sábado, 27 de fevereiro de 2021

ENTREVISTA XUXA - BALÃO Wilson Bitencourt





Dia dia de voo é um dia espetacular, tudo é diferente. Atualmente meus passeios são realizados nos fins de semana. Chego a esperar a semana toda passar. Tudo na expectativa de acordar as quatros da manhã para iniciarmos os preparativos. Tudo com a tranquilidade e segurança que o voo de balão exige. Balonismo apesar de ser uma coisa linda e espetacular para quem olha aqui de baixo e para os passageiros, exige do piloto e de toda a equipe de apoio muito profissionalismo e competência. E lá em cima temos que proporcionar as duas coisas, um voo com segurança com lindas paisagens, momentos inesquecíveis para quem estiver voando. Tem que valer a pena a sensação para quem está voando.


O check-in é pontualmente realizado às cinco da manhã, para não perdermos o melhor momento do voo. E o relógio não para. Se nos atrasarmos iremos perder o momento sublime e espetacular: o nascer do sol. É um momento único num voo. Não tem como repetir ele no mesmo dia. Decolamos pontualmente para isso entre 05:15 a 05:20 para pegarmos o nascer no sol voando entre as nuvens. Esse momento é mágico, é surreal, é fantástico. Quem tiver a oportunidade de ver esse momento jamais esquecerá.


Na minha infância eu sempre gostei de brincar com coisas diferentes de outras crianças, curiosamente com brinquedos que voavam, como balão de papel, de helicóptero, de avião. Com os anos meu hobby foi criar e colecionar balão de papel. Então para partir pro balonismo, foi um pulo. 


Para aprender a pilotar balão não foi algo planejado. Eu tinha um amigo Luís Silvestre que estava se formando na época como piloto. Eu dava um jeitinho e largava meu trabalho em São Paulo e ia com ele assistir as aulas de balonismo. E cada vez mais eu ficava deslumbrado com tudo aquilo. Depois comecei a acompanhar eventos de balonismo. Era só saber que em tal cidade haveria algum evento, que eu pegava o carro e me mandava para poder aprender aos poucos algumas coisas. Com o tempo o pessoal começou a me conhecer melhor e me convidar a fazer equipe. 


As coisas não foram fáceis, porque não sendo rico, tinha que priorizar e economizar. Tenho família e é difícil você investir dinheiro em algo como o balonismo em detrimento da família. Então devagarzinho virei piloto. Depois consegui meu pequeno balão. Hoje meu maior projeto, que devo concretizar nos próximos meses é ter um balão de até doze passageiros, e consequentemente divulgar mais os voos aqui na minha região e se o Brasil todo me chamar eu estou voando, porque não?


Também sou artista plástico, faço desenhos, faço pinturas. Assim não dependo só do balonismo. E no mundo atual não podemos depender só de uma profissão. Temos que ser dinâmicos, porque o mercado é rápido demais. As pessoas tem que ter a flexibilidade, inteligência e disposição de se reinventar cada vez mais. Esses dias li uma matéria de um comandante que agora na pandemia está pilotando um ônibus urbano, e porque não? Temos que sempre nos reinventar. 


Também sou Marido de Aluguel quando surge alguma oportunidade, já que tenho esta habilidade porque não aproveitar ela também? São pequenos serviços, mas que a maioria das pessoas não tem tempo, não tem ferramentas ou nem saberiam como fazer. Coisas como trocar uma válvula hidro, troco chuveiro, resolvo pequenos vazamentos. E assim, vamos ganhando nosso pão de cada dia.


Eu tenho muita vontade ainda de ser piloto de helicóptero. Só que é muito caro para tirar o brevê. Ainda não estou nessas condições financeiras, mas tenho a certeza que tudo terá seu tempo, e com certeza da mesma maneira que consegui realizar o sonho de ser piloto de balão também irei pilotar um helicóptero. Não podemos desistir de nossos sonhos. Eles são nossas esperanças. 


Meu batizado de balão foi com Água, Terra, Ar e Fogo. Risos. Porque tacaram terra na minha cabeça, depois tacaram agua na minha cabeça ao redor do Ar e do fogo. É uma cerimônia para realizar a  nossa formatura. Sei que o pilotos de avião recebem o batizado de óleo diesel. Como quero ser piloto de helicóptero acredito que também seja de óleo diesel. Ou quem sabe de champanhe. Risos.


A profissão de piloto de balão é paradoxal. Porque você não pode depender exclusivamente dela. Por exemplo você normalmente não tem clientes nos dias de semana. E nos fins de semana e feriados também vai depender das condições climáticas, lembrando que estamos no Sul do Brasil, que é diferente de São Paulo que praticamente acredito que pode-se voar muito mais que aqui. 


Por isso que eu tenho outras atividades acessórias profissionais, porque se fosse viver somente do balonismo as coisas seriam muito difíceis. Muitos amigos e familiares respeitam e compreendem a minha profissão. Outros tem dificuldade de entender. Meu próprio pai acha que isso é um hobby ou lazer. Não posso negar. Eu amo todas as minhas profissões. Posso dizer que sou uma pessoa realizada. 


Então eu faço com  amor. E você gostando e fazendo com amor o trabalho ele se torna gratificante. O balonismo é cansativo, precisa disposição, precisa logística, precisa força física. Mas o amor supera tudo. Então aqueles momentos da magia lá em cima passa muito rápido. Cada vez que eu voo. A magia é como se fosse a primeira vez. Porque são novos passageiros, novas emoções, novos sorrisos, novas alegrias, novas histórias. E cada passageiro tem uma história diferente da outra. E um voo que eu goste de fazer, não tem nem como eu explicar muito. 


De ver no rosto da criança o encanto da novidade não tem como explicar. De ver no rosto de um casal idoso o deslumbre da descoberta da novidade aos 50, 60 , 70 ou 80 anos não tem o que se falar. Então eu amo muito a minha profissão. Tanto o balonismo, quanto meus desenhos que eu faço porque sou artista plástico, e gosto também, porque não dizer de resolver os problemas das pessoas como marido de aluguel.


Existem coisas que são difíceis de serem explicadas, por exemplo eu amo estar dentro de um balão lá em cima entre as nuvens e sentir o vento e a brisa batendo em meu rosto, me sinto livre e solto. Mas paradoxalmente tenho medo de estar parado num patamar de um prédio e ficar olhando para baixo. Você acredita nisso? 


Enquanto que eu subo a dez mil pés tenho total segurança. Isso é incrível. Eu amo muito voar, principalmente levando passageiros e podendo compartilhar essa magia que é um voo de balão. Muitas vezes transporto passageiros que nunca sequer voaram de avião, então eles nunca tiveram a oportunidade de ter a visão da cidade lá de cima. 


Nunca imaginaram como seria de verdade ver ruas, casas, carros, bairros inteiros, florestas lá das nuvens. Nem estou falando da explosão de alegria que é poder ver o por do sol com outra ou de estar entre as nuvens. As crianças ficam fascinadas, os avôs chegam a chorar de emoção, até os adultos não conseguem esconder a emoção de poder estar fazendo parte naquele momento desse espetáculo diferente. São coisas que só quem estiver lá em cima pode saber. Isso é inimaginável para quem nunca voou.



É maravilhoso você ver a alegria das pessoas de sair do chão, porque não é uma coisa para vários. A pessoa se planejando a pessoa consegue. É muito gratificante. Depois que você pousa o balão o pessoal vem te elogiar, vem te agradecer por aqueles momentos maravilhosos e inesquecíveis que passaram lá em cima. Os passageiros querem me fotografar com eles e com o balão, para eternizar aquele momento. Isso tudo é muito gratificante.


Um dos melhores voos da minha foi foi a matéria que fizemos com o pessoal do Globo Repórter nas Cataratas do Iguaçu, não tem nem explicação da sensação que foi esse voo, foi ótimo. Eu fui o único piloto do mundo que realizou esse voo da maneira que eu fiz. Nenhum outro piloto conseguiu pousar o balão onde eu pousei no vale e passando próximo as quedas da água. Mas não por onde eu passei. Eu fiquei radiante quando soube que eu realizaria esse voo, foi minha realização profissional, foi meu auge profissional e pessoal. 


Imaginem eu realizar um voo para a televisão, e para a Rede Globo, para um documentário do Globo Repórter. Inicialmente eu pensei que só faria apenas o voo para a tiragem das imagens. Que nada, daqui a pouco eu já estava fazendo parte da história. Mas só acreditei mesmo, quando reunido com a família em casa assistimos o programa e o nos dias seguintes foi aquele alvoroço, todo mundo falando da mesma coisa, virei pop star. O voo foi espetacular.


 Expliquei a todos a bordo que que o vento trabalha por camadas lá em cima. Conforme a altitude ele tem correntes de velocidade e direções diferentes. Todos eram passageiros de primeira viagem de balão. E olha só, foram fazer sua primeira viagem num balão nas Cataratas do Iguaçu, que tem mais de cem quedas d' água. Ali no Marco das Três Fronteiras, que é formado pelo Brasil, Argentina e Paraguai. Passaram pro cima. Expliquei que a palavra Paraná significa na língua Tupi "parecido com mar". 


E é exatamente isso que você sente quando está lá em cima, aquela imensidão de água. Água para tudo que é lado, descendo de dezenas e dezenas de cachoeiras e cataratas. Até chegar na Queda da Garganta do Diabo e para completar todo esse quadro da natureza surge ao fundo um lindo e enorme arco íris. E nós numa velocidade bem lenta, a quatro quilômetros por hora, é como se estivéssemos em câmera lenta ou parados no ar. E ao lado daquela imensidão de água, temos o Parque que é outro mar verde de florestas. 


Raramente o pessoal deixa cair alguma coisa lá de cima. Mas uma única vez um passageiro deixo cair um celular. Mas deu sinal, e foi possível resgatar ele com o sinal do GPS. Já aconteceu uma ou duas vezes no pouso com um vento muito forte o pessoal se descuidar e o celular ou a câmera sair voando, mas se o pessoal seguir nossas instruções que passamos antes da decolagem não tem problema não. Tudo é questão de seguir os protocolos que passamos aos passageiros antes do embarque.


Um dos episódios mais marcantes foi um pedido de casamento nas alturas. Decolamos normalmente, ninguém sabia de nada. Quinze minutos de voo. O rapaz pegou uma aliança do bolso e começou a falar e eu filmando porque ele havia me pedido para filmar. Então ele fez o pedido "Você quer casar comigo?" E a moça respondeu: "Eu já lhe falei que eu não quero casar com você! Eu não sei porque você insiste em fazer tudo isso!"


 Eu ali filmado a cena, fiquei sem reação, fiquei sem graça. Eu quis pousar o balão e o rapaz disse:  que não,  que era para continuar o passeio normalmente. Eu sou sincero eu perdi o rebolado. Agora imagina o rapaz fazendo tudo aquilo!!! Ou a moça naquela situação!!! Porque lá de cima não pode simplesmente virar as costas e ir embora. Que situação constrangedora.



Eu tento pousar sempre em um local de fácil acesso para a equipe de apoio nos receber de forma tranquila, e preferencialmente também em local que não seja propriedade privada. Sempre procuro plantação aberta, já colhida, para evitar problemas com os proprietários. 


Tenho muita vontade de participar de um Campeonato Brasileiro de Balonismo, mas se você não tiver um patrocinador os custos se tornam inviáveis para qualquer planejamento. A logística é muito cara. Vai desde o deslocamento do balão, estadia, alimentação sua e no mínimo mais uma ou duas pessoas. Assim, é um sonho de todo o Balonista poder uma vez na vida colocar seu balão num campeonato Brasileiro. Já tive a satisfação de ser Campeão Sul Americano Brasileiro de Balonismo 



O que eu digo para essa juventude e para essa criançada é que nunca desistam dos seus sonhos. Nunca. Porque quando você pensa que não vai conseguir, vem uma pessoa, vem DEUS, e te empurra de novo e te diz "Vai que você consegue!!"  Nunca desista dos seus sonhos.




Eu agradeço muito a Deus por tudo que conquistei. Minha esposa e filhos pela família que temos. Aos meus pais pela criação que recebi.  Meu eterno agradecimento ao Luís Silvestre que cedeu meu primeiro balão. Minha gratidão ao Carlinhos, o Johnny do Balão, ao Luís Paulo e o Luís pelas suas contribuições para o meu brevê.













Show de caminhada


Ada Balonismo
Grande Xuxa