Em nossa peregrinação pela aviação conhecemos o Sr. Edécio. Tivemos o prazer de recebê-lo em nossa casa. Na sua infância foi como o Sr. Ozires Silva nunca pensou em ser piloto ou comissário. Mas cresceu e hoje chega a comprar aviões para desmontar e vender suas peças. Recebi vários presentes para meu museu, que voaram em aparelhos pelos céus brasileiros. E uma enorme caixa de fones da Varig que presentei ao Museu do Comandante Sérgio Knoch. Então vamos a matéria:
""" A
minha historia na aviação brasileira começou em 1961, quando aos 14 anos eu
precisava trabalhar para ajudar a minha família e através de uma agencia
de empregos fui parar na AVIQUIPO DO BRASIL ,que era uma empresa Americana que
vendia pecas de avião, onde fui ser Office-boy , onde fazia pagamentos
bancários , servia cafezinho e o meu trabalho mais importante era esperar linha
telefônica ( para os mais novos: naquela época , para fazer uma ligação
telefônica tinha que esperar ate’ uma hora para obter a linha. Assim que eu
obtinha a linha passava o telefone preto para o Diretor fazer a ligação).
Com 2 anos na empresa, acumulei a função de auxiliar de estoque e ai’ começou o meu conhecimento do material aeronáutico; tinha que separar o material vendido para ser despachado e a cada final de ano fazer o inventario do estoque e tinha que contar um a um os parafusos, porcas, arruelas, etc.
Trabalhava
com o Armindo da Silva , que depois foi ser Diretor da Motortec e
posteriormente dono da RIAI INDUSTRIA AERONAUTICA e AGS AEROHOSES.
Em
1966 eu era Sub-Contador da Aviquipo (estudava a noite e fui fazer o Curso
Tecnico de Contabilidade para pegar a vaga de sub-contador). A Aviquipo foi vendida e fizeram uma redução e sobrou para mim.
Passei
2 anos fora ate’ que a Aviquipo foi vendida novamente e resolveram abrir uma
Filial em São Paulo e fui convidado pelo Armindo para Gerenciar a Filial. Não
pensei duas vezes e aceitei o cargo, mudando para São Paulo. Passei a viajar
por todo Brasil, conhecendo praticamente todos os Estados do Brasil.
INAUGURACAO DA AVIQUIPO-SP EM 1968: Da esquerda para a direita: ARMINDO da Silva, Sergio e Edecio.
Uma
lembrança divertida que eu tenho deste período e’ de uma cliente que eu tinha (todo
mundo da antiga de São Paulo, conhece ele) o JOAO PAGOTO. Era figura singular,
ele comercializava pecas de avião que comprava da Aviquipo e revendia para
clientes deles. Era uma visita constante na loja, quase todos os dias ele batia
ponto la’, querendo fazer um “rolo” , queria sempre trocar uma peca que eu
tinha e ele precisava, por outra que ele tinha, para não gastar o dinheiro. Uma
vez ele passou la’ na loja e convidou-me a ir com ele ate’ Mogi Mirim (ou Mogi
das Cruzes? Não lembro direito) pois ele tinha que ir la’ receber um dinheiro
de um cliente dele, aceitei e fomos no avião dele, que, acho, era um
PA-18. A pista era de grama e havia chovido no dia anterior. No pouso, quando
as rodas bateram na grama, era uma grande poca d’agua e o avião parou ali, com
a hélice batendo no solo e as portas se abrindo com o impacto e tomamos um
grande banho de lama. Voltamos para São Paulo de trem, nos dois cheios de lama
e chamando a atenção dos passageiros do trem.
Entre
os clientes da Aviquipo tinha o CTA, de São Jose dos Campos, onde desenvolviam
uma aeronave denominada IPD-6504, que veio a ser o famoso BANDEIRANTE ,
fabricado pela Embraer. Entreguei muito material no Hangar X10 do CTA.
Em
1970 a Aviquipo foi vendida novamente nos Estados Unidos e, como de praxe, para
reduzir despesas, resolveram fechar a Filial São Paulo. Voltei para o Rio de
Janeiro, continuando na Aviquipo como Gerente de Vendas.
Entre
outras atividades, fui encarregado de atender `a Embraer nas vendas de
material dos fabricantes de pecas que a Aviquipo representava.
Nesta época adotei a gravata borboleta como minha marca registrada e todos me
conheciam por este detalhe.
Em
1974 o Armindo saiu da Aviquipo e foi ser Diretor da Motortec.
Em
1975 ele convidou-me para assumir a Gerencia de Vendas de Pecas da Motortec, no
que aceitei. Era
muito trabalho e também muito aprendizado, pois, foi acompanhando os americanos
que vinham vender para a Embraer, cujos fabricantes a Motortec representava,
que aprendi ingles na marra.
A
Motortec era a maior empresa brasileira da aviação executiva, com Venda de
aviões da Embraer, Departamento de Motores, Departamento de Eletrônica,
Departamento Industrial (onde fabricava partes do Bandeirante), Departamento de
Manutencao de Aeronaves e Departamento de Marketing, onde eu atuava e circulava
por todos os outros departamentos, e diversas Filiais pelo Brasil.
Em agosto de 1978, fui convidado pelo Waldemar BOTELHO a abrir uma nova empresa para manutenção de acessórios e venda de pecas. Assim em 31/10/1978 nascia a AEROPARTES .
Comuniquei
ao meu chefe e amigo Armindo que em breve eu estaria saindo da Motortec,
enquanto o Botelho cuidava de montar a Aeropartes e em 31/01/1979 passei a
dedicar-me integralmente `a minha nova empresa.
Enquanto
o Botelho cuidava da manutenção dos acessórios eu cuidaria da venda de pecas
Imediatamente
contatei a Van Dusen, na época a uma das maiores distribuidoras de pecas de
avião nos Estados Unidos e passei a ser o Representante deles em 15/02/1979
onde continuo ate’ hoje. A Van Dusen
virou Aviall que hoje pertence `a Boeing.
Voltei
a viajar pelo Brasil inteiro, visitando as Oficinas, Taxi Aereos e Aeroclubes e
criando a carteira de clientes da Aeropartes e Van Dusen/Aviall. A
Aeropartes, além de reparar acessórios, passou a importar pecas da Aviall e
revender no mercado brasileiro.
Apareceu
a chance e abrimos uma Filial no Campo de Marte, ao lado do Ikawa, da Fujiwara
e da Planave. Esta
filial foi fechada em 2000, quando a Infraero resolveu desocupar todas as
lojinhas, obrigando-as a construir uma nova loja no fundo do Campo de Marte.
Em 1996 foi que comecei a fazer compra de inventários de outras empresas, que não precisavam daqueles itens. A primeira compra foi da Motortec que comprei de uma vez 6.000 itens.
Imediatamente
associei-me ao ILS (Inventory Locator Services) que e’ o maior banco de dados
de pecas de avião do mundo, onde compradores e vendedores se encontram e fazem
negocio.
Em
6 meses tirei o meu investimento e ainda tinha 90% do inventario físico. Gostei
e não parei mais.
Comprei inventários da TAM (3 vezes), Helibras, Embraer (grandes lotes), Lider, Rio Sul, Nordeste, Varig e pequenos lotes em leiloes na Alfandega.
A
compra de material de leilão em Alfandega, as vezes trazem surpresas, pois eles
fazem lotes, misturando pecas de avião com outras coisas.
Tem alguns fatos engraçados: uma vez comprei um lote que entre outras coisas tinha uma mala, que além de ferramentas de aviação, o mecânico (possivelmente francês) trouxe 6 rolos de papel higiênico francês, possivelmente para não correr risco no Brasil. Levei para casa e usei-os.
Outra vez comprei um lote em
Viracopos que tinha uma caixa muito grande que tinha um produto que era
desconhecido, após receber o lote fui investigar o que era o equipamento e
descobri que era fabricado pela israelense RAFALE, era um
equipamento que operava junto ao missil, fazendo a localização do
objetivo e passado as informações eletrônicas para o míssil que atingia o alvo.
A Rafale tinha enviado para Embraer e foi apreendido por erro na documentação e
finalmente foi a leilão.
Procurei
um coronel amigo da FAB que mostrou-se interessado na compra (valia us$ 3
milhoes de dólares e eu havia comprado por R$ 3 mil).
Este
coronel mandou vir uma equipe de especialistas da base de Canoas no RS para
inspecionar o equipamento e ao abrirem o mesmo, veio a decepção, era so’ um
mockup para demonstração.
Acabei
dando para um amigo.
Hoje
temos 72.000 part numbers em estoque, além de mais 188.000 de p/n’s de
terceiros que vendemos. La’
pelo final dos anos 80 recebi uma ligação de um funcionário da JATO AVIACAO, de
Sorocaba-SP, que havia sido fundada pelo Willibald Weber e havia falecido a
pouco tempo, avisando que as famílias do Willi resolveram vender a empresa e começaram a ligar para empresas
brasileiras de aviação para oferecer a Jato e a primeira da lista (letra A) era
a Aeropartes.
Eu
e Botelho fomos no dia seguinte a Sorocaba e compramos a Jato (o hangar
principal era onde hoje esta’ a Pratt & Whitney).
Passados alguns anos o Bertram, que era o dono da Conal (de Sorocaba) e tinha um Hangar no Aeroporto de Jacarepaguá, ligou-nos para oferecer o Hangar do Rio, pois eles haviam perdido o contrato do DNER (que tinha diversas aeronaves) e não fazia sentido manter aquele hangar. Ao invés de comprar, oferecemos a troca pelo hangar de Sorocaba , no que ele aceitou e ainda levamos um troco.
Fizemos
a mudança de todo maquinário para o Rio e construímos um segundo hangar.
Logo
depois o Armindo, que nesta época já tinha saído da Motortec e tinha comprado a
RIAI INDUSTRIA AERONAUTICA LTDA , outra empresa de manutenção de acessórios ,
avionicos e instrumentos ofereceu-nos a empresa que também compramos.
Mudamos
a Aeropartes e Riai para JPA, funcionando as 3 empresas em dois hangares.
A
cerca de 5 anos as duas empresas foram fechadas, devido `as continuadas crises
no pais e também preços dos alugueis , que inviabilizou os negócios ( diversas
empresas do Aeroporto de Jacarepaguá saíram ou foram fechadas, não aguentando
os exorbitantes preços de aluguel).
Naquela
época mudamos a Aeropartes para o Bairro de Ramos (subúrbio do Rio), onde
estamos localizados ate’ hoje com o nosso estoque vendendo para o mundo inteiro
o nosso material Surplus. """
S.Luna, C.Antunes, Ed.Luna, A.Winter
Mas seu Edécio também gosta de sonhar voando, olha ele ai..... "voando no Pousando no Voo de Asa Delta, antes de completar 60 anos ( era uma de minhas metas)"
Outro prazer ou refúgio seu para carregar suas energias são suas pescarias de peixes graúdos. E como bom pescador seu Edécio deve ter muitas histórias de "pescador", mas para elas teremos que escrever em outra matérias, exclusiva de "pescador".
Edécio Luna
S.Luna, C.Antunes, Ed.Luna, A.Winter
Nesses anos todos passamos por "São tantas “emoções” que alguns fatos passaram batidos, foi bom vocês lembrarem".
Seu Edécio nos contou quando esteve em nosso apartamento que chegou a comprar um Boeing da Trasbrasil que estava "estacionado" no aeroporto de Congonhas em São Paulo. Imaginem nós entrevistamos o homem que comprou um dos aviões que fizeram a "História da Aviação Brasileira", que transportou milhares de pessoas, que pode ter transportado eu, ele, e até você. Ele comprou, pagou, mas não levou o avião. Anos depois o avião foi recortado e desmontado e vendido como sucata.
Então, seu Edécio conta essa história do Boeing da Transbrasil que o Sr. chegou a comprar ...........
Então, seu Edécio conta essa história do Boeing da Transbrasil que o Sr. chegou a comprar ...........
1
"Quando
comprei o Boeing 767 da Transbrasil : Um dia saiu o anuncio em Brasília
que os PP-TBA e PP-TBB da ex-Transbrasil pela Justiça Trabalhista ,
arranjei um comprador nos USA que tinha interesse em comprar e
desmontar o avião, retirando os componentes para revisar e revender. Fui
para o Leilao e sozinho arrematei um por cerca de us$ 100,000.00 ou
equivalentes a R$ 200 mil , pagamos e antes da liberação
do avião a Justiça de Falências em São Paulo embargou a liberação do
avião, pois eles tinham preferência na massa falida . A Justiça
Trabalhista devolveu o dinheiro e anos depois o avião foi vendido como
sucata."
Quando seu Edécio esteve nos visitando contou-nos que numa de suas compras da Embraer, veio junto
algumas mega maquetes dentro do container. Quase choramos quando nos disse que por ocasião da mudança do hangar teve que se desfazer delas. Eu e meu pai olhamos para o teto e ficamos imaginando uma super maquete dependura em nossa sala. Não foi dessa vez. Mas tudo bem, estamos com pouco mais de 200 maquetes.
MUSEU DA VARIG DO SERGIO KNOCH
algumas mega maquetes dentro do container. Quase choramos quando nos disse que por ocasião da mudança do hangar teve que se desfazer delas. Eu e meu pai olhamos para o teto e ficamos imaginando uma super maquete dependura em nossa sala. Não foi dessa vez. Mas tudo bem, estamos com pouco mais de 200 maquetes.
MUSEU DA VARIG DO SERGIO KNOCH
A
mudança da Aeropartes do Hangar no Aeroporto de Jacarepagua, a 4 anos
atrás , para o atual endereço em Ramos , foi um pesadelo pelo
quantidade
de material que tínhamos ( 72 mil itens), foram mais de 40 viagens de
caminhão bau, carregados de material. O grande problema e’ que tínhamos
que retirar o material das prateleiras, desmonta-las para leva-las na
frente e monta-las para colocação das caixas
novamente. Não deu tempo de montar as prateleiras e estamos arrumando o
estoque até hoje.
Isto
tudo aconteceu porque o meu eterno sócio , o Botelho acreditou em mim e
convidou-me para abrir uma empresa lá em 1978 , a quem agradeço e
dedico
esta historia vibrante.
5
Hoje
estou com quase setenta anos, mas continuo vibrando com o meu trabalho
como se estivesse no começo de carreira, cada venda ou cada negócio
novo
fechado dá-me um grande prazer.
6
Para
quem estiver começando a carreira agora: trabalhe com afinco para
aprender , dedique-se de corpo e alma e vibre com os seus resultados.
7
In memoriam : ao meu Chefe e Amigo Armindo da Silva, com quem aprendi muito a tarefa de vender pecas de avião.
Mas seu Edécio também gosta de sonhar voando, olha ele ai..... "voando no Pousando no Voo de Asa Delta, antes de completar 60 anos ( era uma de minhas metas)"
Outro prazer ou refúgio seu para carregar suas energias são suas pescarias de peixes graúdos. E como bom pescador seu Edécio deve ter muitas histórias de "pescador", mas para elas teremos que escrever em outra matérias, exclusiva de "pescador".
Edécio Luna