamente são pessoas assim como o Ulisses e o Carlos e suas famílias que tenho a alegria de ter a felicidade de ter como amigos. Para eles não importa se os amigos têm dinheiro, pouco importa, o que interessa é a amizade verdadeira, isso não tem preço e não se encontra na esquina e muito menos pode se comprar. Obrigado a vocês por serem meus amigos.

O primeiro homem a subir de balão a dez mil pés foi meu instrutor Iamim. Nesse meio tempo o Caco da Onix Jeans me convidou para fazermos uma promoção em Interlagos. Quando eu cheguei lá tinha uma porta de 80 cm para passar o balão. É claro que não tinha como passar o cesto. Então, tive mais uma de minhas ideias, fiz a promoção dentro do local, porém o cesto do balão encostei a caminhonete ao lado do muro e com o apoio do carro passei o cesto para dentro do terreno.  As cinco da manhã o balão estava em pé e a corrida da Fórmula Um começava as 13 horas. E eu levei para dentro do cesto uma frigideira com molho de tomate e salsichas e esquentei a comida com o piloto do maçarico do balão e comi, é claro. 

E o Carlos Edo estava na arquibancada de binóculo olhando a largada e eu comendo a minha salsicha dentro do balão a mais de 20 metros de altura. Ele me disse depois que não sabia se olhava a largada ou a mim comendo a salsicha feito com o fogo do balão. E vinha se aproximando no horizonte uma chuva forte, muito forte. Então, avisei a minha equipe que teria que pousar o balão, empacotar ele e tínhamos que fazer tudo isso muito rápido porque o balão era novinho. E nós ali, esperando a largada, o helicóptero da Globo em cima também, os primeiros pingos chegando, o vento soprando mais forte. A expectativa pela largada, tínhamos que esperar a largada antes de pousar. 

Nisso é dada a largada, e o Balão da Onix explodiu na tela inteira da Rede Globo, fazendo o maior sucesso. E nós comemorando a nossa façanha. A chuva começa a aumentar. Pedimos a colaboração de mais de vinte pessoas que estavam nos observando no terreno. Pouso o balão e a equipe muito rapidamente guardam o balão a tempo. 

Todos imaginavam que o balão tinha encharcado, porque não havia pessoas suficiente para em cinco minutos fazer arrastar o balão para baixo de uma cobertura e fazer sua guarda. Ocorre que então eu expliquei que quando vi a chuva chegar eu tinha berrado para a equipe lá embaixo juntar gente, muita gente para ajudar. E a equipe não mediu esforços juntou muita gente. Assim, que o balão tocou no chão em minutos estava tudo guardado e seco. 

Depois disso fui contratado para fazer a campanha do Fórmula Uno, foi quando eu viajei um ano com eles. Era num ônibus que só tinha bancos na metade do veículo e íamos deitado no buzão. E as vezes íamos voando de Beech, junto com o balão. A gente enchia os tanques no local que iria voar. E levava o Circo Voador, com Beech e North American T-6 e o balão. Boituva fez alguma coisa de balão e salto na década de setenta, em 73 surgiu o balão com o Trufe. 

Em 76 foi feito o primeiro lançamento para valer.  Mas as coisas começaram a acontecer mesmo na década de oitenta com o Caco e o Walter Gouvêa fizeram lançamentos de paraquedistas, o Eusébio, o Leonel, o Caetano e o Beto Brides fizeram movimentação por aqui. E eu fiquei em Boituva de 92 até 95. Foi quando fui para a Rede Globo, realizar outro sonho e outro trabalho de arte, onde fiquei vinte anos. E depois de duas décadas de televisão encontrei um amigo antigo que estava indo para Boituva saltar de paraquedas e larguei tudo de novo e voltei para Boituva e fiquei até hoje. 

Comecei a voar devagarzinho. Nesse meio tempo venho uma gurizada do resgate que foi o Jair, o Gabriel, o Alan, o Bruno e o Édi e toda essa molecada hoje já é piloto já formada. Sempre fui apaixonado pelo campeonato brasileiro de balonismo. É um momento surreal. Você reencontra amigos balonistas do país inteiro e muitas vezes de países vizinhos. Atualiza as histórias e acontecimentos com todo mundo. Relembra fatos e acontecimentos ocorridos. Dá muita gargalhada e claro come muito também.  São vários dias provas, disputas e exibições com dezenas de balões que proporcionam uma visão espetacular de luzes e cores que é filmada e fotografada por todos. 

Não pode faltar muita boa música e comida, que são servidos em food trucks espalhados no local do evento. E não tem como o campeonato passar despercebido na cidade, todo mundo sempre fica dando uma olhadinha para o céu nesses dias. Um, dois e até cinco balões voando já é lindo no céu ao mesmo tempo. Agora imagina uns trinta ao mesmo tempo. É esplendoroso. E eu? Eu disputo o campeonato? Não! Eu amo voar de balão por prazer e não por competição.


Já fui fui "raposa" no encontro do T.Rex. Ser a "raposa", no verdadeiro estilo inglês do século XVI mesmo. Ou seja, eu saio com o meu balão e cinco minutos depois todos saem atrás de mim, e quem pousar perto de mim ganha a prova, só que eu realizo diversas manobras e travessuras no céu para enganar os demais pilotos. Existem várias provas. E campeão conquista uma vaga no campeonato Mundial. Para os competidores é um esporte caro, porque além do custo do balão, precisa administrar também toda a equipe e logística de transporte da equipe e do balão, hospedagem, alimentação, manutenção, entre outras despesas. E são poucos patrocinadores que existem.

Uma vez tive uma ideia brilhante, de tocar minha gaita do balão para todos os moradores de Cascavel. Então, fui à rádio da cidade e combinei com o pessoal de montar o balão uma pequena "sala de estação da rádio". Assim, equipamos o balão e partimos para a aventura. E para completar mais ainda, as ruas tinham caixas de som que transmitiam a rádio. Então, seria uma novidade surreal para a população. O radialista conforme combinado, já estava anunciando meu voo e minha atração musical. E com um "HT" e um rádio de pilha fizemos a transmissão. Eu a 500 metros sobrevoando a cidade, comecei a tocar a gaita e o povo lá embaixo, todo mundo abanando com as mãos, chapéus, faço uma declaração a cidade por sua beleza e começo a tocar a gaita. 

Nisso, dou uma macaricada e percebo que não sai fogo dele. Tento outra vez e nada. Mais uma vez e nada. Percebo que entupiu a válvula. E nada de fogo. Constatei que havia dado "pane seca". Com calma, me despedi da população, e fui resolver o problema. Como realizo todos os voos com vários isqueiros e fósforos. Entupiu a válvula principal. Fato raro de ocorrer. Naquele dia só estava com uma das válvulas. Assim, rapidamente saquei do bolso um isqueiro e acendi a válvula auxiliar. Abri a válvula e meti gás para recuperar o gás quente perdido. Nisso segui o meu caminho para pousar no aeroporto, conforme era a programação. 

 E aí vem uma nova história, como formar essa nova geração de pilotos apaixonados por balão, que vinham alguns de chinelos, de bicicletas, camiseta Hering e as vezes até sem café da manhã. Hoje felizmente são donos de balão. Então, eu ajudei cada um de uma forma diferente e da maneira que eu podia, sem querer nada em troca, simplesmente pelo prazer de ensinar e compartilhar conhecimentos. Amava ver os olhos deles saltarem ao decolar e progredirem em cada um de seus passos. Cada um no seu tempo e seu espaço. Acompanhei cada um deles decolar do chão e arcar voo solo, quando muitas vezes ninguém mais acreditava neles. 

Muitas vezes eu acabava me estressando para continuar a qualificação, mas não desisti da gurizada. Hoje, quando eu olho para o céu e vejo qualquer um deles, eu sinto um enorme orgulho e felicidade. Sabe lá onde estariam hoje? O que estariam fazendo? Talvez estariam financeiramente melhor, mas será que estariam felizes profissionalmente? E eu fiz parte disso tudo na vida deles. Briguei por cada um deles. Levei muito esporo por causa deles, principalmente por causa dos treinamentos do Jair. Mas a felicidade que tenho hoje é infinita quando vejo ele voando. Não tem coisa melhor. É como você ensinar seu filho a andar de bicicleta. Meus dois filhos não quiserem seguir meus passos no balonismo. Então, para quem eu deixarei o legado do Zé Pardal? 

Não posso deixar simplesmente morrer. No balonismo cada um dos meus alunos sempre considerei como um filho, ensinando e ajudando a abrir as portas do futuro, a ensinar e proporcionar uma profissão. E o Jair foi algo muito especial, não sei explicar como, algo que vem de dentro, do coração, ver aquele menino com todas as dificuldades e ao mesmo tempo com aquela paixão e desespero para aprender. Sua capacidade de superar cada uma das enormes dificuldades que surgiram em cada etapa de seu treinamento e a vibração e comemoração era nossa. Ter transformado o vendedor de ovo num empreendedor, isso não tem preço. O tempo passa e não apaga. 

 

Outra realização foi ter participado do Circo Aéreo Onix Jeans. Isso foi um sonho, uma realização. Quando eu cheguei isso já existia. Tudo já existia. Tudo era novidade para o Pardal. Aquilo tudo brilhou no fundo dos meus olhos. No começo eu mal podia ir com eles, nem mesmo para ajudar no pesado para empurrar ou carregar, até que um dia eu me tornei piloto e chegou o dia do teste. Tudo foi lá em Interlago em 1992 numa corrida com o Airton Senna e eu tinha que colocar o Balão no Greco Automóvel, que já contei. 

Enfrentamos a chuva na abertura da Fórmula 1 e sabíamos que na largada da corrida o helicóptero da Rede Globo não teria como não filmar e abrir o balão na tela da Globo para o Brasil inteiro, despencou a chuva e conseguimos em segundos pousar o balão e fazer a mágica sem molhar o balão novinho, quando todos haviam pensado que o balão havia sido molhado e estragado com a chuva e com essa proeza que eu entrei no Circo Aéreo Onix Jeans. 

O Carlo Edo uma pessoa futurista de mente e alma, tinha três aviões North American T-6, um Beech 18 PT-BSZ, um balão, dez paraquedistas, um ônibus. E fazíamos show aéreo, chegamos a realizar vários com a Esquadrilha da Fumaça. E neste ano de 2021 estamos retomando os espetáculos. Ter participado dessa família foi uma realização pessoal. Foi um prazer ter voado livremente com eles. Onde a gente chegava era festa. Aprendi uma coisa com o Carlos Edo "Voemo, Não Quebremo, Cheguemo e  Comemoremo!!!" 

Ter esse legado de ter voado, ter participado dessa história maravilhosa, ter compartilhado a história deles com a minha, o dia a dia, as experiências com ele, ter aprendido tantas e tantas coisas com eles. Além é claro de ter me divertido muito, mas muito mesmo com essa turma, ficou a amizade, a camaradagem, as nossas histórias. De ter participado de tudo que eu pude participar e depois estarmos todos juntos. Hoje eu não vejo mais isso. O Circo está voltando felizmente. Fizemos esse ano Tatuí com lançamento de PQD. Depois foi Piracicaba, Ubatuba e Rio de Janeiro que saiu no Esporte Espetacular e agora de 12 de dezembro vai estar na Stock Car em Interlagos. É algo realmente mágico. 


Eu do fundo do meu coração agradeço ter participado, foi uma honra e serei eternamente grato a todos. Eu só tenho a agradecer a Família Edo, principalmente Carlos Edo, a Monica, o Sebas e agora ao Rodrigo. Voar num avião como um Beech é surreal. É totalmente diferente de voar num voo comercial ou até mesmo num voo executivo. O voo comercial tem todo o procedimento, você chega no aeroporto com o chequim, despacha a bagagem, vai para o embarque, raio x, sala de espera, embarque, comandante de aguardando na porta do avião, assento marcado, revistinha. 

Digamos, aquelas pequenas mordomias como ar-condicionado, luz de leitura, comissário para te atender, lanchinho, bebidas, pontualidade, sem falar que muitas vezes o avião está com cheiro de carro novo. Já o Beech é um avião da segunda guerra mundial, poucas pessoas tiveram o prazer de voar nele. O dono do Beech está do teu lado, o piloto é teu amigo, aliás todos os passageiros são teus amigos. 

Vocês todos vão voando e dando gargalhadas, não tem assento reservado. Vocês fazem coisas dentro do Beech que dentro do comercial não poderia fazer. É outra história mesmo, O Beeth tem todo o glamour da Segunda Guerra Mundial. Quem voou nele jamais esquece. Tudo é muito louco, é muito espetacular. Não tem comparação. O Alemão tem uma história inédita em tudo isso. Ele é cem vezes mais criativo, percursor do paraquedismo, de aviões com turbina que ele colocou. 

Os aviões que ele construiu e o que ele faz até hoje direta ou indiretamente pelo paraquedismo. Aqui em Boituva o Alemão deixou seu legado de pessoas felizes. Esse cara tinha que ser contatado a história dele, como a do Caco e de outros. Mas difícil é convencer eles a contar. O Caco é outro amigo que tenho muito a agradecer por tudo e por sua amizade de ouro. São pessoas assim que nos fazem felizes e reforçam minhas crenças que precisamos compartilhar conhecimentos e experiências, que não viemos para esse mundo só para ganhar dinheiro, e que tem coisas superiores a tudo isso, como uma amizade sincera e sem interesses. 

Outro amigo que carrego na minha história de aventuras é o Sábia, e ai está ele no seu primeiro salto de bungee jumping. Olha que coisa legal, ter participado das histórias de vidas de todas essas pessoas e agora poder compartilhar a história de todas essas pessoas, tudo isso é muito fantástico. Não são apenas pessoas, são histórias de vidas, todas importantes. 

Durante esse tempo em Boituva eu morei em vários lugares como no Clubinho do meu amigo Arthur, o Tutu, era um quartão grande e um banheiroMas para o Zé Pardal, que já tinha vivenciado todo o Glamour do estrelato da Rede Globo, do teatro e das viagens pelo Brasil pelos Hotéis com quem trabalhava, aprendi a viver na simplicidade e que a minha maior fortuna não são as aparências materiais, mas sim o meu conhecimento e minhas verdadeiras amizades que construí no decorrer da minha jornada. 

Algumas das peças de teatro que fiz o cenário foram Meu Tio e Uarete de João Guimarães Rosa, O Primeiro Cenário Amoroso com Jorge Fernando, Sítio do Pica Pau Amarelo, Musical da Brodway no Rio de Janeiro e depois em São Paulo com Miguel Farabella , Festival da Música Brasileira, com o Mauro e Mauro Monteiro me dirigiram os trinta e seis cenários. Um dos cenários eu contrui com dor de dente, e para aliviar a dor enchia a boca com água gelada a cada minuto, quando não deu mais, fui no dentista e arranquei o dente e voltei pro estúdio com os meu companheiros e assistentes Valdemar e Jorge. Isso a gente não esquece jamais. 

Já tive o prazer de atravessar o Oceano e conhecer um pedaço da Europa, conheci a Alemanha e a Espanha, fui para lá através do meu trabalho, onde eu entrei concorrência para uma feira de exposição de animais do fundo do mar, que eram animais robotizados. 

Eu criei o cenário para a feira que iria viajar pelo Brasil e eu não sabia que a feira iria viajar para a Europa. E lá foi o Pardal conhecer a Europa depois de ter vencido a competição e ter montado o cenário nas cidades de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Salvador, Rio de Janeiro, Recife e fomos de avião para Barcelona e eu ainda levei um ajudante com salário e hospedagem. Meu ajudante foi alguns dias antes. No dia do meu embarque o meu amigo que ficou de trocar o dinheiro por dólar não conseguiu fazer a transação e eu como estava atrasado no horário, e fui para o aeroporto e embarquei com apenas cem reais. Claro que bateu aquela dúvida, imagina atravessar o oceano sem dinheiro, mas vamos embora. 

Cheguei no aeroporto e o avião da Vasp para Barcelona estava em manutenção ainda em Buenos Aires e sem previsão para pousar no Brasil. As horas foram passando e nada, e a fome chegando. E o povo ali no balcão esperando. Tinha de tudo, crianças, jovens, casais, engravatados, turistas. E eu morrendo de fome. Então, dei uma de louco e olhei para trás e falei bem alto: "Olha pessoal o problema é da Vasp, o tempo está passando e nada. Eu quero saber onde a gente vai jantar! Por que eu estou com fome e vocês?" Olhei para frente, e a atendente que já estava me observando eu lhe disse também em voz alta: "Chama o responsável da Vasp que eu quero saber onde iremos jantar!" 

Uns minutos depois o responsável chegou e chamou os primeiros seis da fila e pediu para irem para o balcão 39. Chegando lá nossas passagens foram endossadas para um avião MD-11 da Varig. Que alegria, mudou de "pão duro" para "pão mole". "Já melhorou". Iriamos ter que fazer uma conexão em Frankfurt. Nem pensei duas vezes, vamos embora, sem dinheiro e sem roupa para a neve que estava na Europa. Tínhamos 25 minutos para correr e embarcar e fomos embora, nem lembrei de trocar os cem reais por dólar. Fui o último a embarcar e a porta fechou. Fiquei sentado no assento central, o MD-11 os assentos são 2x5x2 e eu estava na fileira central. 

Quando eu me sentei, comecei a rir e não parei mais, quem estava ao meu lado, deveria ter achado que eu estava fugindo do Brasil e que meu plano havia dado certo, de tanto que eu ria. Eu estava rindo porque na verdade meu riso era de nervoso, porque estava indo para a Alemanha sem um dólar no bolso. 

Quando pousamos em Frankfurt havia um funcionário da Vasp nos aguardando no desembarque da Varig e nos deu as orientações para a conexão e nos disse que tínhamos 25 minutos, novamente, para passar pela alfândega e embarcar. Nos orientou que havia um grupo enorme de coreanos na fila e ele nos forneceu um cartão, onde deveríamos passar pela frente de todos e apresentar no guichê que seria uma senha de prioridade de embarque.

E lá fomos nós. Quando o primeiro passageiro do nosso grupo mostrou o cartão para o funcionário da Alfandega ele olhou e gritou várias vezes: "GO, GO, GO". Lembro que enquanto nós passávamos direto pela Alfandega de ter visto várias pessoas abrindo suas as malas e mostrando conteúdo delas, tinha até mel em pote. E chegamos num lindo saguão do aeroporto. Meu próximo embarque foi com a Lufthansa. Entrando no avião a comissária só falava em alemão, mas nos comunicamos bem porque ela com os cardápios me mostrava o que eu podia e não podia pegar.  Foi um voo espetacular com salmão, champanhe, comi muito e bebi um chá em cima dos Alpes Suíços, que acabei derramando o chá na camisa, mas fechei o paletó e dava gargalhada, era uma verdadeira criança. 

Desci em Barcelona, um outro mundo, com aquelas esteiras gigantes horizontais, que ainda não haviam chegado no Brasil, que transportam os passageiros entre os terminais. E eu que não era bobo, ficava seguindo o grupo de brasileiros. Eles entraram no Free Shop e eu com cem reais não podia comprar nada, nem sequer uma lata de bolacha porque não tinha sequer uma moeda de dólar na carteira. Então, sai do desembarque e fui para a Casa de Câmbio e dei os cem reais, e o atendente informou que não trocava dinheiro brasileiro e que teria que ir ao Banco do Brasil fora do aeroporto. Tive a ideia de telefonar para meus amigos que estavam me aguardando já na cidade, ao chegar no telefone público descobri que precisava de uma moeda de cem pesetas.

Então com muita calma eu parei para pensar. "Calma Pardal, você não chegou até aqui nadando e agora só falta resolver mais um probleminha!" Levantei-me e fui até o balcão da Vasp que não tinha ninguém e fiquei sentado num banquinho até aparecer alguém da empresa. Expliquei a situação e disse que precisava fazer uma ligação telefônica e que para isso precisava de uma moeda. Felizmente ele me deu, e lá fui eu para o telefone público e consegui conversar e explicar que já estava em Barcelona e sem dinheiro.  

Combinamos que eu deveria pegar um táxi, que eles pagariam no meu destino. Sai do aeroporto, fui até o ponto de táxi e no primeiro da fila abro a porta da frente e o banco do passageiro está transbordando de bugigangas. Peço licença e pergunto se posso sentar. O motorista me olha três vezes de cima a baixo. Por fim tira as coisas e me deixa entrar no táxi. Foi durante o trajeto que percebi que havia uma divisória de acrílico entre os bancos da frente e o de trás. Assim, o passageiro deveria sentar-se apenas no banco de trás. E eu estava sentado ali na frente ao lado dele. Quando cheguei no local de desembarque o pessoal todo me viu no banco da frente e já começaram a me zoar antes mesmo de descer do táxi. 

Alguns dias depois olhando o passaporte eu descobri que com a correria em Frankfurt para embarcar no avião da Lufthansa o pessoal da Alfandega acabaram não carimbando minha entrada na Alemanha ou em Barcelona. Ou seja, estava sem entrada oficial na Europa. Comecei a trabalhar na Estação de França em Barcelona com um frio de um grau. E lá é tudo diferente do Brasil. A gente parava para almoçar e em seguida eu queria fazer minhas compras para tocar o projeto, foi quando fiquei sabendo que as lojas só reabriam novamente as 16 horas. Porque eles fecham tudo e vão tirar as cestas da tarde. Abrem as 16 e voltam a fechar as 19 horas. E depois de Barcelona tínhamos que fazer a feira em Madri e Valência.

Existem acontecimentos e amizades na nossa vida que trazemos até os dias de hoje. Uma delas é a Turma do Barão. São mais de cinquenta anos de amizade. Em meados dos anos setenta comecei a frequentar o bairro Perdizes em São Paulo. Eu também andava de skate no Canal 4 na Baixada e o meu grande amigo Luís Francisco dono da fazenda Santa Mariana. A Turma do Barão se reunia para tomar café, jogar futebol, viagem para São Sebastião pegar praia. Eu fazia Ginástica Olímpica no Palmeiras com o Chico. 

Assim a gente sempre ficava envolvido no dia a dia, fortalecendo a amizade e no fim de semana o povo todo se reunia. Eu tinha muito contato e amizade com o Chico, na verdade foi meu maior amigo em toda a minha vida, fizemos eu e ele de tudo, até velejamos durante uns dois ou três anos na Represa de Guarapiranga, com o veleiro Fuga. 

Claro, o tempo passou, crescemos e seguimos nossas vidas, casamo-nos, novas responsabilidade surgiram, vieram os filhos, os encontros semanais passaram a diminuir naturalmente e seria impossível manter o mesmo pico de encontros semanais nesses cinquenta anos. Entretanto a verdadeira amizade e sempre que podemos nos encontramos para um encontro com toda a galera na Fazenda do Chico ou em algum outro lugar, como volte e meia nos cruzamos pelas esquinas e ladeiras de Brasil. 

O último encontro foi muito legal na Fazenda com churrasco, música, pizza, piscina, baile, trilha, cavalo, futebol, muita risada, mais de sessenta pessoas relembrando os velhos tempos. Eu comecei o dia preparando massa. A noite a gente comeu pizza. No sábado de madrugada comecei a preparar o churrasco para o domingo. 

A fazenda no início era de café, e foi construído um museu contando toda a história e legado da propriedade. São três salas. A primeira representa um escritório antigo, com os livros, armários e outros acessórios da época. A segunda representamos uma cozinha, uma sapataria, como se fosse um quarto de costura da época com elementos da época também. A terceira é a dos prêmios, como troféus, faixas dos cavalos. A fazenda era algo muito especial. Durante uns dez anos que eu frequentei com meus filhos todo o Natal e Ano Novo. 

Era muito legal esse tempo, as vezes participavam alguns do Clube do Barão e outros anos eram só as nossas famílias. Naquela época meu negócio era o fogão. Então, num momento que o Chico estava envolvido em alguma coisa fora da casa, eu dava uma olhada em todos os armários de mantimentos e nas geladeiras e zarpava para o supermercado. Quando o Chico chegava e se deparava com as compras e cara surtava de raiva. 

E ficava esbravejando: "Eu te convido para vir na minha casa e não é para fazer compras!!" Aí eu tinha que explicar, que eu estava com a minha família e queria fazer os jantares com meus requintes, queria que meus filhos tivessem a liberdade de abrir a geladeira, junto com a família do Chico e pegar qualquer coisa e a família do Chico também. Era muito especial estar com a família do Chico, e para mim era a minha família. Eu tinha o prazer de chegar na fazenda, ajudar, servir, cozinhar e agradecer por ter sido convidados. 

E não era pouco esse convite, houve meses de 10 a 27 dias hospedado na fazenda com meus filhos. Era algo muito especial estar ali com meus filhos, num lugar encantado com piscina limpinha, cavalo manga largo para cavalgar, empregados, caminha cheirosa. E foi assim, que meus filhos aprenderam a dar valos aos verdadeiros amigos. Outra coisa marcante na fazenda, é que lá eu transformei a cozinha num laboratório para criar minha receita de pizza especial. E quando tinha o laboratório era só pizza, assim eram dias e dias seguidos só de pizza, e o pessoas amava minhas pizzas. 

Hoje a Fazenda continua sendo administrada pela família do Chico. Seu filho Felipe conduz um atendimento espetacular e inesquecível para receber todos os convidados. Para a realização dos trabalhos ele conta com as experiências, dedicações e amor de sua avó Susana e de sua filha Tina para os eventos de casamentos, café da manhã e pizza, tudo com hora marcada. Outra marca da da fazenda é o lindo trabalho de bordados feitos a mão pela família. 

Tenho que agradecer muito a Avó Suzana, aprendi muito com ela também, tanto na cozinha como nos artesanatos. São pessoas novamente que olhamos para trás e temos o prazer de termos conhecido e ter convivido tanto tempos juntos. Aprendi muitas técnicas de pintura e acabamento com a Vó Suzana. Hoje eu trago tudo isso na minha bagagem. Um beijo carinhoso para a Vó Suzana e para a Tina que moram no meu coração eternamente. Como infelizmente não tenho uma foto com essa família sempre me acolheu como um filho, então vou postar novamente aqui a foto da minha família representando todo o amor que tenho pela avó Suzana, pela Tina e todos os demais.

O dinheiro simplesmente foi feito para gastar. E é muito triste, na minha vida, conheci pessoas que passaram a vida toda trabalhando para juntar bens materiais e dinheiro e se esqueceram de desfrutar a felicidade e num belo dia descobriram que já era tarde demais. Depois de alguns meses as coisas melhoraram e resolvi morar no Hotel Vera Cruz, da minha amiga Cidinho.  

Até que meu grande amigo James Dim de Azambuja, que é um dos donos do Hotel Boituva, que namora outra grande amiga minha, a Patrícia convidaram para eu a e morar num quarto separado do Hotel Boituva. Não pensei duas vezes, arregacei as mangas e me mudei. Então, o James e a Patrícia são outras duas pessoas que não posso jamais esquecer de agradecer. Tem coisas que a gente não pode comprar, são coisas que ou você constrói ou não constrói, é simples assim.

Surgiu uma oportunidade inédita e inacreditável de mudar toda a minha vida novamente e voar para Santa Catarina de mala e cuia. Uma oportunidade única. Um presente de Deus que eu pedi no ano passado na minha cartinha de Natal. As pessoas têm que ter fé e acreditar. Então, eu tive fé e acreditei. E o mundo conspirou a meu favor. Estou vendo passo a passo o sonho se realizar. 

Nesse momento que estamos escrevendo essa parte da minha história eu acabo de ganhar um balão novinho da fábrica, tive o prazer de deitar-se na lona dele, me ajoelhar e agradecer a Deus pelo presente. Essa semana fizemos os voos de testes e deu tudo certo. É a minha realização. O meu sonho. Estou indo nos próximos dias residir em Praia Grande, lá na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. 

Lá serei piloto de balão, vou tocar a minha gaita nos céus do sul do Brasil, quero fazer muita pizza e comida gostosa, contar muitas histórias e escutar outras. Fazer novas amizades e espalhar a alegria por onde eu passar. Mas tudo isso está se concretizando em razão da minha amizade com o paraquedista Arthur Zanela que é renomado aqui em Boituva. Depois de muito pelejarmos com a pandemia, ele foi para Torres com sua namorada a Mainara e lá tiveram a ideia de construírem um balão e me convidarem para morar no sul do Brasil, com a "Ar Quente Balonismo".


As coisas foram amadurecendo devagarzinho e surgiu a proposta de ir para lá e não pensei duas vezes. Olha a sede linda da "Ar Quente Balonismo" no meio do verde, ao lado de um lago. Aqui tudo é lindo, lindo de mais. É um sonho. 

Praia Grande é tipo uma capadócia brasileira na Suíça, é nas montanhas, tem os cânions, rios, cachoeiras, trilhas, gastronomia. Ou seja, tem um glamour, é um local especial e já voltada para o turismo. E lá se voa praticamente todos os dias, existem várias agências de turismo que vendem o voo de balão. 

Eu li a linda história do Comandante Francisco Perez da Tam. Minha história é muito semelhante com a dele. Lendo sua caminhada de luta para chegar onde chegou, em vários momentos lembrei também das minhas dificuldades. Comecei lá de baixo também, lembro de tudo. Eu ia atrás dos caras que nem louco para compreender tudo sobre balonismo. Passar o que eu passei na época. Naqueles tempos não tinha um Zé Pardal que olhava por mim. 

Na época que eu fazia resgate eu não ganhava um real e ainda era xingado de burro, tinha que carregar os tanques, correr atrás de balão, dobrar e guardar balão. E não deixavam botar a mão em nada, como se nossas mãos tivessem merda. Depois de seis anos nessa angústia venho a oportunidade através dos amigos Caco e do Caetano para eu iniciar a minha jornada para eu virar piloto, foram eles que abriram a minha porta e disseram vamos lá Pardal. 

Com o Caco cheguei a viajar até para o Rio Grande do Sul, em Torres. Aí eu fiquei mais louco ainda pelo balonismo e o Caco sempre me ajudando. O Caetano me emprestava o balão para eu treinar para fazer os brevês. Sem esses dois amigos não sei se teria tirado o brevê. Essas coisas a gente não esquece. E não se pode esquecer. E hoje estou indo para Santa Catarina pilotar um Balão meu. Vai ser meu melhor presente de Natal dos últimos anos. O meu instrutor foi o inglês Jonathan Tortan, e com a ajuda do Fri e do Alemão eu consegui meu brevê de balão e sou muito grato a todos eles.

Nesses anos todos, voei em dezenas de balões e nem sei para quantos e muito menos é incalculável quantos voos pilotei, não teria nem mesmo como estimar ou chutar. Mas tive o enorme prazer, satisfação e orgulho de ter pilotado os balões do Caco Baloons, para a Céu Azul Balonismo do Digão, no Clube do Balão do Cibéla até que chegou o convite da Ar Quente Balonismo e agora estou em Praia Grande. Voei em diversos formatos de balões, desde os tradicionais até o Aviãozinho do Digo, filho do Caco e o Avião Palhaço do Caco e do SBP no formato de uma casa. 

E um belo dia o Jair me conta que estavam escrevendo a história da vida dele. Ficamos todos ansiosos aguardando a publicação no Blog www.ser-paizao.com.br que tinha um nome muito estranho, para um blog de aviação. E finalmente foi publicada a matéria e foi o maior alvoroço, fiquei muito feliz, porque eu estava lá na matéria do Jair, foi um reconhecimento da minha dedicação para essa molecada. E o Jair nem precisa dizer a alegria que ficou. Um bom tempo depois, toca o celular e um maluco tal de Jones Rodrigues se apresenta. Doido como eu. De cara me identifiquei. Passaram meses e anos e firmamos uma amizade. Incrivelmente ainda não nos conhecemos pessoalmente. 

Ele criou um grupo no Whats denominado União dos Artistas, que tem vários construtores de maquetes de avião, carros, navios e tantas outras coisas e o pessoal compartilha conhecimentos, tira dúvidas, eles interagem muito entre eles, cada um transmitindo sua bagagem e seus conhecimentos. Também criou um outro grupo denominado Felicidade, também muito bacana, que tem a Adriana, o Bruno, o Alexandre, a Malu, a Maria, a Marisa, a Marta, a Patrícia, a Sonia, ele e eu. Nesse grupo o Jones é um fanfarrão, ele bota fogo no cabaré, o Grupo é só para se divertir. aliás até em razão das profissões tem de tudo um pouco, psicóloga, comissária, RH, jornalista, professora, motorista de aplicativo engenheiro, administrador, tem pessoas que gostam de ser felizes.

 

Desde pequeno sempre observei minha mãe e minha nona na cozinha. Ficava observando-as manuseando os alimentos. E por gostar também em mexer em arte eu tinha outra influência dentro de casa que era minha irmã que fazia bolos para vender. E eu também ficava admirando ela fazer aqueles bolos lindos. O meu de dois anos foi um campinho de futebol. E devagarzinho fui conhecendo muitas mães e nonas de amigos meus. E assim cada vez mais fui penetrando nesse universo mágico da gastronomia. E volte e meia já estava trocando receia com elas. E fui fazer os cursos no Senac com a expectativa de viajar pelo mundo com esse trabalho. E claro já estava fazendo em casa meus bolos, pães, massas e tudo que era tipo de comida. 

E com tudo isso as nonas nunca mais deixaram de ficar perto de mim e eu também nunca mais deixei de ficar longe delas. Eu tive uma linda professora que foi a dona Silvia que foi uma das minhas mãezonas que eu tive e que me ensinou a fazer pão de mandioquinha, pão de ló com leite fervendo, tortas, torta holandesa, coxinha, empadinha, massa folhada, rissoles. E cada vez que eu chegava em algum lugar que tinha algo diferente eu queria a receita e com isso venho as mães Silvia, Leonor, Emília, Suzana, a minha mãe querida Maria de Lourdes Pacheco, a minha irmã Palmira que também me ensinou muita coisa. 

Depois fui para o laboratório de pizza. Na casa do meu compadre eu fiz muita pizza, mas muita pizza mesmo.  Em resumo, meus dotes culinários vieram da vida, começaram na infância, se fortaleceram nas mães e nonas e se aperfeiçoaram na estrada da vida e hoje eu colho os frutos e aprendo sempre algumas coisas novas. Até hoje não posso ver uma nona, que eu me encosto para trocar experiências. Eu gosto de fazer massas, nhoque, talharim, lasanha, rondele, canelone, gosto de fazer os molhos. 

 Participo de um grupo de Whats App com dezenas de construtores de maquetes de avião, navios, carros, caminhões, entre outros. Este grupo foi criado com a finalidade de agrupar profissionais e amadores que no seu dia a dia constroem maquetes, seja por fins financeiros ou hobby. No grupo o pessoal compartilha conhecimentos, tiram dúvidas, dão opiniões e dicas. E eu acabo interagindo com minha experiência que tenho na arte. Volte e meia falo sobre as várias tintas, massas, pincéis, ferramentas, tecnologias, mostro vídeos meus feitos por mim especificamente para o grupo onde explicou como usar determinado material. 

Por exemplo, eu explico que tenho um procedimento com a madeira que não coloco primeiro a massa e nem uso a massa acrílica. Eu uso prime em cima de tudo que eu faço, então eu vou entrar com massa de poliéster, se for necessário irei entrar com massa plástica, dependendo da grossura do acabamento. Isso que eu falo sobre sinergia, isso que precisamos espalhar e compartilhar. Existe espaço para todos. Olha o belo exemplo do Istael, um dos mais conhecidos e respeitados construtores de maquetes de avião, e o que ele faz: publica periodicamente diversos com vídeos técnicas que utiliza no seu trabalho. É um jovem que já nasceu nesse mundo globalizado e tem sua visão aberta para o mundo.

A tempos atrás fui convidado a entrar num outro grupo com poucas pessoas no watt denominado Felicidade. Lá tem um tal de Jones. Esse sim sabe o que é ser feliz. Ou talvez, saiba é enlouquecer os outros membros. Trabalhar que é bom, esse nunca soube o que é. Diz que é filho de deputado, só inglês para acreditar, deve ficar sentado numa cadeirinha escrevendo e o máximo que vai sujar são seus dedos comendo um saboroso bolo de chocolate que comprou na confeitaria, porque ele não sabe nem fritar um ovo frito. 

Ele não trabalha, só dá trabalho para os outros, isso que é o problema. Deve passar o dia todo maquinando uma forma de incomodar sua mãe e aos outros. O dia que eu tiver o prazer de fazer um voo de balão com ele, vou ter que aprontar, irei devolver. Colocarei a Sônia ao lado dele, e vou dar um rasante ao lado de um chiqueirão de porcos que tem aqui em Boituva só para ver a Sônia atirar ele lá de cima numa poça de esterco de porcos. 

Eu iria realizar o sonho meu e dela, ver você mergulhar direto na merda. Ou então, eu passar por uns galhos, só para ver ele apanhar no rosto. Esse Jones um dia vai sofrer comigo. Aaaaa Jones, a gente gosta de você sim e como gosta de você. Ele atazana tanto a gente. E eu nem conheço ele. Você não perde por esperar. Vamos fazer aquele nosso voo de balão para Santiago do Chile em quinze dias, eu pilotando o balão, a Adriana, a Malu, a Marisa, a Sonia, a Mãe, a Maria, o Lucas, a Lívia e o Bruno. Faltou alguém? O Jones! Ele irá dependurado numa corda do lado de fora do balão e que pena se despencar lá de cima num cacto bem carregado de espinhos.

Se sou feliz, Claro que sou. Mas acho que tem pessoas mais felizes. Mais uma vez estou deixando Boituva para trás. Iniciei o meu relato em Boituva e estou terminando na minha nova casa em Praia Grande. Na vida quando você imagina que nada mais irá te surpreender, você cai da cadeira. Pois é, fiquei apaixonado e encantado por tudo que encontrei aqui em Praia Grande. A casa tem até lago que dá até para pescar, já foi alugada a três meses atrás, o balão novinho construído em Boituva trouxemos na bagagem. 

Que felicidade eu poder estar vivenciando tudo isso, que privilégio, só tenho a agradecer ao Arthur e a Mainara por essa oportunidade e confiança que depositaram no velho Zé Pardal. O balão vai decolar do quintal da casa. Isso é mágico. É surreal. A vida é a prova de tudo o que eu digo. As pessoas colhem o que plantam, simplesmente isso. Em Boituva eu posso entrar em centenas e milhares de casas, sem telefonar, é só bater na porta, que o velho Pardal é convidado para entrar. Isso o dinheiro não compra. 

Isso é felicidade. Você caminhar na rua e as pessoas te olharem no rosto e te dar um abraço ou um bom dia com um sorriso nos olhos. Agora imagina, no início desse ano de 2021, quando que o Zé Pardal iria imaginar que menos de um ano depois que ele escreveu a sua cartinha de Natal, ele iria receber um presente desses? 

Que maravilha, que presente ele recebeu de Deus! O nome do Balão foi registrado com o nome da filha deles, olha que sensacional BR-JOY1. Meu primeiro amanhecer na casa nova será inesquecível, havíamos chegado de viagem à noite, eu e o Arthur. Então a primeira coisa que queria fazer era conhecer o local, e levei um susto ao me deparar no meu quintal com os balões iniciando o voo, imagina eu acordar e tomar meu café com essa imagem. Era algo que jamais o Zé Pardal poderia imaginar, desejar ou sequer sonhar, acordar e ir à varanda e admirar os balões decolando e voando todos na minha cabeça. Mais uma vez só tenho a agradecer aos amigos Arthur e a Mainara por essa oportunidade e confiança que depositaram no velho Zé Pardal. 


Receita de Pão de Mandioquinha

300 gramas de mandioquinha cozida
3 colheres de manteiga
3 ovos
3 tabletes de fermento biológico
1 copo de leite
1 copo de açúcar
1 pitada de sal
1 Quilo de farinha boa


Como Fazer: 

PASSO UM: Misturar os três tabletes de fermentos, pitada de sal e uma colher de sopa de açúcar.

PASSO DOIS: o restante do açúcar com a mandioquinha cozida, leite, ovo, manteiga bater no liquidificador até virar um creme e não pode estar em temperatura alta. Deve estar morno. Tempo  aproximadamente 5 minutos.

PASSO TRÊS: Juntar todos os elementos do Passo Um e Passo Dois e aos poucos acrescenta a farinha e mistura e sova e bate na pia a massa para soltar a massa. Vira a massa e bate de novo. Quando tiver uniforme aproximadamente para de amassar. Tempo Aproximadamente de preparar a massa: 5 minutos.

PASSO QUATRO: colocar a massa para descansar e dobrar de tamanho novamente na vasilha. Tem que aguardar dobrar de tamanho. Tempo Aproximadamente: 30 a 40 minutos

PASSO CINCO: cortar e colocar da maneira que quiser na forma, podendo rechear a gosto. Pode fazer um pão grande ou fazer vários pequenos enrolados.

PASSO SEIS: colocar a massa para descansar e dobrar de tamanho novamente nas formas. Tem que aguardar dobrar de tamanho e encher a forma. Tempo Aproximadamente: 30 minutos

PASSO SETE: a gosto pode pincelar a gema de ovo em cima do pão ou pulverizar com farinha

PASSO OITO: colocar no forno no "mínimo" e vai começar a crescer, quando começar a corar aumenta para 180 graus. Normalmente o forno assa mais de um lado, quando um dos lados estiverem prontos deverá ser virado a forma. Vai deixar assar até perceber que a parte superior do pão está bem assada e em volta tem uma mancha mais clara, está mancha clara é o que dá a leveza do pão. Tempo Aproximadamente: 30 minutos

PASSO NOVE: tirar do forno, deixar esfriar em cima do fogão e não colocar a forma quente em cima de uma pedra gelada

Receita da Pizza do Pardal

1 Quilo de farinha boa                                                                                                                                                        600 ml de Agua                                                                                                                                                                    2 colheres rasas de sal                                                                                                                                                        1 colher rasa de sopa de açúcar                                                                                                                                          4 colheres rasas de azeite                                                                                                                                                    3  tabletes de fermento biológico ou duas colheres de sopa pouca mais de rasas se for o granulado

Como Fazer: 

PASSO UM: Misturar os elementos fermento, sal, açúcar, água, azeite e farinha e mexer. Tempo Aproximadamente de preparar a massa: 10 minutos.

PASSO DOIS: Colocar numa vasilha tupperware para descansar.  Tempo  aproximadamente 15 minutos.

PASSO TRÊS: Volta a sovar a massa. Tempo Aproximadamente de preparar a massa: 5 minutos.

PASSO QUATRO: colocar a massa para descansar e dobrar de tamanho novamente na vasilha. Tem que aguardar dobrar de tamanho. Tempo Aproximadamente: 15 minutos

PASSO CINCO: Separar a massa em bolas do tamanho de uma xícara e em cima da pedra do balcão vai apertando cada uma das bolas do dedo menor ao dedo indicador e depois rodando cada uma das bolas em cima da pedra ou da mesa. 

PASSO SEIS: Separar as bolas em sacos plásticos e deixar descansar e dobrar novamente de tamanho. O segredo é sempre colocar a massa dentro de um plástico para crescer. Caso contrário a massa resseca.  e dobrar de tamanho novamente nas formas. Tem que aguardar dobrar de tamanho e encher a forma. Tempo Aproximadamente: 15 minutos

PASSO SETE: abrir a massa em cima da pedra ou da mesa com farinha e rolo, quanto mais fina melhor

PASSO OITO: colocar na forma e vai colocar na parte de baixo do forno do fogão, se não tiver forno elétrico ou a lenha. Quanto mais em baixo melhor. Pegar a grade e colocar lá em baixo do fogão. Temperatura de 200 Graus. A massa começa a criar bolhas, e tem que ainda estar úmida e não estar pronta o cozimento. Tempo Aproximadamente: 5 a 10 minutos depende do forno. 

PASSO NOVE: tirar a pizza da forma ainda quente e imediatamente depois de sair do forno e colocar ela na altura média do forno, sem a forma, só a pizza em cima da grade, porque ela precisa em cima e em baixo. Começou a ficar seca e fazer uma casquinha. Retirar do forno.  Tempo Aproximadamente: 5 a 10 minutos depende do forno. 

PASSO DEZ: colocar um fio de azeite sobre a Pizza

PASSO ONZE: colocar o molho em cima da Pizza feito conforme seu gosto e não muito

PASSO DOZE: colocar o recheio em cima da Pizza e não muito

PASSO TREZE: colocar para assar sem forma, na parte superior do forno. Na metade do tempo girar a massa 50%. Tempo Aproximadamente: 5 a 10 minutos depende do forno. A 200 Graus

PASSO QUATORZE: saborear com os amigos e familiares


Receita de Torta de Liquidificador Salgada

1 Xícara de óleo                                                                                                                                                                  3 Xícara de Farinha de Trigo                                                                                                                                              1 Copo de leite                                                                                                                                                                    2 Colheres de sopa bem cheias de queijo ralado parmesão                                                                                            1 Pitada de sal                                                                                                                                                                      Orégano a gosto                                                                                                                                                                  3 Ovos                                                                                                                                                                                  1 Colher de sopa de fermento pó Royal  não muito cheia

Como Fazer: 

PASSO UM: Bater todos os ingredientes no liquidificador.

PASSO DOIS: Fazer um refogado a parte, que pode ser de frango, carne, peixe, camarão, legumes, conforme a sua criatividade e gosto para fazer o recheio.

PASSO TRÊS: Untar uma forma.

PASSO QUATRO: colocar metade da massa na forma

PASSO CINCO: colocar todo o recheio na forma 

PASSO SEIS: colocar a outra metade da massa na forma, cobrindo todo o recheio

PASSO SETE: jogar queijo ralado parmesão em cima da massa crua

PASSO OITO: colocar na forma e vai colocar na parte de alta do forno do fogão. Temperatura de 180 a 200 Graus. Tempo Aproximadamente: 30 a 40 minutos depende do forno. 

PASSO NOVE: saborear com os amigos e familiares

SEGREDO DO MOLHO: tirar a casca do tomate e esmagar os tomates a mão mesmo e não colocar no liquidificador nunca


Receita de Massa Fresca para Macarrão (Uma Porção)

3 Ovos                                                                                                                                                                                  2 Xícara de Farinha de Trigo                                                                                                                                              1 fio de óleo                                                                                                                                                                          1 Sal a gosto                                                                                                                                                                        1 Pitada de sal                                                                                                                                                                     

 Como Fazer: 

PASSO UM: Misturar a farinha e o ovo. Não colocar sal na farinha

PASSO DOIS: Apertar e Sentir a massa na mão, tem que ficar uma massa bem consistente, porém não mole. Não pode ficar seca. As vezes o ovo é grande ou pequeno, então tem que sentir a dosagem da farinha conforme a consistência da massa. Por exemplo se for fazer para dez pessoas, colocar em média 12 ovos grandes para 1 kg de farinha. Tempo Aproximadamente: 5 minutos.

PASSO TRÊS: Quando a massa estiver uniforme e consistente deixar a massa na geladeira descansando. Tempo Aproximadamente: 15 minutos depende do forno.

PASSO QUATRO: transformar a massa como se fosse um salame comprido 

PASSO CINCO: cortar a massa em pedaços de quatro dedos  

PASSO SEIS: abrir cada um dos pedaços da massa na farinha em tiras, que podem ser utilizados para fazer lasanha, canelone, talharim, espaguete. Para abrir a massa pode ser no rolo ou na maquina de macarrão.  

PASSO SETE: conforme a massa for sendo cortada, misturar com uma empoeirada de fubá para não grudar e ficar soltinha.

PASSO OITO: a critério do cozinheiro poderá colocar numa forma num tule, tipo um véu de noiva, e colocar no sol para secar e guardar tudo num saquinho 

PASSO NOVE: colocar a massa para cozinhar com água, óleo e sal. Tempo Aproximadamente de 15 minutos. 

PASSO DEZ: dar um choque térmico na massa com água fria 

PASSO ONZE: colocar meia colher de manteiga no prato, depois a massa e por fim o molho que foi feito a gosto, verdadeiro estilo italiano. Por último colocar queijo parmesão em cima do molho.

PASSO DOZE: saborear com os amigos e familiares

SEGREDO DO MOLHO: tirar a casca do tomate e esmagar os tomates a mão mesmo e não colocar no liquidificador nunca


Receita de Massa de Pandelo com a Dona Silvia

8 Ovos                                                                                                                                                                                 2 Copos de Farinha de Trigo                                                                                                                                           1 Copo de açúcar                                                                                                                                                                1/2 Xícara de água morna                                                                                                                                                  2 Colheres de sopa rasas de fermento pó Royal                                                                                                          1/2 Xícara de leite fervendo                                         

Como Fazer: 

PASSO UM: Tirar a gala que fica na clara dos ovos, para não deixar gosto de ovo na massa

PASSO DOIS:  Bater a clara separada

PASSO TRÊS: Misturar e bater meia xícara de água morna com as gemas.

PASSO QUATRO:  Misturar açúcar as gemas e continuar batendo.

PASSO CINCO: Ligar o forno de 180 a 200 graus para deixar aquecendeo

PASSO SEIS: Adicionar farinha peneirando e devagar, tudo a mão, sem a batedeira. 

PASSO SETE: Adicionar a clara e continuar mexendo

PASSO OITO: Adicionar o fermento e continuar mexendo

PASSO NOVE: Adicionar o leite fervendo, neste momento é importante o forno já estar bem quente

PASSO DEZ: Untar a forma, com manteiga e farinha

PASSO ONZE: Colocar a massa na forma e ir direto ao forno, sem bater a forma no forno, para não murchar ou batumar o bolo no impacto da batida, usar um pano ou um pano para proteger a mão.

PASSO DOZE: Esperar o bolo dar uma corada e com jeito tirar a forma de dentro do forno sem bater, usar um pano ou um pano para proteger a mão.

PASSO TREZE: Se for fazer bolo recheado tem que tirar as cascas de todo o redor, antes de colocar o recheio

Receita de Drinks

Manga                                                                                                                                                                                Morango                                                                                                                                                                              Abacaxi                                                                                                                                                                              Limão                                                                                                                                                                                  Qualquer outra fruta menos Melancia  (nunca misturar melancia com leite condessado)                                          Vodka                                                                                                                                                                                    Gelo Picado                                                                                                                                                                          Leite condessado                                                                                                                                                          Açúcar a gosto

                                         

 Como Fazer: 

Um drink eu não tenho uma receita específica. Fica muito a critério do momento, da ocasião, das pessoas e do horário. Gosto muito de usar frutas e leite condessado e de fazer algo leve, nada pesado. Acho que essa combinação é muito boa com Vodka. Pode ser elaborado um mix de frutas batidas e adicionar o leite condessado e o açúcar com Vodka e gelo. Ou então uma fruta específica. Pode ser colocado pedaços de frutas depois para decorar. Sempre importante experimentar no final se ficou bom, se não ficou forte, doce de mais ou aguado. Com o tempo você irá descobrir seu ponto ideal de equilíbrio.


Maria José Mary

Parabéns
 e muito sucesso

Ivo Barbosa
Esse nasceu para voar

Jose Roberto Saugo
Quantas aventuras você nos proporcionou!
Parabéns
!

Sylvia Giambruno
Happy birthday!!

José Roberto Marcondes
Abrçs Caro Amigo FELICIDADES