quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Renato - TAM - Trouble Shooting

 Renato - TAM - Trouble Shooting

Meu nome é Renato e que alegria anos depois de ter trabalhado na TAM, ser convidado para contar um pouco da minha experiência na melhor empresa que já trabalhei. Lembro com carinho e saudade de quando o Comandante Rolim entrava no nosso departamento, dava um tapinha no ombro e perguntava “Como vai a nossa TAM?” E todos respondiam: Tá voando, comandante!”

Entrei na TAM em 1983,  fui trabalhar como Trouble Shooting no hangar da Pantaleão Teles. O gerente de manutenção era o Sr. Roberto Vidra. Lembro que os Embraer Bandeirantes voavam durante o dia transportando passageiros, e de noite, sem os assentos, carregavam malotes dos correios. Haja mecânicos e equipe de manutenção para manter aquela estrutura funcionando, mas o pessoal mandava bem. Isso era surreal, a mesma aeronave realizando dois serviços. 

De dia transportando passageiros e a noite carga. Era um tira e coloca assentos todos os dias da semana. Que loucura. Mas o Comandante tinha uma visão de negócios inigualável, os aviões estavam lá a noite toda parados ociosos. E por que não os utilizar? E o que foi feito? Criado empregos, foi necessário contratar pilotos e equipe para trabalhar e claro gerar receita para a empresa.

Havia na TAM um jornal impresso, chamado “XereTAMdo”, que trazia mensalmente notícias diversas da empresa, além dos aniversariantes e os funcionários do mês. Também mencionava as crianças recém-nascidas, filhos de funcionários. Quando recebi a medalha de 10 anos de empresa, tive minha foto publicada no jornal. Olha que ideia genial, os funcionários recebiam uma pequena medalha de ouro, por completar 10, 15, 20 anos de empresa ou mais, até hoje tenho o jornal e a medalha. Era gratificante chegar em casa e mostrar a todos que tínhamos sido homenageados.

O Cmte. Rolim sabia valorizar os funcionários, tanto que em alguns anos, ele pagou além do 13° salário, também  o 14° e até o 15°. Na minha época tínhamos um bom plano de saúde, convênio com farmácias, cotas de passagens e algumas parcerias. Não podíamos reclamar dos salários e demais pagamentos. Ouvíamos que uma das coisas que deixava o Cmte. irritado era demissão de funcionários. E quando ocorria passava por uma entrevista de desligamento com o intuito de aperfeiçoar os processos e rotinas de trabalho.

Nós funcionários trabalhávamos por amor pela empresa. Nunca tinha realizado isso na minha vida. Era algo diferente. Tinha prazer em vestir nossos uniformes e dizer a nossos familiares e amigos onde trabalhávamos. Nós funcionários do administrativo tínhamos passagens gratuitas e com descontos, era um sistema por cotas, que aumentavam a cada ano de empresa. As festas de final de ano eram inesquecíveis, geralmente em salões ou na própria TAM. Onde os filhos de funcionários tinham uma festa no GRETAM, um grêmio recreativo, onde recebiam presentes, havia uma pequena descontada mensalmente do associado ao GRETAM.

O Rolim pensava não só nos clientes, pensava também em nós funcionários. Existiam algumas parcerias entre a TAM e faculdades e escolas de idiomas. E também até um serviço de translado de ônibus entre os Aeroportos de Congonhas e Guarulhos. Até acredito que a TAM tenha sido a pioneira, mas não tenho certeza. Quanto ao motorista, não era um só. Mas nós funcionários podíamos utilizar um ônibus exclusive para nosso transporte entre os aeroportos de Congonhas e Guarulhos.

Não era raro encontrarmos o Cmte. Rolim andando pela empresa. Sempre simpático e muitas vezes acompanhado por artistas amigos dele, como o Rolando Boldrin. Ele era muito diferente de outros diretores que já tinha visto. Não era arrogante e autoritário, pelo contrário gostava de ouvir as pessoas, fossem que fossem. Inclusive se encontrava uma pessoa da melhor idade providenciava atendimento imediato. De manhã, logo cedo, ele costumava ficar na porta dos aviões, recebendo pessoalmente os passageiros. Se apresentava, trocava cartões, ouvia os clientes. E com isso ele criou o serviço chamado FALE COM O PRESIDENTE, um canal direto com ele, onde passageiros enviavam perguntas, elogios e reclamações. Ele sabia não só administrar, mas também era fera em fazer marketing da empresa.

Certa vez ouvi uma história, que não tenho como confirmar, mas essa conversa rolou muito pelos corredores durante muito tempo. Falava-se que o Cmte. estava andando pelo aeroporto, como sempre fazia, e havia uma passageira muito irritada, brigando com funcionários no balcão. Ele se aproximou, se apresentou e a mulher disse que tinha perdido um voo para Belo Horizonte, onde participaria de um congresso, pois uma funcionária da TAM, segundo ela, havia passado informações erradas sobre os horários de voo. O Cmte. mandou verificar e constatou que realmente haviam passado uma informação errada para a passageira. Assim, ele mandou preparar um jatinho da TAM Táxi Aéreo só pra levar a passageira até BH. E ela acabou chegando lá antes do Fokker 100 que havia saído um tempo antes.

Outro fato muito comentado era que o Cmte. Rolim não estava conseguindo autorização para voar pra Miami, então ele encontrou a solução brilhante: comprou uma pequena empresa de aviação do Paraguai, chamada Arpa, que tinha concessão de voos pra Miami e no Equador a Lapsa e em seguida fundou a Tam Mercosul. Ele pegou os A330, e começou a fazer a rota Guarulhos, Assunção, Miami, com um serviço de bordo que incluía até talheres de prata. Lembro de um período que a TAM e o Comandante era só comemoração nos corredores em razão dos diversos prêmios que recebia. Um deles foi em Nova York pelo Programa Fidelidade e outro pela Revista Airline Bunisses, como a empresa mais rentável do mundo.