Uma Simples maneira de ser Feliz
Que alegria poder compartilhar um pouco de minhas histórias e experiências. Meu nome é Marisa, mas poderia ser Felicidade, Sorriso, Persistência, Relutância, Indignação e tantos outros. Quem me conhece sabe muito bem como é essa Marisa que eu sou. Em primeiro lugar sou uma pessoa muito bem resolvida com a vida. Além disso sou uma mulher feliz e realizada. Casei, tive filhos espetaculares. Meus netos então, o que dizer deles? Hoje tenho o melhor trabalho que poderia ter. Cuido deles! Que amor poder cuidar dos meus netos. Que presente que fui ganhar.
Acordo todos os dias e agradeço a Deus por ter mais um dia de vida. Sempre estou com um sorriso no rosto. Aliás minha marca é minha gargalhada. E porque não sorrir. A vida é muito rápida e não tenho tempo ficar com uma cara braba ou triste o dia todo e depois para ficar com rugas, não é mesmo? Tenho o prazer de dizer obrigado a todos que me servem e principalmente aqueles que são invisíveis, como os que limpam os banheiros públicos de tantos lugares que vou.
É tão gostoso receber um elogio, não é mesmo? Tenho amigos e como tenho amigos. Estou aposentada e volte e meia me ligam e me convidam, nunca sou esquecida. Que maravilha. Claro estão atrás do dinheiro de minha aposentadoria, risos! As vezes fico horas no telefone com um ou com outro. Que bom não ser esquecida.
Não sou aquela pessoa de ficar trancada dentro de casa. Eu vou para a rua. Caminho, ando de ônibus, de metrô, pego carona com os amigos. Vou para o Sesc e faço natação ou alguma outra coisa. Converso com os amigos. Ficar dentro de casa? Eu não! Sou um passarinho, fora da gaiola! Meu negócio é ficar na rua. Vou a todos os aniversários que me convidam. Não recuso nenhum convite. Vou caminhar na Avenida Paulista. Esses dias fui à exposição no Conjunto Nacional onde era o Fasano. Outro dia fui ao evento do Comandante Décio.
A Labace eu não perco nenhuma, fui em todas desde a primeira. Tem os encontros da Marta Bognar, as feiras do Hilton, os jantares na casa do Jones. Claro que tenho uma tristeza, quem não tem. A minha é de não ter ganho um prêmio vitalício de alguma companhia aérea para voar a vida inteira, com direito a um acompanhante. Desta forma, eu entrava com as passagens e o acompanhante com as demais despesas. Passaria a metade do ano viajando. Seria uma maravilha você não acha?
Mas também sou uma eterna inconformada com os péssimos serviços que são prestados por muitas empresas públicas e privadas. Principalmente aquelas que tentam repassar as suas responsabilidades aos clientes. As empresas acham que todo o mundo tem que usar a internet como solução e não como opção. Eu não tenho problemas com ela. Mas existe milhares ou milhões de pessoas sem acesso ou que jamais irão se familiarizar com ela.
Estamos numa fase transitória de gerações e simplesmente
uma das partes não pode unilateralmente decidir pela outra. Eu sou o Celso
Russomano de saia. E fico braba mesma, acho que isso é uma das raras coisas que
me deixa de cara feia. Nem a política me deixa revoltada, porque deixei de
acreditar nos políticos a décadas, não só deixei de acreditar como de votar
também. Prefiro pagar a multa por não votar, do que ter que optar seja para
quem quer que seja. Aliás televisão aberta não veja a anos também. Eu não disse
que sou muito bem resolvida.
Agora vamos falar um pouco da história de minha família que começou com meu avô paterno. Quando ele comprou terras em Martinópolis passou por São Paulo de mudança. Foi com a família visitar o parque da Luz e o zoológico da Aclimação. Quando os filhos vieram estudar em São Paulo comprou duas casas na Aclimação, bairro que gostava muito. Uma casa era alugada e com o dinheiro sustentava a casa dos filhos que vieram estudar aqui. Meu pai se casou e ficou morando nessa casa. Minha mãe o fez comprar a casa da minha avó. Eu cheguei a andar de bonde. Íamos para Santo Amaro pois a cunhada da minha tia morava lá. Amava de andar nos bondes abertos pois gostava de ir vendo os trilhos.
Com a decadência do ouro, chegaram os primeiros colonizadores em meados do ano de 1900 para investirem na agricultura. Meus avós tiveram cinco filhos, e ninguém estudava naquela época. Minha mãe nasceu em Sertãozinho e tinha uma visão diferente de vida, queria muito estudar e ser professora. Isso era algo absurdo para aquela época e convenceu meu avô, que aceitou com a condição que se ela rodasse um ano ela iria parar de estudar.
Mamãe aceitou a proposta sem pestanejar. E assim, mamãe com muita dedicação e esforço se formou professora. Formada passou a dar aulas para as crianças no interior, essa era sua grande felicidade e realização profissional. Então para juntar pontos e poder entrar para careira no Estado, ela foi dar aula numa fazenda em Martinópolis.
Ela dizia que andava no trem do Santos Dumont para ir dar aulas nas fazendas. Realmente a cidade de Dumont fica perto. Meu avô materno se mudou para Botucatu, e lá abriu um açougue. Minha mãe tinha aula de Latim com o padre. Seu único irmão não gostava de estudar e ficava atrás da igreja jogando bolinha de gude. Assim não teve outro jeito, ela foi ver um colégio interno para ele e meus avós o colocaram no colégio interno em Jaú. La ele se formou e entrou na USP em física.
Minha mãe dava aulas nas fazendas como substituta de professora até conseguir uma cadeira. Ela conta que algumas vezes andava uma hora de trem e mais uma a cavalo. Um dia chovendo foi por a capa de proteção e passou-a na frente do cavalo que se assustou e disparou. Em situação teve que parar por um estouro de boiada. Quem pegava ela na estação de trem era os próprios alunos. Eles levavam um cavalo para ela. Numa dessas escolas tinha um bar e o pessoal queria que a professora fosse beber com eles. Ela falou com o prefeito e ele mandou fazer uma sala de aula no lugar do bar.
Minha mãe era muito esperta, seus alunos lhe contaram que em suas casas estavam infestadas de bichos barbeiros. Ideias nunca lhe faltou. Então, mamãe ensinou seus alunos a capturar os bichinhos e aproveitou para dar uma aula dos sérios problemas de saúde que eles causavam. Combinou com as crianças que elas iriam capturar os tais barbeiros e guardá-los em caixinhas de fósforos e todos iriam trazer na sexta feira suas capturas. Mamãe ficou assustada com a coleção de bichos que chegaram. Houveram alunos que trouxeram várias caixinhas repletas de insetos. Mamãe juntou todas as caixas e levou a prefeitura e entregou ao Sr. Prefeito e solicitou providências para dedetizar as residências.
Quando mamãe escolheu uma fazenda para lecionar, meu avô foi junto pois se não fosse boa ele não iria deixar ela ficar. De Botucatu ela escolheu Martinópolis. Foi para ver a fazenda que se chamava Boa Sorte. O fazendeiro se atrasou pois quebrou seu caminhão. Meu avô conheceu o fazendeiro, a fazenda e a escola e aprovou. Quando ela ia a cidade no final de semana a mãe do fazendeiro não deixava ela ficar na pensão. Ela ficava na casa dela. Nessa escola minha mãe dava aulas para todos e até o quarto. Ela dividia a classe e a lousa.
Com o tempo resolveu dar aula a noite
para os colonos. Ela ia de lampião na mão no meio da escuridão e eles jogavam
sapo perto dela de brincadeira. Um dia o irmão do fazendeiro que
trabalhava em São Paulo estava estressado e foi descansar na fazenda e se
apaixonou por minha mãe. Não demorou muito e começaram a namorar, se casaram e
a mãe do fazendeiro virou a sogra dela. Ela conheceu a família toda do meu pai
antes de conhecê-lo.
Depois que meus pais casaram foram morar em São Paulo. E eu e meus irmãos nascemos. Mas não queria desistir da carreira de professora. Indo dar aula num colégio no bairro Ipiranga chamado Nossa Senhora do Sion. Num determinado momento a escola passou a cobrar a mensalidade dos alunos, e como a maioria das crianças eram pobres e não teriam condições de arcar com estes custos, mamãe foi na Secretaria da Educação e conversou com o Secretário da Educação.
Ele explicou que mamãe já era professora do Estado e então não mais iria dar aula no outro colégio que iria virar particular. Então ele lhe disse para mamãe escolher uma escola para dar aula, naquela época chamava-se de grupo. Mamãe ficou procurando e descobriu um grupo que estava sendo construído, iria ser enorme. Então, mamãe voltou a conversar com o Secretário explicou que tinha encontrado, e ele autorizou o início das aulas mesmo em obras, desde que tivesse as mínimas condições de segurança e de trabalho e que se mamãe quisesse poderia ser até a diretora.
Mamãe não perdeu tempo, organizou sozinha primeiro as inscrições das matrículas, fez reunião com o padre e pediu ajuda a ele para fazer anúncio na missa, fez faixas, levou a mesa da cozinha para o grupo, fez tudo e consegui reunir as crianças, fazer as matrículas, mobiliar a sala de aula e montou o grupo. Quando o Grupo Joaquim Silva iria ser inaugurado, chegou uma diretora de outro grupo que havia pegado fogo para dirigir o grupo que mamãe havia organizado. Mamãe ficou muito amiga dela e nem se importou, porque o que realmente queria era ser professora, esse sempre foi seu sonho.
Eu nasci dia 03 de agosto de 1957. Eu brinco que eu não nasci fui arrancada. Nasci de fórceps, na Maternidade Matarazzo onde é hoje o Hotel Rosewood. Meu pai Sebastião era estudante de direito quando nasci e minha mãe Irene era professora primária. Tinha uma babá que falo com ela até hoje, Elzira. Quando nasci já tinha duas irmãs Marta e Márcia. Depois de cinco anos nasceu minha irmã Marilene. Fui aluna da minha mãe. Eu era muito levada, subia em árvores, telhados, muros, brincava na rua.
Cresci e comecei a namorar muito novinha. Já com doze anos tinha meu segundo namorado e converso com ele até hoje. Casei-me com dezesseis anos. O meu avô pai do meu pai eu não conheci. Ele faleceu um ano antes de eu nascer. Ele foi um dos fundadores de Martinópolis. Tem uma rua com o nome dele. Naquela época eu e minhas irmãs todas éramos pequenas, assim mamãe levava sempre todas para o grupo, fez matrícula da gente nos anos seguintes. Depois acabei sendo aluna dela. E eu era a única aluna que apanhava na classe, os demais alunos morriam de medo de minha mãe. Imagina a professora bater no aluno.
Minha primeira professora foi minha vizinha de muro. Minha escola era de madeira e tinha os pilares de tijolo. Passava um rio que cruzava o parque da Aclimação e devia inundar. Os meninos pegavam os sapos que ficavam embaixo e jogavam na gente. Essa minha professora ainda vive. Está com Alzheimer numa clínica. Depois fui estudar no grupo que minha mãe fundou. Fui aluna dela. Ela me reprovou por meio ponto de matemática. A diretora não me deixou estudar com ela de novo.
Na hora do recreio era muito divertido. Aliás qual criança que não gosta da hora do recreio? Havia um muro muito largo de arrimo para não ter risco de cair e era muito alto, que dividia a escola com a casa da vizinha. E as filhas da professora faziam aposta para ver quem subia e quem não conseguia subir tinha que pagar o lanche para quem conseguiu subir. Ficava a maior bagunça e a vizinha escutava o alvoroço e telefonava para a diretora da escola que havia crianças em cima do murro. E lá vinha a diretora com as mãos na cintura e já falando alto "mas tinham que ser as filhas da professora!!!"
E lá íamos nós para o castigo na sala da diretora e o pior era dois castigos, um no grupo e outro em casa, porque minha mãe ficava muito braba quando ficava sabendo que tínhamos subido novamente. Outro fato inesquecível meu na escola, ainda eu tendo minha mãe como professora, é que na reunião de professores de final de ano, a diretora já sabia que eu estava pendurada por meio ponto e a diretora sugeriu dar uma alterada na nota para eu não repetir o ano.
Minha mãe, não aceitou de forma alguma. E eu ? Repeti o ano!!! E a diretora ? aceitou a posição de minha mãe, mas exigiu que no ano seguinte ela não fosse, minha professora. E as demais professoras na reunião? ficaram com os olhos arregalados porque mamãe também dava aula para seus filhos, e ficaram preocupados com as notas de seus filhos.
Nessa época nosso tio veio morar conosco. Ele fazia estágio no Observatório de São Paulo que ficava perto do Zoológico. Um dia ele me levou. Eu era bem pequena. Ele abriu o teto e a luneta era gigante. Me colocou na cadeirinha do telescópio e foi me mostrando as crateras da Lua, as estrelas, a Via Láctea. Imagina isso para uma criança. Ele passava a noite lá. Deve ter me colocado no carro dele para dormir, tinha um Ford preto.
Esse meu tio foi para a primeira expedição da Antártida. Ele agradecia muito minha mãe que o colocou no colégio interno pois senão ele não teria estudado. Quase todos os anos voltava a Antártida. Tinha fotos maravilhosas de lá. Ele revelava as fotos em casa e me colocava na sala e dizia para eu ficar olhando que iria fazer uma mágica no papel que iria aparecer as imagens. Eu ficava maravilhada quando eu começava a aparecer.
Não cheguei a pegar a época das mulheres prendadas, mas tínhamos aulas de educação artística e aprendi a pintar e fazer trabalhos manuais. Meu pai só teve filha mulher, mas eu como sempre fui curiosa aprendi a fazer manutenção na casa com meu pai. Aliás todas as filhas fazem. Sou da época do escovão, depois minha mãe ganhou enceradeira, depois liquidificador, depois batedeira e máquina de lavar.
Meu pai tinha um rádio a válvula, pegava a BBC de Londres e uma vitrola com rádio .Ele e minha mãe gostavam muito de música. Meu pai gostava de música clássica e minha mãe de valsas e boleros. A vitrola cabia dez discos eram rotação 78. A televisão veio muito depois. O vizinho foi o primeiro a comprar. Virou televizinho.
Passávamos as férias em Botucatu, em Martinópolis ou Sertãozinho na casa de uma tia. Íamos de trem para Martinópolis. O trem parava uma hora em Botucatu e aproveita vamos para ver nossos avós. Os trens eram elétricos. Tinham várias classes. No leito havia quatro camas, as cadeiras eram estofadas e um banheiro. Os mais simples eram com bancos de madeira.
Havia o vagão restaurante Para Martinópolis eram dezesseis horas. Tinha uma parada em Botucatu de uma hora e uma baldeação em Assis. Não era permitido passageiros em pé. Havia também os vagões de carga também. Com a privatização a Vale comprou a maior parte das nossas ferrovias. Meu pai advogou para a Sorocabana quando eles fizeram a fusão mandaram muita gente embora.
Quando passava as férias em Botucatu eu adorava ficar no açougue. Minha avó ajudava meu avô ficando no caixa. Ela que me ensinou a contar dinheiro. A casa dela era muito grande e ficava em frente ao açougue. Passávamos nossos Natais na casa da minha avó. Era uma delícia pois reunia a família toda. Brincávamos com os primos.
Meu avô criava peru no quintal e corríamos atrás dele. Depois o peru sumia e iria aparecer na mesa. Era uma fartura. Ficávamos brincando e depois da ceia jogávamos tombola e podíamos dormir tarde. Era só alegrias. Não ganhávamos presentes como hoje. Gostávamos muito da festa.
Aprendi a andar de bicicleta do
vizinho que era alta e de menino com breque de pé. Meu pai não deixava a gente
ter uma bicicleta por achar perigoso. Aprendi a andar a cavalo nas fazendas dos
tios. Aprendi a dirigir num fusca vermelho depois de casada e nem carro eu
tinha. Nunca aprendi ou tive vontade de aprender andar de moto. Duas irmãs
minhas tiveram moto.
Nós brincávamos na rua ou no nosso quintal que era enorme, cheio de árvores frutíferas. Quando estávamos na rua pulávamos corda que ia de um lado ao outro da rua, pulava a turma toda. Todos os vizinhos eram amigos. Jogávamos vôlei, queimada, brincávamos de corrupio, roda, puxa puxa cabelinho, passa anel, pulávamos cela e pneus. Só entrávamos quando escurecia, banho, janta e cama. Nasci em casa com telefone. Minha mãe pedia um interurbano de manhã antes de ir para a escola e o mesmo só ficava pronto na hora do almoço.
Namorei com doze anos um colega do meu vizinho. Foi aquela paixão de infância. E eu me casei, ele se casou. Me separei ele se separou e sempre nos encontrávamos. Ele era amigo de um grande amigo de infância. Esse amigo faleceu a uns vinte anos. Faleceu no dia do meu aniversário. Falo com esse namorado até hoje. Quando quebrei o braço e operei a vesícula ele veio cuidar de mim. Esse meu amigo, meu namorado e eu trabalhamos na aviação. Meu amigo era guia turístico na agência Monark, meu namorado trabalhava na Cruzeiro e na Varig. Eu fui parar na Aviação trabalhando com o Roberto.
Nossa turma de rua era bem
grande. Tínhamos turmas por ruas. Falo com alguns amigos de infância até hoje.
Encontro minhas amigas de ginásio para jantar e reencontrei os de faculdade
depois de trinta anos sem se ver. Minha mãe era janista. Ela tinha ganho a
vassourinha dele. Ela não deixava ninguém pegar. Era um pin dourada e muito bem
feita. Eu aprendi a falsificar a assinatura do meu pai. Pedi para ele assinar
de olho fechado no meu caderno de desenho. Eu assinei e perguntei qual era a
dele. Ele apontou para a minha. Fiquei duas horas ouvindo a lei do estelionato.
Ele era advogado.
Ainda quero voltar a
Martinópolis. Meu pai deixou a história do meu avô escrita. O Roberto passou
para texto jornalístico. Mandei para a assessora de imprensa da prefeitura que
me apresentou o jornalista que escreveu o livro. Ele é o maior colecionador de
cartões postais. O jornalista a entrevistou quando o Alzheimer ainda não estava
avançado.
Estava na escola e ganhei um concurso do dia da ave. O prêmio era um voo sobre São Paulo durante quarenta e cinco minutos. Não fui. Meu pai tinha que ir a Minas na Fazenda da família e como eram 12 horas de viagem para ele não ter sono pois ia pegar assinaturas e voltava no dia seguinte. Ele resolveu levar a filha tagarela pois assim não sentiria sono. Não fui à viagem de avião e fui "muda e calada" até Minas. Meu primeiro voo foi num ATR,42 que veio para demonstração.
A viagem durou pouco. Adorei apesar do barulho. Foi meu dia de Marilyn Monroe. De vestido de seda no pé da escada com a maior ventania. Ganhei uma passagem da Cia TAME num sorteio quando eles começaram a voar para o Brasil. A TAME é do Equador. Tirei férias e fui para o Equador e Guayaquil. Nunca tinha ido ao exterior. Meu genro francês me deu de presente uma passagem para a França de classe executiva na Swiss. A conexão foi Suíça para a França. De lá fomos eu e minhas filhas para a Inglaterra de trem. Na segunda vez meu genro queria ensinar os filhos esquiar. Levei três tombos devolvi o esqui. A paisagem dessa estação de esquina lembra terra de Papai Noel. De carro pela França fomos a Paris, Normandia, Monte São Michel. Lugares lindos.
Eu não podia ver uma poça d'água que eu estava dentro. A gente frequentava a piscina da Associação em Sertãozinho nas férias como sócio visitante. Passava o dia todo na piscina. Nadava mal. A piscina tinha quatro metros de profundidade no fundo. Do trampolim dava para ver o relógio da igreja matriz.
Quando eu estava na Faculdade resolvi fazer um curso de natação para aprender a nadar direito. Fiz matrícula e depois descobri que a escola era de um amigo de ginásio. Em Martinópolis eu nadava no rio da fazenda e íamos a represa nadar. Em Sertãozinho meu tio tinha uma casa com os irmãos dele que fizeram para pescar e íamos com a família toda e eu nadava nesse rio.
Íamos muito nos circos do interior. Era totalmente diferente do mundo circense atual. Naquela época não havia preocupação com a vida animal. Lembro que havia os domadores de leões com enormes chicotes, havia elefantes, tigres, macacos, ursos. Tudo era muito lindo e maravilhoso, mas por trás das cortinas com o tempo foi descoberto que os animais eram maltratados e judiados.
O próprio adestramento era a base do
chicote. Então, foi proibido animais no circo, o que obrigou os espetáculos a
profissionalizar com os profissionais de trapézio, mágico, equilibristas e
muitos outros. Em São Paulo ia no Vostok. Eu ia aos cinemas perto de casa.
Tinha o Cruzeiro, o San Remo e o Capri. As vezes íamos no Cinerama.
Eu dirigi um pouco de cada coisa, Fusca, Fiat 147, Uno, Brasília, Chevette, Uno, Fiesta, mas o mais sensacional para uma mulher dirigir foi uma Kombi que meu marido tinha. Hoje tenho um Renault Clio. Sou uma pessoa de sorte, já me roubaram quatro carros. Como assim, sou de sorte? Claro que sou e de muita sorte. Estou aqui vivinha silva. Nunca se quer tocaram um dedo em mim. Tem pessoas que morrem no primeiro assalto.
A juventude de hoje nem imagina o que foi o nosso tempo. Ter na sala uma enorme caixa com válvulas e botões e duas antenas enormes e uma tela de vidro isso era a televisão de luxo da época. A maioria da população não tinha nada. E a maioria tinha aparelhos pequenos chamados de quatorze polegadas e eram pretos e brancos durante muitos anos. A colorida chegou muito tempo depois. A primeira Copa do Mundo que o brasileiro assistiu foi somente em 1970, antes disso era só no radinho de pilha para a grande nação brasileira. E os controles remotos surgiram lá pelas décadas de 70 ou 80, até então tínhamos que nos levantar do sofá ou da cama para trocar de canal ou desligar o aparelho.
A meninada de hoje anda para cima e para baixo com celular e toda hora quer trocar por aparelhos mais modernos. Na minha época isso nem existia. Aliás poucas eram os lares que tinham os telefones fixos residenciais. E para suprir essa necessidade existiam os telefones públicos, que não raro estavam estragados ou depredados. Para usá-los tínhamos que sempre carregar em nossas carteiras as famosas fichinhas telefônicas.
Eu não tinha sonho de me formar. Eu e minha irmã queríamos juntar dinheiro para comprar uma Romiseta. Depois sonhei em ir para a Disney, mas passou. Namorei o amigo do meu vizinho. Falo com ele até hoje. Casei-me cedo. Parei os estudos. Tive três filhos. Fiquei casada dez anos. Me separei, voltei a estudar e fui trabalhar. Nessa época as mulheres não trabalhavam. Usávamos biquínis quando íamos a praia e a população era magra, só usava maiô as gordinhas.
Tive três filhos Patrícia, Luiz e
Priscila. Me separei depois de dez anos de casada. Casei-me pela segunda vez e
fiquei casada mais quinze anos. Meus filhos são do primeiro casamento. Minha
filha Patrícia é engenheira elétrica se casou com o francês Chritophe e tiveram
dois filhos, o Lucas e a Eloise. Meu filho Luiz é arquiteto se casou com a
Débora e tiveram a Amélie. Já a Priscila é médica pediatra e se
casou com o Victor e eles não querem filhos.
Me formei em publicidade no final da década de oitenta. Quando estagiei gratuitamente na Agência Denilson Propaganda. Fiquei um mês no estágio cobrindo a estagiária que foi realizar intercâmbio nos EUA. Nesse projeto conheci o Professor Romeu Corsini, que era diretor da Fundação Santos Dumont. No Museu da TAM em São Carlos tem um avião com o seu nome do professor. Foi quando conheci o Jornalista Roberto Andrade que trabalhava nessa agência e sugeriu que eu realizasse uma entrevista para a Revista Voar, onde trabalhava, desta forma eu teria alguma remuneração. Como ocorreu tudo certo, fui trabalhar na Revista Voar. Como meu trabalho era diretamente com o Roberto, passei a trabalhar em todas as revistas que ele passou, como a Aviação e Revista. Com o tempo saímos da Voar.
A segunda entrevista era com o comandante Rolim da TAM. Estava difícil marcar a reunião pois quando o comandante podia nosso repórter não podia. Tínhamos prazo para fechar a revista. Pedi para o Roberto fazer as perguntas e passei para o secretário do comandante na época o Paulo Pompilho por fax. Quando o Comandante voltou de viagem, o Paulo disse que eu poderia pegar a entrevista na TAM. Eu morava perto da TAM e passei para pegar. Quando cheguei o Paulo comentou comigo que o comandante adorou a ideia de despachar por fax.
Tive a felicidade de conhecer o Comandante Rolim algumas semanas depois no evento do primeiro voo do ATR no Aeroporto de Congonhas. Lembro muito bem, ele com sua simpatia me cumprimentou e me entregou seu cartão da TAM e pediu para passar um recado para o Roberto. E então iniciou uma amizade que perdurou por vários anos, junto com Seu João, outra pessoa muito amável e agradável. Foram tantas marcas deixadas pelo Comandante que não é possível dizer qual delas foi a que mais simbolizou a TAM. Talvez tenha sido a simplicidade do Tapete Vermelho que perdurou durante anos nas portas dos aviões para que os passageiros desfilassem por ele, demonstrando o reconhecimento da empresa pelos seus Clientes. Simbolizando, os "astros do cinema internacional" caminhando no tapete vermelho do Oscar em Los Angeles. Junto ao tapete estava o comandante do avião recepcionando cada um dos passageiros.
Lembro de algumas das ideias geniais de marketing do Comandante quando estava presente, como do voo inaugural do Fokker 100 da TAM de São Paulo para Recife, na volta o comandante muito inteligente foi averiguar o horário dos concorrentes para São Paulo e identificou que a VASP iria decolar duas horas depois. Assim, ele solicitou que a equipe verificasse quantos assentos haviam sobrado e endossou todos para os passageiros que quisessem antecipar seu voo pela TAM sem custo adicional. No meio do voo o Comandante realizou a coletiva de imprensa para os jornalistas. E ainda premiou uma comissária em razão de ter ajudado um japonês que estava perdido no aeroporto de Congonhas, onde levou esse passageiro até o aeroporto de Guarulhos e o deixou com os colaboradores da empresa aérea JAL, senão ele iria se perder novamente.
Nesse mesmo voo um passageiro me perguntou o que estava ocorrendo a bordo e quem era esse senhor que estava dando a coletiva. Lhe expliquei que era o Presidente da Companhia e estava em razão do voo inaugural para Recife. Esse senhor comentou que gostaria muito de lhe fazer uma pergunta. Informei que em breve o Comandante iria cumprimentar cada um dos passageiros, onde seria a sua oportunidade. E assim ocorreu, e eis a pergunta "Porque nos seus aviões o Sr. adota a denominação de "aeromoças" e não "comissários"? Nisso o Comandante Rolim chamou a aeromoça que havia premiada e lhe perguntou: "Ela é velha? Isso aqui não é uma chefatura de polícia! Isso é um avião! Por isso que é aeromoça!"
Outra lembrança foi no lançamento do Programa Fidelidade, o Comandante contou que o banco que administrava o cartão havia sugerido que para ganhar passagens fosse por milhas voadas e não por pontos. Então, respondeu que se alguém o fizesse compreender como funcionava essas milhas ele daria um cartão vitalício de passagens para o resto da vida. Porque isso era muito complicado no Brasil. E alegava que tinha que ser algo muito simples de forma que qualquer pessoa pudesse compreender de qualquer nível de escolaridade. Aliás, era isso que ele sempre exigiu na TAM, simplicidade no atendimento. Então foi feito com pontos. Dez voos dez pontos. Dez pontos uma passagem grátis. E o Cartão de Crédito associado foi o do Olacyr de Moraes, onde a bandeira poderia ser Mastercard ou Visa. Porém o atendimento do Cartão de Crédito e do Fidelidade ele não abriu que fosse pela equipe da TAM.
Certa vez eu e o Roberto fomos incumbidos pelo Seu João Amaro para realizarmos um treinamento com os funcionários do Museu Asas de um Sonho de São Carlos, ele havia nos dito "Essa molecada não entende nada de avião, então preciso que vocês vão lá no Museu dar um treinamento neles!" O Seu João sempre muito educado nos perguntou se gostaríamos de dormir na cidade para aliviar o cansaço da viagem de três horas. Mas como o Roberto realizava um tratamento de hemodiálise não era possível. Então, o Seu João nos colocou num voo de Congonhas para Ribeirão Preto e de lá havia um motorista nos aguardando até o Museu e na volta a mesma coisa. O treinamento iniciou num anfiteatro com um filme. Depois separamos em dois grupos, e foram ter aula em alguns dos aviões do Museu. E surgiram todos os tipos de perguntas, tais como como Santos Dumont fez para voar o 14 Bis ou porque a TAM optou pelo Fokker 100?"
Lembro também que o Museu iniciou com dois Cessna 140 e 190. Um dos MIG venho da Rússia por doação e chegou todo carregado de munição, claro que ficou meses aguardando liberação da alfandega. Foi uma confusão burocrática até a liberação do avião. A situação era realmente muito complicada. Felizmente foi liberado e claro sem o arsenal bélico. Já um outro avião chegou voando no espaço brasileiro escoltado por outros dois caças ingleses. Isso demonstra o respeito que a família Rolim tinha no exterior. E uma das situações que hoje a deixa mais confortada é que todas as placas dos aviões do Museu foram produzidas pelo Roberto.
De todos os trabalhos que tive na
vida, hoje tenho o melhor de todos, o mais gratificante. Cuido dos meus netos.
E ainda vou aos eventos aeronáuticos que sou convidada. A aviação me deu muitos
amigos.
Vou contar um pouco de minhas
histórias que muitos acham engraçadas vividas na aviação. Sempre que encontro
com amigos em reuniões, almoços, jantares, em viagens ou até mesmo num
supermercado aproveitamos para relembrar estes e outros maravilhosos momentos
que tivemos a oportunidade de vivermos. E claro, além de relembrarmos,
aproveitamos para saborear com altas e gostosas gargalhadas. Se
estivermos em público, é impossível passarmos despercebidos. Aliás, tem coisa
melhor que dar uma boa risada com amigos verdadeiros ?
Em dezembro de 1996 eu e meu esposo resolvemos tirar uns dias de férias e fomos para Fortaleza com a TAM, eu utilizei meus pontos do Programa da TAM para pagar a passagem. Com certeza foi o voo mais gozado e divertido da minha vida, tudo que jamais eu imaginaria acabou acontecendo naquelas cinco horas dentro do avião. Se eu não estivesse lá dentro, com certeza eu não acreditaria, e quando recordo ou conto para algum amigo é inevitável darmos boas gargalhadas. Como é bom recordar esses momentos alegres e sublimes, principalmente agora que estamos com os pés aqui embaixo seguros na terra. Bom, voltando a história, estávamos sentados bem à frente do jump seat, assento das aeromoças.
Logo atrás, estava sentada uma senhorinha que passou o voo todo rezando, morrendo de medo. Começamos o voo no final da tarde, e então começou a escurecer rapidamente. Então, as comissárias iniciaram a servir o jantar que naquela época o Comandante Rolim tinha o maior prazer e zelo pelo jantar e pelos vinhos, algo que hoje não existe mais. Nisto iniciou uma turbulência muito forte e foi suspenso o serviço. E a velinha atrás de mim, começou a rezar mais alto.
A comissária solicitou a todos os
passageiros que voltassem a seus lugares e apertassem os cintos. Com isso a
velinha, aumentou mais ainda a voz em suas orações. E meu esposo ao meu lado,
começou a falar "Esse avião vai cair". A velinha ouviu e aumentou a
voz mais ainda. E meu marido, ouvindo a reza, mais nervoso ficava e repetia
também mais alto "Esse avião vai cair" e ela consequentemente
aumentava sua voz. A situação se não fosse por causa da turbulência era na
verdade surreal e engraçada.
Um tempinho depois as coisas acalmaram, passou a turbulência e o serviço de bordo voltou. Mas a aeronave continuava sacudindo, a velinha rezando e meu esposo falando que o avião iria cair, e eu agora jantando. Então, percebemos que vem em nossa direção o copiloto com uma lanterninha na mão e ligada, e solicita aos passageiros sentados a frente da asa para se levantarem que ele precisava olhar a turbina, e pega a lanterninha e coloca na janelinha do avião no lugar do passageiro para poder enxergar a turbina.
A velinha deve ter enfartado nessa hora, porque aí
que a sua voz ficou alta, e meu marido, claro, também falou alto "Eu estou
dizendo que esse avião vai cair". E os dois apavorados. E eu com uma
vontade de dar uma gargalhada. Hoje, eu imagino o que os demais passageiros
passaram vendo os dois naquela situação, era só o que faltava ter aparecido o
copiloto com aquela lanterninha para inspecionar a turbina. Eu sentia que
estava numa igreja rezando. Por fim, depois dele olhar, olhar, olhar, acabou
voltando para a cabine de comando. E meu marido "Esse avião vai
cair".
E eu tentando explicar que havia entrado gelo na turbina e isso era normal, e provavelmente estava verificando isso, mas era perda de tempo querer explicar naquele momento. Com toda aquela situação, todos a bordo estavam um pouco ou mais nervosos, então as comissárias passaram o carrinho de bebidas para acalmar um pouco aquela situação. Nisto um passageiro próximo pediu um licor Cointreau.
A aeromoça foi servir no copo e não saia uma gota se quer da garrafa, ela virava e revirava a garrafa e nada de sair uma gota. Resolveu bater no fundo da garrafa e nada. A outra comissária observou a cena, e comentou para ela, "olha o gesto agressivo". Então a comissária, largou a garrafa e foi para o banheiro rir. Quando ela abriu a porta do banheiro havia um passageiro que não havia trancado a porta. E ela deu de cara como ele de costa lá dentro. Imediatamente ela fechou a porta, e se sentou no último assento e começou a rir baixinho muito, coisa que uma aeromoça não faz.
Eu assistindo toda a cena hilária, expliquei para ela que a bolinha do licor havia ficado travada. E lhe perguntei se ela tinha um saca-rolha, porque com ele, poderia ser resolvido o problema. Ela abriu um lindo sorriso e disse "Tenho", e abrir uma gavetinha, mas ela estava tão ansiosa que ao abrir, acabou caindo tudo no chão, mais de dez pequenos utensílios. E ela me disse ainda depois de resolver e me agradecer "Hoje tudo acontece comigo"
Vocês acham que acabou ? Ainda Nãooooo. Nisto surge o comandante para ir ao banheiro, que no Fokker 100, era no fundo do avião. Quando o comandante passou pela velinha, ela deu um grito para ele "O Sr. Não É o Comandante ?" E ele cordialmente respondeu que sim. A velinha agora já braba replicou " E quem é que está lá na frente no comando do Avião?" E ele respondeu que estava o copiloto. E ela já muito brava respondeu "O Sr. me desculpe, mas o Sr. não pode estar aqui.
O seu lugar é lá na frente". E ele cordialmente tentando
explicar que tinha por que iria ao banheiro. E alguém do meu lado dizendo
"Esse avião vai cair hoje". Eu tinha vontade de dar gargalhadas
altas. Terminou ? Ainda Não. Estávamos na época de Natal e naqueles tempos
o Comandante Rolim sempre sorteava algum brinde especial, e com tantas
orações, a felizarda foi a velinha. Esse voo foi logo depois do primeiro
acidente da TAM, então as pessoas estavam um pouco preocupadas. Eu não, porque
sempre pensei assim, se caiu, caiu e pronto. Prefiro andar de avião a andar de
ônibus ou de navio.
Desde antes de existir o Código do Consumidor e de propagar os Direitos dos Consumidores, eu sempre me coloquei no papel de uma consumidora, e vislumbrei casualmente ou não o que a legislação viria a trazer em nossa proteção. Desta forma, há algumas décadas, no bairro que eu havia nascido existia uma padaria na esquina. Toda nossa família realizava as compras diárias, semanais e mensais nesta padaria. O proprietário conhecia toda minha família.
Na época eu fumava, e toda vez que eu comprava cigarros o proprietário me devolvia o troco em uma caixinha de fósforo, quando chegava em casa, eu anotava num cantinho da caixinha o valor do troco. O que as vezes era cinquenta centavos, ou trinta ou quarenta. O certo era que o valor sempre era variado para fechar o valor da compra, pois era de acordo com o que ele não tinha de troco.
Passaram-se alguns dias ou semanas as caixinhas de fósforos já faziam uma pequena montanha. Então, juntei todas, e passei a somar o valor de todas para verificar se já dava para comprar um maço de cigarro. Quando finalmente fechou o valor, coloquei todas numa sacolinha e lá fui eu para a padaria comprar meus cigarros. Chegando no balcão, pedi ao mesmo Sr. que sempre nos atendia meu cigarro, ele me entregou e eu com muita sutileza virei as caixinhas em cima do balcão do caixa.
O Sr. ficou
olhando aquela cena sem entender nada, com um semblante de espanto e perguntou
o que estava acontecendo e eu calmamente lhe expliquei: "Isso é
dinheiro" E ele respondeu imediatamente assustado e desconfiado
"Como assim é dinheiro" . E eu novamente expliquei "Toda
vez que eu compro aqui, o Sr. me entrega essas caixinhas como troco, como se
fosse dinheiro. Eu sempre aceitei como se fosse dinheiro. Então agora o Sr.
também vai receber como dinheiro. E aqui está anotado o valor de cada caixinha
que o Sr. me pagou, se quiser somar, está tudo certinho"
Ele ficou olhando para as caixinhas de fósforos, na verdade nem sabia o que fazer. Não sabia se devia aceitar, se devia somar o valor de cada caixinha, se devia tentar dialogar comigo, ou se devia rir ou chorar. E eu ali, olhando séria para ele, mas como uma vontade enorme de rir. Com aquela cena. Imagina se todas as pessoas que ele entregava caixinhas de fósforo naquela semana viessem lhe devolver as caixinhas.
Então ele coçou a cabeça, e simplesmente me disse "Muito
obrigado e volte sempre". Percebi que depois desse dia, ele nunca
mais me deu um caixinha de fósforo, uma bala ou qualquer outra coisa no lugar
de dinheiro como forma de troco. Me dava somente dinheiro, se ele não tivesse o
troco, ele arredondava para baixo, mas não me dava mais nada.
Passaram alguns meses aqui em São Paulo houve um racionamento de leite, onde cada família somente podia comprar um litro de leite. Nós estávamos morando com a minha mãe. Assim, havia muitas crianças em casa. Numa certa manhã, minha mãe foi comprar o leite, e pegou três litros, o mesmo senhor informou que ela somente poderia levar um litro em razão do racionamento. Minha mãe explicou que tinha um monte de crianças em casa.
Mas
ele explicou que a norma determinava que infelizmente era um litro por família.
Minha mãe insistiu que precisava mais de um litro. E ele respondeu que não
podia vender. Então minha mãe respondeu "Não vai me vender ? Então está
bem! Eu vou comer todos esses pães que estão aqui em cima e não vou pagar
nenhum deles". Rapidinho ele pediu a sacola de mamãe, colocou os três
litros de leite dentro, mamãe pagou e foi embora.
Inesquecível era o atendimento da antiga sala de embarque da sala da TAM antes da atual ampliação do Aeroporto de Congonhas. Havia um atendimento central com funcionários que serviam lanches, doces, sucos, refrigerantes, vinhos, bebidas destiladas, havia chocolates em vidros grandes giratórios que antigamente os armazéns vendiam balas. Normalmente nessa sala de embarque existia um pianista ou saxofonista tocando suas músicas.
Era um momento de relaxamento, principalmente para as
pessoas que no final da tarde voltavam para seus lares em cidades distantes. Um
maravilho happy hour. Nesta sala também existia uma linda e enorme maquete da
Tam. Lembro de uma frase que o meu amigo Rolim Amaro sempre dizia, "recebo
todos aqui e no avião como se fosse na minha casa ". Tempos
distantes que jamais voltarão, somente quem viveu aqueles momentos sabe o que
foram os tempos do Comandante Rolim.
Eu morava numa casa grande no aeroporto.Tinha muito ladrão no bairro e eu parei de guardar o carro na garagem.Tinha o guarda da rua.Uma época ele começou a falar para eu olhar a toda do meu carro antes de sair porque tinha uma gata dormindo lá.Eu olhava e ela nunca estava.Eu tinha dois empregos,saia de um e ia para casa dava almoço e ia para o outro.Um dia cheguei e a gata estava miando no meu portão.Dei leite e fui trabalhar.Quando voltei ela estava lá.Coloquei ela para dentro.Ela estava muito fraca e magrinha.Fizbuma caminha no banheiro de empregada.De dia as crianças pegavam ela para brincar.Depous guardavam pois meu segundo marido odiava gatos.Ela foi crescendo e ele nem sabia da existência dela.Um dia ela já está maiorzinha e subiu a escada do quintal e ele viu.Wueria que eu doasse.Falei que não e ela foi ficando contra a vontade dele.Quando ela entrava em casa ela deitava no pescoço dele e ficava lambendo o rosto dele.
Ela emprenhou e fiquei com o filho que meu marido apelidou de churras pois ia fazer.um churrasco com ele
Mudei para um AP.Eles estranharam.O Churrinho fugiu .A gata ficou comigo 15 anos.Ela era muito fofa.Tinha um pelo super macio.Sinto falta dela até hoje mas depois da morte dela não quis mais bicho nenhum.
Acho que fiz apenas uma excursão com a escola.Fomos só Zoológico.Era difícil para as professoras pois tinham classes com 40 alunos.O duro era tomar conta de todos e não perder nenhum.Sempre tinha o endiabrado
Não tem como separar minha vida profissional do meu amigo e mestre Roberto que muito me orientou nos anos que trabalhamos juntos. Se virei a profissional que sou hoje e com o respeito que conquistei com toda certeza devo a ele. Então, aproveito este espaço para dedicar uma homenagem a todas as nossas correrias que fizemos durante longos anos e ao mesmo tempo estarei homenageando o amigo Rolim, ao transcrever o texto do Roberto para ele, num momento passado.
UM ESTILO CHAMADO ROLIM
“A distância entre um sonho e sua realização chama-se trabalho”
Mais do que em muitos outros países, a aviação comercial brasileira tem sua história marcada por uma sucessão de pioneiros, que surgem nos momentos de maior necessidade para fazê-la avançar até novos patamares. As empresas, nesse quadro, são apenas consequências de suas vidas e trabalhos.
O exemplo mais recente, e talvez o mais brilhante, foi Rolim Amaro, que criou a TAM e em apenas três décadas transformou-a de pequeno táxi -aéreo na segunda maior companhia aérea da América do Sul. Rolim Amaro inovou em termos de personalidade administrativa, mas nenhum quebrou tantos protocolos administrativos ou levou como ele, para o mercado do transporte aéreo, o corpo-a-corpo do comércio varejista, numa bem-sucedida mistura de intuição, visão de mercado e habilidade política.
“O sucesso depende de saber o que se deseja conseguir”
Falar a história da TAM é contar a vida de Rolim, um brasileiro típico, filho de portuguesa e neto de italianos, nascido no interior, em Pereira Barreto, a 652 quilômetros da capital de São Paulo. Aos 18 anos tirou o brevê e jogou para o alto o curso de contabilidade, trocando-o pela aviação. Novamente como tantos pilotos brasileiros, teve de trabalhar duro para poder decolar. Foi motorista de táxi, limpou aviões, frequentou os hangares de aeroclubes do interior, fez muitos amigos no setor e foi piloto de táxi aéreo em São José do Rio Preto. Mas ele buscava níveis de voo mais altos. Pilotou no garimpo, voou na Amazônia e transportou as cargas mais disparatadas, de mulas de carga a índios, de bombas d’água e freiras. Até chegar ao primeiro grande pulo da sua vida, no início dos anos 60, quando assumiu um pequeno táxi - aéreo para o qual pilotara, o Táxi -Aéreo Marília. Naquela época o centro-oeste brasileiro era uma “terra de fronteira” como hoje é ainda a Amazônia, violenta e desafiante. Mas Rolim soube enfrentar esse desafio, deslocando fazendeiros e agropecuaristas na rota do gado e das grandes plantações. O Táxi - Aéreo cresceu rápido, aumentou a frota e ampliou a clientela no interior paulista, no Mato Grosso do Sul, em Goiás e no norte do Paraná. Entre os novos amigos, Orlando Ometto, o “homem forte” da Copersucar e ele próprio um “self made man”. Nessa fase de expansão, nos anos 60, Ometto soube entender e apoiar seu jovem amigo, e seria instrumental no passo seguinte, quando o táxi - aéreo transformou-se em empresa aérea regular.
E essa amizade continuou por muitos anos. Quando em 1977 o pecuarista Tião Maia teve problemas com o Governo e decidiu mudar-se para a Austrália, vendeu sua parte no controle da TAM para Orlando Ometto, que ficou com 66% do Táxi - Aéreo Marília , que por sua vez detinha 67% da TAM Regional. Mas Rolim foi mantido no comando.
“Ousar sempre que isso leve aos objetivos desejados”
No fim da década de 1960 a aviação comercial brasileira vivia uma crise típica de crescimento. Novos aviões, maiores e mais caros, tinham substituído os velhos Douglas DC-3 que pousavam em qualquer pista e davam lucro mesmo embarcando a metade dos passageiros. A modernização da frota cortou drasticamente a malha de cidades servidas, mas se isso era bom para os táxis - aéreos, representava um retrocesso perigoso no transporte aéreo como um todo. Com a economia brasileira novamente esquentando, o Ministério da Aeronáutica visualizou uma série de medidas que facilitassem o surgimento de novas empresas aéreas aptas a explorar as linhas do interior.
Surgiu o SITAR – Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional, e Rolim participou ativamente desse movimento. Com dois bimotores Cessna 402 ele inaugurou – e operou experimentalmente – uma ligação regular entre São José dos Campos e o Rio de Janeiro, provando a viabilidade do sistema. E quando chegou a hora de dividir o país em cinco “capitanias hereditárias aéreas”, como se disse na época, a TAM do Comandante Rolim foi uma das escolhidas. E desse modo, finalmente, ela passou a operar linhas regulares. Instalou-se também num hangar no Aeroporto de Congonhas, onde cresceria até chegar ao que é hoje.
“A companhia deve procurar o equipamento mais adequado para os serviços que presta”
Quem trabalhou na TAM naquele período sabe como foi difícil o crescimento. Num acordo ditado pelas novas regras do jogo, Rolim herdou os aviões “Bandeirante” da Vasp, que colocou um homem de sua confiança na diretoria da nova empresa. O Bandeirante deu certo: robusto, econômico de operar e de manutenção fácil ele levou a aviação de volta a uma série de cidades que tinham sido abandonadas pelas grandes empresas aéreas. Mas o relacionamento com a poderosa e complicada estatal Vasp nunca marchou bem lubrificado, gerando uma série de problemas jurídicos que persistiram por muitos anos.
Nada disso desanimou Rolim, que unindo dinamismo à criatividade implantou a imagem da nova empresa nas cidades do interior que tão bem conhecia. As comunicações eram difíceis, e nem sempre as autoridades locais entendiam que seu mercado só justificava uma aeronave pequena como o Bandeirante. Foi preciso recorrer a métodos pouco convencionais e para criar uma nova imagem para o antigo táxi -aéreo Rolim ajudou o Cte. Portugal Motta a criar uma esquadrilha de demonstrações aéreas, os “Dragões do Ar”, que passou a se apresentar em festas aéreas nos aeroportos interioranos levando a mensagem comercial da TAM.
Linhas foram criadas e extintas, frequências aumentadas e reduzidas e a carga aérea introduzida num serviço que contava, ainda, com subsídios governamentais. Bastaram dez anos para fazer da TAM – Transportes Aéreos Regionais, a maior das cinco novas companhias aéreas.
“O mais moderno avião depende de quem o tripula e mantém”
Rolim sabia que só poderia crescer com a oferta de mais assentos e maior conforto, o que implicava em novos obstáculos: mudar as regras do jogo e dinheiro. Atuando em Brasília e Amsterdam ele conseguiu convencer o então do Ministro da Aeronáutica, brigadeiro Délio Jardim de Mattos, e ganhar a confiança da indústria holandesa Fokker para negociar os primeiros bimotores F.27, de 40 lugares. Foi um salto arriscado – típico do ousado Rolim – mas deu certo e logo as outras regionais brasileiras seguiram seu exemplo. Cidades do interior passavam a pedir o Fokker e a garantir um número mínimo de passageiros capaz de justificar seu uso. E a fábrica holandesa viu, satisfeita, seus aviões penetrarem num mercado até então dominado pelos jatos Boeing. Esta foi a briga vencida por Rolim nos anos 70, quando ficou claro que seus métodos de contato corpo-a-corpo conseguiam abrir caminho onde o gerenciamento convencional das outras regionais esbarrava no tradicional imobilismo das regras estabelecidas.
“O avião é apenas uma ferramenta de trabalho”
Se o Fokker F.27 representou um salto qualitativo para a aviação regional brasileira, a chegada dos jatos foi outro ainda maior. Rolim sabia, e acenava às autoridades com esse argumento, que a única maneira das regionais continuarem crescendo depois do fim dos subsídios seria atuarem como alimentadoras (feeder lines) para os serviços das grandes empresas comerciais. E que, para isso, ele precisaria de aeronaves tão grandes, rápidas e confortáveis quanto os jatos que as grandes usavam. Seus argumentos lógicos venceram as barreiras e numa operação que sacudiu todo o mercado brasileiro Rolim negociou com a Fokker os primeiros F.100, de 104 assentos.
Numa bem orquestrada campanha promocional ele vendeu a imagem desse avião como o “jato de Congonhas”, silencioso, confortável e veloz. Na década de 1980 o número de aviões F.100 cresceu regularmente e, com eles, as linhas, frequências e rotas. Rolim foi forçado a investir em novas instalações no Aeroporto de Congonhas, teve de reorganizar TAM e ampliar a infraestrutura de apoio, em São Paulo e nas suas bases. O staff cresceu, a folha de pagamentos aumentou e a carga aérea passou de eventuais pacotes para volumes cada vez maiores de mercadorias. Investindo cada vez no seu staff a TAM atingiu o status de grande empresa, mas continuava presa ainda aos grilhões da sua condição de regional. Lutou com as taxas aeroportuárias, lutou com os custos dos combustíveis de aviação, lutou contra a concorrência das grandes empresas e começou a questionar abertamente os critérios que ditavam a política aeronáutica do país. Rolim tinha já adquirido peso para isso, e usou esse prestígio de modo muito hábil.
“O objetivo do transporte aéreo é o usuário, não o Governo”
A década de 1990 encontrou a TAM numa posição tão destacada entre as regionais que muitos passaram a perguntar se ela podia ainda ser considerada como tal. Os Bandeirantes tinham sido vendidos, alguns a novas regionais como a Pantanal, onde passaram a explorar linhas de alimentação para a própria TAM. Dentro das filosofias de oferecer o melhor a seus passageiros, a TAM introduziu o famoso “tapete vermelho” para quem embarcava em seus aviões em Congonhas e trocou os turbos hélices F-27 pelos F.50, mais velozes e confortáveis mas também mais complexos de manter.
E o Cte. Rolim teve de readequar suas oficinas de manutenção, enquanto lutava em Brasília para conseguir a mais tranquila passagem possível da sua empresa de regional para regular. Mas isso não o impediu de fechar bons negócios, como a compra da Brasil-Central (ex Votec Regional), enquanto negociava a criação da ARPA, sua primeira subsidiária no exterior (Paraguai). Outra aquisição foi uma regional paranaense, a Helisul, que absorveu a Brasil-Central e efetivamente passou a arcar com as linhas regionais do Grupo, que avançava a passos rápidos rumo a uma completa restruturação estrutural e administrativa. Mas tudo isso custou muito trabalho e sacrifício, principalmente com os altos e baixos de mercado que têm de enfrentar os empresários que atuam na aviação brasileira.
Mantendo um ritmo de trabalho de fazer inveja Rolim continuou chegando às 7 horas da manhã para cumprimentar pessoalmente seus passageiros na Sala de Embarque de Congonhas, enquanto planejava a próxima etapa qualitativa que tinha imaginado para a companhia; o mercado internacional.
“Linhas e rotas de uma empresa não devem ser definidas pelo equipamento que usa”
Nos anos 90 a TAM – Táxi - Aéreo Marília tinha retomado suas antigas responsabilidades de táxi - aéreo e adquirido uma administração autônoma que somava o fretamento de aeronaves com a representação comercial dos aviões da linha Cessna no mercado brasileiro. Bastaram poucos anos para ela colocar os jatos Cessna “Citation” na liderança dos mais usados e vendidos no país.
Mas todos esses remanejamentos visavam preparar o grupo para outro voo mais alto, além das fronteiras brasileiras. Rolim vendeu seus Fokker F.50 e concentrou esforços nos jatos, comprando mais aviões F.100 sempre que tinha oportunidade, nem que para isso fosse preciso negociá-los na China e na Escandinávia. Mas nessa altura a indústria Fokker tinha encerrado suas atividades, e ele sabia que cedo ou tarde teria de substitui-los por modelos mais modernos e lucrativos, mas também mais caros. Fazer isso num país onde o valor do dólar pode aumentar ou corroer a margem de lucratividade das empresas aéreas foi, por si só, um novo ato de muita coragem administrativa. Bem ao tipo do Cte. Rolim, que era assediado com excelentes ofertas dos dois grandes fabricantes rivais: a Boeing e a Airbus.
No fim dos anos 90 a decisão tinha sido tomada: a escolha recaiu sobre os aviões da Airbus, numa jogada comercial em conjunto com o Grupo TACA (de empresas aéreas da América Central) e a Lan Chile. Este “pacote” literalmente sacudiu o mercado aeronáutico internacional, envolvendo mais de 100 jatos comerciais de última geração (75 deles para a TAM). Os primeiros a chegar foram os A.330-200, de grande autonomia, e logo a TAM estaria voando regularmente para a América do Norte e a Europa. Na América do Sul ela já atuava através da sua subsidiária paraguaia Transportes Aéreos del Mercusur, criada pelo Cte. Rolim para substituir a estatal paraguaia cujo controle acionário e administrativo ele tinha assumido.
Em 2000, com os Airbus da família A.320 já firmados na preferência dos passageiros gradualmente relegando os F.100 à linhas secundárias e uma frota de mais de 75 jatos, Rolim conseguiu roubar da Varig a liderança nas linhas do mercado interno enquanto fechava o balanço anual com um lucro líquido de R$ 562 mil. Em 1999 tinha sofrido as consequências da crise de mercado e encerrado as contas no vermelho. Mas vencera o desafio, do mesmo modo que superara a crise gerada em 1996 pela queda do Fokker F.100 que caiu próximo do Aeroporto de Congonhas pouco depois de decolar, vitimando 99 pessoas. Nas horas difíceis como nas boas o sistema administrativo personalizado do Cte. Rolim conseguiu sempre contornar as dificuldades e ir em frente. Como disse o Presidente da Airbus Industrie, Noel Fogeard, em mensagem enviada à família do Cte. Rolim, “ele era a TAM”. Nunca isso foi tão verdadeiro na história da aviação comercial brasileira.