Um Pirata Intelectual que tem seu Navio e Avião
dentro da Garrafa
Jorge Nakano
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artesanato
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Meu pai veio de uma família tradicional do Japão, era
general do exercito, deu baixa antes
da guerra pois o salário da época não compensava. Aprendeu a marcenaria construindo casas
e templos, conhecido como marcenaria artística. Arcaica, com poucos recursos, sempre
focado no desenvolvimento de ferramentas e metodologia para facilitar toda
execução, o resultado é surpreendente. No Brasil, junto de minha mãe fundaram a
empresa de marcenaria, nos anos 60 e 70, contava com mais de 30 funcionários,
matriz e duas filiais. Foi onde eu nasci e cresci.
Antigamente
não existia essa grande variedade de brinquedos como hoje e lembro que brincava
na parte de terra do quintal fazendo cercas e garagem de barro para os
carrinhos, utilizava restos de madeira da marcenaria para inventar novos
brinquedos. Brincadeiras com bolinha de gude, pião, pipa, patins, skate,
bicicleta, pega-pega, policia e ladrão, esconde-esconde, acho que curti todas
as brincadeiras infantis.
Pratiquei muitos esportes como futebol de campo, salão, vôlei, atletismo e até baseball. Apesar de tudo, nos estudos, com uma família tradicionalista, lembro que era obrigado a estudar pelo menos uma hora por dia e frequentar uma escola de japonês, pois meu pai pouco falava a língua portuguesa.
A partir dos nove anos de idade, influenciado por uma tia que fazia biologia, fiquei encantado com os animais, plantas e a adversidade química e biológica, porem meus pais somente concordaram se eu cuidasse sozinho de tudo. Tinha muitos aquários, coelhos, porquinho da índia, pássaros, até tentei cuidar de um ratinho eu tinha achado e tomei uma bronca muito grande.
Pratiquei muitos esportes como futebol de campo, salão, vôlei, atletismo e até baseball. Apesar de tudo, nos estudos, com uma família tradicionalista, lembro que era obrigado a estudar pelo menos uma hora por dia e frequentar uma escola de japonês, pois meu pai pouco falava a língua portuguesa.
A partir dos nove anos de idade, influenciado por uma tia que fazia biologia, fiquei encantado com os animais, plantas e a adversidade química e biológica, porem meus pais somente concordaram se eu cuidasse sozinho de tudo. Tinha muitos aquários, coelhos, porquinho da índia, pássaros, até tentei cuidar de um ratinho eu tinha achado e tomei uma bronca muito grande.
Com o passar do tempo as criações iam aumentando e
tomei a iniciativa de trocar nas aviculturas por ração, equipamentos e aquários,
até hoje tenho muitos aquários parados em casa e até mantenho plantas dessa época.
Comecei a
aprender o oficio da família aos 15 anos. No inicio comecei a desenhar os
móveis que eram projetados pelo meu pai, fui aperfeiçoando, com o tempo fui
estudando e aprendendo as metodologias dentro da marcenaria, todas as funções e
logística da empresa.
Ao longo do tempo fui aperfeiçoando e me especializando com
muitos cursos como: Desenho Mecânico, Designer de Interiores e Desenhista
Publicitário. Mantive muitos hobbys como desenho artístico, modelísmo e
ferramentaria; e dentro da marcenaria artística, arcaica e sem recursos
aprendemos a criar e projetar nossas próprias ferramentas.
Na
adolescência com a rebeldia em alta nos anos 80 relaxei nos meus estudos, mas terminei com o supletivo e alguns cursos
técnicos, outros tive que arcar com todos os custos pois era esperado pelo meu pai essa
independência financeira e não tive oportunidade de dar continuidade ao ensino
superior.
Aos 13 anos pedi uma moto e meu pai negou; pedi uma mobilete, ele negou; uma
bicicleta com motor, ele negou. Todos os anos eu fazia esse pedido e aos 16, fiz uma
proposta, eu trabalhava para ele e com o pagamento descontava a prestação da moto.
Em
1982 consegui minha primeira moto, mesmo de menor só andava aos finais de semana.
Embora a 8 anos afastado ainda mantenho contato com o pessoal do circuito de
moto clubes.
Voltando um pouco no final dos anos 70 e início dos 80, minha ousadia
e rebeldia teve a tendência musical para um tipo de rock alternativo que teve início, um
estilo de rock atualmente conhecido como heavy metal um pouco mais pesado, e teve
inicio a formação de uma banda, não consegui dar continuidade, mas os outros
integrantes gravaram um LP como a banda Antítese pela Pulsar Discos alguns anos depois.
Aos 18
anos desempenhava todas as atividades da captação do cliente até o recebimento
do pagamento. Mas no final do mês, meu salário era equiparado com o de um
ajudante, com a desculpa de ser herdeiro desse legado. Mas aos 18 anos tinha
meus sonhos e meus anseios. Então reformava bicicletas e revendia, já fazia
pulseiras e colares de macramê para vender, tudo no intuito de uma renda extra.
No inicio
desenhava os projetos do meu pai para servir de base para os marceneiros confeccionar, no período que comecei
a trabalhar como marceneiro, ele só me passava os menores e mais complexos
trabalhos, eram os serviços que tinham menor valor de mão de obra e somado ao modelismo que
já praticava me induziu e especializar em pequenos e minuciosos trabalhos.
Todos esses aprendizados favoreceram para desenvolver os barcos dentro da garrafa e executar qualquer tipo de trabalho mesmo diante de qualquer dificuldade e no empreendedorismo aprendemos que “não existe empresa que não tenha problemas, o que importa é a capacidade que ela tem de resolver esses problemas” e na marcenaria artística aprendemos a criar qualquer tipo de ferramentas para executar determinado fim. Acho que tudo isso me indicou o caminho que deveria seguir.
Quando um
cliente deseja um trabalho diferenciado, apresento as condições e possibilidades de execução ou não, sempre no
mesmo instante. Já produzi pecas que acho que não conseguiria mais pelo grau de
dificuldade e as que ainda não fiz, mantenho como meta a ser realizada.
A minha
arte surgiu por acaso, foi até engraçado. Em uma ocasião queria presentear alguns amigos meus.
Eu estava popularmente “duro”! Então, pensativo, diante de mim tinha
umas garrafas vazias. Sempre havia ouvi falar de barcos dentro da garrafa.
Assim, disse para mim, “vou fazer alguma coisa dentro”.
Tentei inúmeras vezes e
acabei montando 10 castelos dentro das garrafas, demorei pelo menos 15 dias, na
medida eu a dificuldade foi aparecendo estudava uma metodologia para corrigir e
assim foi. Presenteei meus amigos com muita felicidade e um deles falou: “foi
você que fez? ” Disse que sim. “Porque você não entra na feira do Embu, as
inscrições estão abertas. ”
Os barcos
dentro das garrafas tiveram origens junto as grandes navegações da história da humanidade, por vezes os navios ficavam a
deriva ou perdidos fora de sua rota e como ficavam muito ociosos, utilizavam os poucos
recursos que tinham disponíveis na embarcação como garrafas de rum vazias, lascas
de ossos e madeira, fiapo das cordas e lona das velas, passaram a desenvolver esse tipo
de trabalho até mesmo como forma e ocupação e para não induzirem brigas e motim.
Quando encontravam algum porto seguro, eles não tinham recursos nenhum. Então
vendiam esses trabalhos aos nobres da região para angariar recursos e provisões para a
viagem de volta para casa.
Pesquisei muito e não encontrei nada, posso estar errado, mas ainda não encontrei nenhum nome para a técnica e pelo que sei essa arte nasceu em águas internacionais.
Pesquisei muito e não encontrei nada, posso estar errado, mas ainda não encontrei nenhum nome para a técnica e pelo que sei essa arte nasceu em águas internacionais.
Ao se
deparar com um barco dentro de uma garrafa a primeira impressão que se tem é a curiosidade de como um objeto tão grande
foi parar dentro da garrafa. As pessoas ficam impressionadas e sempre perguntam
como é feito, normalmente explico e conto a história do barco, seus feitos, as lendas, as
batalhas e todo contexto agregado ao trabalho. Sempre procurei conhecer as histórias
das grandes batalhas navais para poder enriquecer e me retrato como um contador de
histórias por esse motivo adotei a bandeira de Contos de Pirata.
No final
dos anos 80 com 18 anos entrei na feira do Embu. O início não foi fácil, com pouca experiência no comercio direto ao público, fui
obrigado a aprender e desenvolver produtos que a demanda necessitava e nesse caminho os
primeiros barcos começaram a surgir, além de vários outros trabalhos diferenciados, como motos, carros, triciclos,
aviões, cenário de uma mesa de jantar ou de estudos, Saci Pererê, abayomi, tudo
dentro de garrafas, vidro e lâmpadas.
A dificuldade
de recursos na época era restrita. Então, procurei desenvolver mais como autodidata.
Nessa época trabalhava para o meu pai durante o dia. E a noite produzia meus trabalhos para vender
no domingo na feira de artesanato do Embu.
Todos os trabalhos possuem um legado cultural porque são
baseados em histórias reais, contos, lendas, mitologia e da própria história
naval. Para tanto que nos eventos me caracterizo com uma fantasia de pirata
para contar as historias dos navios e seus feitos, as grandes batalhas da
história, lendas de navio fantasma e navios piratas e muito mais.
Em minha opinião o artesanato é a primeira expressão
artística e cultural de todas as civilizações ate a confecção de utensílios e
ferramentas. Nos dias atuais é muito discriminado e difícil de encontrar
oportunidades que oferece que você viva da sua arte. Às vezes, sou confundido
como um camelô, com todo o respeito a categoria que também tenta gerar renda
para sua família, mas com a diferença que, o que nos expomos é o que nós mesmo
produzimos. A única forma de propagar nossa arte e nosso legado é comercializando
nosso trabalho até para geração de renda para nossa família.
Em um
momento a demanda do artesanato começou a superar o da marcenaria e veio o
ultimato, pedi um aumento a meu pai que foi negado e resolvi dar ênfase a meus
próprios sonhos. Achei que seria uma conversa muito difícil, não foi, acho que
o maior legado que podia oferecer para mim ele conseguiu ver nesse momento. Sou
grato a todos os ensinamentos e fundamentos profissionais que aprendi, pois
foram alicerces para esse inicio. Enfim, empenhei integralmente a meu projeto,
desenvolvi produtos, metodologia e logística.
Mas não
foi fácil, na medida em que as dificuldades surgiam procurava criar e adaptar
ferramentas e recursos para resolver determinado fim, como na marcenaria
artística, fui ganhando experiência aplicando esse conceito em tudo e no auge
do meu empreendimento, nos anos 90, tinha conquistado minha independência
financeira, com muitos pontos de venda e distribuição, funcionários, com uma
produção média de 100 peças por semana, com reserva de pedido com 3 meses de
antecedência, valor cotado em dólar da data da entrega.
Atualmente
o mercado e a situação econômica do pais é muito diferente da época, muita
coisa aconteceu e voltei a produzir os barcos dentro da garrafa a uns 8 anos
começando da estaca zero. Antigamente bastava ser artístico, mas hoje o
empreendedorismo se faz necessário mas aplico o que sempre me valeu na questão
de desenvolvimento do produto e que ressalta são os valores agregados ao
trabalho, as histórias de cada barco, seus feitos, as lendas, as batalhas e
todo significado que escreveram nossa história.
Hoje em dia trabalho sozinho, procuro oferecer mais
qualidade e diversidade, barcos mais famosos e lendas mais interessantes. Esses
motivos levam a uma produção menor, cerca de 60 peças por semana. Exponho em
eventos e como artista de rua e faço questão de contar a história de cada barco
e seus feitos para quem tiver interesse.
Costumo dizer a todos que estão começando a expor que “Eu trabalho quando estou em casa confeccionando os barcos, quando estou expondo e vendendo é lazer”. As pessoas que acabo conhecendo, as oportunidades, os lugares, as amizades que vai espalhando, as experiências de vida de cada um, a satisfação das pessoas, não tem preço, é muito maior que as adversidades que encontramos, afinal de contas, sempre procuro uma solução diante de uma dificuldade.
Nesses caminhos encontramos artesões que estavam nas sombras,
trabalhos fantásticos com uma adversidade cultural sem precedentes, e formamos
muitas parcerias, um deles foi o Jose Antônio que trabalha com aviões feitos em
Paper Craft, fantásticos. Isso possibilitou o desenvolvimento de vários
trabalhos inéditos em parceria, chamamos de trabalho a 4 mãos, onde criamos
trabalhos inéditos juntando técnicas de cada um, ele confecciona os aviões e eu
coloco dentro da garrafa. Isso é uma iniciativa do fomento ao trabalho
coletivo.
Durante um período me afastei do artesanato e devido a muitos
fatores retomei as atividades aproximadamente a 8 anos, adotei a bandeira
CONTOS DE PIRATA, estou terminando a incubação do meu empreendimento na
Incubadora Pública de Osasco, pela SDTI (Secretaria do Desenvolvimento,
Trabalho e inclusão) dentro do Programa de Economia Solidaria de Osasco.
Participo do MAR (Movimento dos Artistas de Rua) e o MCL (Movimento Cultura Livre) de SP, um dos articuladores do coletivo Artesão de Oz que tem o apoio de muitos outros coletivos do município de Osasco e Conselheiro Suplente da cadeira do artesanato pela SECULT (Secretaria de Cultuara de Osasco) representando sociedade civil. E nossa meta e lutar por oportunidades para o artesanato dentro do município para oferecer dignidade a esses geradores de arte e cultura.
Nas
feiras de artesanato estamos sujeitos às intempéries, chuva, frio ou muito sol, são condições adversas que fazem parte da
profissão do artesão no escoamento do seu trabalho, nos dias com muita chuva as vezes
é melhor focar em sua produção, já trabalhei em dias chuvosos e obtive retorno
maior do que em dias de muito sol, muitas vezes não conseguimos direcionar as lojas ou ao
atacado, mas o comércio direto ao público é encantador.
A grande maioria se encanta com os trabalhos e suas histórias e isso é um grande retorno da realização como profissional e nos estimula a aumentar seu acervo com novos modelos e novas histórias, até para satisfazer clientes antigos.
Como empreendedor temos que aguçar nossa visão,
existem padrões para obter resultados no escoamento de seu produto, às
vezes um tipo de trabalho bem aceito em um determinado local pode não ter resultado
satisfatório em outro, portanto essa pesquisa normalmente tem que ser realizado na
prática, não vejo como se o meu trabalho não tenha sido aceito naquele local.
Por qualquer motivo que seja, procuro estudar o nicho de mercado para conseguir
oferecer uma tendência de aceitação, por exemplo, em um evento de rock eu faço alguns
modelos com o barco dentro de uma garrafa com formato de caveira.
Ao longo
do tempo, sempre tentando ouvir as tendências e desejos dos clientes, fui aprimorando e selecionando modelos para
enriquecer o acervo de trabalhos, como também procurando caminhos e metodologias para
aumentar a produção, até para diminuir os custos para poder oferecer um valor
justo e acessível ao mercado.
O modelo popular é vendido a R$ 5,00, tenho uma produção
média de 50 a 60 peças em um dia de serviço e os maiores e mais detalhados demoram
cerca de um dia e meio de serviço.
Para o futuro espero sempre ancorar em um porto seguro para minha família ter condições de uma vida digna e intensa como eu vivi a minha, colher o resultado do meu trabalho para sempre poder voltar para casa, como faziam os marinheiros, sempre abrir as velas para navegar com segurança mesmo diante das dificuldades, meu maior legado seria passar o código de princípios e valores aos meus e um pouco da história de minha vida.
Parabenizo muitos municípios que adotaram a “lei do Artista
de Rua”, que possibilita expor em locais pré-determinados e com satisfação
acompanhei pequenos artesões esquecidos ate pela vida a levantar e desenvolver
seu empreendimento, gerando renda com dignidade, aprimorando, se formalizando,
oferecendo serviços de opções de pagamento no cartão, conta no banco e gerando
divisas para o município. Eu exponho adequado a essa lei dentro do município de
São Paulo todos os sábados na Rua São Bento e aleatoriamente na Av Paulista.