quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Nasci Voando na TAM

 

Sou o Comandante Marco André, praticamente nasci e cresci dentro da TAM porque meu pai trabalhava lá e vi tudo acontecer desde muito pequeno. Meu pai era o churrasqueiro oficial do Comandante Rolim. Tudo começou porque meu pai era piloto no sul do Brasil, pilotava um Navajo. E o Comandante Paiva recomendou meu pai ao Comandante Rolim para entrar na empresa. Assim, minha mãe entrou na empresa como despachante e meu pai como Piloto de 310 e 402. 

Minha mãe conta que no mesmo mês que se mudaram para São Paulo, meu pai telefonou e avisou ela que o Presidente da Empresa iria jantar aquela noite em casa. E ainda disse, "ajeita ai alguma coisa!" Minha mãe disse como assim, não estamos ainda em condições de receber visitas, principalmente o Comandante Rolim, você está doido? Meu pai explicou que ele havia se convidado e não podia negar o convite. 


A mesa de jantar era aquelas de bar e quatro lugares, naquela época era de ferro, hoje são de plástico branco. Minha mãe fez uma macarronada a bolognese, beberam um vinho e conversaram e deram boas gargalhadas, que nem pessoas normais. No fim da conversa o Comandante Rolim falou para meu pai que precisava muito dele para ajudar na empresa. Ele sempre ajudou todo mundo, e claro como presidente da empresa queria uma reciprocidade e foi assim que aconteceu com toda a família TAM por mais de quarenta anos.

Naquela época e durante todo o período da Presidência do Comandante Rolim os funcionários vestiam a camisa de verdade. Os funcionários trabalhavam por amor acima de tudo. Eles sabiam que antes de terem um patrão tinham uma pessoa que tinha respeito por todos e conversava com todos de igual. Não distinguia ninguém pelo cargo. Poderia ser uma senhora da limpeza ou do café que iria dar o mesmo bom dia que daria a um comandante de um Airbus. Era essa a diferença do nosso CEO para os outros Presidentes e todos nós sabíamos disso. Ele sempre estava perambulando por toda a empresa e perguntando como estavam as coisas.

Sempre fui fã do Comandante Rolim, era incansável. Um dos primeiros a chegar no Aeroporto de Congonhas e já estava na Sala de Embarque servindo os primeiros cafés pessoalmente e conversando com os passageiros, vistoriando os atendimentos no check-in, daqui a pouco estava lá no tapete vermelho recepcionando e dando as boas-vindas aos passageiros. E quando menos se esperava, já tinha embarcado em algum Fokker 100 para visitar alguma base. E a bordo aproveitava para conversar com os passageiros e tripulação. Esse era o nosso Presidente, um desbravador. 

A TAM foi algo único na história da aviação e na história de todos nós que tivemos a oportunidade de trabalhar. Hoje a aviação está muito comercial e falta o romantismo e a paixão daquela época do Comandante. Sempre admirei a paixão do Comandante Rolim pela sua Empresa. Era um enorme guerreiro. Ele perseverou em função do amor pela sua profissão, da mesma forma como o Silvio Santos, Olacyr de Moraes e Osmar Fontana. Foram pessoas que sempre trabalharam em função do amor a sua profissão. Esse é o segredo. É mais que dinheiro. É questão de ter amor pelo aquilo que faz. E o Comandante Rolim foi um exemplo disso. Desta forma todos os problemas e dificuldades são transponíveis por maiores que são.

Fui instrutor da Tam Training Divisionm escola que o Comandante Paulo Sérgio Moraes montou, que iniciou para comissários e depois com o trabalho do Comandante Francisco Perez que montou na Academia da TAM facilitou para criar o primeiro curso de  formação de Instrutores de Pilotos, virou também para pilotos na  Tam Training. Passou a ser de reciclagem de todos os treinamentos da TAM. O primeiro Presidente foi o Comandante Moraes. É uma história linda, formatada com muito amor naquela época e por exemplares profissionais. O idealizador de toda a ideia sem dúvida partiu do Comandante Rolim. Além disso ele a mais de vinte anos atrás já tinha a visão que o caminho era a terceirização dos treinamentos para ficar mais econômico. 

Por outro lado, o Comandante Moraes sempre foi um empreendedor e diretor de táxi aéreo e tinha a vontade de ter uma escola de pilotagem. E assim surgiu a escola. Lembro que num dia em Piracicaba o Comandante Rolim pousou num helicóptero Agusta para visitar a Escola e elogiou muito e disse que estava orgulhoso. 

Ela tinha uma estrutura completa de primeiro mundo, salas de aula exemplares com ar-condicionado e cadeiras estofadas e confortáveis para os alunos assistirem as aulas o dia todo. Alojamentos excepcionais, refeitório, roupa lavada e tudo mais para possibilitar a qualificação dos alunos. O Curso compreendia dois meses para ser certificado no Privado e quatro meses no Comercial e chegou a ter vinte aeronaves.

O Comandante Rolim foi um percursor e inovador na aviação. Suas ideias marcaram não só nos funcionários, mas também com certeza milhares e milhões de passageiros. Que não lembra do inesquecível "tapete vermelho", da "sala de embarque no Aeroporto de Congonhas" com toda a estrutura de música ao vivo com piano bar, tocado com a maestria da pianista Betth Ripolli e dezenas de músicos profissionais que tocavam violinos, harpas, violoncelos, flautas e tantos outros instrumentos, além de nos Natais embarcarem nos aviões surpreendendo os passageiros ao saírem da toalete vestidos de Papai Noel! Hoje isso tudo não existe mais. 

Tive o prazer de ter como professor o Comandante Francisco Perez  e ele voou várias vezes como meu comandante de triple seven. Também fui copiloto dos comandantes Gianini, Geraldo, Harley. Voei vários anos na TAM como comandante de Airbus e Boeing até 2020. Agora sem dúvida alguma a TAM foi meu grande pilar para eu ter me tornado piloto comercial, apesar de antes ter sido piloto na Pantanal e na Complemento Táxi Aéreo. Mas o grande desenrolar profissional foi nos treze anos que voei na TAM. Por fim agradeço a oportunidade que tive de relembrar um pouco de minha história, fiquei muito honrado por ter sido lembrado. 

Precisa alguém do sangue do Comandante, quem sabe o Marco Amaro no futuro traga tudo isso de novo! Ele não está retomando o Museu da TAM em Itu? As pessoas querem e precisam do romantismo e do amor. Ele conquistava os passageiros com "um algo a mais". E o que era esse algo a mais? Simplesmente o carinho que tinha pela aviação. E isso gerava atenção pelos passageiros, bom atendimento. E isso superava qualquer coisa.