sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

CLÁUDIO 0 OPERADOR DE RAMPA - TRANSPORTADOR DE CHIPANZÉ E LEOA


Sou o Cláudio, fui operador de rampa. Que alegria poder contar minha história para o blog. Isso prova que existe espaço para todo mundo aqui. Muito democrático. Foi uma luta para entrar na TAM, mas depois que entrei foi uma realização pessoal e profissional. Já trabalhava com logística e conseguir trabalhar numa empresa aérea foi o apogeu. Entrei na empresa em 2014 na época da Copa do Mundo. Costumo dizer que foi por muita insistência minha. Estava cadastrado numa agência de empregos em Guarulhos. Na primeira oportunidade não fui selecionado. E na segunda vez, realizei uma entrevista expliquei que minha experiência era de carregar e descarregar caminhões. Especificamente era para o mesmo cargo, porém de aviões. 


O mundo é realmente muito curioso e dá voltas extraordinárias. Veja só, minha mãe nasceu e cresceu onde foi construído o Aeroporto de Guarulhos. Existe um aglomerado de árvores próximo ao estacionamento onde minha brincava. 

O local que existe a cancela de entrada dos automóveis do estacionamento era a casa de minha mãe. E claro que quando lembrava disso, era muito emocionante. Algo surreal. E costumo dizer que nas minhas veias correm querosene de aviação e não sangue. Tive um tio que trabalhou no Aeroporto Santos Dumont e outro na Embraer. 

Realizava o serviço de rampa e atendia os aviões 767, Airbus A330, A350. Inclusive recordo que a TAM teve três aviões 767 em sua frota. Sempre tive o maior prazer de realizar o meu trabalho. Estar rodeado por dezenas de pássaros de ferro gigantes. Era avião de todo o tamanho e de todos os lugares do mundo. Tive a oportunidade de chegar perto do famoso Antonov, de aviões de guerra, jatos executivos, o 777, o MD-11, o 747, aviões presidenciais e milhares de outros.

Trabalhar no pátio do maior aeroporto do Brasil e um dos maiores do mundo é uma sensação única. Certas noites a temperatura chegava quase a zero graus. O nosso trabalho baseava-se principalmente numa atividade em equipe. Onde cada um de nós dependia do trabalho do colega. Existe um procedimento para realizar o carregamento de um avião. Não é só chegar e começar a colocar as caixas e malas em qualquer lugar e de qualquer jeito. Aguardávamos em nossa posição, chamada "remota". Todo o material a ser transportado vinha tudo numerado para sabermos onde colocar. 

O carregamento sempre iniciava pela parte dianteira do avião. E para descarregar o contrário, começa pela traseira. Isso porque se fizer o contrário corre o risco do avião empinar seu nariz, equilibrando naturalmente a aeronave. Tive a alegria de transportar a chipanzé Cecília vindo da Argentina e uma leoa também do nosso país vizinho. Habitualmente fazíamos dois ou três voos numa manhã

Iniciava com a apresentação da documentação do que seria a carga a transportar, fosse relativo as malas dos passageiros ou a carga. Estava principalmente nos voos internacionais como Paris, Londres, Nova York, Miami, Santiago, Orlando. 

Os tratores já traziam a carga no PMC, que era uma lâmina, onde era passada uma rede de proteção. Éramos nós que também colocávamos os causos nos trens de pouso, os cones no nariz e ao redor do avião. Somente após todo o balizamento é que iniciávamos o trabalho.


Meu primeiro líder de trabalho foi o Sr. Elias, um profissional sensacional. Durante muito tempo atendi o voo de Miami 8094 que era o carro chefe da TAM, operado com o 777. Era um voo muito pesado, carregava muito salmão que vinha do Chile, normalmente com mais de dez toneladas no porão dianteiro, tudo em PMC. 

Nosso horário era de seis horas, assim não precisávamos almoçar ou jantar. Apenas realizávamos um lanche no horário de espera entre os voos. Levávamos café de casa, e cada um trazia alguma coisa para comer. Era muito gostoso tomar o café na pista observando toda a movimentação dos aviões ao nosso redor. 

Realizei meu sonho de trabalhar dentro do aeroporto onde minha mãe nasceu. Viajei com a TAM, fui a Natal, Maceió, Porto Seguro. Só tenho boas lembranças daquela época. Fiquei muito triste quando chegou a terceirização, após o advento da venda da empresa. Foi então que ocorreu minha dispensa.