RUBENS BOMBINE
Foto do ano de dez. 1960 - fundação da T.A.M, mas o certificado de aeronave habilidade saiu em 16/01/1961. Em pé Archangelo, Rubens Bombini, Renato Zanni, Eleutério Teco, Valdir Guarezzi, Salvador Borges No, Agricio Bernardo Durvalino Trazzi, sentados Renato Lovato Segundo, Ana Maria, e Nelo Ferrioli da esquerda para direita.
Foto do ano de dez. 1960 - fundação da T.A.M, mas o certificado de aeronave habilidade saiu em 16/01/1961. Em pé Agricio, Rubens Bombini, Valdir, Eleutério, Renato Lovato, Renato Zanni, Nelo, Salvador Borges o No, Archangelo, Durvalino Trazzi
A TAM surgiu no dia 31 de dezembro de 1961. No início da TAM éramos em apenas oito pilotos. Hoje sobrou eu e o Ari que tem oitenta e seis anos e reside em Santos. Estou com oitenta e sete anos e sessenta de comandante. Originalmente a campanha publicitária somente ocorreu dia 04 de abril, foi uma homenagem e um presente para a cidade, visto que essa data era o aniversário da cidade de Marília. Isto porque naquela época a empresa se chamava Táxi Aéreo Marília. Todos nós éramos pilotos de transporte de cargas e passageiros. Naqueles tempos o amigo Rolim ainda não havia entrado na empresa. Entrou mais tarde. Alguns anos mais tarde vendemos a TAM para o Empresário Orlando Ometto, que foi o maior produtor de açúcar e álcool do Brasil e do mundo.
Primeira geração de Pilotos da TAM: Rubens Bombini, Renato Zanni, Nelo Ferrioli, Ari Pinto Pinheiro
Naquela época eu voava monomotor Cessna 170, com o tempo aposentaram vários aviões velhos que voavam conosco como o Apache. Eu voei em tudo que era porcaria na minha vida. Aviação naquela época não é como hoje em dia. Eu, o Rolim, o João, o Ari e tantos outros somos os percursores da aviação. Fizemos a aviação do garimpo. Naquela época não é como é hoje. Você voava acima de tudo por amor e paixão. Eu faria tudo de novo. A gente voava até de graça, só pela emoção de estar nos céus segurando o manche.
Translado dos Cessnas 180 PT COS e PT COT ano 1966
Eu voei mais táxi aéreo do que linha regular. Nasci no táxi aéreo e tenho mais de trinta e cinco mil horas de voo. Dessas somente vinte e sete mil estão registradas. Naquela época nem existia o DAC e nem regulamentos. Isso surgiu muito tempo depois. Então, sou um dos dinossauros da história da aviação viva. Ninguém sabia tudo das coisas. Por isso que tenho mais de quinze mil horas que nunca foram registradas.
PT-AZK aldeia dos Xavantes
Acho que o Rolim entrou na empresa em 1968, não tenho certeza. Quando chegou venho como empregado nosso para pilotar. Ai já tínhamos mais dois Bonanza, um Apache e um Asteka senão me engano. Era um monte de avião velho. Todo mundo acha que o Rolim fundou a TAM. Não! Ele não fundou a TAM. O Rolim modernizou a TAM. Depois que ele entrou aconteceu um monte de coisa. Inclusive ele saiu e depois voltou como diretor da empresa.
Outra coisa sensacional que ele fez foi humanizar o atendimento da tripulação para com os passageiros. Ele provou que a segurança de voo pode existir sem aquela rigidez e distanciamento que sempre existiu entre os passageiros e os tripulantes. Um simples sorriso e um bom dia era sua marca e da TAM. E isso foi uma das coisas que conquistaram o mercado e transformaram a TAM na maior empresa do Brasil.
O Rolim era uma pessoa normal como todos nós, participava das nossas conversas e brincadeiras na sala de pilotos lá em Marília. Ele era uma pessoa simples. Era uma pessoa muito justa, honesta e descente. Ele não admitia três coisas: que enganassem ele, que mentissem e que roubassem. Se o rapaz fizesse uma dessas três ele botava na rua mesmo e pronto. O resto ele conversava e relevava. Sentava-se com a pessoa e explicava: "Olha não é assim. Não faz desse jeito. Isso atrapalha a sua vida profissional."
Jornal Correio de Marília dezembro de 1960 Fundação da T.A.M.
Jornal Correio de Marília dezembro de 1960 Fundação da T.A.M.
Voltou como diretor e acionista minoritário a convite de Orlando Ometto, que eram grandes amigos. Foi então que o Rolim transformou a TAM na maior empresa brasileira de aviação do Brasil. Se ele não tivesse morrido ele teria engolido todas as outras companhias estrangeiras. Eu apelidei ele de Midas, isso em referência ao rei Midas, um personagem da mitologia grega porque tinha o poder de transformar em ouro tudo o que tocava. A maioria das pessoas nem sabem disso. Quem sabia era somente eu, o Rolim e o João. O Rolim tinha uma visão fora do comum da aviação. Tudo que ele pensava ele fazia e dava certo. As vezes havia pessoas perto dele que diziam a ele que iriam quebrar e ele respondia "Vamos quebrar não, pode deixar. Pode deixar que vai dar tudo certo!"
Balcão da T.A.M em Congonhas ao lado da líder e Flamingo Táxi Aéreo.
O dia que ele comprou o primeiro Fokker 100, disseram para ele, agora quero ver você pagar esse avião. Ele com o seu jeito respondeu "Eu vou dar um jeito, vou dar um jeito!" Quando chegou a primeira prestação ele não tinha dinheiro, assim ele decidiu vender a casa dele para honrar o pagamento da primeira prestação. Mas o pessoal do BCN que era amigo dele e ficou sabendo telefonaram e disseram para não fazer isso não. E quando ele tivesse dinheiro ele pagasse. E dali para frente as coisas só deram certo com a TAM.
Vou dizer uma coisa, o Rolim era uma pessoa de respeito e confiança; além disso destemido. O que ele fazia dava tudo certo. Nunca pensei que alguém pudesse ter uma visão igual a dele. Ele vem de empregado para trabalhar de empregado para nós. Imagina uma pessoa que começou a vida trabalhando auxiliar de mecânico, dormindo em hangar e se cobrindo com cobertores da VASP e da Transbrasil. Morou numa casa sem energia elétrica e teve que abandonar os estudos para ajudar a família. A pessoa tem que ter muita força de vontade e espírito empreendedor. E isso o Rolim tinha e sobrava. Sempre comeu conosco arroz e feijão. Nunca fez cerimônia nenhuma ou reclamou da comida. Sempre foi um homem simples.
Era um homem do povo. E depois que virou dono da TAM não mudou em nada, continuou simples. Não modificou coisa nenhuma. Está certo, passou a se envolver com muitas outras pessoas, mas isso era normal. Mas quando estava conosco, era igual a gente, sem diferença nenhuma. Tudo igual. Comia arroz e feijão. E gostava de uma pimentinha também.
Um dos meus trabalhos era pagar os peões da fazenda do Orlando Ometto lá para as bandas do interior de Goiás, a fazenda tinha cento e cinquenta quilômetros de largura por duzentos e cinquenta de comprimento, por aí se tem uma ideia do tamanho da fazendinha e tinha mais de dois mil funcionários. E o Rolim era pagar os peões da Fazenda Santa Terezinha do Grupo BCN. Nós íamos para Goiânia para pegar dinheiro nos bancos para pagar os trabalhadores. E eu e o Rolim cada um voava com um monomotor 206, o meu era da TAM, ele com um particular porque ainda não havia entrado na empresa naquela época. ambos carregados de dinheiro. Nos encontrávamos em Goiânia e ficávamos no Hotel Bandeirantes, no centro da cidade. Hoje esse hotel já fechou e está em ruínas, uma tristeza, chegou a hospedar o ex-presidente Juscelino Kubitschek.
A noite nós íamos para um barzinho chamado "Zé Latinha Bar". Ali tinha mulherada e a gente ficava lá conversando, bebia uma latinha de cerveja e depois ia dormir porque no outro dia tinha que viajar . Era um boteco de putaria mesmo. Risos. No outro dia a gente ia para o banco pegar sacos de dinheiro. Veja só como eram as coisas naqueles tempos: saímos do banco com sacos de dinheiro nas costas. Entrávamos no táxi e íamos para o aeroporto e pronto. Que perigo. E nada acontecia naqueles tempos. Hoje se você tiver um real no bolso corre o risco de morrer num assalto. Risos.
Eu e o Rolim com o tempo compramos um avião em sociedade no decorrer da vida, isso antes dele entrar na TAM, e eu já estava na TAM como gerente, mas não conseguia deixar de voar e fomos tentar a vida no garimpo. Eu voei dois anos no garimpo. Depois comprei mais dois aviões com o meu amigo Rolim, tivemos juntos um Aero Commander, um 402, um 180. Pagamos o avião voando no garimpo. Ai vim embora porque minha esposa não queria que eu ficasse nessa vida do garimpo.
Então o Rolim comprou uma empresa em Cuiabá uma empresa de táxi aéreo chamada Ora - Oeste Rede Aérea e me convidou para eu ficar administrando. Fiquei dois anos lá. Naqueles tempos não tinha nada, se você chegasse onze e meia para almoçar já tinha acabado tudo e pronto. Isso porque as dez e meia serviam a comida e depois iam todos dormir em Cuiabá. E depois só abria as 16 horas. A cidade ficava deserta. Era uma coisa horrível. Depois que chegou o pessoal do sul, gaúcho principalmente, a cidade foi melhorando. Hoje é um monstro de cidade.
Hoje vejo muita gente reclamar do conforto de hotéis, que falta isso e aquilo. Que o chuveiro esquentou pouco, que a toalha estava ruim, que o ar-condicionado fazia ruído, e tal e qual. Não digo que estejam errados porque estão pagando por esse serviço. Mas vocês nem imaginam o que nós desbravadores dos céus daquela passamos. Vocês nem sonham.
Muitos hotéis tinham energia elétrica somente até as vinte e duas horas e pronto. Isso porque a cidade toda era assim. Ai nos restava a companhia dos velhos lampiões a querosene ou velas. Telefone no quarto isso nem existia, tinha que pedir ligação na recepção para a telefonista e isso quando tinha e quando funcionava. Colchão ruim? A gente agradecia quando tinha um colchão, porque muitas e muitas vezes dormíamos em redes. E nunca vi o Rolim reclamar das redes que dormia. Aliás ele não reclamava de nada. Ele amava mesmo era voar.
Eu não cheguei a pilotar os Fokker, nessa época passei para a área de vendas da TAM porque o Rolim era representante da Cessna e eu era o responsável para realizar as demonstrações das aeronaves. Quando minha esposa faleceu fiquei um ano sem voar, comprei um barco e fui morar dentro dele no Rio Cáceres. E depois foram me buscar para voltar a voar. E as vezes pescávamos com os meninos e passeava pelas ilhas lá em cima do Rio Paraguai.
Tenho uma recomendação a dar aos jovens que querem entrar na aviação. Sejam pilotos ou comissários. Se vocês querem ingressar nessa carreira o primeiro segredo é ter amor a aviação. É uma profissão de respeito e amor. Não é porque ganha um pouco mais ou por isso ou por aquilo. Tem que ter amor a profissão. Tem que ter empatia e compreender o seu passageiro. Nós da velha guarda trabalhávamos até de graça pela nossa profissão, pelo prazer de voar. Tive muitas alegrias nessa profissão. Um enorme abraço a todos meus amigos, colegas da Família TAM.