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Quais são seus Sonhos mais impossíveis de serem alcançados ?
Quantas vezes alguém lhe disse que se você acreditar, lutar, estudar e tiver fé irá conquistar seus mais impossíveis sonhos? Alguns tinham sonhos de se tornar médicos, pilotos, advogados e até mesmo astronautas quando crianças. E no decorrer dos anos seus desejos acabavam sendo esquecidos ou transformados em novas ambições.
Eu sou o João. Claro que comigo não foi diferente. Hoje com mais de trinta anos e casado com uma mulher maravilhosa também tive meus sonhos e com o andar dos anos foram se moldando com a minha realidade. Sou uma pessoa feliz. Porque mesmo com minha pouca idade já conquistei meu maior de todos os meus sonhos.
Mas o ser humano nunca para de sonhar, e quer mais e mais. Hoje, deixei de sonhar. Penso além do horizonte. Penso muito longe. Quero um Brasil melhor. Sou um idealista. Mesmo não acreditando que isso venha a ocorrer na minha geração e nas próximas. Nosso país irá precisar amadurecer décadas para chegar a um novo Brasil. Talvez nem venha a acontecer isso, porque o animal homem poderá ter destruído o Planeta Terra antes disso.
MEUS TRÊS SONHOS:
- Ter meu próprio negócio
- Ter um carro superespecial
- Morar numa ilha isolado do mundo
PRIMEIRO SONHO CONQUISTADO
O primeiro sonho que realizei foi o de ter conquistado o meu próprio negócio. Onde surgiu depois de muito apanhar da sociedade onde trabalhei. E suei muito para conquistar meu espaço. Para chegar até aqui, tenho que primeiro contar um pouco da minha história desde o início.
Eu trabalhei anos para os outros e nunca consegui juntar muito dinheiro. O máximo que consegui foi comprar um carrinho popular financiado praticamente sem entrada. Nunca tive preguiça de trabalhar, pelo contrário ralei muito na vida. Larguei minha profissão e a faculdade para ser barbeiro. Fui atrás e fiz cursos me especializando e depois procurei barbearias me oferecendo para trabalhar de graça para aprender e a maioria nem olhava para minha cara.
O barbeiro tem a função de cortar o cabelo e fazer a barba e acabou. Ele não lava cabelo. Eu estudei muito sobre essa profissão, e descobri que o único país que o barbeiro lava o cabelo é o Brasil. Quem faz isso é o cabeleireiro. São duas profissões diferentes. Também não faz pigmentação ou relaxamento no cabelo.
Fiz sociedade com uma pessoa que só me passou a perna, nunca vi a cor do dinheiro de verdade. Mas tudo isso servir de aprendizagem. Foi então que na cara e coragem que abri minha própria barbearia com apenas quinhentos reais na conta corrente e com mais cinco mil reais parcelados no cartão de crédito em doze vezes.
O meu primeiro ano foi um sufoco, o dinheiro entrava e ia pagando o aluguel, o cartão e todas as despesas. Foi na crença mesma. Eu acreditava que daria certo. Levantava todos os dias e trabalhava sem medir esforços. E a cada dia o movimento ia crescendo, novos clientes chegando e a minha alegria aumentando.
Com o tempo me tornei um dos melhores da cidade e abri o meu próprio estabelecimento. E essas mesmas barbearias que muitas vezes me disseram não, agora me convidavam para ser o gerente delas. Passei a ser barbeiro tradicional europeu com cortes clássicos. Deixei de fazer os cortes de mesmismos que são aqueles com risquinhos e outros que todos sempre faziam.
Em pouco tempo minha barbearia passou a ser conhecida na cidade como a "Barbearia dos Milionários", por causa dos carrões que viviam estacionados na frente. Era a única com atendimento personalizado, com pontualidade absurdamente britânica.
Eu não atrasava um minuto sequer. A barbearia funcionou durante oito anos, quando eu falei que iria fechar o pessoal queria bater em mim porque eu chegava a atender trezentos clientes no mês, enquanto as outras atendiam de cem a duzentos clientes.
SEGUNDO SONHO CONQUISTADO
Já senti preconceito por pessoas simplesmente porque eu andava de ônibus. Imagina que asneira isso. Como um ser humano consegue marginalizar outra pessoa só porque ele não tem um automóvel? Olha como chega à futilidade das pessoas. Depois que adquiri um carro esportivo, o Lancer Evolution da Mitsubishi essas mesmas pessoas se aproximaram.
Dizer o que? Falsidade ou hipocrisia? Pior ainda era eu chegar aos eventos bem antes da hora e deixava estacionado o carro e casualmente saía para caminhar. Quando retornava ninguém me dava atenção, mas era só entrar no carro que virava a atenção de todos e se voltasse a sair dele, acaba sendo paparicado por alguns. Como pode isso acontecer?
Nunca fui de me preocupar em me vestir com padrão o padrão da sociedade e com marcas descoladas. Foi quando percebi que as pessoas que ficavam me olhando feio, como se estivesse ali para roubá-las começaram a me olhar de outra forma. Quando chegava perto do carro e abria, tudo mudava, elas chegavam perto e só faltavam me dar um beijo. Isso tudo ajudou a concretizar que eu não fazia parte desse mundo falso.
As pessoas olhavam meu automóvel e sei lá o que imaginavam. E se meu sonho fosse um fusca velho? Que preconceito de "merda" que nossa sociedade vive. Agora por estar num carro que tem poucas unidades no Brasil e chama a atenção então passo a ser uma pessoa do bem? Pura hipocrisia de uma sociedade preconceituosa.
Esse carro era meu sonho desde moleque, era dirigido pelo ator Brian do Filme Velozes e Furiosos. O Lancer é uma lenda automobilística que marcou toda minha geração no Brasil e no mundo ocidental. Quem é entusiasta por automóveis esportivos, de alta velocidade ou por ralis com certeza o conhece.
É um verdadeiro sonho de consumo não só pela sua destreza que mostra no filme, mas também pela sua potência, tração nas quatro rodas e principalmente no design agressivo. Ele é um ícone no seu nicho automobilístico e por onde passa não tem como não despertar a atenção de todos.
A gurizada toda era apaixonada por ele porque estava também no vídeo game. Era como uma criança querer ser astronauta. Jamais acreditei que iria conquistar esse sonho. Na realidade só consegui conquistar porque um grande amigo me vendeu pela metade do que realmente ele valeria.
Ocorre que ele não queria se desfazer do automóvel, e como ele sabia do meu sonho e tinha conhecimento que eu era muito cuidadoso com minhas coisas e assim acabamos realizando o negócio.
O carro era como se fosse zero. Comprar esse carro foi uma realização sem limites, principalmente porque eu o conquistei com meu trabalho na barbearia, com meu suor. Não ganhei ele de ninguém de mão beijada, nem do papai ou da mamãe. Pelo contrário, foi com muito esforço e muito trabalho duro meu.
Isso foi tão surreal, que quando eu comprei, descobri que tudo é possível e que não existe nenhum sonho que não podemos alcançar. Ou seja, se podemos sonhar, então podemos conquistar. Esse carro era meu sonho acordado durante muitos anos. E isso foi a prova que tudo na vida é possível. E isso hoje a minha maior motivação de nunca desistir de todos os meus novos objetivos.
Toda vez que dirigia o Lancer era como se fosse a primeira vez. Era voltar ao meu sonho de criança. Só o fato de entrar e se sentar nele era fantástico. Agora ligar ele, escutar o som do seu motor, eu fechava os olhos e era como estar no filme. Só quem é apaixonado por esse carro pode compreender o que estou falando. É a mesma paixão de quem ama uma Ferrari.
Aliás se um dia vier a acontecer de ganhar na mega sena a primeira coisa que irei comprar será ele de novo. Foi muito dolorido ter que vender, mas o que me conforta foi a razão de sua venda, onde foi a concretização de um sonho maior. A nossa mudança para a ilha. Ainda sonho com ele muitas vezes a noite e ele está na proteção de tela do meu celular.
TERCEIRO SONHO CONQUISTADO
Para conquistar meu terceiro sonho, fui obrigado a renunciar à barbearia e do meu carro, até porque por mais que gostasse deles, o terceiro representava mais minha realidade e precisaria de dinheiro para conquistar a minha mais profunda conquista. E foi muito difícil abrir mão do carro que foi o sonho da minha vida toda por um novo sonho. Quando criança havia morado no litoral e sempre tive o desejo de retornar a essa vida. Mas na verdade o que me fez tomar essa decisão foi a hipocrisia da sociedade.
Eu tive um cisto nas cordas vocais decorrente de estres, fiquei muito tempo sem poder falar uma única palavra. E foi aqui na ilha que consegui recuperar minha saúde, apesar de saber que ele não tem cura.
Ocorre que tinha um hotel para cachorro irregular ao lado da minha casa, que também era o local da barbearia. Primeiro tentei de forma amigável resolver o problema, depois através de recurso com a Prefeitura que foram interditados, mas como ganhavam tanto dinheiro continuavam muito dinheiro continuava trabalhando.
Então recorri a Fórum Judicial e ganhei a sentença. Mas inacreditavelmente o fiscal apresentou um laudo que as atividades estavam suspensas, mesmo com toda a cachorrada dentro do hotel. Então, houve uma discussão minha e eles chamaram a polícia e eu apresentei a sentença e a polícia registrou o fragrante do descumprimento da ordem judicial proibindo guarda de animais.
Depois disso, o imóvel foi vendido para uma construtora construir um edifício e tudo virou um caos ao redor. Dois imóveis ao nosso redor desabaram, o nosso imóvel foi interditado e tivemos que desocupar às pressas. Fechamos a barbearia e então decidimos realizar nosso sonho e ir morar numa ilha.
Naquela época eu tinha um ótimo faturamento na barbearia, poderia ter reaberto em outro local, mas depois de refletir muito cheguei à conclusão que não pertencia a esse mundo cão. Fomos massacrados pela sociedade capitalista do dinheiro, simplesmente fomos expulsos de nossa casa com uma mão na frente e outra atrás. Ninguém da construtora se preocupou comigo e com os demais moradores que foram despejados de suas casas em razão da obra que eles estavam construindo.
E teve outras várias situações como essas. Certa vez havia comprado um carro usado numa loja e no mesmo dia depois de ter andado alguns quilômetros o carro fundiu o motor. Voltei na loja e o proprietário disse que não tinha garantia e o problema era meu e que eu procurasse a justiça.
Mandei arrumar, gastei quinze mil reais. A perícia foi realizada a mais de três anos onde seu parecer foi favorável a mim. Mas até hoje não houve um desfecho final da causa. Então, as coisas são assim. E foi por isso, que abandonei tudo e fui embora. Eu hoje não acredito mais no animal homem.
Mas voltando ao meu sonho e como é morar numa ilha. Vou contar como é morar numa ilha. Como é mudar os conceitos desde que você nasceu. É a mesma coisa que ter que reaprender a escrever com a outra mão.
É mudar a forma de viver. É mudar a forma de pensar. É sair da caixa. É mudar todos os conceitos que você aprendeu desde que nasceu. É reaprender a viver. É trocar totalmente de vida. Não é apenas trocar seu C.E.P. Vou lhe explicar melhor o meu terceiro sonho conquistado. E então, você reflita sobre sua vida.
Morar isolado numa ilha no meio do oceano. É uma outra realidade que as pessoas jamais se imaginariam vivendo assim no seu dia a dia. Eu e minha esposa que construímos não só a nossa casa, como tudo o que precisamos para viver na ilha. Como por exemplo a estrutura da energia solar, a água que vem da nascente. Vivemos isolados do mundo. Na ilha habitam menos de cem pessoas. E nós ainda vamos ao continente uma vez por mês para fazer as compras essenciais.
Agora imagine você deixar de morar no seu apartamento no meio de uma metrópole, trocar todo o seu ritual frenético para ir e voltar ao trabalho com o trânsito enlouquecedor com quilômetros de engarrafamento ou ônibus e metrô com pessoas saindo pela janela por uma casa no meio da mata.
Sem vizinhos, apenas uma vilinha a um quilômetro, sem carros, com apenas uma trilha e algumas pequenas pontes para atravessar a cachoeira para chegar até a minha casa. Aliás meus vizinhos são a natureza em abundância, sendo a flora e a fauna, e o mais eu iria querer.
Me sentia frustrado e querendo uma coisa que não tinha que era a natureza. O rico é que trabalha a vida toda para quando ficar velho ter uma casa na beira do lago. E o pobre é o que mora nessa casa na beira do lago. Então, eu acho que é muito controverso a felicidade que as pessoas têm.
Hoje eu sou muito mais feliz que em muitas outras épocas da minha vida. Estava iludido na cidade ganhando bem, conquistando o carro que eu queria, mas lá no fundo em nenhum momento deixei de lado o sonho de voltar para a natureza. Me confortava com o luxo de viver na cidade.
E por outro lado, eu vejo pessoas passando as suas férias felizes e nos últimos dias sofrendo porque terão que retornar ao seu mundo real e voltar a trabalhar doze longos meses. E eu era assim. E felizmente eu tive a coragem de me libertar. Acredito que tudo que as pessoas são influência de uma lavagem cerebral que parte da televisão, da internet e do meio.
E não adianta querer mudar o sistema, é tudo muito antigo, muito enraizado, muito complexo. Cada pessoa tem que fazer suas escolhas, mesmo que certas ou erradas. Até porque o certo de que eu escolhi, para as outras será o errado.
Algumas pessoas podem até imaginar que sou fruto perdido de uma sociedade complexa que não teve oportunidade de estudar ou que não conseguiu um bom emprego. Que acabou revoltado com a sociedade e vim me isolar aqui na ilha. Outros podem estar imaginando que eu seja um homem da caverna. Vivendo ainda na era de uma fogueira no chão. Tomando banho só quando chove. E com um pedaço de pau na mão. Eu acho até engraçado isso.
E não é nada disso mesmo. Pelo contrário, para alguém tomar uma decisão como eu tomei tem que ter muita coragem. Muita consciência das consequências. Tem que ser uma pessoa que conhece processos e metodologias.
E como vim morar com minha esposa, temos que confiar muito um no outro. Chegar até aqui não é para qualquer um. Isso não é uma brincadeira ou um programa de televisão que você fica um mês e vai embora. Isso é um objetivo de vida. E já estamos a mais de um ano morando aqui.
Para estar aqui numa ilha isolado com sua esposa tem que ser um casal muito unido. Não é apenas coisa de amor. É mais que isso. É interagir nos princípios de vida. É renegar muita coisa mesmo. E por outra lado tem que ter muito amor e parceria.
Estar aqui é sinônimo de trabalho. É acordar cedo e trabalhar muito. Não estamos numa colônia de férias. Estamos construindo um novo conceito de vida. Aqui não tem quem irá consertar o telhado numa chuva de granito ou num temporal. Ou se houver um problema na energia solar. Quem tem que fazer tudo somos nós dois.
Morei um ano na Europa, especificamente na Alemanha e na Espanha. Lá as coisas funcionam tudo direitinho. As pessoas atravessam as ruas somente nas faixas de segurança. Brasileiro não dá certo na Alemanha. Se você atravessa fora da faixa de segurança e uma senhora vê, é como se tivesse assaltado um cidadão.
Lá não tem o jeitinho brasileiro não. Furar a fila. Misericórdia. Essas coisas de brasileiro isso não existe. Passar num sinal vermelho nem pensar. Seja de dia ou a noite. São coisas que não acontecem. Lá é uma sociedade adestrada. As pessoas são robotizadas para cumprirem as leis. As pessoas não interferem na vida das outras em lugar nenhum.
O próprio sistema escolar alemão é diferente, onde a partir da quinta série o aluno já pode escolher sua profissão. Todo tem as matérias básicas, porém o assunto abordado nas matérias é conforme sua escolha. Seja arquitetura, engenharia, marcenaria. E quando termina o terceiro colegial recebe um diploma técnico apto a trabalhar no mercado, assim não precisa cursar uma faculdade. E claro quem quiser pode seguir pelo caminho da escola tradicional.
Enquanto isso aqui no Brasil, os professores recolhiam meus desenhos, me retiravam da sala de aula ou era chamado minha atenção quando eu desenhava meus carros em algumas aulas que não me interessava. Sempre tive uma vocação artística. A escola sempre me travou. E por ironia virei Designer de carro e a maioria do que me ensinaram nunca apliquei em nada.
Tenho formação superior em Designer que foi influenciada por meus pais, por acharem que por eu gostar de desenhar automóveis quando criança essa seria minha profissão. Trabalhei três anos como designer de carros em duas montadoras estrangeiras em São Paulo.
Na primeira trabalhei como estagiário sem remuneração. Fui o primeiro da turma a conseguir um estágio. A empresa era a três quilômetros da faculdade e eu ia sempre de skate mesmo que estivesse chovendo e em trinta minutos estava no local de trabalho.
As vezes uns colegas me ofereciam carona e eu aceitava. E me diziam por que eu não pedia a eles. Então, lhes respondia "Ué, tenho pernas, tenho saúde, tenho trabalho para ir. Qual é o problema ?" Eu percebia que eles não me compreendiam, estavam numa bolha. Na verdade, fui eu que nasci num ambiente diferente dos deles. Eu não era filho de papai, não tinha uma mesada de vários salários-mínimos por mês, não tinha ganho do papai carro zero e nem apartamento.
Sempre gostei de velejar na escolinha da prefeitura de graça e andava muito de Bike. Participei de muitos campeonatos. Meu meio de transporte sempre foi a bicicleta até os meus vinte e quatro anos, quando eu comprei meu primeiro carro. Tudo que eu tinha era batalhado, e nem adiantava querer explicar. Eu era o peixe fora do aquário.
Nunca ganhei mesada. Minhas roupas sempre foram sem marcas. Tive uma vida muito boa. Tive riquezas que poucos tiveram, que foi o contato com a natureza e qualidade de vida. Jamais me prendi a coisas materiais ou a não ganhar certas coisas. Ganhava de meu pai muito jogo de montar Lego. E até hoje eu gosto de montar.
Enfim, conclui a faculdade e nesse primeiro estágio eu só recebia o vale transporte. Depois fui trabalhar na segunda montadora internacional ganhando bem como estagiário. Foi quando eu descobri que não era essa vida que eu queria. Eu olhava as pessoas trabalhando lá dentro. Todas muito viciadas ao trabalho. Todos pareciam robôs. Comecei a olhar a sociedade em geral, as pessoas indo e vindo. Tudo muito robotizado a vida numa sociedade de concreto.
E você tem que ter coragem, muita coragem. Para rasgar o diploma que acabou de conquistar e pedir demissão não de um emprego, mas de um provável futuro promissor. Mas foi o que eu fiz.
Comecei a trabalhar de Free lance em atividades aleatórias como barman, como garçom a noite, como promotor em feiras e convenções, como modelo de fotos, como figurante, em comerciais, até comerciais políticos, vendia cigarros em festas numa bandeja. Cheguei a ganhar um bom dinheiro. Foi quando tentei fazer sociedade com algumas pessoas, mas só levei a pior, porque a hora que o dinheiro era para aparecer ele sumia por passe de mágica.
Então, você ainda acha que isso é uma aventura de dois jovens que estão na casa dos trinta anos e que resolveram brincar ? Que não tinham nada a perder e vieram parar numa ilha como num jogo de cartas ? Nós abandonamos uma vida confortável de classe média alta. Deixamos tudo para trás. Nossa casa, com o conforte de eletrônicos e eletrodomésticos, nosso carro e toda a parafernália tecnológica. Acima de tudo deixamos nossas profissões. E fizemos isso por uma aventura? Claro que não! Fizemos porque acreditamos em nosso conceito de vida.
Além disso, conscientemente ou não, fomos nos preparando para isso. Realizei vários cursos técnicos como torno, fresa, elétrica residencial e de carro, eletrônica, entre outros cursos. Tenho o hobby de Ferreomodelismo, comprei um trem alemão na escala Z, que era a menor que existia na época que é 1 para 220 que não foi nada barato algo em torno de R$ 1.400,00 e venho sem funcionar.
Em outra oportunidade comprei um trem que chegou todo travado, as rodas nem rodavam por maus cuidados e os trilhos tudo quebrado e o vendedor me garantiu que estava em perfeito funcionando, pois havia testado. Ou seja, mais uma vez a sociedade mostrando que existem comerciantes praticando de técnicas desleais.
O Brasil tem um longo caminho para aprender e expurgar esse tipo de comércio que só pensa no feijão de arroz de hoje. E não pensa no impacto negativo de sua imagem. O Ecommerce é uma realidade no Brasil e em 2023 faturou quase 200 Bilhões de reais e o sistema de compra pela internet irá mais cedo ou mais tarde expurgar esse comércio que não tem respeito e ética. Infelizmente o Brasil de hoje ainda vigora o pensamento de ganhar a todo custo.
Enfim, restou-me como consolo nunca mais comprar desses fornecedores, comentar com muitos amigos o ocorrido, e eles disseram que já também já tiveram problemas com eles também. E por fim como tenho a vocação por consertar as coisas eu mesmo resolvi os problemas.
Deixei de assistir televisão, ver telejornais e toda a sua programação em 2014, muito tempo antes de vir morar na ilha, porque acredito que as pessoas são manipuladas e o sistema controla toda a sociedade. Hoje eu não sei o que está acontecendo no mundo e nem quero saber. Para mim tudo é uma enorme bobagem. Vejo o mundo como uma enorme futilidade. E entendo que a sociedade não tem consciência da realidade.
Assim hoje já não gosto de conviver com pessoas. As pessoas atualmente estão mais preocupadas em consumir tudo. Tudo que veem pela frente. Perderam a consciência que esse consumismo desenfreado está acabando com o nosso planeta. Quanto mais consumirmos energia dentro de nossos lares, mais os governos terão que gerar energia e uma hora isso vai acabar.
Uma hora o petróleo, a energia, as geleiras, a água doce, as reservas de carvão, as florestas, e tantas outras coisas irão acabar gradativamente. As pessoas e o governo não têm consciência disso. O desperdício inicia numa simples análise pare e olhe ao seu redor agora e me responda:
Quantas lâmpadas a sua casa tem atualmente e quantas tinha a trinta anos atrás? E precisa tem tudo isso? Agora calcule quantos habitantes existem numa cidade e no mundo. Quanto lixo é gerado dentro de sua casa e vai para a natureza porque o Brasil ainda está longe dos índices internacionais de reciclagem.
Sei que sou inspiração para muitos amigos de verdade. Aqueles que realmente não estão interessados em saber que roupa estou usando, que carro eu tenho ou quanto dinheiro eu tenho. Eles acreditam quando eu falo que estava trabalhando na coisa errada, tinha capacidade de mais, pedi as contas e fiz mais.
Sempre ganhei dinheiro muito fácil. Porque para mim dinheiro não existe, são só números. Visto que se todas as pessoas forem ao mesmo tempo nos bancos sacarem seus dinheiros nos bancos, não irão sacar porque esse dinheiro não existe fisicamente.
No meu entender isso tudo é uma ilusão. Além do mais dinheiro não se come! Desta forma eu gastei todo meu dinheiro até acabar em bens que são úteis para nós, como o barco e a casa. E tenho condições de viver independente da sociedade. E fiz tudo isso de forma a não prejudicar a natureza, a mangueira fica exposta sobre a terra, não cavei nada. Não usei cimento na captação da água, mesmo tendo que fazer periodicamente manutenção, mas nossa intenção sempre foi preservar a flora e a fauna.
Temos a nossa própria luz que é gerada através da energia solar, a água que vem da nascente, onde drenamos com 200 metros de mangueira que desce pelo mato, a partir de uma represinha que eu mesmo fiz com pedra e areia, mas que toda vez que chove muito forte tenho que ir lá e refazer. Essa nascente devagarzinho alimenta duas caixas d'água. Uma que serve para irrigação das plantas do jardim e a outra para atender a casa de uma forma geral.
Não sou hipócrita ainda estou no sistema porque uma vez por mês vou no mercado para fazer as compras mínimas, mas de contrapartida plantamos muitos dos alimentos que consumimos como batata, milho, verduras, legumes e outros alimentos. E assim estamos nos preparando para quem sabe no futuro sermos totalmente independentes. Eu acredito que as pessoas não são felizes, apenas acredito que sejam. São alienadas a achar que dependem de um sistema.
O melhor de tudo é que na ilha não tem carro nenhum. O máximo que tem são alguns quadriciclos. Hoje tenho o prazer de caminhar todos os dias com meu cachorro na trilha. Estou numa ilha isolado com minha esposa. Meu terreno é pequeno com uma área total de 1.300 metros quadrados. A casa nós dois construímos. Curiosamente, não gostamos de ir ao mar tomar banho. O que eu curto na verdade é mergulhar com a máscara e ver os peixes. Mas gostamos é de banho de cachoeira.
Nossa casa até o mar tem uma distância um quilômetro lomba acima e o transporte sobre rodas vai só até a metade do caminho. Assim, nos outros quinhentos metros são no lombo mesmo ou no carrinho de mão. Acabei desenvolvendo artrite em razão da obra, mas valeu a pena. Hoje temos a nossa casa com uma vista linda de frente para o mar, muita tranquila, reservada e principalmente isolada.
As vezes surgem aranhas medonhas, como a "armadeira" que é enorme do tamanho de uma mão aberta, só do tamanho eu já fico assustado. O pessoal da ilha comenta que elas são tranquilas, mas eu fico esperto. Sei que sua picada leva a uma dor enorme e insuportável e em alguns casos já levaram a morte. Duas vezes fui picado pela "aranha marrom" que é pequena, mas também peçonhenta e mais perigosa que a armadeira.
Tem os borrachudos aos milhões, que são uma espécie de mosquitos e que usamos repelente natural a base da erva citronela. Agora os mosquitos tradicionais é o problema porque não tem repelente natural para evitar eles, nem mesmo roupa, usamos meia de futebol e inacreditavelmente eles picam por cima, são danados porque picam pela fibra da roupa.
A nossa vantagem que eles somente têm a noite. Aqui não tem o mosquito da dengue. Também existem cobras e jaguatiricas, temos que compreender que estou no habitat deles.
É lindo de escutar as vozes da mata. E a mata tem voz? Claro que tem!!! São os pássaros que cantam durante o dia todo. São centenas ou milhares. Todos soltos e voando em toda parte. O canto do tucano é esplendoroso. O do papagaio maravilhoso. Tem centenas de passarinhos pequenos que nem imagino seus nomes. De cores diferentes. Aqui é comum voar bando de vinte ou trinta tucanos com bicos verdes voando, isso é lindo.
Tem pica pau da cabeça amarela e da cabeça vermelha, araponga, gavião, falcão, sabiá, pardal, tiê-sangue, jacu, macuco, maritaca, galinha do mato. Aliás, o que mais tem são as maritacas, elas fazem voos em bandos de duzentos, é lindo de assistir. Isso não tem preço. O dia inteiro elas então para lá e para cá. Tenho um privilégio de morar num santuário.
No passado o animal homem capturava os tucanos para cortar os bicos dos tucanos e soltava novamente. Imagina a dor que eles passavam e consequentemente não conseguiam mais se alimentar. Isto porque se utilizam do bico como ferramenta essencial para se alimentar. Um de seus principais alimentos é o ovo, então precisa do bico dentro do ninho para pegá-lo. Desta forma, frequentemente os demais pássaros vivem batendo nele no ar em rasantes por causa disso.
E temos o mar dentro da mata. O mar dentro da mata que invade nosso lar todos os dias e todas as noites com centenas ou milhares de vaga lumes e borboletas. Isso nem existe mais nas grandes metrópoles brasileiras. Tem pessoas infelizmente que jamais estiveram de frente com um vaga lume. E aqui temos enormes com a luz na barriga e outro menor com a luzinha na bundinha. São muitos, mas muitos mesmos e todas as noites ficam rodeando nossa casa e voando em por toda a parte.
As borboletas são diversas espécies e de várias cores e tamanhos. É uma nuvem linda com elas voando disputando seu encantando junto a beleza da natureza. Tem algumas de tamanho grande coloridas, médias e pequenas. De cores variadas como azuis forte metálico, brancas, amarelinhas, laranjas e tem até uma espécie que tem o número 88 em suas asas.
Também tem mariposas lindas verdes, brancas e transparentes. E inacreditavelmente existem pessoas que tem como hobby fazer coleção de borboletas, chegando a ter mais de cem mil exemplares catalogados com alfinetes, eu fico pensando como que pode o ser humano ter alegria de sacrificar um animal tão lindo simplesmente para satisfazer seu prazer.
Montei quatro armadinhas para capturar um enxame de abelhas, mas ainda não tive essa felicidade. Seria interessante ter uma caixinha de jataí que são nativas do Brasil e uma de suas curiosidades é que não tem ferrão e seu mel é muito saboroso, suave e levemente azedo. Seu tamanho comparado a abelha europeia é de aproximadamente de 10%.
Tínhamos um ratinho do mato que vinha dormir num canto de nossa casa onde guardamos algumas coisas como latas de tintas. Como não gosto de matar os bichinhos, cheguei a comprar uma ratoeira gaiola para capturar ele e depois soltar no meio do mato. Mas ele nunca entrou para pegar o pão que coloquei como isca.
Um dia entrou uma cobra caninana de três metros dentro de casa, pegou o rato e foi embora. Filmei ela quando saiu e nem se importou comigo. Outras cobras não peçonhentas que temos ao redor são a cobra d'água e a cipó. Agora peçonhentas temos as jararacas, jararacuçu, que já encontraram de seis quilos, a coral, tanto a verdadeira e a falsa.
E falando em mata no Brasil, não tem como esquecer dos macacos. Existem muitos ao nosso redor, principalmente o "macaco prego", que é de cor preta e cinza escura. Se alimentam de frutas, sementes, insetos, folhas e galhos novos e pequenos vertebrados. São muito inteligentes e rápidos, usam seu rabo para diversas atividades, estão sempre em grupos na mata. Existem também o "mico" e o "bugio", porém mais distante.
É espetacular viver ao lado da mata nativa, sentir o seu cheiro. Escutar o chirriar dos grilos e todos os ruídos da mata a noite e os cantos dos pássaros de dia. Poder olhar a noite para o céu e enxergar as estrelas, ficar encantado com a dança dos vaga lumes e dos beija flores.
Ter jardins de flores em árvores em todos os cantos, sem ter que passar a guilhotina capitalista para ter um buque de flor dentro de casa. Sentirmos o aroma da chuva caindo na mata. Podermos caminharmos descalços até a fonte de água e bebermos ajoelhados uma água cristalina, mineral e pura. Podermos plantar nossas verduras, legumes e frutas sem nenhum agrotóxico.
Temos um pouco de cada coisa em nosso pomar. A começar com um pergolado com maracujá, limão, goiaba, banana, cana de açúcar. Plantamos mais de 40 pés de abacaxis, mexerica, açaí, pitaia, fruta pão, batata, mandioca, Pancs (Plantas Comestíveis Não Convencionais) como a taioba, ora pro nóbis. Temos até um pequeno moedor de cana.
É essa realidade que viemos buscar. Fugimos da cidade do concreto, do ruído das buzinas, da correria, das pessoas que não tempo mais para viver. Apenas trabalham, correm, assistem jornal, novelas e algum outro programa inútil e dormem. Esquecem que a vida é muito mais que isso. As pessoas estão vegetando num planeta artificial do consumismo. Criado para estarem nesse processo vicioso.
Por outro lado, devem pensar que quem mora numa ilha deve passar a vida toda de férias. Devem acreditar que eu passo o tempo todo apreciando o mar, as ondas, surfando, comendo uma bela refeição com uma cerveja gelada ou fazendo pesca submarina. Pelo contrário, nossa vida aqui é muito corrida.
Temos que ficar sempre atentos a tudo e sempre trabalhando em algo. Por exemplo agora estou trabalhando na rede elétrica tentando deixar mais eficiente o sistema solar. Pois descobri que terei que trocar trinta metros de fiação da rede por um fio mais grosso.
Aqui só tem uma pessoa para fazer isso. E essa pessoa sou eu. Aliás, tudo tem que ser feito por mim e pela minha esposa. É assim que funciona. Se não fizermos o que tem que ser feito hoje, os trabalhos irão se acumular em dois, três, ..., dias, meses. Aqui não existe 0800 para chamar o eletricista, o pedreiro, o mecânico. Muito menos Habibs, tele pizza, tele farmácia ou tele qualquer coisa. Aqui só tem Tele EU e Tele ESPOSA.
Os trabalhos deverão ser realizados durante o dia, porque é a hora que temos para fazer tudo, aproveitando a iluminação natural do sol. Assim, durante o dia ficamos em desligados. Não é qualquer pessoa que pode aceitar essa proposta de vida. Essa decisão tem que ser muito bem estudada por muito tempo. Isso leva tempo. Envolve maturidade do comportamento humano. É aprender a abdicar de coisas que estamos viciados no nosso cotidiano e analisarmos se elas realmente refletem os nossos valores.
Curiosamente apesar de nunca ter realizado algum curso de energia solar, sempre fui apaixonado por essa tecnologia, sempre achei bizarro uma energia que surge digamos do nada. Quando morei na Alemanha cheguei a ganhar de meu pai um pequeno protótipo.
Apesar de ter realizado vários cursos de elétrica, eu era na verdade totalmente cru, isso quando tivemos que optar em ter nosso próprio sistema de energia solar, ao do oferecido pela Prefeitura. Não tinha conhecimento nenhum essa era a verdade. Hoje compreendo que as pessoas só aprendem errando. Assim, gastei muito dinheiro desnecessariamente porque tive que trocar equipamento, tive que aumentar a capacidade da placa.
A grande questão é que quando é feito o cálculo para a compra dos equipamentos não é considerado os dias nublados, e isso é grande diferença. Hoje com as melhorias que eu fiz, eu tenho o dobro de placas que o meu sistema precisaria. Desta forma, nos dias de chuva eu tenho geração de energia quase que normal que um dia de sol. Porém essa informação em precisava saber quando eu fiz o investimento inicial, teria poupado dinheiro e tempo.
Esse conhecimento eu vim a aprender através de pesquisas na internet e com um grande amigo piloto de avião, a partir do momento que comecei a ter problemas de falta de energia nos dias e semanas nublados e de chuvas. E isso faz diferença? Claro que sim, por exemplo no verão as placas das baterias são carregadas das 08:30 da manhã até as 18:30 da tarde com sol nas placas. Já nos dias ruins do inverno com sol é das 10:30 às 15:30.
Mas hoje eu tenho o melhor sistema solar da ilha, com ótima eficiência e funcionam muito melhor em dia nublado. Tem moradores que tem o dobro e o triplo de placas solares e não conseguem segurar a demanda como o meu segura. Por exemplo eu ligo simultaneamente à internet, a máquina de lavar, a geladeira, som e ainda uma cascata que fiz numa cachoeira artificial e a minha energia solar segura. E devo muito isso a esse meu amigo piloto que muitas dicas me deram, porque ele também tem um sistema solar em sua propriedade.
Posso dizer que mudar de vida é o mesmo que deixar de fumar. A pessoa tem que ter muita força de vontade. Você está viciado em tudo o que o dinheiro lhe proporciona. Por exemplo as pessoas atualmente não precisam mais cozinhar, num piscar de dedos estão com a comida na porta de casa ou do micro-ondas. Deixar o conforto do seu elevador e do seu carro. Você está viciado no controle remoto da sua casa, quando ele desaparece você quase que surta atrás dele, não é verdade.
Agora pense, você morar sem seu ar-condicionado digital, sem sua cafeteira elétrica, sem sua cervejinha estupidamente geladinha, sem as TVs de sabe lá quantas polegadas espalhadas pela casa. Sem falar na segurança que você tem na sua portaria e com a doméstica que faz os serviços cotidianos no seu lar.
E qualquer coisa que tenha estragado dentro de casa é só botar fora e comprar outra na internet que é entregue em poucas horas. Aqui não funciona assim. Estragou nós temos que arrumar! Queremos comer, nós temos que plantar, regar, colher, cozinhar para então comer.
A pergunta é simples: Você estaria preparado para largar o vício do dinheiro ? Largar todo o conforto que o dinheiro lhe proporciona ? Então voltemos ao início da minha história. Chegamos à conclusão que para estar aqui, a pessoa tem que ser muito corajosa! Tem que ser muito centrada em seus objetivos e ter certeza que aqui é a melhor de vida. Eu e minha esposa tivemos essa certeza. Já passou mais de um ano e a cada novo dia, reafirmamos nossas convicções.
Minha experiência de morar na Alemanha me fez ver um outro mundo até então desconhecido. Como o Europeu é civilizado. Lá as coisas são muito perfeitas e funcionam tudo direito. Por exemplo o pedestre não atravessa a rua fora da faixa, imagina brasileiro atravessar fora da faixa, isso não funciona no Brasil. É outra cultura. Para eles isso é um escândalo. Passar num semáforo vermelho é como se o motorista tivesse assassinado alguém. É uma outra sociedade.
Sou muito semelhante ao alemão, muito individualista. Tem que existir o respeito mútuo entre as pessoas, mas não existe a compaixão. Eu sou contra ficar ajudando os outros. Nunca ajudei os outros, até porque nunca aceitei ajuda. No meu entender é cada um por si e pronto. Se acontece um desastre na minha vida, ninguém me ajuda e porque tenho que colaborar com os outros? Se alguém me ajuda, eu faço questão de me pagar ou retribuir o favor.
Não gosto de ficar devendo nada para ninguém. Sou uma pessoa muito precavida, por exemplo tenho até o soro antiofídico de cobra em casa para uma emergência. As pessoas devem pensar em tudo antes do incidente, porque depois só dá para chorar. O problema que aconteceu com meu telhado? Não fui prudente o suficiente! Paciência! Agora redobrei toda a estrutura. Agora se arrancar o telhado, acho que irá toda a casa junta.
Acredito que tornou muito fechado e muito sério para a sociedade foram as próprias pessoas. Hoje não acredito mais no coletivo. Levei muita rasteira nessa minha vida. De tudo que foi forma e de tudo que foi lado. Isso me deixou muito chateado, realizei muitos negócios de boca a boca com amigos e só levei rasteiras. Com o tempo fui me fechando para o mundo. Descobri que era assim que funcionava. O mundo da internet tem muita ilusão, tem tanta enganação.
Comprei tanta coisa que pagava muito caro por ser de primeira qualidade e quando recebia, descobria que eram umas verdadeiras porcarias falsificadas. Ia reclamar e acabava recebendo meu dinheiro depois de perder muito tempo ou sendo expulso da plataforma. Isso me incomoda muito, esse vício que a sociedade tem de passar a perna umas nas outras. Hoje não faço mais negócio com mais ninguém, absolutamente ninguém. Não racho nem a conta de um restaurante.
Mas como que surgiu a ideia de morar numa ilha? Foi assistindo a algum filme no cinema ou na televisão? Claro que não! Ocorre que eu nasci numa ilha, simples assim. Eu tive a oportunidade de experimentar a vida numa ilha, numa cidade média, de morar em São Paulo, em Campinas, na Alemanha e na Espanha. Já trabalhei muito na vida. Inclusive já virei a madrugada trabalhando.
Na minha infância o único brinquedo era a bicicleta. Nunca tive um vídeo game, autorama e esses outros brinquedos daquela época. E nem senti falta. Eu brincava no mato e na praia mesmo. Eu fui caiçara de uma praia muito maior. Eu praticamente saia de manhã e só voltava a tarde. Comia frutas no mato e brincava com meus amigos. Eu era meio biólogo. Sempre gostei de plantas e bichos. E voltava para casa carregando plantas e incrivelmente até hoje eu faço isso.
Nasci e cresci no litoral, quando o turismo era restrito as épocas festivas. Bem diferente dos dias de hoje. As pessoas que frequentavam as praias respeitavam muito a natureza. Bem diferente dos tempos atuais, em que todos os finais o nosso litoral é invadido por turistas do Brasil inteiro.
Como herança deixam toneladas de lixo espalhadas nas areias e no mar, prejudicando a flora e a fauna. Não só isso, cada vez mais os morros e encostas são invadidos por construções irregulares e clandestina destruindo tudo o que tem pela frente. E somente são lembrados pelas autoridades e pelos meios de comunicação a cada desastre de desmoronamento, quando ocorrem dezenas de mortes trágicas.
Hoje enxergo essa invasão desenfreada sem limites uma enorme futilidade do animal "homem" que busca apenas a satisfação dos seus desejos, sem analisar as consequências de seus atos para a natureza que o cerca. São simples detalhes que iniciam de jogar ao mar ou na areia um pedaço de plástico ou uma garrafa pat. Hoje se eu for caminhar numa praia tradicional como as de São Paulo ou do Rio de Janeiro irei passar mal ao assistir as pessoas com a maior naturalidade descartarem na areia seus resíduos.
O planeta já está cobrando o que o homem está fazendo com a natureza. A geleiras estão derretendo. A cada ano a temperatura aumenta. O clima no Brasil por exemplo é um bom exemplo disso. Cada vez são mais frequentes as enchentes e secas em todas as regiões. Eu sempre tive o conceito de não massacrar o meio ambiente. Não uso detergente, uso sabão de cocô.
Aqui na ilha eu não queimo o meu lixo, as minhas podas de plantas eu transformo tudo em adubo, eu comprei o nosso biodigestor para o vaso sanitário, o qual ele é totalmente selado e dessa forma não contamina o solo e purifica 95% da água e depois do biodigestor o conteúdo vai para o sumidouro que é composto por uma bateria de plantas que filtra a água, como bananeiras, bambus e por fim taiobas.
Um dos maiores recursos da natureza são as folhas e galhos que caem das árvores. E as pessoas descartam isso, pior ainda muitos fazem queimadas. O solo da mata é extremamente rico exatamente em virtude dessa decomposição que a própria floresta no transcorrer dos anos realiza.
As árvores têm a capacidade de extrair lá do fundo nutrientes que não tem na superfície, que na verdade são gerados através de décadas e até de milênios dessas mesmas folhas que vieram a cair e apodrecer uma atrás da outra. Formando assim, milhões de informações. Quando a árvore morre, toda a sua história está armazenada ali. Se é queimada, toda essa informação é levada para a atmosfera. Assim, tudo é adubo.
Aqui na ilha planto mamona, simplesmente pelo fato que ela cresce muito rapidamente e serve de adubo natural. Ela cresce e eu podo para virar adubo. Outra informação importante de ser explicado somente é adubo fezes de animais herbívoros. Dessa forma dejetos de gatos, cachorros e até de pessoas não servem para adubar.
E cultivamos também plantas aquáticas, não só para beleza, ocorre que elas retêm muita umidade, mesmo depois de mortas, assim as coloco ao redor das árvores frutíferas, porque ficam como uma esponja e quando chove consegue reter umidade, e assim eu não preciso no verão molhar as árvores diariamente e poupo as cachoeirinhas naturais.
A ilha proporciona uma imensidão de oportunidades que um morador de um apartamento já não tem. A começar pela variedade de árvores frutíferas que temos, a nossa horta que sempre estamos ampliando. E o litoral possibilita a pesca a vontade. Porém no nosso caso, não somos adeptos a alimentação animal.
Aliás desde pequeno sempre rejeitei a carne bovina, mesmo minha mãe sendo paulista e tendo sua criação que se a criança não comece carne iria ter algum problema, não iria crescer ou desenvolver corretamente. Toda sua família é carnívora. E eu desde pequeno já tinha vomitava quando comia. Fui a médicos e concluíram que meu organismo não era adaptado. Assim, acabaram desistindo de me forçar a comer carne.
A vilinha tem um posto de saúde, tipo um pequeno hospital, que entendemos que é muito melhor morar aqui e ter esse pequeno posto de saúde que morar no continente e ter toda a estrutura hospitalar. Porque aqui não existe fila para atendimentos. O morador chega e é atendido imediatamente. E por outro lado é muito difícil as pessoas ficarem doente.
Por exemplo na pandemia até houve casos de Covid, mas ninguém foi hospitalizado, acredito que isso em razão da qualidade de vida, de sua alimentação e do contato com a natureza reagiram muito melhor com a doença. O maior problema ocorre quando é realizado a limpeza das caixas d'água pública da vilinha. O posto de saúde tem uma enfermeira que fica aqui na ilha. E um médico clínico geral comparece uma vez ao mês aproximadamente.
Eu não vou no médico, não tomo vacinas. Nada a ver com questão política. Tive algo parecido com covid, cheguei a ficar ruim a ponto de não conseguir levantar da cama e se eu levantasse eu caía no chão. Por outro lado, eu perdi meu sogro supostamente por covid, meu padrinho morreu no hospital por covid também.
Então eu penso o seguinte: se é para ir para o hospital e morrer, então vou morrer em casa e não morri. Eu me trato com gengibre, folhas de amora, de goiaba e muitas outras plantas e estamos vivos. A medicina está na natureza.
Tem uma escola para as crianças até o ensino médio, com toda a estrutura como biblioteca, área de esportes. Na ilha não tem policiamento, mas não existem crimes, apenas pequenos delitos como furtos. Todos sabem os cuidados que devemos ter. Por exemplo estamos levando nossas compras morro acima e não dá para levar tudo de uma vez podemos deixar tudo no meio da trilha e ninguém irá mexer.
Posso deixar a minha bicicleta na beira da praia e nadar durante o dia. Material de obra posso deixar no meio do caminho durante dias, semanas que ninguém irá furtar. Somos uma comunidade pequena e todos se respeitam e as coisas funcionam, cada um cuida da sua vida.
Nosso barco na ilha fica em cima de uma carreta, como dos demais habitantes que ficam na praia sem problema nenhum, mas se você deixar uma ancora de inox, provavelmente será furtada, mas ninguém vai lá roubar o seu motor. Só deixamos o motor, a bateria, a ancora de cinco quilos de ferro e os coletes.
Uma vez esqueci de recolher a outra âncora de inox que pesa dois quilos e ficou vinte dias, quando voltei ela estava lá direitinho. No primeiro mês percebi que mexeram nas almofadas e nos compartimentos internos, que estavam todos abertos, abriram para ver se tinha algo dentro escondido. Mas agora, não bulem mais em nada porque já descobriram que não deixamos nada.
Quando vamos ao continente deixamos atracado no mar, na frente de uma associação de pescadores, junto de outros barcos de pescadores, onde são descarregados os peixes. Tem pessoas que deixam durante dias, eu nunca tive coragem de deixar, acho muito arriscado e fácil de ser furtado. É só uma pessoa, embarcar, ligar o motor e ir embora.
Imagina no outro dia eu chegar e não ver o meu barco. É só chorar. Roubam carro que é emplacado e tem toda uma burocracia e na maioria das vezes jamais o encontram, agora imagina um barco no meio do oceano, sem viaturas e sem policiamento. Nunca mais vou ver ele de novo. Durante o dia deixo tudo com ele, remos, tanque. Deixo-o boiando.
Fica com duas ancoras, uma na frente e outra na areia. Fica com a frente apontada para o mar. Por outro lado, o tempo pode mudar a noite e acontecer um temporal dos brabos, e já aconteceu de o pessoal ter que correr de madrugada para a praia e teve até barcos avariados seriamente e até houve um caso de um veleiro foi parar na areia totalmente fora d'água.
O barco foi estratégico em nossa mudança e construção da casa. Na ilha fica na carreta, na areia da praia e ninguém mexe. Não existe transporte público da ilha para o continente. Existem pessoas que fazem esse serviço, cobram em torno de R$ 200,00 por pessoa por cada viagem. Para transportar mudança ou material de construção o valor varia de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00.
Eu paguei em torno de R$ 40.000,00 pelo barco a dois anos atrás, com onze horas de uso, praticamente novo e eu nesse tempo naveguei mais noventa horas. Hoje avalio em trinta mil reais. Houve uma desvalorização, mas valeu a pena ter investido. Atualmente, já não é mais tão estratégico, visto que vou muito pouco ao continente, mas não vou vender barato, e as pessoas desvalorizam muito para comprar e oferecem muito pouco por ele. Então, não vendo.
Minha esposa gaúcha comia muita carne, casando comigo, passou também a não comer. E descobrimos com o tempo que seus problemas de saúde como anemia, foram curados instantaneamente. Isso é surpreendente como nosso organismo reage a uma alimentação mais saudável.
Não temos o hábito de comer carne de gado, frango e peixe. Claro, eventualmente podemos comer na casa de amigos se nos oferecermos. Se um amigo na ilha nos presentear com um peixe aceitamos e fazemos, mas não está em nossas preferências, inclusive nem temos o hábito de pesca.
E o que fazemos na ilha? Essa talvez seja a grande curiosidade. Eu costumo acordar cedo. Normalmente as três e meia já estou acordado e às cinco já estou em pé. Como acordamos cedo, dormimos também cedo, em torno das 21 horas. Eu gosto de comer uma tapioca com ovo no primeiro. Já no segundo café eu como pão que eu mesmo faço com um café. A tarde costumamos comer frutas. Temos o hábito de nos alimentarmos de três em três horas.
Às seis horas tomamos nosso primeiro café da manhã e depois as nove e meia o segundo. Nosso almoço tem um pouco de tudo arroz normal ou arroz com grão de bico, lentilha ou feijão. Gosto de fazer um hambúrguer de quinoa.
No jantar gostamos de fazer coisas mais sofisticadas como pizza com massa integral com multi grãos e brócolis, as vezes fazemos sushis, batata suíça, pastel de forno, risoto bom de qualidade. O pão que eu faço é com sete tipo de grãos, farinhaça, semente de girassol, chia, aveia, entre outros e no forno a gás enquanto não construir o forno a lenha.
Nosso dia a dia na ilha é muito focado na nossa sobrevivência. Diariamente levo o nosso cachorro para passear, verifico se tudo está em perfeito funcionamento. É necessário diariamente realizar uma verificação em tudo, por exemplo nos aparelhos da energia solar, na rede de água natural, em toda a estrutura da casa, ao redor do imóvel, no telhado.
Na existência de ruídos estranhos. Na limpeza da captação de água e caixa d'água, por exemplo esses dias estávamos enjoados e descobri que havia um camarão morto dentro do filtro na entrada da caixa d'água que já deveria estar lá alguns dias porque estava chovendo e geralmente eu limpo diariamente. Vistoriar as hortas e a vegetação ao redor da casa. Estamos sempre alertas.
Outra curiosidade que as pessoas devem ter é como é nossa casa e nossa vida isolados numa ilha. Sem eletrodomésticos, sem água nas torneiras, sem geladeira, sem fogão, sem luz elétrica, sem liquidificador, sem micro-ondas, sem máquina de lavar roupa. Mas quem disse que voltamos a idade da pedra e somos os homens da caverna? A nossa diferença da sociedade é que geramos a nossa energia e a usamos de forma consciente. Por exemplo o liquidificador não é elétrico. É claro que não estamos na época da caverna.
Nosso fogão é a gás, e porque não seria. O fato de morarmos numa ilha não determina que somos pré-históricos. Somos pessoas normais, apenas temos visões divergentes sobre o mundo. O nosso botijão de gás da cozinha durante muito tempo e o do chuveiro dura seis meses. Lembrando que o chuveiro a gás é uma maravilha, totalmente diferente do elétrico, que ou você toma um banho pouco frio ou pouco quente demais. O elétrico se toma o banho do início ao fim na temperatura desejada.
Televisão como falei não temos por opção. Assistimos séries pelo tablet que baixamos da internet antes das 17 horas, porque depois desse horário desligamos a internet pois ela consome muita energia e as baterias não aguentam que ela fique ligada o tempo todo. Toda e energia elétrica que gastamos é gerada através de nosso sistema solar.
Toda a água que consumimos é gerada pela natureza. Todo os nossos dejetos vão para fossas conforme exigências ambientais. E todo o nosso lixo é separado no que pode ser utilizado como adubo para nossa horta ou a parte reciclada colocamos como todos os demais moradores toda as terças feiras em tonéis na beira da praia para serem removidos ao continente por canoas que são custeados pelo órgão público.
A casa tem 24 m², é muito pequena. Ou seja, tem seis metros por quatro metros de largura, sem divisórias internas. E temos um mezanino de 12m² onde guardamos todas nossas coisas. A casa é toda de vidro na frente. Assim, entra muita luz. Tem muitas janelas de correr em todos os lados da casa.
Dessa forma a casa fica bem iluminada e ventilada. O banheiro é normal de outra casa, com aquecimento a gás no chuveiro, água encanada na cozinha. Não usamos papel higiênico e adotamos o conceito europeu, digo a ducha higiênica. No futuro pretendo construir um fogão a lenha a céu aberto na sombra da árvore somente para fazer comida ao ar livre.
E por que uma casa tão pequena numa ilha? Poderia apenas simplificar que temos o espaço necessário para nossa realidade e felicidade. Já moramos em ambientes enormes de 180 m². Mas existem outros fatores, como o custo da construção. Aqui na ilha não existe loja de construção, tem que trazer do continente. Enquanto, na loja um milheiro de tijolos na loja custa mil reais, para chegar até a minha casa custa quatro mil reais. Porque tenho que pagar o transporte de barco, do quadriciclo e ainda os rapazes para subir morro acima com o carinho de mão.
Muito material eu mesmo carreguei. Lembro dos sacos de cimento de 50K que levava num carrinho de mão da praia até a minha casa, que é um quilômetro, e depois ainda tinha que subir quarenta degraus da minha casa. Nessa hora não conseguia subir com o saco nas costas. Então, cortava ele no meio e coloca a metade num balde e transportava um pouco de cada vez. Carreguei muitos tijolos do início da trilha até minha casa. Não foi fácil não.
Outro sonho nosso é comprar um quadriciclo nem que seja usado. Um muito velho custa em torno de quinze mil reais. Outra ideia nossa é construir um chalé pequeno para alugar, somente quarto e banheiro, bem pequeno, tipo uma barraca 3 por 3. Onde as refeições serão servidas pela minha esposa que cozinha muito bem e inclusive na época da pandemia trabalhou em vender marmitas saudáveis.
Temos ventilador, que raramente é utilizado a noite porque consome muita energia e na prática não houve necessidade. Mas o que mais chama a atenção de nossa casa é a vista que ela proporciona do mar lá embaixo. A cozinha da frente para o mar. Minha esposa cozinha olhando para o mar.
Uma curiosidade de nossa casa é que como já falei as paredes tem muito vidro para entrar a claridade, e todos esses vidros e janelas foram comprados usados já pensando na reciclagem e no meio ambiente. São essas pequenas coisas que acredito que fazem a diferença para o futuro do nosso planeta.
Houve um temporal que arrancou o telhado da casa. Foi tão forte que virou barco na praia. A nossa casa não foi a única destelhada na ilha. Arrancou por completo, visto que não é de telha de barro, é um PVC mais leve e moderno que levantou todo ele inteiro e caiu de novo no mesmo lugar. Não chegou a estragar o telhado, somente as paredes e janelas de vidros que quebram tudo.
Agora imagina o estouro que foi isso. Parecia um filme. Chuva. Trova. Relâmpagos. Ventos. Um Estouro no Telhado! Foi no final da tarde e minha esposa não estava em casa. Agora imagina se fosse de madrugada e estivéssemos deitados na cama, olhando para o teto e de repente ver o teto subir um metro e cair no mesmo lugar e os vidros ao redor estourar tudo! Que susto teríamos levado!!!
Mas voltando a realidade, era aproximadamente 17 horas, estava recolhendo a roupa do varal e senti uma única rajada forte de vento, que chegou a me derrubar e arrancou todas as roupas do varal e nisso eu vi o telhado subir e cair de volta e os vidros da casa estourarem com a batida. Ficou cacos de vidro espalhado por tudo que foi lugar ao redor da casa. Peguei meu cachorro e desci para uma casa que estava vazia a algum tempo que ficou alugada e prendi o meu cachorro lá.
Chamei uns rapazes no vilarejo para me ajudar a amarar provisoriamente as quatro pontas do telhado com cordas em árvores para não levar. Ficou tudo torto. Depois cobri com lona o que deu dentro de casa, mas já tinha muita coisa molhada como colchão e móveis. Chegou a amassar o fogão e a geladeira, quebrou panelas, copos e pratos, porque caíram tijolos em cima. Dois dias depois pudemos voltar para nossa casa.
Mas depois do susto, nos recuperamos, esperamos amanhecer, para ver o tamanho do estrago. O telhado não quebrou nada. Dois dias depois estava tudo consertado. Trocamos os vidros. Refizemos as travas com maior fortificação. Reforcei até com cabo de aço, para segurar o beiral.
Na verdade, todo mundo aqui já perdeu o telhado e não tem como prever. Infelizmente tem que acontecer para você saber na prática o que tem que ser melhorado. E foi assim comigo. Coloquei oito grampos de ferro de 60 cm travando na parede e agarrando no telhado e na frente da casa coloquei três cabos de aço de 6 mm com tensionador preso na fundação da casa.
Por outro lado, a virada do tempo no mar é comum. As vezes o tempo na ilha está ótimo e você consulta as condições climáticas da movimentação das nuvens, vento, ondas e maré para tentar prever qualquer tempo ruim. Então tudo está certo e você parte para o continente, e no meio do caminho você encara uma puta tempestade. Enfim, o mar é traiçoeiro, você até acredita que irá morrer, coisa de filme mesmo. Já chegou a enroscar lixo no barco.
Forma umas correntes marítimas, a coisa é bizarra e terrível. Teve uma vez, que chovia e ventava muito, não dava nem para abrir os olhos em razão da velocidade do barco a chuva bate nos olhos e doe. O motor travou no meio da tempestade com ondas enormes, tive que desligar o motor e levantar ele para desenroscar o lixo que estava enroscado na hélice. Aquela vez, pensei que o barco fosse ser virado.
Acredito que as pessoas criam raízes, que é formado no período inconsciente das crianças, que é até os seis anos de idade, onde são formados todos os traumas e todos os vícios. Então, onde você nasce você cria raízes que são impossíveis de serem esquecidas. Eu nasci numa ilha. Com o passar dos anos fui morar no continente. Na adolescência meu sonho era conhecer a Europa e a Nova Zelândia. Acabei não conhecendo a Nova Zelândia.
E acabei voltando para minhas raízes. Existem coisas inexplicáveis. Eu precisava voltar a ter essa conexão com a natureza. Acredito que as pessoas não tenham culpa do que fazem, é uma programação mental. Eu acredito que todos nascem iguais e que não existe que as pessoas "puxaram aos pais". São iguais aos seus pais, porque foram educados daquela maneira, apenas isso.
Em 2016 fiz um curso de Física Quântica Informacional, porque eu acredito que a gente viva numa matriz. Onde tudo no planeta são códigos e esse curso vem a explicar essa realidade que é desconhecida de nossa sociedade. Exemplificando, todos nós somos computadores no sentido figurado que cada pessoa por diversas razões já tem pensamentos formados.
Então, como no computador se for clicado na letra "D" na tela irá aparecer o caractere "D", independente do que a pessoa esteja pensando. E foi então que mudei a minha vida. Desde a forma de economizar dinheiro. Eu entendo hoje que todas as pessoas podem ter sucesso na vida, para isso o primeiro passo é saber eliminar as suas próprias limitações na sua cabeça. E parto do princípio também que as pessoas não são ruins por natureza, apenas estão perdidas.
E qual o objetivo de contar minha história? É mostrar que existem alternativas de vida, apenas isso. Não tenho a intensão de querer convencer ninguém a seguir meus passos. Não sou exemplo para ninguém. Eu sou o João. Dono do meu destino. Sou aquele cara que era um peixe fora do aquário e não estava feliz com a vida que tinha e queria algo mais e que a sociedade padrão não mais satisfazia. Somente isso.
Sou aquele cara que buscou uma alternativa de vida e que hoje é muito mais feliz e realizado. Sou consciente que não existe espaço físico para todo o brasileiro seguir meu exemplo. Por outro lado, se cada leitor parar e refletir o que ele pode fazer em seus hábitos para ajudar a natureza e o planeta, já está ótimo.
Não sei quem irá vencer essa batalha. A grande batalha do Planeta Terra. Essa guerra é do homem contra o homem. Não é de países contra países. É do homem contra a natureza. O Homem é o pior das pragas. Ele devora tudo que está na sua frente. Reservas naturais, vive em conflito com os animais, com a natureza.
É o animal que se acha mais inteligente, porém ao mesmo tempo o mais ignorante, porque sabe das consequências do que está fazendo com o planeta e não muda. Tudo em prol de sua ganância pelo dinheiro. Florestas e mais florestas são destruídas. Rios, mares e ar que respiramos são poluídos.
A temperatura do planeta gradativamente está subindo, o clima está desiquilibrado, as geleiras derretendo, o mar invadindo pouco a pouco os continentes, fala-se que muitas cidades irão desaparecer até 2.050 como Veneza, Nova Orleans, Calcutá entre outras cidades. Os oceanos estão cada vez mais ficando poluídos, sem falar na camada de ozônio. E tudo é festa. Todo mundo faz que de conta que nada acontece. E tudo continua acontecendo naturalmente todos os dias. As florestas sendo derrubadas, os rios sendo poluídos, ... E eu pergunto: Até quando o planeta vai aguentar?
Para finalizar, o que me deixa feliz na vida foi que tive a capacidade de ultrapassar a barreira do medo. Fui capaz de deixar de me contentar com o básico de ser classe média, de ter meu carro bom, de ter meu apartamento, meu emprego, de me enganar que era feliz porque tinha uma vidinha confortável.
Deixei de viver uma fantasia que não me representava e fui atrás da minha verdadeira felicidade. Arisquei e quebrei a minha barreira do medo. Eu não tinha nada de diferente das outras pessoas. E deixei de desperdiçar minha vida quando vim morar na ilha. Eu sintetizo que prefiro morrer jovem, feliz e esperto do que velho, infeliz, burro e magoado por ter desperdiçado minha vida na loucura de uma metrópole.